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sábado, 23 de agosto de 2025

DO FUNDO DO BAÚ

 HERÓIS, VILÕES OU MASSA DE MANOBRA?, por Helio Ribeiro

Nesse mundo de meu Deus há produtos que em relação à saúde do consumidor ora são considerados heróis, ora vilões e muitas das vezes servem de massa de manobra, em que alguns estudos os consideram heróis e outros vilões, simultaneamente. E o consumidor fica num vai-e-vem, sem saber se deve abolir ou não o produto de sua vida.

Para certos produtos o enquadramento depende da quantidade ou frequência de consumo ou da saúde pré-existente do consumidor. E, muitas vezes, da marca do fabricante, à qual está associada a qualidade do produto.

Há muito poucos heróis ou vilões definitivos. A imensa maioria é simples massa de manobra, em que as virtudes ou os males do produto dependem da instituição autora do estudo e, por que não dizer, dos interesses comerciais por trás desses estudos.  

A postagem de hoje relaciona alguns desses produtos.

 

CIGARRO

Atualmente é um vilão consagrado. Mas nem sempre foi assim. Antigamente dizia-se que “o garoto começa a fumar para provar que já é homem; o adulto deixa de fumar para provar a mesma coisa”.

Um amigo meu dizia que parar de fumar é fácil, tanto que ele já havia feito isso várias vezes.

E tem a velha piada: “Meu médico me aconselhou a ficar longe do cigarro. Comprei uma piteira.”

 

BANHA DE PORCO

Antigamente era muito usada, inclusive lá em casa. Vinha embalada num papel tipo manteiga, ao qual ficava irritantemente agarrada, tendo de ser raspada.

 

GORDURA DE COCO

Quem não se lembra dessa lata? Era figurinha fácil lá em casa.

 

CAFÉ

Típica massa de manobra. Alguns relatam seus efeitos benéficos, outros ressaltam os maléficos. Ao que parece, depende da quantidade e frequência de consumo e da saúde do consumidor.

Particularmente não gosto de café puro. Mas o “Jorge, o Ucraniano”, comentarista sumido do SDR, uma vez me deu uma amostra de café colombiano, se não me engano o Juan Valdez. Ô, cafezinho bom!!

E em Sarajevo um relojoeiro, de nome Núria, me serviu o que ele chamava de café bósnio. O pó era colocado dentro de uns copinhos metálicos e água fervente era jogada em cima e misturada. Depois deixava-se decantar a mistura e bebia-se, tomando cuidado para não ingerir o pó. Também foi uma experiência memorável de café puro. Acho que esse tipo de preparação é comum na Turquia e em outros países.

 

CHOCOLATE



Outra massa de manobra. Minha esposa foi chocólatra durante muitos anos. Deixou de sê-lo. Eu jamais caí de amores por chocolate, mas se houver um dando sopa eu como. 

 

AJI-NO-MOTO

Era figurinha fácil lá em casa. Depois passou a ser grande vilão. Ainda existe, porém ignoro o seu enquadramento atual. Minha esposa costuma usar o Alho e Sal da Arisco.

 

VINHO TINTO

Esse é bastante polêmico. Uns elogiam seu conteúdo de resveratrol; outros o criticam por ser bebida alcoólica.

Eu sou abstêmio. Mas durante visita a uma adega em Vila Nova de Gaia provei vinhos do Porto tinto e branco. Magníficos. Trouxe uma garrafa de cada e consumi rapidamente. De lá para cá tenho lutado contra a vontade de comprar esse tipo de vinho.

 

MARGARINA

Essa e sua irmã gêmea, a manteiga, são massas de manobra. Durante algum tempo a margarina virou sensação, depois foi crucificada. Não sei o enquadramento atual.

 

ADOÇANTES

Acho que é o produto mais polêmico. Em virtude de suas várias composições, volta e meia uma delas é crucificada no altar da Ciência ou dos interesses comerciais. Há adoçantes de ciclamato de potássio, de stévia, de sucralose, de aspartame, de sacarina, etc. Tal como gangorra, cada um assume a posição de queridinho durante algum tempo, decaindo logo após em favor de outro.

 

MEL

Parece que seu consumo é contraindicado para portadores de certas doenças, como o diabetes.

Quando eu era gente, no café da manhã comia uma fatia de pão de forma lambuzada com mel e com um pedaço de queijo amarelo em cima. Ô, delícia! Bons tempos aqueles!


GEMA DE OVO

Outra massa de manobra. Cada hora aparece um artigo condenando ou recomendando o consumo de gema de ovo. 

 

BEBIDAS ALCOÓLICAS

Deixo de anexar foto porque são dezenas os tipos desse produto, variando desde teor alcoólico até o tipo em si de bebida.

São consideradas vilãs e causadoras de inúmeras tragédias, tanto de cunho pessoal em relação à saúde de quem a ingere e na sua convivência familiar, quanto envolvendo outras pessoas, como em acidentes e crimes. Alguns defendem o consumo de certos tipos de bebida, ressalvada sua moderação.

Sendo produtos milenares, não se consegue eliminá-los do mercado, por vários motivos.


EMBUTIDOS







Típicos vilões, todos eles. Mas que são gostosos, lá isso são.

Na minha infância e juventude, lá em casa aos sábados à noite não se jantava: comíamos sanduíche de pão francês com ovo ou com salaminho. Vez por outra pegávamos o bonde, íamos até o ponto final na Usina, entrávamos no Bar das Pombas, pedíamos isca de carne com batata frita, acompanhados por refrigerante ou chopp, dependendo da pessoa.  

Particularmente eu gostava muito de fiambrada ou apresuntada. Mas há séculos não como uma. 


-----  FIM  DA  POSTAGEM  -----

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

CINEMAS

 

Este era a antiga entrada do cinema Bruni-Flamengo inaugurado em 11/11/1960, na Praia do Flamengo nº 72 – fundos. Tinha 1.638 lugares. A foto da galeria, em obras, é de quando o cinema já havia encerrado as atividades e seria dividido em dois, o Lido 1 e o Lido 2, em meados da década de 1970.

Lembro bem do suor frio ao percorrer esta galeria em direção à portaria, com uma carteira de estudante com data de nascimento alterada, para poder assistir a Sean Connery em Goldfinger. Felizmente tudo deu certo.

Até a década de 60, acho eu, a censura era “livre”, “10 anos”, “14 anos” e “18 anos”. 


O cinema Grajahu, depois Grajaú, funcionou na Rua Barão de Mesquita nº 972 até o ano de 1954. Chegou a ter 1936 lugares, algo impensável atualmente.


Vemos a fiscalização interditando, por algum motivo, o cinema Alaska, que ficava dentro da Galeria Alasca, ao lado do cinema Royal. A foto é do início dos anos 1960 e o local era frequentável. Tempos depois, com o fechamento do cinema, virou um teatro que exibia shows de travestis e, nos anos 1980, a peça "A noite dos leopardos", que fez grande sucesso. Virou uma igreja evangèlica, eu acho.  

O filme em cartaz por ocasião da foto da bilheteria era "A quadrilha de Scarface", com Robert Stack. Foi o "piloto" da série "Os Intocáveis", grande sucesso na TV.


Programa obrigatório para os comentaristas da "velha guarda" era comparecer aos cinemas Metro, aos domingos às 10 horas da manhã, para ver os filmes de Tom & Jerry.


O cinema Olinda em obras. Com mais de 3 mil lugares era o maior do Rio. Ficava na Praça Saenz Peña, de 1940 a 1972.


O Cinema São José, na Praça Tiradentes nº 3, no Centro, foi inaugurado em 23/03/1936. Chegou a ter 1718 lugares e funcionou até 28/01/1984, quando foi demolido. Sucedeu ao Teatro São José, construído em 04/11/1903 e que começou a funcionar com um cinematógrafo tipo Diafanorama Universal. Este teatro pegou fogo em 1931.


Que o ar-condicionado dos cinemas Metro era perfeito ninguém que passou pela porta jamais duvidou. Era um "clima de montanha". Metro-Copacabana, Metro-Passeio, Metro-Tijuca: ícones.

A foto é do Metro-Passeio, que foi inaugurado em 1936 com a primeira versão de "O Grande Motim", com Charles Laughton como o Capitão Bligh e Clark Gable como o Imediato galã.


E para terminar, com o pretexto de mostrar ali à esquerda o pequeno, mas simpático cinema Ricamar, dois automóveis para Obiscoitomolhado identificar. A foto é de 1963 e mostra uma Copacabana com decoração natalina. E dois lotações com aquele antigo cano de descarga para o alto.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

LAGOA


FOTO 1: Esta fotografia mostra a pedreira existente na Lagoa, entre a Rua Gastão Bahian e a Rua Montenegro, por volta de 1950. Não se trata da pedreira mais conhecida por todos, que ficava entre o Corte do Cantagalo e a Favela da Catacumba.  No local onde era esta pedreira foram construídos três blocos de três edifícios cada.

Depois da pedreira vemos Ipanema e Leblon ainda com poucos edifícios. A orla da Lagoa, do lado de Ipanema, era quase toda de casas. As últimas estão desaparecendo atualmente, como a da esquina da Rua Joana Angélica, que foi destombada semana passada.

A "praia" de areia, entre o Corte do Cantagalo e o clube dos Caiçaras, é bem vista na fotografia.


FOTO 2: Estamos ainda nos anos 1950. Embora ainda se veja claramente a antiga pedreira, os primeiros três edifícios daquele trecho já haviam sido construídos. Como veremos mais adiante, no final, ficaram três blocos de três edifícios cada. Os operários estão num aterro vizinho à Favela da Catacumba.


FOTO 3: Nesta imagem, alguns poucos anos mais tarde da anterior, vemos dois edifícios à esquerda (do que eu chamaria de 1º bloco) e dois edifícios à direita (do que chamaria de 3º bloco), um deles ainda em construção. Os três edifícios do que chamaria de 2º bloco ou bloco intermediário ainda não tinham suas construções iniciadas.

Notem o estado da pedreira, ao fundo. No final dos anos 60 um grande desastre que, por sorte, não gerou mortes, aconteceu quando os edifícios do bloco intermediário já haviam sido construídos.

No espaço entre o 1º e o 2º bloco, desenhamos uma baliza no morro e jogávamos "dupla" de futebol. Ali, à noite, estacionavam-se automóveis. Certo final  de tarde, bem junto à baliza, estava o Dodge do Almirante Alvaro Alberto. De repente o mundo veio abaixo. De casa achei que o prédio estava caindo, mas era uma enorme pedra que destruiu o carro do almirante. 

Em seguida a Geotécnica fez um magnífico trabalho de inspeção e contenção das pedras que ameaçavam cair. Atrás do meu prédio trabalhou durante meses um operário. Perfurava a pedra, colocava uns tubos de aço nos pontos mais perigosos. Nunca mais houve acidentes.


FOTO 4: Bem no final da década de 1950, aconteceu a construção do terceiro edifício do 1º bloco e a construção do 1º edifício do bloco intermediário. De quatro para seis, número alcançado em 1960.


FOTO 5: Mesma época da fotografia anterior, agora de outro ângulo. A praça sobreviveu até 1970, quando foi duplicada a Avenida Epitácio Pessoa e construído o viaduto Augusto Frederico Schmidt em frente ao Corte do Cantagalo.


FOTO 6: A foto de hoje é de autoria de Luiz Carlos Barreto e a figura em primeiro plano é o diretor de cinema italiano Roberto Rosselini. Os dois edifícios em construção da foto anterior já estão com todos os andares construídos e o edifício do meio, do bloco intermediário, está quase finalizado. 

Nesta época ficaram faltando um edifício do bloco intermediário e um edifício do 3º bloco. Ambos foram finalizados nos primeiros anos da década de 1960, acho que em 1963.



FOTO 7: Aqui, além dos três blocos de três prédios, se juntou o edifício de esquina da Epitácio Pessoa com a Gastão Bahiana.

Vemos as obras da duplicação da Av. Epitácio Pessoa e a construção do viaduto Augusto Frederico Schmidt. Estamos no final da década de 1960. O Posto Ipiranga, no início do Corte do Cantagalo, ainda está lá.

Ao lado dele ficava uma estação da Light. Na Rua Gastão Bahiana os primeiros arranha-céus começavam a subir.


FOTO 8: Já estamos na década de 70, com as obras da duplicação da Av. Epitácio Pessoa sendo finalizadas. Os três blocos citados inicialmente já estão completos, com nove edifícios. Além deles surgiu também o edifício da esquina com a Rua Gastão Bahiana.

Notem aquela língua de aterro à direita. A história dela está mais abaixo.



FOTO 9: E a construção de edifícios na região não parava. A Rua Gastão Bahiana e o Corte do Cantagalo também ganharam arranha-céus. Bem lá no alto, à esquerda, podemos ver uma grande obra da Geotécnica, bem como, observando bem, outras contenções bem no alto do morro, no centro da foto.


FOTO 10: Acho que esta foto é do Gyorgy Szendrodi, de 1971.  O trecho entre os blocos de edifícios e a Rua Montenegro ainda tem poucos prédios altos, bem diferente do que é hoje em dia.

No alto do morro o saudoso Panorama Palace Hotel, que nunca chegou a funcionar como hotel. Nos anos 60 e início dos anos 70, ainda inacabado, abrigou o bar "Berro d´Água" no terraço com vista para a Lagoa, Ipanema e Leblon, além da boate "On the Rocks". 

Hoje, depois de ali funcionar a TV Rio e o CIEP  João Goulart, há o "Favela Hub", um espaço de coworking e incubação para negócios sociais e soluções para favelas, administrado pelo Vivo Rio. Abriga também  diversos programas sociais como Amor e Canto, Academia de Jiu-Jitsu, o Museu de Favelas e a FAETEC com cursos profissionalizantes e técnicos. 


FOTO 11: O início dos anos 1970, já com o viaduto. O cruzamento em frente ao Corte do Cantagalo, antes do viaduto, era caótico. Durante muito tempo não havia sinais e era na base da gentileza ou da "lei do mais forte". Eram carros que iam e vinham de Copacabana, outros que vinham de Ipanema e podiam ir para Copacabana ou para Botafogo, outros que vinham de Botafogo e podiam ir para Ipanema ou para Copacabana.

Aliás, antes da duplicação da Epitácio Pessoa, era muito difícil atravessar a avenida, principalmente após a inauguração do Túnel Rebouças, que aumentou muito o trânsito. Como era mão-dupla e havia uma curva em frente à Gastão Bahiana, além da iluminação ser precária, defronte a meu prédio, à noite, o risco era imenso.


FOTO 12: Vejam este relato do amigo Jayme Derenusson, meu vizinho aí na Lagoa. Observem esta língua de aterro que poderia ter se transformado em mais um grande pedaço perdido da Lagoa:

“O Governo Negrão de Lima aproximava-se do fim, no antigo Estado da Guanabara. O dinâmico Secretário de Obras, Raymundo de Paula Soares sobrevoava o Rio de helicóptero (ele mesmo pilotando), para supervisionar as inúmeras e grandes obras em andamento (e ver onde faria outras). A SURSAN funcionava a todo vapor, pouco  antes de sua extinção, que ocorreria no Governo Faria Lima. Ela era então maior que a atual Prefeitura e dividida em Departamentos, a cujos diretores PS dava grande autonomia. 

O então diretor do DRC - Departamento de Rios e Canais (hoje SERLA) resolveu que o Saco do Cantagalo, na Lagoa, deveria ser aterrado para dar lugar a um grande parque. No seu entender "era preferível ver crianças brincando, em vez de lodo e cocorocas morrendo".A obra foi iniciada na marra, embora sem verba prevista no orçamento (como muitas outras, pois de outra forma muito pouco poderia ser feito). 

A SURSAN era fiscalizada por uma "Junta de Controle" do Tribunal de Contas do Estado, criada justamente para evitar a burocracia, que até então emperrara as obras necessárias ao antigo Estado. 

O aterro da Lagoa foi iniciado na base do "faz primeiro e regulariza depois". Só que, neste caso, desagradou ao Ministro João Lira Filho, Presidente da Junta de Controle, que acabou brecando a verba e mandando desfazer o enrocamento recém-iniciado. 

A equipe designada pela diretoria da SURSAN para convencer o Ministro da necessidade da obra era contra o empreendimento, e fez sua defesa da pior maneira a seu alcance, influindo na decisão contrária do Ministro. Um dos três integrantes dessa equipe era eu.

Além de discordarmos do aterro, tínhamos, os três, informações (que não tenho como confirmar) de que um envolvente e astuto lobista de São Paulo, representante de um grupo de empresários paulistas do ramo de Shopping Centers, rondava a Secretaria de Obras e o DRC, tentando viabilizar a construção de um Shopping da rede na área que seria aterrada. 

Desse no que desse, era mais um grande motivo para "jogarmos areia no aterro". Ao Ministro João Lira Filho (posteriormente Reitor da UERJ e já falecido) cabem os méritos pela permanência do espelho d'água nesta parte da Lagoa, hoje freqüentada pelos biguás e pedalinhos, e onde continuam a viver as cocorocas. 

A Lagoa escapou do estupro de que seria vítima. A construção do Viaduto provocou sucessivos afloramentos de lodo, somente contidos pelo estaqueamento de sua margem neste trecho, obra cuja realização se deve ao Prefeito Marcos Tamoyo. 

Paula Soares, o PS, e Negrão de Lima, ambos falecidos, foram grandes realizadores. O então diretor do DRC, técnico de renome e profissional honrado, também faleceu pouco depois do episódio do malfadado aterro. O Shopping foi construído, muitos anos após, em outro local.

Entretretanto, o episódio do aterro, por haver caído em total esquecimento, ficou entalado em minha garganta."


FOTO 13: Final dos anos 70. Aquele grande edifício ao lado de onde ficava o Posto Ipiranga, ao lado do Corte do Cantagalo, já estava de pé.

NOTA: Foi em 1960 que minha família se mudou para a Lagoa. O cenário era de muita tranquilidade. A exploração da pedreira perto da Favela da Catacumba causava a interrupção do tráfego da Avenida Epitácio Pessoa, por cerca de 10 minutos na parte da manhã e outros 10 minutos na parte da tarde, por conta das explosões. O tráfego era ainda em mão-dupla e bastante reduzido, não havendo o viaduto Augusto Frederico Schmitd em frente ao Corte, o que gerava um pouco de confusão. 

A favela era bastante tranquila e eu passava de bicicleta diariamente por ela, sem problemas. Muitos empregados domésticos e trabalhadores de obra moravam ali. Anos depois acabou a exploração da pedreira, passando a funcionar no local uma revendedora de automóveis. A favela foi removida no final da década de 60, quando também ficou pronta a duplicação da Avenida Epitácio Pessoa, além do viaduto. 

Na época, em frente de casa, só passavam os lotações das linhas "Largo do Machado-Ipanema" e "Estrada de Ferro-Ipanema",  e os ônibus "Rocinha-Mourisco" e "Jacaré-Ipanema" (que fazia ponto final na então chamada Praça Corumbá, junto do Corte do Cantagalo, em frente à casa do Filinto Müller e vizinho da casa Eva Klabin).

No trecho em frente ao Corte do Cantagalo aconteciam os espetáculos organizados pelo Abrahão Medina, do "Rei da Voz": eram queimas de fogos em junho, palcos para bailes de carnaval em fevereiro, entre outros.

Os barcos dos clubes que competiam no Campeonato de Remo vinham até este trecho, conhecido como "Saco da Lagoa", de modo tão silencioso que, de manhã cedo, da janela de casa ouvíamos as ordens dos treinadores e dos "patrões" para os remadores. 

O lado ruim, além da dificuldade de condução, era a quantidade de moscas e mosquitos que havia. Em casa havia diversos equipamentos para matá-los, desde mata-moscas, espirais que ficavam acesos à noite, Flit, até armadilhas de potes de vidro com açúcar.

Eventuais mortandades de peixes, além do mau cheiro, faziam que todos os objetos de prata ficassem cobertos por uma gosma negra. Serviços, não havia. A época do "delivery" viria muito tempo depois. O comércio mais próximo ficava na Rua Montenegro, para lá da Rua Nascimento Silva, onde ficava a mercearia do Nelson. Sobrevivente desta época só a loja de fotografias do Honório, mas ainda em seu primeiro endereço, na Montenegro quase esquina de Nascimento Silva. Padaria, só a da N.S. da Paz.

O único serviço que havia, que já foi tema aqui no "Saudades do Rio", era a carrocinha de sorvete da Kibon, com o sorveteiro Souza chegando todos os dias às 15 horas. 

PS: agradeço ao GMA pelo envio de um lote de fotos da Lagoa, por ele garimpadas no "site" do "Correio da Manhã".

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

HANGAR´S BAR

Recebi um email do Eustáquio G. Nardini, que já colaborou com o “Saudades do Rio” enviando fotos sobre um Museu de Cera na Rua do Passeio e sobre uma filmagem na Rua Gomes Freire.

Desta feita mandou fotos sobre o “Hangar´s Bar”, que tinha sido citado numa postagem sobre a “Ilha dos Pescadores”, na Barra da Tijuca.

Um grande avião C-82, como este do anúncio, foi comprado, em meados dos anos 1960, à Cruzeiro do Sul por Ari Rocha Araújo e Arlindo Matos, e foi levado à Barra desmontado em várias partes. Ali, depois de remontado, virou o “Hangar´s Bar”, onde garçons e garçonetes trabalhavam vestidos de “pilotos” e “aeromoças”, tendo especialidades como os coquetéis “Óleo Hidráulico” e “Gasolina 130”.


Inicialmente o bar/boate seria instalado na Lagoa Rodrigo de Freitas, mas não se conseguiu a licença. Levado para a Barra, o interior do avião foi totalmente decorado: do teto pendia um paraquedas branco, armado. As mesas, lilás, amarelo e laranja, separadas por trançados de nylon. Iluminação indireta e todo o material à prova de fogo.


Este era o aspecto do avião quando da inauguração do bar/boate na Barra da Tijuca. O "Hangar´s Bar" funcionou de 1965 a 1968 e um dos comentaristas do "Saudades do Rio" já escreveu que frequentou o local.

Após terem sido estudados os possíveis trajetos, segundo reportagem do JB, a fuselagem e as asas foram através do Recreio dos Bandeirantes pela rodovia BR-6, Rio-Santos, enquanto as partes menores, inclusive motores, foram levadas em caminhões pela Estrada da Barra.

O avião foi colocado nos terrenos de Francisco Peixoto, que se tornou sócio do empreendimento, na então Avenida Projetada C.


A foto acima é da revista "O Cruzeiro" e a Irene é a Irene Ravache. A reportagem destacava a jovem de 22 anos que já fazia sucesso em novela da TV Globo. 

Vemos o filme "Cuidado! Espião brasileiro em ação!", de 1966, que tinha o "Hangar´s Bar" como um dos cenários.

"Cuidado, Espião Brasileiro em Ação!" é um filme de comédia de espionagem brasileiro de 1966, escrito e dirigido por Víctor Lima. O filme se passou no Rio de Janeiro, no antigo estado da Guanabara, e foi lançado em 1º de dezembro de 1966.


O elenco do filme contava com Ângelo Antônio, Enzo Carnotti, Larry Carr, Claudio Cavalcanti, Jorge Dória, Milton Gonçalves, Wilson Grey, Mário Lago, Annik Malvil, Dirce Migliaccio, Flávio Migliaccio, entre outros.


Agradeço ao Eustáquio Geraldo Nardini pela colaboração.