Nos primórdios da cidade, o “Largo do Machado” era ocupado por uma lagoa, formada pelo Rio Catete, braço menor do Rio Carioca. Um tal Francisco Machado ou Antonio Vilela Machado (há citações com esses dois nomes) tornou-se dono do largo por volta de 1700. Casou-se com uma menina de menos de 15 anos, com a qual teve 13 filhos. Conta-se que um neto abriu um açougue (onde era o Cinema São Luiz) e colocou um machado na fachada, daí ou do nome de família vindo o nome do Largo, mas não há nenhum documento histórico com este registro.
Durante algum tempo
chamou-se “Campo das Pitangueiras”, “Campo das Laranjeiras”, “Praça da Glória”.
Em 1869 virou “Praça Duque de Caxias”, retornando a “Largo do Machado” em 1949.
Em 1810 adquire
residência próximo ao “Largo do Machado” a Rainha D. Carlota Joaquina, na Rua
das Laranjeiras, bem em frente à chácara de seu amante, Comendador José
Fernando Carneiro Leão. Ali, em 1813, foi assassinada D. Gertrudes Angélica,
esposa do diretor do Banco do Brasil, Fernando Carneiro Leão, amante da Rainha
Carlota Joaquina. Consta que, por ciúmes, a rainha contratou o bandido
"Orelha" para praticar o homicídio.
Em 1810, às expensas da
Rainha, foi o Largo cordeado, ganhando as dimensões atuais. Em 1821, quando a
Família Real deixa o Brasil, era o local já disputado pela nobreza,
O “Largo do Machado” foi
ajardinado em 1869 com figueiras e palmeiras reais pelo paisagista francês Auguste
Marie François Glaziou, tendo colocado grades em volta e chafariz central, substituído
em 1897 pela estátua equestre de Duque de Caxias, obra de Bernardelli, por sua
vez removida em 1949 para a frente do Palácio Duque de Caxias, no Campo de
Santana. Hoje lá está um chafariz de cimento e mármore, encimado pela estátua
da Virgem da Conceição, em mármore italiano, obra valorosíssima de Antônio
Canoa, doada à Arquidiocese do Rio pelo Vaticano em 1955.
Esta belíssima foto
garimpada pela Conceição Araujo no acervo da Light mostra a estação de bondes,
tema de hoje.
O lado do “Largo do
Machado” que ia em seguimento à Rua do Catete foi em grande parte adquirido pelo
americano Charles B. Greenough no final do século XIX, que ali construiu a
primeira estação de bondes da linha pela Zona Sul. A estação da “Botanical
Garden Rail Road Company”, depois “Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico”,
foi inaugurada em outubro de 1868 com a presença do Imperador D. Pedro II e
ministros.
A “CFCJB”, em 06/10/1868,
publicou o seguinte aviso na Imprensa: “Tendo S.M. o Imperador se dignado
honrar com sua augusta presença o ato de inauguração desta empresa e designado
o dia 9 do corrente, às 10 horas da manhã, para esse fim, a Companhia faz
ciente ao ilustrado público que o tráfego usual da mesma, entre a Rua do
Ouvidor e o Largo do Machado, principiará no dia seguinte.”
E ainda publicou que “A Companhia
não se responsabiliza por qualquer acidente que possa acontecer por violação de
qualquer das seguintes regras:
- Os Srs. Passageiros entrarão
e sairão dos carros pela plataforma traseira durante a viagem, e nos lugares
onde há duas vias, o farão do lado oposto às mesmas; se se apearem, quando o
carro estiver em movimento, devem o fazer com a frente virada à direção em que
o carro estiver andando.
- É-lhes proibido fazê-lo
pela plataforma da frente, quando o carro estiver em movimento.
- É proibido por a cabeça
ou os braços de fora das janelas.
- É proibido tocar a
campainha, por ser o condutor obrigado a tocá-la logo que for avisado.
- É proibido mexer nos
lampiões.
- É proibido
expressamente fumar dentro do carro.
A garagem está indicada
pela seta vermelha. Ficava entre as ruas Machado de Assis e Dois de Dezembro,
com entradas pelo Largo do Machado e também pela Machado de Assis. A área foi
bastante ampliada em relação a esse mapa, ia de uma rua à outra. Na Machado de
Assis ainda pode ser visto o muro original e um portão por onde saíam os
bondes.
A garagem com parte de
sua estrutura original é hoje o Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB, ao
lado do Centro Cultural Oi Futuro. O IAB ocupa somente uma parte
do terreno das instalações da CCFJB, assim como o prédio da Oi, que era a usina
de força movida a vapor. A garagem chegou a ocupar praticamente todo quarteirão
entre as duas ruas.
Nesta amplicação da foto vemos que os anúncios nas grades que protegem as árvores da ilha são da loja "Au Parc Royal", o magazine mais "chic" do Rio no início do século XX. A ilha é a famosa "Ilha dos Prontos", tão falada por Luiz Edmundo, que surpreendentemente sobreviveu no meio dos automóveis até os anos 50, talvez por ficar desalinhada com a Rua do Catete.
O local, na realidade, era um canteiro central que tinha a função de segmentar o tráfego, separando os bondes que saíam ou aguardavam a entrada na garagem do resto dos veículos que seguiam pela Rua do Catete.
Este nome de "Ilha dos Prontos" teria sido dado pela turma de gozadores do Lamas por estar sempre cheia de desocupados "duros", que ali ficavam observando a grande movimentação sem obstruir a frente de alguma loja.
O interessante é perceber que os trilhos ficavam todos concentrados de um dos lados da "ilha" sendo o outro lado da Rua do Catete completamente livre deles.
Em outro detalhe da foto vemos o bonde de nº 77 com todos os passageiros bem vestidos. O Helio poderá dar mais informações sobre o tipo de carro.
A estupenda foto de Mortimer mostra neste detalhe a casa ao lado da estação de bondes. O portão de entrada é muito bonito. À esquerda, cavalheiros elegantíssimos na porta do "Lamas".
A fachada da "Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico". O relógio marca 3 horas da tarde.
Fontes: Foto do acervo da
Light, Helio Ribeiro, Sindegtur, Brasil Gerson, Carlos Ponce de Leon e Charles Dunlop.