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sábado, 14 de janeiro de 2023

DO FUNDO DO BAÚ - JOGOS

 JOGOS, por Helio Ribeiro

Hoje vamos voltar no tempo e relembrar alguns dos jogos existentes na nossa infância, muitos dos quais nunca saíram de linha. Lembrando que naquela época dispúnhamos de espaço para os folguedos, fosse por morarmos em casas com quintal, fosse por podermos brincar na rua ou, eventualmente, em alguma praça próxima. Muitos dos jogos antigos, que eram realizados ao ar livre, não poderiam ser usados atualmente, eis que a moradia padrão é um "apertamento" e é totalmente proibitivo brincar na rua, seja por causa do trânsito, seja por falta absoluta de segurança. Uma opção é o playground dos edifícios, quando possível.

Mas certamente as crianças e adolescentes de hoje não se interessam por nenhum desses jogos. A moda é matar adversários em videogames, com bastante sangue espirrando para todo o lado. Ou usar armas de air soft ou paint ball, também para "matar" adversários. Matar, matar... Sinal dos tempos.

Voltemos agora ao passado. Peço desculpas pelo tom pessoal que costumo sempre dar a meus relatos. Naturalmente, essa é apenas uma amostra dos jogos da época.

1) Tamborete


Esse era um clássico. Quem não teve ou não brincou com esse jogo não teve infância. 

Luiz: Eu, depois de ganhar vários, passei a detestar. Não sei o que era pior, jogar com a peteca ou com a bola.

2) Corrida de cavalinhos

A versão mostrada na foto já estava modernizada em relação àquela com a qual brincávamos, em que a pista de corrida era de papelão. Os cavalos corriam em raias e avançavam de acordo com pontos obtidos jogando um dado.


Luiz: a do meu irmão era assim. Os cavalinhos corriam numa pista e se movimentavam por vibração da mesma. A vibração se devia a uma manivela única, que ficava na cabeceira da pista e era rodada. Havia macetes para ganhar: modificar a posição das pernas dos cavalos para dar mais equilíbrio, rodar a manivela mais rápido ou mais devagar, etc.

3) Pega-varetas


Também um clássico. Na minha casa, sentávamos à mesa minha mãe, meu padrasto, minha tia, minha prima, meu irmão e eu, jogando o pega-varetas. Lembro que a vareta preta era a mais valiosa. Se não me engano, valia 35 pontos. 

Luiz: além da habilidade era preciso sorte. Se, na sua vez, a vareta preta ficasse fácil de retirar, a vitória era quase certa. Ótimo para treinar coordenação motora.

4) O Céu é o Limite


Jogo baseado no programa de TV homônimo, apresentado por J. Silvestre, e que fazia estrondoso sucesso na década de 1950.

Foi meu sonho de consumo, mas era caro. Quando cursei a quarta série primária, a professora da minha turma, dona Marina, cada mês comprava do próprio bolso um brinquedo para os dois primeiros colocados nas provas. Num desses meses, o brinquedo para o primeiro era justamente esse jogo. Todo mês eu disputava com a colega Cármen Lúcia a primeira colocação. Naquele mês, fui o segundo colocado e meu  brinquedo foi um jogo de boliches de madeira, mostrado mais abaixo nesta postagem. Fiquei frustrado.

Como jamais tive o jogo, não consigo descrevê-lo em detalhes. Mas lembro que havia perguntas e respostas e um fio com plugs nas pontas: um era introduzido no orifício da pergunta e o outro tinha de sê-lo no orifício da resposta correta. Se isso acontecesse, uma luz se acendia.

Luiz: jogo muito interessante, pois acabávamos decorando a resposta. O jogo tinha várias cartelas perfuradas, cada uma com um tema diferente. Porém, quando descobrimos que havia uma relação fixa entre o orifício da pergunta e o o da resposta correta, bastou decorar estas posições para acertar todas as perguntas, independentemente de saber ou não a resposta.

5) Batalha Naval


Também um clássico. Quantas e quantas vezes joguei esse jogo, com meu irmão e meu padrasto. Às vezes jogávamos os três ao mesmo tempo, cada um com duas folhas, uma para cada oponente. 

Luiz: depois de jogar muito na infância, reencontrei o jogo nos plantões noturnos do Pronto-Socorro. Na falta de pacientes, às vezes jogávamos batalha naval.

6) Ludo, Ludo Real, Moinho e Xadrez Chinês


Mais um clássico. Dificilmente se acha alguma criança da época que desconhecia esse jogo. 

Luiz: joguei muito Damas e Ludo com este tabuleiro. Nem sabia como jogar os outros jogos.

7) Monopólio / Banco Imobiliário


Dois jogos muito conhecidos e bem parecidos. No meu caso, eu tinha o Monopólio. Acho que o Banco Imobiliário foi lançado posteriormente. O problema desses jogos é que eram intermináveis. Dificilmente se conseguia levar o adversário à bancarrota.

Luiz: deste tipo de jogos o que eu gostava era o "War".

8) Resta Um



Não era tão conhecido assim. Para quem não o jogou, no início os pinos eram arrumados como na foto. Depois você ia comendo os pinos um a um, como se faz no jogo de damas, e ao final deveria restar apenas um pino, justamente no buraco central, que na foto está vazio. Não era fácil conseguir isso. 

Luiz: logo aprendi a tática. Desafiado recentemente, na primeira tentativa deixei dois, mas ao repetir, deixei um no meio. Para alegria dos meus netos ensinei a eles como fazer.

9) Bolas de gude


Quem não tinha? Havia vários jogos usando-as, como búrica, triângulo, etc. Alguns exigiam solo de terra, como o de búrica. As bolas de gude podiam ser de três tamanhos, sendo que as maiores eram chamadas de "bolão" e as menores, de "olhinho".

Era um jogo muito propenso a confusões, quando um jogador resolvia pegar as bolas de gude do outro, na marra ou usando artifícios. Eu mesmo confesso ter feito isso com um colega menor, de nome Antônio José, cujas bolas de gude ficavam dentro de uma lata. Disfarçadamente, eu derrubava a lata, as bolas se esparramavam e eu aproveitava para pegar algumas e botar no bolso. Que vergonha, Helio Ribeiro! Vai ter de se explicar com o vermelhinho, após a morte.

Lembro algumas falas típicas dos jogos de bola de gude, como "Marraio!", significando que quem a disesse primeiro seria o último a jogar, na primeira rodada do jogo. Outra fala era "Feridor sou rei!", significando que se a bola de gude dele atingisse a de outro jogador, aquele assumiria um papel principal no jogo (não lembro qual). Tinha também "Acompanha!", que tinha de ser proferida logo após o "Marraio!", e quem a disesse seria o penúltimo a jogar na primeira rodada. Será que errei nas descrições? Se o fiz, por favor me corrijam.

Luiz: joguei muito na praça do Bairro Peixoto.

10) Jogo de botão


Também um clássico. Podia ser jogado em tabuleiros especialmente desenhados para tal, ou então em cima de qualquer mesa. Durante minha infância jogamos na mesa da sala de visitas, que não era usada. Desenhávamos com giz as marcações do campo. Depois de adulto, comprei duas mesas apropriadas, uma grande e outra pequena, e fazíamos torneio no terraço lá de casa.

Meu irmão e eu tínhamos botões de times comprados e botões feitos ou conseguidos por nós. Lembro que ganhamos botões dos seis principais times da época: Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco da Gama, América e Bangu. Apesar de termos feito ocasionalmente botões a partir de casca de coco (os chamados "coquinhos") ou com plástico derretido em forminhas metálicas de empada, minha preferência eram as chamadas "vidrilhas", tampas plásticas de relógio de pulso, que eu conseguia nos relojoeiros do SAARA. Meu time era composto de aproximadamente 70 vidrilhas, cada uma delas devidamente numerada e pintada de prateado. A foto abaixo mostra alguns dos meus craques.

Luiz: os melhores botões que tive foram presente de minha madrinha. Segundo ela, foram feitos de chifre de boi, por presidiários.

Os goleiros eram de caixa de fósforo, preenchidas com chumbo derretido, pregos ou qualquer material que as deixasse pesadas. Depois eu os encapava com pedaços diferentes de maços de cigarro. Meus goleiros eram muito bonitos, modéstia à parte. A foto abaixo mostra dois deles. Tenho quatro até hoje guardados.

Luiz: realmente são bonitos. Os meus, feitos do mesmo modo, no final eram encapados com umas fitas-durex coloridas, vendidas nos anos 50/60.

As bolas podiam ser as que vinham com os times comprados, ou então miolo de pão, papel metálico de maços de cigarro ou dados pequenininhos.

Também confeccionávamos taças, usando como material a parte aluminizada dos maços de cigarro, como forma a extremidade de cabo de vassoura e como base uma moeda.

Disputávamos Copas do Mundo, usando como fonte um atlas geográfico para escolher os países que fariam parte do certame, o qual durava muito tempo. 

Luiz: as de miolo de pão eram as melhores. Usava também as embalagens metálicas que cobriam as tabletes de chocolate.

11) Autorama


Jogo caro, sonho de muitos meninos. Houve várias versões dele ao longo dos anos.

Luiz: sonho de consumo que nunca tive. Mas tinha um amigo americano, cujo pai foi transferido para trabalhar no Brasil, que tinha um enorme. Constantemente era convidado para brincar lá na casa dele.

12) Boliche


Como citei no jogo "O Céu é o Limite", acima, este foi o tipo de jogo de boliche que ganhei da professora. Parece exatamente igual a ele.

Luiz: parece de boa qualidade. O meu era vagabundérrimo: todo de plástico, a bola era muito leve e não se conseguia dar direção.

13) Víspora


Esse era um jogo que envolvia toda a minha família, usando grãos de milho ou de feijão para as marcações. Jogávamos minha mãe, tia, tio, padrasto, meu irmão e eu. Meu tio cantava os números através de gírias, que já escrevi uma vez aqui no SDR mas que vou reescrever, aquelas de que me lembro:

1- começou o jogo

2 - Duque de Caxias

3 - orelha de porco

4 - quatrino que lambe los pintos

5 - quina

6 - pingo no bojo

7 - machadinha

9 - pingo no pé

10 - despe-te e cai n'água (que eu entendia como dez pintim cai n'água)

11 - um atrás do outro

12 - dúzia

13 - número da sorte (ou do azar)

14 - com as trouxas na cabeça

15 - quinzena

18 - ronco do porco

22 - dois patinhos na lagoa

24 - viado

29 - distrito de Madureira

33 - idade de Cristo

44 - dois bicudos não se beijam

55 - dois portugueses atracados

66 - noventa e nove (os distraídos comiam mosca)

69 - de lá para cá como de cá para lá

77 - duas machadinhas

88 - óculos de padre Inácio

90 - terminou o jogo

 Luiz: outro clássico. Precursor do bingo.

14) Jogo de Preguinho

Luiz: Tomei a liberdade de acrescentar o "jogo de preguinho" ou "dedobol", uma das minhas grandes diversões. Jogado com uma moeda, cada jogador tinha direito a um "chute", com a finalidade de fazer o gol, que era a saída de bola do tabuleiro pela meta adversária. Havia que conhecer o caminho para tiros diretos e com usar a tabela com a lateral do campo ou com algum dos pregos.

15) Iô-Iô


Luiz: Não via muita graça neste brinquedo, mas admirava a habilidade de colegar, que faziam muitos malabarismos com ele.


--------------------  FIM  DA  POSTAGEM -------------------

 

 


sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

PRAÇA CARDEAL ARCOVERDE


Revemos hoje a Praça Cardeal Arcoverde, situada no fim da Ladeira do Leme, entre as ruas Barata Ribeiro e Tonelero. É a antiga Praça Sacopenapan. Foi aberta pela Empresa de Construções Civis e aceita em 26.04.1894.

O nome é homenagem a Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavancânti, designado em 1897 para a cadeira de Arcebispo do Rio de Janeiro, tendo se tornado, em 1905, cardeal do Rio de janeiro, sendo o primeiro cardeal brasileiro e sul-americano.

Segundo Julia O´Donnell, em 1919, o Prefeito Paulo de Frontin recebeu um documento em que “moradores e proprietários em Copacabana, com o intuito louvável de dotar o bairro com mais um jardim público, solicitavam a arborização e ajardinamento da Praça Cardeal Arcoverde, que se achava já quase completamente nivelada e em grande parte rodeada de belos e valiosos edifícios. Além disso, a praça se encontrava protegida pelos morros do Inhangá contra os ventos de alto-mar, que tanto prejudicam as plantas dos jardins e a arborização dos logradouros aos mesmos expostos.”


Vemos nessa foto, do acervo do sumido Francisco Patricio (Coleção A. Silva), tirada certamente do Morro da Babilônia, possivelmente da velha Estrada Real, atual ladeira do Leme, uma visão parcial do bairro.

Conforme conta o Decourt, em primeiro plano vemos a Praça Cardeal Arcoverde, antiga Sacoponepan, ainda sem ajardinamento e servindo de canteiro de obras para a urbanização das ruas vizinhas, que tiveram grande impulso nos anos de 1927 e 1928. O morro do Inhangá ainda não tinha sido urbanizado, as ruas Gal. Azevedo Pimentel e Gal. Barbosa Lima, não existiam nem como trilhas.

A total ausência de construções de um lado da Rua Barata Ribeiro causa a ilusão ótica que a mesma faz uma abrupta curva e segue em direção ao mar, quando na realidade temos ali a Rua Inhangá, continuando a Barata Ribeiro seu trajeto.

Na Av. Atlântica a grande construção que vemos sobressaindo sobre as demais, é um dos primeiros prédios da orla, construído em 1924 pelo engenheiro Eduardo Pederneiras e de propriedade dos capitalistas Rocha Miranda, Filhos & Cia., que ficava na esquina da Atlântica com Rua do Barroso, hoje Siqueira Campos. 

Nos anos 30 eram grandes as reclamações dos moradores da região quanto à sujeira da feira-livre que se realizava na praça às quartas-feiras e quanto à conservação da mesma.

“Local de passagem movimentadíssimo, se transformou num mattagal. Imploramos aos encarregados da esthetica da cidade mais um pouco de atenção. A praça está se transformando em poças d´agua e brejo. Os buracos transbordam e a miscellanea de lixo, cacos e estrume impera. É uma vergonha para o bairro.”

Com as críticas a Prefeitura prometeu construir “um parque que offerecerá todas as distrações possíveis ás creanças de nossas escolas púbicas. Será construída uma esplendida piscina, uma pista com apparelhos (deslizadores, gangorras, etc.), auditório, gymnasio, wading-pool, saud-boxes, sete campos para jogos, banheiros moderníssimos e refeitórios. Nella terão ingresso todos os alunos de escola publica. Inclusive aberta domingos e feriados”.


Foto de 1937 com o parque inaugurado. Funcionava de 12 às 16 horas. A ideia seguia as diretrizes de Anisio Teixeira e o jornal "Beira-Mar" noticiava: “Todas as escolas do bairro se faziam representar no Centro de Recreação por turmas alegres e joviaes de petizes. Além dos jogos de ping-pong, volley-ball, bonecos, quadros, carrinhos, etc) os meninos executam magníficos trabalhos de esculptura e as meninas trabalhos manuaes."

Em 1943, na administração Henrique Dodsworth, os Museus Históricos da Cidade e Cultural Esdcolar, foram transferidos da Gávea para a Praça Cardeal Arcoverde. Não consegui informar até quando ali ficaram.


Neste postal, vemos a praça
 tendo, à esquerda, o Morro do Inhangá já urbanizado, parte esta de uma Copacabana desconhecida para a maioria. 


Esta foto e a seguinte estão na Brasiliana Fotográfica e são de Uriel Malta, de janeiro de 1940, sendo que esta foi estupendamente colorizada pelo prezado Nickolas Nogueira (que, por sinal, prometeu novas colorizações para 2023). O texto está abaixo.

Segundo meu amigo Claudio, que morava no edifício de esquina da praça, à esquerda, fora da foto, no prédio cinza morava seu futuro cunhado Pedro Paulo e, nas duas casas, os irmão Jaime e Gustavo, além de, na outra casa, os irmão Silvio, Tião e Sueli.


Nesta foto vemos o edifício, esquina da praça com a Rua Tonelero, onde morava meu amigo Claudio, grande tenista.



Na construção "déco" que vemos em primeiro plano funcionou o quartel da Polícia Especial de Vargas. Depois, com redemocratização do país, após a Segunda Guerra, o prédio se transformou na escola Dom Aquino Correia. 

No final dos anos 50 a Escola Dom Aquino Correia foi desmembrada de seu auditório, sendo este transformado no Teatro da Praça, que depois recebeu o nome de Teatro Gláucio Gill (esta alteração deu-se em meados dos anos 60 quando o apresentador da TV Globo Glaucio Gill, apresentando "ao vivo" o programa "Show da Noite", sentiu-se mal e faleceu no sofá do programa vítima de infarto. Foi uma comoção no Rio). 

A seguir uma nova escola foi construída ao lado: a Escola Alencastro Guimarães. 

Vemos também o aspecto da Ladeira do Leme, nome dado em 1917 e que já se chamou Rua Coelho Cintra de 1949 a 1951, quando voltou ao nome original. Esta ladeira constitui um dos acessos mais antigos à Praia de Copacabana. Recebeu esta denominação por ali se instalar o antigo "Reduto do Leme", no tempo do vice-reinado do Marquês de Lavradio. 

Os arcos no topo da Ladeira do Leme seriam os restos de uma fortificação. Há por ali também uma Vila Militar, atualmente, além do Parque Estadual da Chacrinha, no final da Rua Guimarães Natal, entre a Ladeira do Leme e a Rua Assis Brasil.

Junto ao final da ladeira sobrevive um dos últimos postos de gasolina de Copacabana, fora os da orla marítima (e ali há uma padaria com pães de excelente qualidade.


Esta belíssima foto merece ter a descrição do amigo Andre Decourt: “A imagem mostra o primeiro urbanismo da Praça Cardeal Arcoverde feito pelo grande urbanista Azevedo Neto. A foto  possivelmente é do final dos anos 40, início dos 50.

A foto pode nos dar uma ideia das espécies usadas, como também da região em volta, até hoje uma das melhores para se morar no bairro. No fundo da imagem vemos as encostas do Morro de São João e as ruas que, a partir da praça, galgam suas encostas, como a Otaviano Hudson, onde temos o único prédio alto da imagem, e a Assis Brasil, além de outras travessas e ladeiras, que fazem fronteira com um pequeno parque estadual e uma APA. A encosta ainda não invadida é o último lar da Eugenia Copacapanensis,  ou Araçá de Praia, planta que era endêmica na região e praticamente foi extinta com a urbanização do bairro, já que só crescia em Copacabana e parte de Ipanema. As encostas da região também abrigam ruínas do Forte do Vigia, que vão além dos arcos da Ladeira do Leme.


E terminamos com esta foto do acervo do saudoso amigo Carlos Richard, o "Richaaaaarrdd". A legenda é dele: “Carnaval de 1962.Na Rua Tonelero, um índio, uma bailarina e uma com uma roupa meio "Flintstones". Foi tirada em frente ao prédio onde moravam que ficava na esquina com a Otaviano Hudson. A menina maior, coitadinha, 5 anos mais tarde iria me conhecer e, o que é pior, casar comigo! O índio virou meu cunhado e a menina bonitinha era só uma vizinha do prédio. Vê-se a Tonelero ainda com pouco movimento e o início deste prédio na esquina onde um amigo veio a morar durante bastante tempo.” A moça bonita é a Gisela.




quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

PRAIA DE IPANEMA NOS ANOS 60


Durante os anos 50 e 60, além dos vendedores dessas pipas tipo as de Copacabana, eram comuns os vendedores de brinquedos de vinil na ilha central da Praia de Ipanema.

Esta foto é de Alberto Benning e foi publicada pelo Decourt há muitos anos. A estátua que vemos é do Rei Alberto da Bélgica e o local é entre o Arpoador e o Castelinho.


Outra esquina com brinquedos de vinil e pipas sendo vendidas. Parece ser na altura da Rua Rainha Elizabeth e o prédio alto em construção deve ser o da esquina com a Rua Farme de Amoedo.
Uma época em que o habitual era estacionar o carro sobre as calçadas. Ainda não havia o hábito de correr, iniciativa do Dr. Cooper alguns anos depois. Mas mesmo a caminhada ficava impossível tal a ocupação das calçadas pelos automóveis.
Aquele fusca cor de abacate era um horror, na minha opinião. 


Havia vendedores em quase toda esquina. Na época o calçamento da calçada junto da areia era com placas pentagonais e não em pedras portuguesas.
O DKW talvez esteja estacionado com duas rodas sobre a calçada.


Nesta foto já vemos a calçada junto da areia com as pedras portuguesas.

O problema desses bichinhos de plástico é que não duravam dois dias. Logo eles abriam microfurinhos nas emendas para tristeza das crianças e desespero dos pais.

Em Copacabana havia uma loja chamada Vinishow, que ficava na Avenida N.S. de Copacabana, quase esquina da Rua Almirante Gonçalves, onde eram vendidos todos os tipos de brinquedos em vinil.

A garotada, de um modo geral, não gostava dessas bolas de vinil. O local talvez seja a entrada da Rua Montenegro, destino do Chevrolet Impala. Ao fundo vemos um posto de salvamento, talvez o de nº 8, que ficava exatamente em frente à Rua Farme de Amoedo.






terça-feira, 10 de janeiro de 2023

SURFE NO ARPOADOR

Ontem, conversando com um amigo sobre o acidente em que faleceu um surfista brasileiro de 47 anos em Nazaré, Portugal, este amigo disse que recentemente havia conversado com o Ricardo "Bocão", antigo surfista.

"Bocão" lhe contou que estava há uns dois meses em Nazaré para um evento profissional, quando foi convidado a surfar uma onda lá. Não queria, mas insistiram muito e ele foi. Contou que a sensação é inacreditável e de dar muito, mas muito medo. "Você olha para cima e vê um paredão de água, olha para baixo e vê outro paredão, você só quer sair de lá, pelo lado, antes que venha outra onda".

A filha do Gabeira, Maya, quase morreu por lá, antes de se tornar recordista mundial de surfe em ondas gigantes. É coisa de louco!

As fotos de hoje, das revistas "Manchete" e "A Cigarra", lembram os anos 60, quando o surfe explodiu no Arpoador.


As meninas também aderiram ao surfe. 

As primeiras pranchas eram enormes, de bico quadrado, com dois metros de comprimento e pesavam trinta quilos - isto por volta de 1947, quando apareceram no Rio.

Em 1955 apareceu a primeira prancha de fibra de vidro, o que permitiu que se parasse de surfar de peito ou de joelhos, passando-se a surfar de pé.


O desfile das meninas enfeitava o Arpoador dos anos 60.



Quem não surfava, assistia, paquerava e batia palmas.


Em meados dos anos 60 o galã e surfista Arduino Colasanti organizou o primeiro campeonato de surfe no Arpoador. Fernanda Guerra ganhou na categoria feminina.

As pranchas de 64/65/66 pesavam em torno de 10 quilos. Tinham sua alma em poliuretano e o revestimento em fibra de vidro.
Estas pranchas chegavam a ter 3 metros de comprimento.

As melhores pranchas eram as americanas - Bing, Hobie, Gordon & Smith e Hansen, entre outras. 

No campeonato ja citado, Roberto Lustosa ganhou na categoria de Juniors enquanto Alexandre Bastos venceu a categoria Seniors. Na foto, à esquerda, acho que é o Arduino.


No Arpoador há dias em que o mar está para principiantes. Mas nem neste tive chance de subir numa prancha de surfe. Limitei-me, quando garoto, a pegar "jacaré" de "peito" ou com pranchas de madeira compradas na "Casa da Borracha", ao lado do "Mercadinho Azul" ou na "Lojas Balnéa", na esquina da Domingos Ferreira com Santa Clara, ambas em Copacabana.

Quem sabe se na próxima encarnação não tenho chance como surfista?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

CINEMAS

CINEMAS POEIRINHAS, por Helio Ribeiro.

Nesta postagem vamos excursionar por plagas desconhecidas pela maioria dos visitantes deste SDR. E nos depararemos com uma série de cinemas de rua, daqueles que o povo se encarregou de chamar de "poeirinhas". O Rio de Janeiro teve centenas de cinemas de rua, muitos deles autênticos poeirinhas. A penosa seleção foi feita por mim, e posso ter classificado dessa maneira algum cinema que não a mereça. Neste caso, o comentarista que discordar sinta-se à vontade para me contestar com veemência.

Chegou a hora de os visitantes da Zona Norte se apresentarem e darem sua valiosa contribuição à postagem.

Onde possível, o Luiz abrilhantou cada foto com os dados obtidos no famoso livro da Alice Gonzaga, "Palácios e Poeiras".

Apertem os cintos porque a viagem vai ser longa. Comecemos.

OBS: depois que recebi a excelente postagem do Helio, a quem mais uma vez agradeço a contribuição,. fui ao excepcional livro da Alice Gonzaga, "Palácios e Poeiras (que recomendo muito a todos os interessados na história dos cinemas cariocas), e complementei algumas informações. Alguns dos cinemas citados foram grandes salas de exibição em sua época.

1) Cine Anchieta (antigo Cine Tropical, inaugurado em 1947)


Endereço: Estrada Marechal Alencastro Guimarães nº 4211

Bairro: Anchieta

Inauguração: 11/07/1955

Fechamento: 09/04/1978

Capacidade: 280 lugares

Moisés M. Marinho foi um dos frequentadores deste cinema. Conta que assistiu muitos filmes e fez muitas bagunças neste cinema. Ele foi aluno do ginásio, nos anos 60, do Colégio Pereira Mendes, e diz que hoje Anchieta está irreconhecível.

2) Cine Beija-Flor / Madureira 3



O "Beija-Flor" em seus primeiros tempos.


O "Beija-Flor" em foto de 1958.


Já como "Madureira 3" em foto de 1994.

Endereço: Rua Lopes nº 169, renomeada Rua Antônia Alexandrina nº 167 e Rua João Vicente nº 15.

Bairro: Madureira

Inauguração: 1915

Fechamento: 21/09/1986 (transformou-se no cine Madureira 3)

Capacidade: 710 lugares (1937), 480 lugares (1960)

Alice Gonzaga conta que em meados do século XX, na parte da Central do Brasil, Madureira era o subúrbio mais beneficiado, pois tinha nada menos que quatro cinemas bem instalados (Alfa, Beija-Flor, Coliseu e Madureira).

3) Cine Bruni Méier (antigo Cinema Méier de 15/11/1919 a 06/11/1963)

O antigo  cinema Méier.


Endereço: Rua Amaro Cavalcanti nº 105 (antigo nº 25)

Bairro: Méier

Inauguração: 07/11/1963

Fechamento: 16/01/1977

Capacidade: variou em 450 e 650 lugares.

OBS: A partir de 17/01/1977 voltou a ser Cine Méier. A partir de 01/07/1981 voltou a ser Bruni Méier.

Na década de 60 a palavra “Bruni” era tratada como sinônimo de cinema. O padrão de suas salas era “jovem”, com “conforto moderno”. Em uma década 12 cinemas “Bruni” foram inaugurados, alguns aproveitando salas antigas, como o do Méier.

4) Cine Comodoro


Endereço: Rua Haddock Lobo nº 145

Bairro: Tijuca

Inauguração: 17/07/1967

Fechamento: 02/11/1988

Capacidade: 816 lugares.

Cheguei a ir a esse cinema umas poucas vezes. Numa delas, assisti à ópera-rock "Tommy", do conjunto "The Who". Numa outra, fui enganado pelo anúncio de jornal, entrei para ver um determinado filme, e quando percebi após os trailers começou a passar o nefando "Independência ou Morte", com Tarcísio Meira. Saí muito "pê" da vida do cinema. Paguei ingresso à toa.

5) Cine Guarabu

Foto tirada em 1982.

Endereço: Rua Sargento João Lopes nº 826

Bairro: Ilha do Governador

Inauguração: 20/04/1950

Fechamento: 14/05/1982. Depois Studio Ilha de 11/06/1982 a 25/11/1984

Capacidade: 380 lugares

Os antigos comentaristas do “Saudades do Rio” dizem que o fusquinha era do Celsão, o “Manitu”, fã incondicional da Lucelia Santos.

6) Cine Guaraci

Foto tirada em novembro de 1982.

Endereço: Rua dos Topázios nº 56

Bairro: Rocha Miranda

Inauguração: 10/02/1954

Fechamento: 03/01/1989

Capacidade: 1.379 lugares

Alice Gonzaga cita o Cine Guaraci como “um palácio cinematográfico em grande estilo. A sala, uma das mais belas da cidade, foi a única que combinou elementos de “art-nouveau” e “art-déco”.

7) Cine Irajá



Endereço: Avenida Monsenhor Félix nº 454

Bairro: Irajá

Inauguração: 1941

Fechamento: 12/06/1983

Capacidade: 1146 lugares

Segundo Alice Gonzaga, Vital Ramos de Castro, o mais bem sucedido dos exibidores independentes, caracterizou-se por fazer cinemas de fachadas simples, cujo padrão era uma suavização do "art décô", trabalhando em cima de figuras geométricas básicas.

Não posso deixar de transcrever relatos do prezado “Irajá” a respeito deste cinema:

“A primeira lembrança é de entre os anos de 1949 a 1953, quando o Cine Irajá ainda possuía tela quadrada e eram projetados filmes em preto e branco como “O Monstro da Lagoa Negra”, “Roy Rogers’, ‘Zorro’, desenhos animados do Mickey, chanchadas da Atlântica e a Atualidades Atlântica. Entre os filmes brasileiros marcou-me o Tico-Tico no Fubá, deixando-me para sempre um grande gosto pela valsa Branca. Mas o mais marcante em todos esses anos, foram as sessões das quintas e sextas feiras da Semana Santa. Nestes dias, revestido de muita pompa e contrição, era exibida a Vida de Cristo, versão ainda do cinema mudo e com baixa sequência de quadros, o que fazia as pessoas caminharem aos trancos, como nos célebres filmes de Carlitos. A época um bairro tradicionalmente católico, nossos pais praticamente nos impunham assistir este filme. O pior é que, considerando ser um dia de comedida alimentação, não nos deixavam levar pipocas ou balas para a sala de projeção. Para completar, exigiam-nos um estado contrição durante toda a exibição.”

“A segunda lembrança se faz quanto da reforma do cinema em início de 1954. Mês de férias e o cinema fechado foi um assunto de grande protesto para a garotada, privada que estava das suas boas tardes de domingo. Mas a espera foi compensadora. No dia da reabertura a fila ultrapassava a linha dos trens da Rio D’Ouro, o que fazia uma estranha interrupção da mesma, pois logicamente ninguém ficou sobre os trilhos. Os bondes chegaram cheios de gente de Vaz Lobo e de trem muitos vieram de Vicente de Carvalho e Colégio. Para mim foi um delírio: O primeiro sinal, o segundo sinal e ao terceiro, com luzes coloridas piscando nos abajures de gesso laterais, a projeção da logomarca do novo tipo de filme, em Cinemascope, sobre as pomposas cortinas vermelhas. De imediato a abertura desta cortina e já sob os aplausos, assobios e alguns berros da garotada, a apresentação de “O MANTO SAGRADO”.”

“A terceira foi quando eu e um colega de muitas aventuras, após semanas de expectativa, desde que fora anunciada a sua exibição, projetamos ludibriar o porteiro do Cine Irajá e assistirmos um filme para nós ainda proibido. Ambos tínhamos então 17 anos e meio, e o filme, tremendamente censurado, era proibido a menores de 18 anos. O velho porteiro já nos conhecia de muitas e muitas vezes pagando meia entrada e provando ter mais de 14 anos. Compramos inteira para não ter que apresentar a caderneta escolar. Ao passamos pelo porteiro e já entrando na sala de projeção ouvimos dele apenas: “Rapazes, por que vocês pagaram inteira?”. Sentamos e aguardamos ansiosos ouvindo alguns dos sucessos de Frank Sinatra. Veio o primeiro sinal, o segundo, o terceiro, as luzes piscando, a projeção sobre a cortina vermelha e esta se abrindo e... Fogo no topo da cortina, as labaredas se propagando, o tumulto, o calor intenso. Na fuga da sala uma mulher berrava: “Isso aqui virou um inferno”. Após a chegada dos bombeiros de Campinho, sentados na calçada do outro lado da rua assistindo o trabalho de combate ao incêndio, lendo o grande cartaz do cinema, nos ríamos ao limite da dor de barriga. Título do filme: A Caldeira do Diabo.”

8) Cine Marajá (antigo Mignon Cinema, de 1911)

Foto tirada em 16/09/1982.

Endereço: Rua Ana Néri nº 910

Bairro: Engenho Novo

Inauguração: 25/01/1951

Fechamento: 31/05/1970

Capacidade: 628 lugares

9) Cine Palácio Campo Grande


Endereço: Rua Augusto de Vasconcelos nº 139

Bairro: Campo Grande

Inauguração: 12/08/1962

Fechamento: 30/09/1990

Capacidade: 1749 lugares

OBS: Consta ter sido o maior cinema do Rio de Janeiro. Segundo Alice Gonzaga, jornais do bairro assim escreveram: “Agindo como porta-voz da população local, diremos que a nova casa de diversões decepcionou a todos. Arquitetura primária, de mau gosto, com fachada bastante feia, o novo cinema ganhou o apelido carinhoso de “armazém”. As cadeiras são de madeira (...), pois o proprietário acha o público campo-grandense pouco evoluído para desfrutar de poltronas estofadas.”

10) Cine Regência

Foto do início dos anos 1990

Endereço: Avenida Ernani Cardoso nº 52

Bairro: Cascadura

Inauguração: 06/01/1956

Fechamento: (ainda em funcionamento)

Capacidade: 690 lugares

O Cine Regência foi o ponto de partida para a grande cadeia de Livio Bruni. Depois dele arrendou o Rivoli, Royal e o primeiro Mello. Pouco depois aconteceu o inevitável consórcio com outros pequenos exibidores independentes, necessário à alavancagem de uma grande empresa.

11) Cine Santa Cruz 



Foto tirada em 1994.

Endereço: Rua Felipe Cardoso nº 72

Bairro: Santa Cruz

Inauguração: 1924

Fechamento: fechou em 1979, virou um tempo evangélico, reabriu no início dos anos 1990 e fechou novamente no fim desse mesmo período.

Capacidade: 288 lugares

12) Cine São Geraldo


Endereço: Rua Alfredo Barcelos nº 572

Bairro: Olaria

Inauguração: 23/03/1949

Fechamento: 04/1991

Capacidade: 381 lugares

Alice Gonzaga não registra, mas um morador da região afirma que antes teve o nome de Cinema Oriente, e após o fechamento do Cine São Geraldo, funcionou no local a danceteria Kremlin, e após o fechamento desta, a Academia do Pagode.

13) Cine Todos os Santos



Foto dos anos 1980.

OBS: Era conhecido como "Todinho" ou "Metro Todos os Santos" (haja pretensão!!)

Endereço: Rua Getúlio nº 18

Bairro: Todos os Santos

Inauguração: 31/07/1944

Fechamento: 29/01/1984

Capacidade: 474 lugares

Foi adquirido por Roberto Darze que, com a decadência da cadeia Bruni, apresentava-se como opção para compra ou arrendamento. Foi um grande exibidor, por uma época. Associou-se à Horus Filmes, famosa distribuidora de filmes eróticos. Conseguiu driblar a censura e firmar o gênero, atuando no Cineac Trianon desde meados da década de 60. Assim se difundiriam os impagáveis títulos...

14) Cine Vitória Bangu


Endereço: Avenida Santa Cruz nº 1745 (antiga Estrada Real de Santa Cruz nº 231

Bairro: Bangu

Inauguração: 26/07/1928

Fechamento: 16/08/1981

Capacidade: inicialmente 837 ou 790 lugares, dependendo da época

15) Cine Fluminense

O Cine Fluminense em seus primeiros tempos.



Endereço: Campo de São Cristóvão nº 105 (antigo nº 69)

Bairro: São Cristóvão

Inauguração: 17/12/1916, fechado para reformas e reaberto em 19/03/1932

Fechamento: 31/05/1981 (virou estúdio de televisão).

Capacidade: 1.500 lugares