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sábado, 4 de fevereiro de 2023

DO FUNDO DO BAÚ - LOJAS

LOJAS ANTIGAS, por Helio Ribeiro

OBS: Esta foi a mais difícil postagem que já fiz, em virtude da escassez de dados confiáveis sobre as lojas e de fotos delas. Por exemplo: não consegui informações sobre "A Exposição", “Casa Mattos”, “Camisaria Progresso”,  “À Colegial” e por isso não as coloquei na postagem.

Nota do editor: como eu consegui alguma coisa, falo sobre estas lojas ao final.

As sucessivas recessões econômicas, a competição acirrada, a mudança nos hábitos e gostos do consumidor, as compras e fusões de empresas, o comércio online e outros fatores determinaram a extinção de muitas lojas famosas de antigamente. Hoje vamos relacionar algumas delas.

Os dados de inauguração e encerramento se referem às lojas da cidade do Rio de Janeiro, a menos que expressamente citado algo em contrário. Em alguns casos fica difícil determinar a data de encerramento, porque o processo se arrasta durante anos, com idas e vindas, até mesmo com reaberturas e reencerramentos.

1) Sears


Ramo: loja de departamentos

Inauguração: 1949

Encerramento: década de 1990, quando as lojas passaram a ser do Mappin ou de alguns shopping centers.

Comentários: A Sears, Roebuck and Company foi fundada em Chicago em 1886 (ou 1893, há controvérsias), pelos relojoeiros Richard Warren Sears e Alvah Curtis Roebuck. Foi a primeira loja de departamentos a vender por catálogo e a possuir quase tudo em suas lojas. Na década de 1960 tornou-se a maior varejista do mundo, sendo ultrapassada apenas em 1991 pela Walmart. No Brasil, usava o slogan "Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta" e foi líder de mercado até o início dos anos 1980.

2) Mesbla


Ramo: loja de departamentos

Inauguração: 1912, no número 83 da rua da Assembleia

Encerramento: faliu em julho de 1999. A loja-sede, no Passeio Público, fechou em 13 de agosto desse ano. A última loja a fechar foi a filial de Niterói, em 24 de agosto do mesmo ano. Houve uma tentativa abortada de reabertura em 2009/2010. Em 3 de maio de 2022 foi lançado o site Mesbla.com, numa outra tentativa de ressuscitar a empresa, agora com plataforma de marketplace, com 250 categorias de produtos.

Comentários: O nome é uma fusão de Mestre e Blatgé, empresa francesa que deu origem à filial brasileira, e foi escolhido num concurso interno realizado em 1939 e vencido por uma secretária do administrador da empresa na época. Nos anos 1980 tinha 180 pontos de venda e empregava 28 mil pessoas. Suas lojas raramente ocupavam menos de 3 mil metros quadrados. Em 1986 a revista Exame a considerou a melhor empresa do Brasil. O som do relógio da Mesbla Passeio, a cada quarto de hora e hora cheia, era famoso e chegava ao longe.

3) Casa Garson


OBS: As informações sobre a Casa Garson não são totalmente confiáveis.

Ramo: varejista de eletrodomésticos, móveis e discos

Inauguração: 1930

Encerramento: adquirida em 1995 pelas Casas Bahia

Comentários: O fundador se chamava Samuel Garson, que por coincidência era casado com uma prima da minha sogra. Inicialmente ele tinha um pequeno negócio de conserto de pianos. Empregou seu sobrinho Abraham Medina, ao qual ensinou o mister. Por volta de 1932, dado o sucesso de vários cantores, Abraham sugeriu ao tio investir na venda de aparelhos de rádio. E assim a Casa Garson progrediu. A empresa patrocinava cantores como Cauby Peixoto e Ângela Maria, além de programas de rádio e TV. Abraham Medina, então diretor da empresa, patrocinava na Rádio Nacional o programa dominical do cantor Francisco Alves, de quem era fã, e posteriormente abriu sua própria rede de lojas, a Rei da Voz, cujo nome era uma homenagem ao cantor. Com a morte de Samuel Garson, a empresa começou a definhar.

4) Rei da Voz


OBS: As informações sobre o Rei da Voz não são totalmente confiáveis.

Ramo: varejista de eletrodomésticos, principalmente discos, rádios e eletrolas

Inauguração: final da década de 1950

Encerramento: ?

Comentários: O fundador foi Abraham Medina, sobrinho de Samuel Garson, dono da Casa Garson. Medina fugiu de casa ainda adolescente, em virtude dos maus tratos recebidos da madrasta, e foi morar com o tio Samuel. Quando este fundou a Casa Garson, Medina tornou-se diretor. Ele patrocinava na Rádio Nacional o programa dominical do cantor Francisco Alves, de quem era fã, e posteriormente abriu sua própria rede de lojas, a Rei da Voz, cujo nome era uma homenagem ao cantor. O primeiro presidente da empresa foi Samuel Garson, que depois saiu da sociedade. Medina foi um dos criadores do famoso programa de TV Noite de Gala e patrocinou inúmeros shows e eventos na cidade. Seus filhos Rubem, Roberto e Ruy se tornaram empresários de sucesso em seus ramos. Roberto idealizou o primeiro Rock in Rio, em 1985.

5) Ducal


Ramo: roupas masculinas

Inauguração: 1950

Encerramento: 1986, já como Bemoreira-Ducal, criada em 1966

Comentários: O nome era a junção de "duas calças", pois a loja vendia uma segunda calça mais barata para quem comprasse um terno. O fundador foi José Vasconcelos de Carvalho, junto com dois primos. A empresa fez muito sucesso nas décadas de 1950 e 1960. A Ducal era um grande grupo empresarial, envolvendo fábrica de roupas, de eletrônicos, supermercado (Dado - o primeiro do gênero no Rio), varejo de utilidades domésticas, imobiliárias, serviços de banco de dados (Datamec), consultoria jurídica e de crédito, agência de publicidade e até galeria de arte (Petite Galerie). A derrocada ocorreu nos anos 1960, quando a inflação galopante começou a dar prejuízo à empresa, cujo sistema de crédito era de prestações fixas. Em 1966 juntou-se à empresa mineira de eletrodomésticos Bemoreira, mas a inflação continuou afetando os negócios e levou-a à falência.

A Ducal lançou mão de pessoas famosas em seus anúncios. Abaixo vemos Pelé divulgando a criação Sparta, em 1972.


6) Casa Tavares



Ramo: roupas masculinas

Inauguração: 1938

Encerramento: anos 1990

Comentários: A Sociedade era constituída pelos senhores. Orlando Tavares Ferreira, Oswaldo Tavares Ferreira e Alfredo Vaz de Carvalho. Os dois primeiros trabalhavam em alfaiatarias e o terceiro, com 18 anos, iniciou sua vida comercial na então primeira casa Tavares. A Organização possuía, além da loja da rua São José, a da rua Senador Dantas, inaugurada em 1943, a da Rua da Quitanda, e a de Copacabana, inaugurada em 1959 na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. O símbolo da empresa era o simpático cãozinho da raça terrier escocês. Ficou famosa a propaganda em que uma beldade puxando o cachorrinho pela coleira cruzava com um mancebo e este perguntava: "Qual é o telefone do cachorrinho?".

7) Casa Sloper


Ramo: (vide no item "Comentários", abaixo)

Inauguração: 1899

Encerramento: 2014 (?)

Comentários: Foi fundada em 1899 pelo inglês Henry Willmott Sloper, numa pequena loja de 30 metros quadrados na  Rua do Ouvidor. Com o tempo, expandiu-se para outros bairros e Estados. Oferecia uma diversidade de produtos: acessórios como cordões, pulseiras, anéis, cosméticos, vestuário feminino, masculino e infantil, roupa de cama e mesa, brinquedos, cristais e objetos de decoração. Um presente da Casa Sloper era sinônimo de bom gosto. As atendentes estavam sempre elegantes, com penteados impecáveis e uniformizadas, além de serem famosas por sua beleza e qualidade no atendimento. Com o tempo, perdeu espaço para lojas como as Americanas e Mesbla e no início dos anos 1990 iniciou sua derrocada.

8) LOBRÁS (Lojas Brasileiras)


Ramo: loja de departamentos

Inauguração: 1944

Encerramento: 29/07/1999 (parte da LOBRAS virou Marisa)

Comentários: Foi fundada por Adolfo Basbaum. Tinha com concorrente as Lojas Americanas, que atuavam no mesmo segmento de negócio. A família Goldfarb, dona das Lojas Marisa, comprou o controle acionário das Lojas Brasileiras em 1982. As duas marcas coexistiram até 1999, com a LOBRAS atuando como loja de departamentos e a Marisa no ramo de moda e roupa íntima feminina. Em 29 de julho de 1999 as Lojas Brasileiras encerraram as atividades, após uma série de prejuízos financeiros. Ao fechar, havia 63 filiais em vinte Estados. Parte das unidades das Lojas Brasileiras foi repassada à Marisa.

 9) Casa Cruz


Ramo: papelaria e livraria (livros didáticos)

Inauguração: 06/12/1893

Encerramento: 08/2017 (lojas físicas) e 2018 (lojas virtuais)

Comentários: Fundada por José Rodrigues da Cruz. A loja da rua Ramalho Ortigão sofreu ao longo dos anos diversos incêndios, o último em dezembro de 2007. Em 2001 foi criada a loja e site virtuais. Em agosto de 2017 todas as lojas físicas foram fechadas, mantendo apenas as virtuais, que por sua vez saíram do ar em 2018.

10) Ultralar


Ramo: inicialmente, venda de botijão GLP. Posteriormente, loja de departamentos.

Inauguração: 1956

Encerramento: 2000

Comentários: Fazia parte do grupo Ultragás e inicialmente vendia apenas botijões de gás GLP. Os negócios progrediram, tornou-se loja de departamentos e nos anos 1970 chegou a abrir em São Paulo um hipermercado, o Ultracenter, mais tarde comprado pelo Carrefour. Quando fechou, em 2000, a maioria das lojas foi comprada pelas Casas Bahia.

              ---------------  FIM  DA  POSTAGEM  ---------------

ADENDO DO SDR:

11) Camisaria Progresso


Ramo: loja de departamentos

Inauguração: última década do século XIX.

Encerramento: Depois do presidente Carlos Brandão que construiu o atual prédio, o negócio foi transferido para o comerciante José Tufick Simão, um forte atacadista e arrematador nos leilões da Alfândega do RJ e SP, que possuía um comércio de importação na Rua Gonçalves Ledo nº 57. Após a morte deste, em 1969, a presidência da Camisaria foi transferida para seu filho mais velho Tufy Simão Neto e seus irmãos que indenizaram integralmente todos os 80 ou 100 empregados, inclusive os mais antigos sendo a firma desativada “e não falida” e o ponto comercial negociado com Ban-tan Ramenzoni uma industria tradicional de chapéu que por algum motivo, decidiu montar uma filial aqui no Rio de Janeiro.

Comentários: Fabricante especial de roupas brancas para homens, senhoras e crianças, e importação direta das principais fábricas da Europa. Visitem as nossas grandes exposições. Praça Tiradentes nº 2-4, esquina da Rua da Carioca. Vendas a preços fixo. Telefone 1880.  Peçam nossos catálogos. Castro Lopes & Brandão. Em 1958 um grande incêndio atingiu a loja da foto, destruindo-a. Em seu lugar ficou um prédio muito feio.

12) À Colegial


Ramo: loja de trajes esportivos e uniformes escolares.

Inauguração: ?

Encerramento ?

Comentários: tradicional loja de uniformes escolares em meados do século XX, era concorrente de outra loja famosa “O Pavilhão”.

13) Casa Mattos


Ramo: livraria e material escolar

Inauguração: 1916

Encerramento ?

Comentários: Propriedade de Ferreira de Mattos & Cia. Ltda. Famosa pela venda de material escolar, a “Casa Mattos”, originalmente na Rua Ramalho Ortigão, tinha muitas filiais. Na foto vemos uma delas em frente à Praça General Osório, em Ipanema. Tempos depois a loja de Ipanema se mudou para o quarteirão seguinte, entre Teixeira de Melo e Farme de Amoedo. Denise e Zé Augusto Salinas, dos últimos donos, foram meus amigos.

14) A Exposição

Ramo: loja de departamentos

Inauguração: primeira metade do século XX.

Encerramento: ?

Comentários: A EXPOSIÇÃO foi fundada pelo cearense Lauro de Souza Carvalho. A foto é de 1971, de Gyorgy Szendrodi. O "slogan" era "Basta ser um rapaz direito para ter crédito na A  Exposição". Esquina de Avenida com São José.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

CINE PAISSANDU


O Cine Paissandu, localizado na Rua Senador Vergueiro nº 35-F tinha, originalmente, 742 lugares. Foi inaugurado em 15/12/1960 e funcionou até 15/04/1973.  Na noite de inauguração houve uma sessão beneficente patrocinada pela Sra. Carlos Lacerda, com renda para a Escola Pública do Estado da Guanabara.

Depois se transformou no Studio-Paissandu até 1984, Cinema Paissandu por alguns meses, Paissandu Nostalgia de 1985 a 1988, Cinema Paissandu de 1988 a 1989, Studio Paissandu por 6 meses, e a partir de abril de 1990 passou a se chamar Cinema de Arte Estação Paissandu. Acabou fechando as portas em 2008. Hoje em dia é a Academia Bluefit.

Conforme nos conta A. Gonzaga, em "Palácios & Poeiras", o Cine Paissandu "foi palco dos "filmes-cabeça" dos anos 60, designação que englobava tanto fitas comuns quanto obras com grandes pretensões estéticas, política e/ou sociológicas.

A mística do lugar surgiu em função dos frequentadores e da programação, pois o cinema nada tinha de especial. Criou-se, inclusive, um diferencial de comportamento, com as famosas sessões de meia-noite e os Festivais Brasileiro de Cinema Amador, mais conhecidos como Festivais JB-Mesbla. Virou emblema da geração que queria mudar o país e o mundo". 


O Cine Paissandu apresentava filmes como “O Demônio das Onze Horas”, de Godard, com Belmondo, e “Hiroshima, Mon Amour”, de Alain Resnais, com roteiro de Marguerite Duras.

 Eram famosas as sessões as sextas-feiras e sábados, tarde da noite, quando Godard era idolatrado por “Alphaville” ou “Le petit soldat”, Agnès Varda por “As duas faces da felicidade” ou “Cleo de 5 às 7”, Claude Chabrol por “A espiã de olhos de ouro contra o Dr. Kha”, entre outros.

Havia três tipos básicos de frequentadores do Paissandu: os intelectuais, os pseudo-intelectuais e os que iam porque estava na moda. 


Em promoção do MAM e do JB, “Os melhores de 1966”. Não consegui apurar quais foram os dez, mas entre eles estava “Caçada Humana”, de Arthur Penn, com Marlon Brando e Robert Redford, e "Viridiana", de Resnais.

Era habitual haver sessões especiais promovidas pela Cinemateca do MAM como, por exemplo, “Sabotage”, um clássico de Alfred Hitchcock, produzido em 1936. Nesta mesma sessão, de 07/01/1966, às 22h30, foi exibido o curta-metragem “The Builders”, de Hart Spraguer.


E do baú do Rouen sai esta foto mostrando estudantes em frente ao Cine Paissandu, tendo um belo Puma participando do encontro. Na esquina havia o Bar Cinerama, hoje Garota do Flamengo. Bem ao lado do cinema ficava a lanchonete Oklahoma, onde as discussões pós-filme se estendiam pela madrugada.  A Oklahoma tinha uma das piores pizzas do Rio, mas era a única coisa aberta na região após a meia-noite.

Em 1970, a revista Fatos&Fotos junto com a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, exibiram no Cine Paissandu os melhores filmes da década. Foram eles: “Persona”, de Bergman, “Viridiana”,de Buñuel, “Blow-Up”, de Antonioni, “2001-Uma odisseia no espaço”, de Kubrick, “O homem que matou o facínora”, de Ford, “O silêncio”, de Bergman, “O evangelho segundo São Mateus”, de Pasolini, “Mouchette, a virgem possuída”, de Bresson, “A guerra acabou”, de Resnais, “Pierrot le fou”, de Godard, “Madre Joana dos Anjos” de Kaeslerowicz, “Playtime”, de Tati, “Acossado”, de Godard, “Deus e o Diabo na terá do sol (Glauber), “O ano passado em Marienbad”, de Resnais, “Hiroshima, meu amor”, de Resnais, “A aventura”, de Antonioni.

Fui a quase todos, uma parte porque me interessava, outra parte (que achei chatíssima) por conta de uma namorada que estudava Psicologia na PUC e me arrastava com ela. Era adepta de Carl Rogers, me fez ler "Tornar-se pessoa", baseado na consideração positiva incondicional, empatia e congruência. Em tempo: a namorada era muito bonitinha.



  • Em cartaz no Cine Paissandu o documentário “Histórias de uma geração”, de Christian Jafas.

  • O Paissandu tinha de diferente, além da programação e clientela, um bar interno, com janelões para a platéia. Perdia em qualidade do som e da imagem, mas era disputadíssimo, pelo simples fato que podia se fumar neste salão anexo. E como se fumava! De tudo. 


  • Depois do filme todos iam para o chope no Bar Cinerama, vizinho ao cinema, ou para a Oklahoma comer pizza, onde ficavam madrugada adentro.

  • Um antigo comentarista do “SDR” escreveu sobre a turma do Paissandu: “Esquerda festiva foi um apelido pejorativo inventado por quem não gostava nadinha nem da esquerda, nem de festas. Aqueles que como eu, eram jovens naquela época, hão de concordar que a alternativa (a direita que não ia a festas) devia ser muito pior."

  •  

  • Baluarte da contracultura durante o regime militar, o cinema formou, nos anos 1960, a Geração Paissandu, rótulo que agrupava jovens cinéfilos e intelectuais de esquerda incapazes de perder os longas de Jean-Luc Godard, Louis Malle, Michelangelo Antonioni, François Truffaut e outros cineastas autorais. Era moda naquela época ser sócio da Cinemateca do MAM e ter assinatura dos "Cahiers du Cinéma".

  • Em 1973, com dificuldades, passou a se chamar Studio Paissandu. A foto é de 1982. No final dos anos 80, tornou-se o Paissandu Nostalgia, que tinha a proposta de exibir clássicos do cinema, e finalmente foi comprado pelo Grupo Estação, passando a se chamar Estação Paissandu. Entre uma e outra fase chegou a deixar de lado o perfil alternativo, o mais marcante quando ainda se chamava "Nostalgia" enquanto exibia filmes atuais.

  • O letreiro acompanhou as mudanças: o painel convencional mostrado passou a ser um letreiro laranja na época do Studio, substituído na época do Nostalgia por um grande painel com os logotipos dos estúdios de Hollywood em neon. Depois ficou sem qualquer painel, em seu lugar foi tomado pelo letreiro do restaurante Oklahoma, no lugar desde 1961, e o que era uma simples lanchonete ampliou seus domínios sobre a calçada. 


  • Cinema Studio-Paissandu exibindo o filme “O Picolino”, de 1935, com Fred Astaire e Ginger Rogers.

  • Vemos a lanchonete Oklahoma e o Lanches Saint-Tropez, junto à entrada do Paissandu. Mais à frente, na esquina, ficava o bar/restaurante Cinerama, onde hoje é a "Garota do Flamengo".  


  • Esta imagem do Google Maps mostra a região atualmente. O Oklahoma avançou sobre a calçada. Ao lado, a Academia de Ginástica Bluefit tomou o lugar do antigo Cine Paissandu.

  • Depois de 48 anos, de 1960 a 2008, o cinema foi o "point" desta região.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

IGREJINHA DE COPACABANA - POSTO 6


A primeira igrejinha do Posto 6, em Copacabana, foi a que ficava onde hoje é o Forte de Copacabana. Com a sua demolição, para a construção do Forte, foi construída, muito tempo depois, uma capela pertinho do Forte, na Rua Francisco Otaviano em frente ao prédio do Cassino Atlântico, depois da TV Rio, que é a que se vê nesta foto de  George Gafner, obtida no site Jornal de Copacabana.

A localização desta igreja que aparece na foto foi um dos maiores equívocos (senão o único sobre Copacabana) do Sr. Dr. Professor Andre Decourt, meu mestre. Num comentário feito há anos ele achava que ficava onde é a atual igreja da Ressurreição. Não deixo nunca de implicar com o caro amigo Andre por causa disso.



Esta igrejinha foi parcialmente inaugurada em outubro de 1954. Foram múltiplos os eventos para arrecadar fundos para a conclusão da igrejinha. Peças de teatro, jantares, espetáculos musicais. Entre eles incluiu-se a “avant-première” do filme “Comandos do Ar”, com James Stewart, que foi fotografado segurando um panfleto da igrejinha, em Hollywood.


Vê-se a grande cruz de madeira trazida do Aterro do Flamengo onde havia sido realizado o Congresso Eucarístico internacional em 1955 (há uma foto desta cruz toda iluminada, mas não consegui achar no meu acervo. Quem a tiver, favor enviar). Do lado esquerdo da foto vemos o altar onde eram realizadas as missas ao ar livre pelo padre Antonio Lemos Barbosa. Do lado direito da foto vemos um pedacinho do QG do 3º Grupo de Artilharia de Costa que lá está até hoje.

Quem visitar o Forte de Copacabana poderá facilmente identificar um grupo de casas que começa no QG e termina na "quadra de esportes" usada hoje como estacionamento. Estas casas ocupam hoje o espaço desta foto. Eram casas de oficiais que serviam no Forte quando ainda era uma guarnição do Exército Brasileiro.

Aos domingos era celebrada a "missa das crianças" às 8h. Depois da missa, dava tempo de sobra para ir ao Metro-Copacabana assistir à sessão especial de Tom & Jerry, às 10 horas, apenas no 1º domingo de cada mês.

Esta capelinha de Copacabana teve sua construção iniciada em 1953 pelo General Osório Alves, comandante da Artilharia da Costa, tendo a pedra fundamental sido lançada em agosto de 1953, quando a igreja recebeu de volta a imagem de N. S. de Copacabana. Ficava na Rua Francisco Otaviano nº 5. Seria a sede da Capelania da Artilharia de Costa da 1ª Região Militar.


Em reportagem do “Correio da Manhã” se pode ler: “A igreja, visível de toda a extensão da Praia de Copacabana, dará um toque de espiritualidade e manterá a lembrança das tradições cristãs. Embora capela militar, dará acesso ao público. Foi construída em terreno militar. Uma missa foi realizada em 08/12/1953, dia da Imaculada Conceição, com a capela em construção.

Para a capela foi trasladada a histórica imagem de N.S. de Copacabana, em cortejo motorizado saindo da Igreja de Santa Cruz dos Militares para o Posto 6.

A devoção a N.S. de Copacabana, originária das regiões andinas, nasceu em antigo templo incásico, em substituição ao culto indígena. A fama dos milagres da “Virgem do Lago”, rapidamente se espalhou pela América e Europa, facilitada a sua devoção no Brasil quando Portugal esteve sob domínio espanhol, de 1580 a 1640.

Diz a tradição que a imagem venerada no Arpoador tenha chegado ao Brasil antes de 1600, sendo certo que a primeira Igrejinha já existia antes de meados do século XVII.

Quando  se construiu o Forte de Copacabana, no governo do Marechal Hermes, foi a secular igreja demolida, sendo a imagem transferida e só em meados do século XX localizada. Encontrava-se no Castelo de São Manuel, em Corrêas, tendo pertencido às famílias Fonseca e Teffé e ultimamente à do Sr. Silverio Ceglia, que gentilmente a cedeu às autoridades, tão logo soube da iniciativa de reconstrução da Igrejinha. A empresa proprietária do Castelo São Manuel cedeu também às autoridades um altar e a pia batismal, que serão colocados no novo templo.

O local da nova Igrejinha será à entrada do Forte, na quadra de basket-ball e ao lado da sede da Artilharia de Costa.”

Em meados dos anos 70 foi transferida, por estar em área militar, para perto de uma escola municipal, na Rua Francisco Otaviano nº 99, onde está hoje a Igreja da Ressurreição.

O Ministério do Exército tinha interesse na mudança de local da Igrejinha, porque esta ficava ao lado do Comando. Houve, então, um acordo: o Ministério cedia à paróquia o terreno onde foi erguida a atual igreja e a paróquia devolvia o terreno onde estava a Igrejinha.


A construção se deu em tempo recorde: iniciada em 1973, foi inaugurada em maio de 1975. O nome da igreja foi escolhido pelo então pároco, D. Eduardo: Ressurreição, marco fundamental da Igreja de Cristo
.

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

CINEMA AMERICANO / CINEMA COPACABANA


O Cinema Americano, na Av. N.S. de Copacabana nº 743 (mais tarde nº 801), em frente à Rua Dias da Rocha, com 1215 lugares, foi inaugurado em 18/08/1916. 

Este cinema deu lugar ao Cinema Copacabana em 1953. 

O “Correio da Manhã” noticiou, com certo exagero, a inauguração: “Cinema Americano – talvez o maior da America do Sul, podendo comportar 2000 logares e reunindo ao mesmo tempo todos os preceitos exigidos pela Hygiene merecendo especial menção não existir um só ventilador.Funcionando quasi ao ar livre; a Empresa é brasileira, mas o emprehendimento é americano.” 

É propriedade do Sr. Palmeira. Um dos primeiros filmes exibidos foi “A Falena”, com Lyda Borelli.

Aqui vemos a imagem da fachada do Cinema Americano, obra de Virzi. A arquitetura genial de Antonio Virzi foi injustiçada, tendo sido considerados seus exemplares arquitetônicos como aberrações.

Um dos que criticaram muito seu estilo foi Lucio Costa, que em um artigo datado de 1951, escreveu: "...os “modernismos” a que se filia Virzi são desamparados de qualquer intenção orgânico-estrutural". Em dado momento, chama a obra de Virzi de "modelagem em barro"!”

Pouca coisa da obra de Virzi sobreviveu à sanha demolidora, tal como a Casa Villiot, em Copacabana, e o Palace Villino Silveira, no Flamengo. Foram demolidos, entre outros, o prédio do Elixir Nogueira, o Palacete Schmidt de Vasconcelos, o Palacete Martinelli.

Plateia do Cinema Americano, o mais perto da casa de meus avós. Estaria o velho Dr. D´ devidamente engravatado, como era seu estilo, assistindo ao filme?


Foto do Cinema Copacabana no dia de sua inauguração, em 04/09/1953. O filme de estreia desta fase foi "Luzes da Ribalta", de Charles Chaplin.

A reforma do Cinema Americano, transformando-o em Cinema Copacabana, manteve a arquitetura básica da construção: as saídas continuaram nas laterais, perto das duas bilheterias, as janelas laterais continuaram as mesmas, talvez só com esquadrias trocadas.

Após passar pelo porteiro, entregar a entrada, mostrar a carteira de estudante e recolher aquele panfleto típico do circuito Severiano Ribeiro, estávamos em um salão, com a bombonnière de um lado e, do outro lado, o bebedouro e um telefone público, daqueles de parede. Entrando na sala de exibição por uma das duas portas, tínhamos a plateia e o balcão. As escadas de acesso ao balcão eram de Virzi.  


Nesta foto o filme em cartaz no Cinema Copacabana é “A letra escarlate”, com Demi Moore e Gary Oldman, de meados dos anos 90.

Ficava em frente à Sapataria Polar, que era na esquina da Rua Dias da Rocha. Ao lado do cinema, vê-se na foto a Casa Gebara. Esta loja ocupou o espaço do  Mercadinho Azul. 

Cinema Copabana era o mais perto de minha casa, quando eu era bem jovem. Todos os dias passava por ele. Seja descendo do bonde pouco antes da Dias da Rocha, em frente à Spaghettilandia, ao voltar do colégio, seja passando em frente quando ia para a praia, pela Constante Ramos.

Outra foto do Cinema Copacabana, esta tirada a partir da Rua Dias da Rocha. Esta rua, pouco tempo depois, se tornou uma rua sem saída, para se fazer uma pracinha para os idosos. 

Na realidade tornou o trânsito caótico, pois a rua é estreita, tem estacionamento dos dois lados e as manobras, que já eram difíceis, ficaram impraticáveis devido à abertura de um supermercado Zona Sul e de um Hortifruti.

Além disso, a tal pracinha virou local de reunião, à noite, de todos os catadores de papel e embalagens de Copacabana. Um caos.

O Cinema Copacabana sobreviveu até o início do século XXI, em 2002. O Grupo Severiano Ribeiro, que no final só programava filmes de segunda linha, alegou falta de público, insegurança, etc, tal como fizeram todos com os cinemas de rua. 


A imagem do Google Maps mostra a academia de ginástica que se instalou no antigo prédio dos cinemas Americano e Copacabana.

Dos cinemas de rua de Copacabana, como o Caruso, o Alvorada, o Riviera, o Alaska, o Royal, o Rian, o Copacabana, o Ritz, o Art-Palácio, o Metro, o Flórida, o Condor, o Bruni, o Paris-Palace, o Ricamar, o Danúbio, o Leme, só tinha sobrado o Roxy, que está nos estertores, com obras para ser transformado numa casa de “shows”, embora haja um tentativa de muitos apreciadores do Rio Antigo para que seja tombado. 

Fontes: 

Palácios e Poeiras - Alice Gonzaga

Acervo do Correio da Manhã

Foi um Rio que passou - Decourt

Saudades do Rio blogspot