Nunca entrei na igreja da
“Paróquia Matriz de Nossa Senhora da Glória”, somente passei defronte a ela. O
texto de hoje, então, é em sua maior parte o disponível pelo Sindegtur. Sei que
há um livro com muitas informações sobre ela: “O Rio de Janeiro: sua história,
seus monumentos, homens notáveis, usos e curiosidades”, de Moreira Azevedo.
Também há muitas notas no “site” da própria igreja.
A freguesia de Nossa
Senhora da Glória foi criada pelo Decreto da Assembleia-Geral nº 13, de 09 de
agosto de 1834, e desmembrado na mesma data o seu território da de São José. A
igreja Matriz, ereta no Largo do Machado, está sob a invocação da padroeira da paróquia.
A Irmandade do Santíssimo Sacramento de Nossa Senhora da Glória foi fundada em
26 de janeiro de 1835, aceitando a Capela de Nossa Senhora dos Prazeres como Matriz
provisória. Esta capela pertencia a Antônio Joaquim Pereira Velasco, na rua das
Laranjeiras.
Em 04 de abril de 1835 foi
comprada pela quantia de 5:187$686, inclusive despesas de transmissão de
propriedade, a capela de Antônio José de Castro, construída em 1720, próxima ao
Largo do Machado e reconstruída em 1818, pela Rainha Carlota Joaquina. Nessa capela
esteve a Matriz de 1835 a 1837, quando a mesma foi vendida ao Comendador José Batista
Martins de Souza Castelões, que a demoliu e aí construiu uma bela residência,
então na Rua das Laranjeiras nº 9.
O terreno para a nova Matriz
foi cedido por Domingos Carvalho de Sá, com frente para o Largo do Machado,
entre a Rua das Laranjeiras e Gago Coutinho (antiga Carvalho de Sá).
Imagem do Google Maps com a localização da igreja no Largo do Machado.
Em 18 de julho de 1842
teve lugar a cerimônia da colocação da pedra fundamental da Matriz.
O projeto geral do
templo, em estilo neoclássico, bastante inspirado na Igreja da Madalena em Paris,
foi elaborado pelos arquitetos Júlio Frederico Koeler e Charles Philippe Garçon
Riviére.
Em 1844, os alicerces de madeira
queimada estavam colocados, e começou-se então a obra pela capela-mor. A 27 de abril de 1851 o projeto foi alterado
pela Mesa “para se corrigir os seus defeitos”. Dois anos depois, começava-se a
obra da frente da igreja. A capela-mor já deveria estar pronta, pois em 1855, o
escultor Honorato Manuel de Lima era contratado para a obra dos estuques artísticos
da capela-mor. Deveria existir um primitivo altar-mor, tirado da velha capela,
pois este é citado no ano seguinte, quando um irmão anônimo ofereceu a pia batismal
e o douramento do nicho da padroeira no altar-mor.
Em 12 de junho de 1864, passou
a dirigir as obras o arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, que nesse
ano orçou o madeiramento do templo e começou a assentar as colunas da fachada. Depois
de uma curta interrupção dos trabalhos, as obras recomeçaram em 1865, sem
interrupções. Nesse ano, em novembro, cuidavam-se dos capitéis de pedra das colunas
da fachada. Em 1866 o templo foi finalmente coberto. Em 26 de maio de 1867,
trabalhava-se já na base da torre sineira. Em 11 de agosto seguinte,
terminam todas as obras das paredes. Passava-se agora à decoração interna.

Em 18 de novembro de
1868, foi aceita pela Mesa a proposta de Etienne Bernarchut Sobrinho para
modificação do coro da igreja. No dia 08 de agosto de 1869 assinou-se contrato com
o escultor Manoel Chaves Pinheiro para a execução do painel do arco-cruzeiro. A
22 de agosto do mesmo ano, a Mesa aprovou a maquete da decoração interna, de
autoria de Chaves Pinheiro, para as obras do coro, o alargamento da porta
principal, a construção de seis janelas na fachada, as obras da abóbada
superior, cujo contrato de execução foi entregue ao arrematante Bernarchut
Sobrinho. Tudo seria executado com material do país, à exceção do coro, feito
com madeiras vindas da França.
No mesmo contrato, acertou-se a fatura dos seis altares
do templo com Antônio Jacy Monteiro. A 25 de outubro de 1870, Bernarchut
Sobrinho arrematou as obras do coro e tribunas. O escultor Antônio do Couto
Vale arrematou a cantaria para a cimalha da fachada e empenas. O assentamento
das pedras foi arrematado por Bernarchut Sobrinho. No mesmo ano foram colocados
os capitéis dos pilares internos, por Salgueiro & Irmão.
Foi comprado pela
Mesa na França um lustre de 49 luzes, para a nave-mór e encomendados na Europa
pisos, estátuas de mármore para os nichos do arco-cruzeiro e imagens para os
altares. Pagou-se o entalhador Antônio Jacy Monteiro pela execução do altar-mor
definitivnco altares colaterais. Em 03 de setembro de 1871, a Mesa resolveu encomendar
na França o emblema em pedra da ordem, para o frontispício, bem como a obra dos
púlpitos. Ainda no mesmo ano chegou o lustre de cristal, mas não todas as
imagens.
Antiquíssima e bela foto
de Auguste Stahl, feita em 1863, no Largo do Machado. Ao fundo a igreja neoclássica ainda sem a torre sineira. Dois
operários estão assentando "pedras portuguesas" na alameda central da
praça.
Vemos a entrada da missa
das 10 horas, em torno de 1900, na Igreja Matriz de N. S. da Glória.
Tempos da
missa em latim, começando com:
Padre: Introibo ad altare Dei.
Coroinha: Ad deum
qui laetificat juventutem meam.
Padre: Judica me Deus, et discerne causam meam
de gente non sancta: ab homine iniquo et doloso erue me.
Coroinha: Quia tu es
Deus fortitudo mea: quare me repulisti, et quare tristis incedo, dum affligit
me inimicus?
Os "coroinhas", habitualmente crianças entre 8 e 12
anos, decoravam todas as respostas e as repetiam com um som aproximado, como
papagaios. Os fiéis realmente "assistiam à missa" pois também não
compreendiam as palavras (pelo menos o sermão era feito em português).
Até a
década de 60 não era permitido às mulheres entrar nas igrejas católicas com
blusas sem mangas ou comungar sem véu.
Consta que algumas comentaristas deste
espaço foram "Filhas de Maria", com seus vestidos brancos e fita azul
no pescoço ou membros do "Apostolado da Oração", com suas fitas
vermelhas. Alguns poucos comentaristas pertenceram à "Congregação
Mariana". A maioria, entretanto, imaculadamente vestida de branco, fez a
"Primeira Comunhão", empunhando a vela, o terço, o livro de madrepérola.
Vemos um evento militar em frente à igreja. Ocorria ali pois o Largo do Machado chamava-se na ocasião Praça Duque de Caxias e havia um monumento em homenagem a Caxias no meio da praça. Hoje ele está na Praça da República.
Os fiéis, elegantemente vestidos, na entrada da igreja. Consta que após a missa havia um "footing" pela praça.