FOTO 10: Acho que esta foto é do Gyorgy Szendrodi, de 1971. O trecho entre os blocos de edifícios e a Rua Montenegro ainda tem poucos prédios altos, bem diferente do que é hoje em dia.
No alto do morro o saudoso Panorama Palace Hotel, que nunca chegou a funcionar como hotel. Nos anos 60 e início dos anos 70, ainda inacabado, abrigou o bar "Berro d´Água" no terraço com vista para a Lagoa, Ipanema e Leblon, além da boate "On the Rocks".
Hoje, depois de ali funcionar a TV Rio e o CIEP João Goulart, há o "Favela Hub", um espaço de coworking e incubação para negócios sociais e soluções para favelas, administrado pelo Vivo Rio. Abriga também diversos programas sociais como Amor e Canto, Academia de Jiu-Jitsu, o Museu de Favelas e a FAETEC com cursos profissionalizantes e técnicos.
FOTO 11: O início dos anos 1970, já com o viaduto. O cruzamento em frente ao Corte do Cantagalo, antes do viaduto, era caótico. Durante muito tempo não havia sinais e era na base da gentileza ou da "lei do mais forte". Eram carros que iam e vinham de Copacabana, outros que vinham de Ipanema e podiam ir para Copacabana ou para Botafogo, outros que vinham de Botafogo e podiam ir para Ipanema ou para Copacabana.
Aliás, antes da duplicação da Epitácio Pessoa, era muito difícil atravessar a avenida, principalmente após a inauguração do Túnel Rebouças, que aumentou muito o trânsito. Como era mão-dupla e havia uma curva em frente à Gastão Bahiana, além da iluminação ser precária, defronte a meu prédio, à noite, o risco era imenso.
FOTO 12: Vejam este relato do amigo Jayme Derenusson, meu vizinho aí na Lagoa. Observem esta língua de aterro que poderia ter se transformado em mais um grande pedaço perdido da Lagoa:
“O Governo Negrão de Lima aproximava-se do fim, no antigo Estado da Guanabara. O dinâmico Secretário de Obras, Raymundo de Paula Soares sobrevoava o Rio de helicóptero (ele mesmo pilotando), para supervisionar as inúmeras e grandes obras em andamento (e ver onde faria outras). A SURSAN funcionava a todo vapor, pouco antes de sua extinção, que ocorreria no Governo Faria Lima. Ela era então maior que a atual Prefeitura e dividida em Departamentos, a cujos diretores PS dava grande autonomia.
O então diretor do DRC - Departamento de Rios e Canais (hoje SERLA) resolveu que o Saco do Cantagalo, na Lagoa, deveria ser aterrado para dar lugar a um grande parque. No seu entender "era preferível ver crianças brincando, em vez de lodo e cocorocas morrendo".A obra foi iniciada na marra, embora sem verba prevista no orçamento (como muitas outras, pois de outra forma muito pouco poderia ser feito).
A SURSAN era fiscalizada por uma "Junta de Controle" do Tribunal de Contas do Estado, criada justamente para evitar a burocracia, que até então emperrara as obras necessárias ao antigo Estado.
O aterro da Lagoa foi iniciado na base do "faz primeiro e regulariza depois". Só que, neste caso, desagradou ao Ministro João Lira Filho, Presidente da Junta de Controle, que acabou brecando a verba e mandando desfazer o enrocamento recém-iniciado.
A equipe designada pela diretoria da SURSAN para convencer o Ministro da necessidade da obra era contra o empreendimento, e fez sua defesa da pior maneira a seu alcance, influindo na decisão contrária do Ministro. Um dos três integrantes dessa equipe era eu.
Além de discordarmos do aterro, tínhamos, os três, informações (que não tenho como confirmar) de que um envolvente e astuto lobista de São Paulo, representante de um grupo de empresários paulistas do ramo de Shopping Centers, rondava a Secretaria de Obras e o DRC, tentando viabilizar a construção de um Shopping da rede na área que seria aterrada.
Desse no que desse, era mais um grande motivo para "jogarmos areia no aterro". Ao Ministro João Lira Filho (posteriormente Reitor da UERJ e já falecido) cabem os méritos pela permanência do espelho d'água nesta parte da Lagoa, hoje freqüentada pelos biguás e pedalinhos, e onde continuam a viver as cocorocas.
A Lagoa escapou do estupro de que seria vítima. A construção do Viaduto provocou sucessivos afloramentos de lodo, somente contidos pelo estaqueamento de sua margem neste trecho, obra cuja realização se deve ao Prefeito Marcos Tamoyo.
Paula Soares, o PS, e Negrão de Lima, ambos falecidos, foram grandes realizadores. O então diretor do DRC, técnico de renome e profissional honrado, também faleceu pouco depois do episódio do malfadado aterro. O Shopping foi construído, muitos anos após, em outro local.
Entretretanto, o episódio do aterro, por haver caído em total esquecimento, ficou entalado em minha garganta."
FOTO 13: Final dos anos 70. Aquele grande edifício ao lado de onde ficava o Posto Ipiranga, ao lado do Corte do Cantagalo, já estava de pé.
NOTA: Foi em 1960 que minha família se mudou para a Lagoa. O cenário era de muita tranquilidade. A exploração da pedreira perto da Favela da Catacumba causava a interrupção do tráfego da Avenida Epitácio Pessoa, por cerca de 10 minutos na parte da manhã e outros 10 minutos na parte da tarde, por conta das explosões. O tráfego era ainda em mão-dupla e bastante reduzido, não havendo o viaduto Augusto Frederico Schmitd em frente ao Corte, o que gerava um pouco de confusão.
A favela era bastante tranquila e eu passava de bicicleta diariamente por ela, sem problemas. Muitos empregados domésticos e trabalhadores de obra moravam ali. Anos depois acabou a exploração da pedreira, passando a funcionar no local uma revendedora de automóveis. A favela foi removida no final da década de 60, quando também ficou pronta a duplicação da Avenida Epitácio Pessoa, além do viaduto.
Na época, em frente de casa, só passavam os lotações das linhas "Largo do Machado-Ipanema" e "Estrada de Ferro-Ipanema", e os ônibus "Rocinha-Mourisco" e "Jacaré-Ipanema" (que fazia ponto final na então chamada Praça Corumbá, junto do Corte do Cantagalo, em frente à casa do Filinto Müller e vizinho da casa Eva Klabin).
No trecho em frente ao Corte do Cantagalo aconteciam os espetáculos organizados pelo Abrahão Medina, do "Rei da Voz": eram queimas de fogos em junho, palcos para bailes de carnaval em fevereiro, entre outros.
Os barcos dos clubes que competiam no Campeonato de Remo vinham até este trecho, conhecido como "Saco da Lagoa", de modo tão silencioso que, de manhã cedo, da janela de casa ouvíamos as ordens dos treinadores e dos "patrões" para os remadores.
O lado ruim, além da dificuldade de condução, era a quantidade de moscas e mosquitos que havia. Em casa havia diversos equipamentos para matá-los, desde mata-moscas, espirais que ficavam acesos à noite, Flit, até armadilhas de potes de vidro com açúcar.
Eventuais mortandades de peixes, além do mau cheiro, faziam que todos os objetos de prata ficassem cobertos por uma gosma negra. Serviços, não havia. A época do "delivery" viria muito tempo depois. O comércio mais próximo ficava na Rua Montenegro, para lá da Rua Nascimento Silva, onde ficava a mercearia do Nelson. Sobrevivente desta época só a loja de fotografias do Honório, mas ainda em seu primeiro endereço, na Montenegro quase esquina de Nascimento Silva. Padaria, só a da N.S. da Paz.
O único serviço que havia, que já foi tema aqui no "Saudades do Rio", era a carrocinha de sorvete da Kibon, com o sorveteiro Souza chegando todos os dias às 15 horas.
PS: agradeço ao GMA pelo envio de um lote de fotos da Lagoa, por ele garimpadas no "site" do "Correio da Manhã".