A antiga estação da Vila Ipanema ficava na esquina da atual Praça General Osório com a Rua Visconde de Pirajá. O prolongamento da linha desde o ponto terminal da Igrejinha, em Copacabana, até a estação da Vila Ipanema, ficou concluído em 21 de junho de 1902, sendo inaugurado o tráfego por tração animao no dia 24 (C.J.Dunlop).
A estação de Ipanema tinha uma magnífica sala de espera e restaurante. Neste local, quando da inauguração, foi servido um opíparo banquete em homenagem ao Prefeiro Pereira Passos.
O cardápio, preparado pela Confeitaria Colombo, foi o seguinte:
- Crème de volaille aux ponts d´asperges
- Petit patés à l´espagnole
- Filets de merlan, sauce tartare
- Noix de veau au Madère
- Salade de crevettes à la russe
- Dinde à brèsilienne
- Jambon d´York
- Plum pudding au Rhum
- Glaces moulées assorties
- Dessert varié
- Vins: Madère, Bucellas, Saint Julien, Médoc, COllares.
- Champagne
- Porto
- Café
- Liqueur
- Cognac
Na expansão de alegria pela inauguração da eletrificação da linha, os moradores fizeram queimar, à chegada dos bondes especiais, foguetes e bombas de dinamite, transgredindo o decreto municipal que proibia o uso desses fogos. À vista disso, o Prefeito deu ordem para que os transgressores fossem multado em 50$000.
Os bondes que se dirigiam a Ipanema passavam
pela praia, vindos da Rua da Igrejinha (atual Francisco Otaviano) e que chegava
até a Praça Marechal Floriano (atual General Osório). Na foto o bonde estava em
plena Avenida Vieira Souto, com um passageiro desembarcando defronte às simpáticas
primeiras casas de Ipanema.
Aparentemente ainda não havia ali um ponto de
parada, tal como os que a Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico instituiu a
partir de 1907, a partir do seguinte aviso: "Os pontos de parada dos
bondes são assinalados nos postes com uma faixa branca. Para tomar o bonde o
passageiro deve achar-se no ponto de parada respectivo e fazer sinal a
distância razoável. Para sair, o passageiro deve fazer o sinal ao condutor logo
depois de passar o poste de parada anterior àquele em que quizer descer. O
bonde não pára a fim de receber ou deixar passageiros entre os pontos de
parada. De ordem da Prefeitura é proibido fumar nos três primeiros bancos da
frente dos carros de 1ª classe".
Tempos depois passou
também a haver uma pequena placa de "PARADA" com letras pretas em
fundo branco, pendurada em fios entre os postes. Esta simples medida
possibilitou o aumento da velocidade média dos bondes de 139 metros para 193
metros por minuto.
Contam os livros que,
apesar da aparente tranquilidade do bairro, à noite Ipanema era o paraíso dos
ladrões. A população que ali morava sofria com os roubos e furtos e apelava
para que as autoridades tomassem providências. O "Correio da Manhã" registrava
que "é de toda justiça, além do dever que imbue a polícia a dar às
famílias de Ipanema as garantias que elas têm direito. Durante as madrugadas,
sem guardas, nem soldados municipais, as praias e as ruas transversais ou
centrais dão a aparência de desertos. Em nenhuma delas pelo que se supõe, para
servir de paraíso à gatunagem."
Comenta o Decourt que "esta foto é bem clara na constituição do primeiro urbanismo da
praia, abandonando a avenida traçada no loteamento original, que certamente
deveria ser tão estreita quanto a Av. Atlântica. Como podemos observar pelos
postes da rede elétrica colocados junto as casas, temos vários elementos que
indicam o abandono do urbanismo antigo, acho que não implementado até o final.
O mais claro é a elevação da rua, como podemos perceber pela área a ser ocupada
pelas calçadas junto as cnstruções e a linha de bonde e novo canteiro central
bem mais altos que a faixa de asfalto que vemos em primeiro plano."
É impressionante ver que
em 1908 já havia pioneiros em Ipanema, nos trechos mais perto de Copacabana e
acompanhando a linha do bonde. Em 1911 a iluminação elétrica foi implantada nas
vias principais, a praça Ferreira Vianna( antes Floriano e hoje General Osório)
ajardinada dando mais um impulso para a ocupação do bairro. Mas os trechos
perto da Lagoa ainda eram vastos areais, inurbanizados, e só o seriam nos anos
20, quando foram ocupados por casas e pequenos prédios rapidamente durante as
décadas de 30 e 40.