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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

ESTAÇÃO DE BONDES DO LARGO DO MACHADO

Nos primórdios da cidade, o “Largo do Machado” era ocupado por uma lagoa, formada pelo Rio Catete, braço menor do Rio Carioca. Um tal Francisco Machado ou Antonio Vilela Machado (há citações com esses dois nomes) tornou-se dono do largo por volta de 1700. Casou-se com uma menina de menos de 15 anos, com a qual teve 13 filhos. Conta-se que um neto abriu um açougue (onde era o Cinema São Luiz) e colocou um machado na fachada, daí ou do nome de família vindo o nome do Largo, mas não há nenhum documento histórico com este registro.

Durante algum tempo chamou-se “Campo das Pitangueiras”, “Campo das Laranjeiras”, “Praça da Glória”. Em 1869 virou “Praça Duque de Caxias”, retornando a “Largo do Machado” em 1949.

Em 1810 adquire residência próximo ao “Largo do Machado” a Rainha D. Carlota Joaquina, na Rua das Laranjeiras, bem em frente à chácara de seu amante, Comendador José Fernando Carneiro Leão. Ali, em 1813, foi assassinada D. Gertrudes Angélica, esposa do diretor do Banco do Brasil, Fernando Carneiro Leão, amante da Rainha Carlota Joaquina. Consta que, por ciúmes, a rainha contratou o bandido "Orelha" para praticar o homicídio.

Em 1810, às expensas da Rainha, foi o Largo cordeado, ganhando as dimensões atuais. Em 1821, quando a Família Real deixa o Brasil, era o local já disputado pela nobreza,

O “Largo do Machado” foi ajardinado em 1869 com figueiras e palmeiras reais pelo paisagista francês Auguste Marie François Glaziou, tendo colocado grades em volta e chafariz central, substituído em 1897 pela estátua equestre de Duque de Caxias, obra de Bernardelli, por sua vez removida em 1949 para a frente do Palácio Duque de Caxias, no Campo de Santana. Hoje lá está um chafariz de cimento e mármore, encimado pela estátua da Virgem da Conceição, em mármore italiano, obra valorosíssima de Antônio Canoa, doada à Arquidiocese do Rio pelo Vaticano em 1955.


Esta belíssima foto garimpada pela Conceição Araujo no acervo da Light mostra a estação de bondes, tema de hoje.

O lado do “Largo do Machado” que ia em seguimento à Rua do Catete foi em grande parte adquirido pelo americano Charles B. Greenough no final do século XIX, que ali construiu a primeira estação de bondes da linha pela Zona Sul. A estação da “Botanical Garden Rail Road Company”, depois “Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico”, foi inaugurada em outubro de 1868 com a presença do Imperador D. Pedro II e ministros.

A “CFCJB”, em 06/10/1868, publicou o seguinte aviso na Imprensa: “Tendo S.M. o Imperador se dignado honrar com sua augusta presença o ato de inauguração desta empresa e designado o dia 9 do corrente, às 10 horas da manhã, para esse fim, a Companhia faz ciente ao ilustrado público que o tráfego usual da mesma, entre a Rua do Ouvidor e o Largo do Machado, principiará no dia seguinte.”

E ainda publicou que “A Companhia não se responsabiliza por qualquer acidente que possa acontecer por violação de qualquer das seguintes regras:

- Os Srs. Passageiros entrarão e sairão dos carros pela plataforma traseira durante a viagem, e nos lugares onde há duas vias, o farão do lado oposto às mesmas; se se apearem, quando o carro estiver em movimento, devem o fazer com a frente virada à direção em que o carro estiver andando.

- É-lhes proibido fazê-lo pela plataforma da frente, quando o carro estiver em movimento.

- É proibido por a cabeça ou os braços de fora das janelas.

- É proibido tocar a campainha, por ser o condutor obrigado a tocá-la logo que for avisado.

- É proibido mexer nos lampiões.

- É proibido expressamente fumar dentro do carro.

A garagem está indicada pela seta vermelha. Ficava entre as ruas Machado de Assis e Dois de Dezembro, com entradas pelo Largo do Machado e também pela Machado de Assis. A área foi bastante ampliada em relação a esse mapa, ia de uma rua à outra. Na Machado de Assis ainda pode ser visto o muro original e um portão por onde saíam os bondes.

A garagem com parte de sua estrutura original é hoje o Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB, ao lado do Centro Cultural Oi Futuro. O IAB ocupa somente uma parte do terreno das instalações da CCFJB, assim como o prédio da Oi, que era a usina de força movida a vapor. A garagem chegou a ocupar praticamente todo quarteirão entre as duas ruas.

Nesta amplicação da foto vemos que os anúncios nas grades que protegem as árvores da ilha são da loja "Au Parc Royal", o magazine mais "chic" do Rio no início do século XX. A ilha é a famosa "Ilha dos Prontos", tão falada por Luiz Edmundo, que surpreendentemente sobreviveu no meio dos automóveis até os anos 50, talvez por ficar desalinhada com a Rua do Catete. 

O local, na realidade,  era um canteiro central que tinha a função de segmentar o tráfego, separando os bondes que saíam ou aguardavam a entrada na garagem do resto dos veículos que seguiam pela Rua do Catete. 

Este nome de "Ilha dos Prontos" teria sido dado pela turma de gozadores do Lamas por estar sempre cheia de desocupados "duros", que ali ficavam observando a grande movimentação sem obstruir a frente de alguma loja. 

O interessante é perceber que os trilhos ficavam todos concentrados de um dos lados da "ilha" sendo o outro lado da Rua do Catete completamente livre deles.


Em outro detalhe da foto vemos o bonde de nº 77 com todos os passageiros bem vestidos. O Helio poderá dar mais informações sobre o tipo de carro.

A estupenda foto de Mortimer mostra neste detalhe a casa ao lado da estação de bondes. O portão de entrada é muito bonito. À esquerda, cavalheiros elegantíssimos na porta do "Lamas".



A fachada da "Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico". O relógio marca 3 horas da tarde.

Fontes: Foto do acervo da Light, Helio Ribeiro, Sindegtur, Brasil Gerson, Carlos Ponce de Leon e Charles Dunlop.


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

RUA DA ASSEMBLEIA ANTIGAMENTE

A Rua da Assembleia começa na Praça XV (antigamente começava na Rua da Misericórdia) e acaba no Largo da Carioca. Já teve inúmeras denominações tais como “Rua Direita que vai para Santo Antonio”, “Caminho de São Francisco”, “Travessa de Manuel Ribeiro”, Rua do Padre Vicente de Leão”, “Rua do Licenciado Rui Vaz”, “Rua Pedro Luis Ferreira”, “Rua do Padre Bento Cardoso”, “Rua da Cadeia” e “Rua República do Peru”.

Conta Paulo Berger: “Cordeada na metade do século XVI, atingia nos fins desse século o Convento de Santo Antonio. Teve o nome de vários moradores, citados acima. Com a construção da cadeia na várzea da cidade, em meados do século XVII, passou a se chamar “Rua da Cadeia”.

O prédio da Cadeia Velha serviu de abrigo a várias instituições como o Senado da Câmara, a Relação, a criadagem do Paço após a chegada de D. João VI, a Assembleia Constituinte, a Câmara dos Deputados. Em épocas mais recentes hospedou o Correio, a Tipografia Nacional, a Caixa Econômica, a Inspetoria de Higiene.

Desde 1848 passou a se chamar “Rua da Assembleia”, embora em 1921 tenha havido a tentativa de mudar o nome para República do Peru, mas o nome de “Rua da Assembleia” foi restabelecido em 1937.

Desde 1926 o local está ocupado pelo Palácio Tiradentes.

FOTO 1: Esta fotografia, colorizada pelo Marcelo Fradim, mostra a esquina de Av. Rio Branco com Rua da Assembleia na década de 1920. À esquerda vemos a “Casa Vieira Nunes”, que tinha como endereço a Av. Rio Branco nº 142. Era um ponto de venda de ingressos para várias atividades como assistir às regatas da Praia do Flamengo a bordo de um barco ou para presenciar espetáculos de declamação no Instituto Nacional de Música. A loja era especializada na venda de roupas para banho de mar para “homens, senhoras e crianças”, com preços mínimos.”

FOTO 2: Postal da Maison Chic, da Coleção de meu amigo Klerman Lopes.  No final do século XIX instalava-se na Rua da Assembleia o mais famoso, então, dos hotéis italianos do Rio, o "Hotel Universo”. Era anunciado desta forma:


Neste hotel instalou-se o “Restaurante Roma”, das preferências dos deputados da República Velha. Ficava na Rua da Assembleia nº 58 e 60, inaugurado em junho de 1925, sendo propriedade de Gallo&Pitta, que “comemorando a inauguração offereceram lauto banquete aos representantes da Imprensa e cavalheiros e famílias. Durante o banquete fez-se ouvir o “jazz-band” do maestro Cicero e ao champagne trocaram brindes calorosos pela prosperidade do “Roma” cuja festa inaugural esteve deveras magnifica.”

Na FOTO 2 pode-se ver a loja "Alfaiataria do Povo", onde se encontravam "atelieres de roupas feitas sob medida". Alguns cronistas da época, como Luiz Edmundo, criticavam muito lojas como a “Alfaiataria do Povo”: “Encontra-se um armarinho desses com enormes pilhas de fazendas à porta, mal dando passagem à freguesia e um dilúvio de ceroulas, cobertores, calças, camisas de meia e fitas de metros, rendas, ou bordados, numa confusão caótica, a desabar do teto, dos aparelhos de iluminação à gás das prateleiras...”

Vemos o encontro da Rua da Assembleia, com Uruguaiana e Rua da Carioca. À esquerda temos a Uruguaiana, à direita o Largo da Carioca, e atrás a Rua da Carioca.

Segundo o Silva, ora morando em Lisboa, o bonde em primeiro plano na imagem tinha o nº 125 e seu destino final era a Tijuca.  Ao lado da “Alfaiataria do Povo” (Largo da Carioca nº 24), no mesmo edifício tinha a tradicional loja “Torre de Belém”. Ambas tinham o mesmo ramo de atividade e seu proprietário era o mesmo. 

À direita, a loja com o toldo colorizado com riscas vermelhas, era o lendário “Café Paris” já em seus últimos anos. Segundo Danilo Gomes em seu “Antigos Cafés do Rio de Janeiro”, o endereço era Largo da Carioca nº 20. O “Jornal do Commercio” de 02/03/1890 dizia: “Estabelecimento recentemente inaugurado, onde o respeitável público encontra sempre grande sortimento de iguarias e bebidas de qualidade. Cozinha de primeira ordem, serviço esmerado, promptidão e preços razoaveis. N.B. – Hoje, sopa de tartaruga.”


FOTO 3:  Neste postal vemos em detalhe a "Alfaiataria do Povo" e, logo depois, a entrada da loja "Torre de Belém". A Rua da Assembléia se caracterizaria nas primeiras décadas do século XX como uma rua de "artigos para vestir", com Agostinho Pereira instalando nela, em 1917, seu magazine popular "O Camizeiro".


FOTO 4: A imagem mostra a capa de um catálogo com artigos de "O Camizeiro".

FOTO 5: Além da "Alfaiataria do Povo" e da "Torre de Belém", podemos ver, à direita, o "Café Paris".

FOTO 6: Era também da Rua da Assembleia que “As alumnas do Collegio do Sacré Coeur na Tijuca, esperavam com suas famílias os bonds especiaes para voltarem aos estudos depois da sahida mensal." A tia Nalu sempre procurava perder este bonde...

FOTO 7: Esta belíssima fotografia da esquina da Rua da Assembleia com Avenida Central mostra como era bonito o centro do Rio. Podemos observar o canteiro central que dividia as pistas da bela avenida, todos os homens (muitos) com paletó e chapéu, as senhoras (poucas - naquela época não saíam muito, acho eu) com vestidos caprichados e também com chapéus. 

Vemos ainda o bonde de registro "388", com reboque, parado junto ao poste com a marca branca indicativa da parada de bondes. Um elegante automóvel com pneus brancos entra na Rua da Assembleia. Segundo o Gustavo Lemos, naquela época ainda não existiam pneus de banda branca. Os pneus eram pretos ou brancos, dependendo do espessante utilizado na borracha, que podia ser caulim (branco) ou negro de fumo (fuligem). Mais adiante um tílburi ainda circulava pelo centro da cidade.


FOTO 8: Este detalhe da foto anterior mostra o Cinema Avenida, que ficava no nº 153 da Avenida Central e que foi inaugurado em 1907. Tinha cerca de 200 lugares e dois salões de projeção. 

Alice Gonzaga conta uma curiosidade daquela época: o público suportava bem espetáculos de até uma hora, mesmo no verão e com aquela roupa toda. Mas tinha dificuldade para permanecer por duas horas ou mais em espaços pequenos, mal ventilados e insalubres nos meses de dezembro a março. 

Inúmeros artifícios foram usados tais como cortar algumas cenas dos filmes, diminuindo-lhes o tamanho e encurtando a projeção. Programava-se mais adiante uma rápida exibição da versão integral: "O grande film venceu a etapa de um programma commum. Agora vae continuar a sua róta de applausos tal qual elle é. Tal qual o diretor produziu. 20 scenas novas para o Rio. Quadros admiraveis que antes não puderam ser exhibidos. Dizeres, letreiros e tudo o mais de accordo com a verdadeira obra do grande escriptor".

Outras vezes dividia-se o filme em dois quando tinha mais de duas horas. A solução mais corriqueira, continua Alice Gonzaga, era o "desbarajuste": consistia na aceleração da projeção, às vezes a ponto de a máquina guinchar, tamanha a velocidade imprimida. Exibia-se um filme de 90 minutos em cerca de 40. Vem daí a impressão de que no cinema mudo tudo se dava às pressas." 

Alguns cinemas possuíam artifícios, como claraboias móveis para abrir o teto do cinema, principalmente nas projeções noturnas, ventiladores em caixas de gelo, exaustão mecânica etc., o que não era o caso do Avenida, mais antigo. 


sábado, 16 de novembro de 2024

LAGOA

 Continuando com as fotografias da Lagoa...


Foto de Moacyr Borchert, de 1960, mostrando o trecho entre o Corte do Cantagalo e a Curva do Calombo, com a Favela da Catacumba do lado esquerdo da foto. Mais à direita ficava a pedreira da Lagoa. Na casa que aparece no meio da foto morava um amigo do prezado Lavra. 


Esta fotografia é dos anos 50. Vemos, à direita, os dois edifícios construídos neste trecho entre as ruas Gastão Bahiana e Montenegro. À esquerda, depois da pedreira, o esqueleto de um prédio que diziam que seria um hospital, mas ficou neste estado por anos, até ser demolido. No centro da foto vemos os edifícios que ficam no alto do Corte do Cantagalo.

Nesta foto tirada a partir do terreno em frente à Favela da Catacumba, vemos as obras de construção de dois novos prédios. Foto bem do final da década de 50, pois logo em seguida eu me mudaria para o prédio em construção mais à direita.

 

Um remador passa no "single-skiff" pelo trecho da Lagoa perto do Corte do Cantagalo. Era comum os barcos dos clubes passarem por aí, treinando. Hoje em dia praticamente só treinam no espaço da raia de regatas. O que há agora neste trecho são pedalinhos e canoas havaianas.


Ontem o GMA comentou que, com frequência, saía de casa na Praça Eugenio Jardim, atravessava o Corte e ia brincar no "pier" da Lagoa. Esta fotografia comprova a afirmação.

Nesta fotografia, por volta de 1970, vemos que o esqueleto do prédio ainda está lá à esquerda, que a favela já havia sido removida, o tobogã do Ricardo Amaral ainda fazia sucesso, a casa mostrada acima continuava lá. Como ainda não haviam terminado as obras da construção do viaduto, este aterro horroroso ainda não tinha sido retirado.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

LAGOA

Complementando a postagem anterior, para localizar os prezados visitantes, alguns aspectos da Av. Epitácio Pessoa em seu trecho em frente ao atual viaduto Augusto Frederico Schmidt, com fotos do famoso fotógrafo Luiz D´.


FOTO 1: Antigamente era assim. Vemos o gramado em frente ao prédio que tem hoje o nº 2120, a Av. Epitácio Pessoa sem movimento algum no início dos anos 60, logo após o campo de futebol de salão que aparece em foto abaixo, e ao fundo a pedreira.


FOTO 2: Vemos o trecho da curva perto da Rua Gastão Bahiana. A Av. Epitácio Pessoa tinha mão-dupla e uma bela praça que se estendia em frente ao Corte do Cantagalo. À esquerda, um pedaço da pedreira que ficava entre o Corte e a Favela da Catacumba. A foto deve ser da primeira metade da década de 60.


FOTO 3: Bastava atravessar com cuidado a Av. Epitácio Pessoa em mão-dupla para chegar ao campinho de futebol de salão. A bola, obviamente, caía na água com frequência. O escalado para buscá-la era sempre o Osvaldo "Bico".


FOTO 4: No final da década de 1960 começou o aterro para a duplicação da Epitácio Pessoa no trecho entre o Jardim de Alá e a Favela da Catacumba. E lá se foi a nossa quadra de futebol.


FOTO 5: "Do lado de lá" havia o "esqueleto" de um prédio que, após anos inconcluído, veio abaixo. A Favela da Catacumba ocupava o morro, à direita.


FOTO 6: Vemos o aterro para a construção do viaduto em frente ao Corte do Cantagalo. A pedreira já havia sido desativada. Anos mais tarde surgiriam os prédios luxuosos neste local. A favela vivia seus últimos dias.


FOTO 7: A vemos a construção das rampas do viaduto. Ao fundo, na então chamada Praça Corumbá, junto da descida do Corte, ficavam as casas de Filinto Müller e da hoje Fundação Eva Klabin. a praça mudou de nome para homenagear o Sr. Müller.


FOTO 8: Esta foto pode ser comparada com a FOTO 2, para se ter ideia da mudança.


FOTO 9: A nova pista da Epitácio Pessoa, junto à lagoa. Ao fundo, a concessionária de automóveis que se instalou no espaço deixado pela pedreira.


FOTO 10: Após a duplicação da Av. Epitácio Pessoa vemos o trecho perto da Rua Gastão Bahiana, ainda com a subestação da Light. Hoje em dia só há prédios altos por aí.


FOTO 11: A vista para os Dois Irmãos algum tempo depois da duplicação. Aquele estacionamento no meio das pistas deixou de existir por algum tempo, mas foi feito um parecido após as obras para a saída do metrô.


FOTO 12: Aqui temos uma foto feita por mim quando se tentou aterrar uma parte muito maior da lagoa, o que foi evitado na época, e uma foto feita por nosso amigo Jayme Derenusson, antigo vizinho.


FOTO 12: Há uns poucos anos pedi para o Jayme, que continuava morando na Lagoa, para tirar fotos em ângulos parecidos com as minhas. A partir daqui são fotos dele. Vemos a torre do metrô. Comparar com FOTO 11.


FOTO 13: Comparar com a FOTO 5. Considero aquele prédio que ultrapassa a altura do morro uma grande agressão. Quem o terá autorizado?



FOTO 14: Comparar com a FOTO 6. O Parque da Catacumba, entre a sequência de prédios, é um oásis na paisagem. Vale a pena fazer uma caminhada por lá. Além de obras de arte, há instalações de arvorismo e a vista é lindíssima. 

FOTO 15: Comparar com as fotos 7 e 8. Muitos prédios muito altos para meu gosto. Tenho saudades da Lagoa com muitas casas.

PS: tenho centenas de fotos da Lagoa, mas preciso organizá-las.
 

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

ACIDENTE NA LAGOA


FOTO 1: Em um final de tarde de verão o famoso fotógrafo Luiz D´ ouve o barulho de uma freada seguido de barulho de vizinhos. Com sua Leica corre à janela e se depara com este incidente cujas fotos aparecem no "Saudades do Rio" mais de cinquenta anos depois.


FOTO 2: Um Fusca havia colidido com uma bicicleta em frente ao nº 2120 da Av. Epitácio Pessoa, dando um susto no Souza, sorveteiro da Kibon. 


FOTO 3: Logo juntou a garotada dos prédios para acompanhar o lance. De sunga branca está o Claudio. Ao lado dele o pessoal que jogava futebol no campinho de cimento que havia às margens da Lagoa. Era a turma do "Broa", que não aparece na foto. Mas o Paulinho, o Alberto, o Osvaldo "Bico", o Paulo Sergio "Cabeleira", o Márcio, certamente estavam aí.


FOTO : A bicicleta envolvida era da "Tinturaria Chineza", com "Z" e tudo, como vemos no detalhe abaixo.


FOTO 5: No detalhe vemos o "Z" da "Tinturaria Chineza". Esta tinturaria está instalada na Rua Barão da Torre nº 252 desde 1945. Fica quase na esquina com a Rua Vinicius de Morais (naquela época Rua Montenegro). Continua lá, embora tenha modernizado o nome para "Tinturaria Chinesa".


FOTO 6: Vemos o Souza, sorveteiro da Kibon, em 1968. Ele estacionava a carrocinha da Kibon em frente ao então nº 834, atual nº 2120, da Av. Epitácio Pessoa De manhã o ponto do Souza era no Arpoador. De tarde, chegava por volta das 15 horas na Lagoa.  

Vendia Chica-Bon, Jajá (côco), Kalu (abacaxi), Ton-bon (limão), Eski-bon. Pirulitos, amendoim doce, "delicados", jujubas e chocolates. Diz nosso colega Jayme, meu antigo vizinho, que o Souza vendia algo mais que os produtos citados...



segunda-feira, 11 de novembro de 2024

ABRIGO DE BONDES DO LARGO DA LAPA

ATENÇÃO: a partir de amanhã, dia 12, no “Espaço Cultural Urbana Carioca”, na Praça XV nº 34, a exposição “Bondes do Rio de Janeiro, passado, presente e futuro”, com mais de 150 fotos, mapas e ilustrações. Ficará em cartaz por três meses, até fevereiro. Será que haverá alguma imagem que já não seja de nosso conhecimento?


FOTO 1: Continuando a série sobre os abrigos de bonde hoje veremos, com muitas fotos já publicadas, o do Largo da Lapa. Espalhados pela cidade, em sua maioria eram pontos finais de alguma linha. 

Quanto às paradas durante o trajeto, em 12/03/1907 a Cia. Jardim Botânico instituiu pontos fixos de parada. Um “Aviso” dizia que: "Os pontos de parada dos bondes são assinalados nos postes com uma faixa branca (às vezes havia também uma placa pendurada em um fio que atravessava a rua). Para tomar o bonde o passageiro deve achar-se no ponto de parada respectivo e fazer sinal a uma distância razoável. Para sair, o passageiro deve fazer o sinal ao condutor logo depois de passar o poste de parada anterior àquele em que quiser descer."


FOTO 2: Esta foto foi colorizada pelo Nickolas Nogueira e foi publicada, ainda em P&B, no "Foi um Rio que passou". Para complementá-la, nada melhor que transcrever o texto do prezado Andre Decourt:

"A foto é de Ferreira Júnior, fotógrafo da ABI e foi enviada por seu afilhado o amigo Sidney Paredes Rodrigues.

A foto é muito interessante, primeiro por mostrar a ambiência do largo. Os imóveis que vemos no lado direito foram estupidamente derrubados nos anos 70, no primeiro governo Chagas Freitas, para criar a árida e inútil esplanada na frente dos Arcos, ressuscitando de forma ainda mais agressiva as demolições da natimorta Av. Norte-Sul, sepultada no governo Lacerda.

Já os imóveis ao fundo ainda existem, pelo menos em parte. O sobradão que vemos, que fica entre a Sala Cecília Meireles e as ruínas do Hotel Bragança, que foram abandonadas e destruídas por incêndios, hoje de pé a fachada, sem vários dos elementos decorativos que vemos na foto, abriga um prédio moderno, recuado, num resultado estético nada interessante. Pois não temos um prédio restaurado, mas apenas uma moldura arruinada. Pelo letreiro vemos que o prédio abrigava um dos inúmeros bilhares da região, que atraia jogadores de sinuca de toda a cidade.

Era dia de feira, vemos algumas barracas montadas junto ao meio-fio e o típico lixo de feira-livre perto da estação de bondes. Chama a atenção também o grande número de militares.

Anunciando na estação temos o Dragão, que acompanhou a estrutura do seu início até sua destruição no final dos anos 60 como ponto de apoio para os Trolleys, mas também temos um anúncio dos Pianos Lux e, pasmem, duas auto-escolas, ou "escolas de chauffeurs" como se anunciavam, a Internacional, localizada  na Rua Evaristo da Veiga e a Motoram, aparentemente com dois endereços, ambos ilegíveis. O mais curioso é que ambos os anúncios mostram lânguidas damas dos anos 30 conduzindo automóveis, sem dúvida algo muito interessante para uma sociedade tão machista."  

FOTO 3: Vemos o bonde 29, em foto já publicada no “Saudades do Rio” em P&B e agora muito bem colorizada pela Christiane Wittel para A.J. Caldas. Aquele prédio no fundo, com janelas marrons na colorização, seria o Hotel Bragança, recentemente restaurado como 55 Rio Hotel.

A elegância dos cariocas era impressionante. Seriam policiais os dois de terno em primeiro plano, à direita?

Destaque para os anúncios do "Dragão da Rua Larga" (Rua Larga/Marechal Floriano nº 193) e da "Loção Xambu" (seu anúncio dizia: “Caspa! Cabelos brancos! Use Loção Xambú – Cabelos brancos ou grisalhos voltam à sua cor natural. Elimina a Caspa. Êxito garantido”. Quanto ao Dragão, os anúncios diziam ser "O Rei da Rua Larga - O Príncipe dos barateiros". A variedade de artigos era enorme, e o povo dizia que "Barbado só Camarão - Penicos, só no Dragão"!

Vemos a estação de bondes da Lapa, com destaque para o bonde 29 - 1º de Março, Caxias, Lapa. O trajeto deste bonde era:

IDA: Largo da Lapa – Mem de Sá – Gomes Freire – Constituição – Praça da República (Bombeiros e Casa da Moeda) – Praça Duque de Caxias – Marechal Floriano – Visconde de Inhaúma – 1º de Março (até a esquina de Buenos Aires).

VOLTA: Buenos Aires – Praça da República (igreja de São Jorge e Casa da Moeda) – 20 de Abril – Senado – Gomes Freire – Riachuelo – Mem de Sá – Largo da Lapa.


FOTO 4: O bonde 36 leva o anúncio da "Liquidação Azul", do Magazin Segadaes (Rua Uruguaiana nº 23-25). No abrigo de bondes o destaque é para o anúncio "Seu dia chegará - Loteria Federal" e, à esquerda, ao fundo, um anúncio de "Cinzano". O anúncio da Coca-Cola está dentro do tracejado, à esquerda.

O motorneiro posa para a foto, enquanto o condutor responde à pergunta da jovem senhora elegantemente vestida. Essa linha 36 - Lapa x Cancela era muito antiga, mas inicialmente tinha o número 52.

O bonde servia os alunos do Colégio da ACM, que ficava na Rua da Lapa nº 86, com conta o J.E. Silveira. No lado oposto desta foto, existia um quiosque que vendia uma água mineral gasosa servida geladíssima, que era quase um ponto de parada obrigatório nos dias de mais calor. A água era servida naqueles copinhos cônicos iguais aos das carrocinhas de mate ou laranjada.


FOTO 5: Tradicionais anunciantes aparecem na foto, tais como "O Dragão", da Rua Larga, a "Loteria Federal" (o seu dia chegará), Loção “Xambu”, “Coca-Cola”. O local está bem movimentado, mas ninguém prestigiando o vendedor da carrocinha.


FOTO 6: Uma bela panorâmica do Largo da Lapa com a Igreja de N.S. do Carmo da Lapa do Desterro, o famoso Lampadário da Lapa e o antigo abrigo de bondes. O anúncio das “Casas Pernambucas” era destaque no abrigo, abaixo do anúncio do “Dragão”.


FOTO 7: Mais uma foto colorizada pela Christiane Wittel. O Joel já havia me enviado em P&B e também comentou que o abrigo de bondes da Lapa foi demolido em 1964, a circulação de algumas linhas que acessavam o Largo da Lapa ocorreu em Julho de 64, e a presença do ônibus da CTC da linha 207, que substituiu a linha de bondes 33, indica que essa foto ocorreu entre julho e Dezembro de 1964. As demolições dos abrigos de bondes no centro do Rio foram criminosas.

E aproveito, ainda, para transcrever o comentário de um saudoso comentarista, o Etiel, sobre esta foto: "O bilhares entre o Colonial e o Bragança era o famoso Salão Azul, berço de uma geração sinuqueira, nos anos 40 e 50. Outro salão de sinuca que existia no local era o Indígena, no sobradão da esquina da Mem de Sá, logo após a Escola de Música, em cima do café de mesmo nome. Entre os imóveis, defronte a parada dos bondes e lamentavelmente derrubados, estavam o antigo Capela e cantinho do Hydrolitrol. 


FOTO 8: Que limpeza, que tranquilidade durante o dia. Outros tempos. Bonde Lapa-Praça 11.

Uma curiosidade: o famoso restaurante da Av. Mem de Sá, o “Nova Capela”, originalmente se chamava somente “A Capela” e ficava pertinho do abrigo de bondes do Largo da Lapa. Quando do seu desaparecimento na década de 60, seus frequentadores chegaram a criar um samba: “Adeus boemia / nossas noites de alegria / agora vamos partir. / Não adianta ficar / nem chorar. / A madrugada vem chegando / e “A Capela” ultimando / aquele abraço.

Conta o “Correio da Manhã”: “Acabou-se A Capela do saboroso bife com fritas e por onde passaram políticos famosos, intelectuais, sambistas, malandros e lindas mulheres. Agora, as picaretas do progresso descerão sobre aquele velho reduto da boemia, que ganhará novas linhas de uma arquitetura moderna.

O restaurante “A Capela” foi inaugurado em 1906 e era propriedade de Olimpio Bastos, mas quem dirigia o restaurante era seu sobrinho Hamilton Bastos. Depois, em 1948, foi vendido para Manuel da Costa Cruz, que na década de 60 o vendeu para os empregados Aires Figueiredo, Francisco Soares e Risolino Carvalho.

Desapareceram os malandros como Luizinho Tiroteio, Meia-Noite, Miguelzinho, Edgarzinho, Álvaro Mulatinho, Turquinho Pistoleiro, Tinguá, Madame Satã, que sempre andavam bem vestidos, com camisa de seda, chapéu panamá, gravata e sapatos com saltos carrapeta. E as mulatas como Boneca, Lili, Florinda, Leninha, Olívia, Marlene Brasil, Dália, Juju e Maria Bonita.

Embora frequentado por diversos tipos de gente, todos sabiam se comportar e os malandros só brigavam se provocados."



FOTO 9: Grande movimentação na parada de bondes do Largo da Lapa. Em 1906 foi inaugurado o primeiro lampadário ornamental da cidade, na Lapa, em cantaria e bronze construído por Bernadelli a mando de Pereira Passos, para marcar a abertura da Av. Mem de Sá.

O “Jornal do Brasil”, em crônica de 1960, também recomendava o bife com batatas fritas do “A Capela”, que tinha um chope muito bem pressurizado. Sugeria, depois do jantar, ir ver as cabrochas que vestem colantes e esfuziantes roupas de cetim, em algum dos cabarés com excelentes orquestras, onde dançam o samba como ninguém.


FOTO 10: A "sombrinha" protegia do sol, mas o calor para quem estava de terno não tinha refresco.


FOTO 11: Vemos a demolição do abrigo de bondes da Lapa em foto de setembro de 1964. Um funcionário desce, com vontade, a marreta no que estrutura do abrigo. O anúncio da Farmácia Phenix, que prometia devolver o dinheiro de quem achasse mais barato em outro local, está por um fio. Esta farmácia ficava na esquina da Mem de Sá com Maranguape e seu telefone era 22-4927. Ali na porta da igreja estava estacionado o "bode velho" de JBN?

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Conta o Helio: “Quanto ao abrigo da Lapa, na verdade ele não servia de conexão entre as linhas da Zona Norte e Sul. Era usado como ponto terminal de muitas linhas, mas todas da Zona Centro. Exemplos eram a famosa 29 - Lapa x Duque de Caxias x 1º de Março, a 30 - Lapa x Arsenal de Marinha, a 32 - Lapa x Gamboa, a 33 - Lapa x Praça da Bandeira, a 36 - Lapa x Cancela.

Durante vários anos houve realmente essa conexão na área da Lapa, mas quando o abrigo foi feito ela já não existia mais. A conexão era feita assim:

a) para bondes que vinham da Zona Norte e Centro (exceto Tabuleiro da Baiana) e se dirigiam para a Zona Sul, a ligação era via ruas do Riachuelo / da Lapa / da Glória / do Catete.

b) para os que vinham em sentido contrário, era via rua Teixeira de Freitas / avenida Mem de Sá.

Mas só havia três linhas que faziam esse tipo de conexão: a 9 - General Polidoro x Praça Mauá, a 24 (antiga 22) - Marquês de Abrantes x Estrada de Ferro e a 60 - Muda x Marquês de Abrantes."