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quinta-feira, 16 de junho de 2022

ASILO DOS INVÁLIDOS DA PÁTRIA


Imagem garimpada pelo Atila Franco. Inauguração do Asylo dos Inválidos da Pátria, na Ilha do Bom Jesus, em 29 de julho de 1868.

Inicialmente havia neste local um convento edificado pela Ordem dos Franciscanos. Mais tarde ali funcionou um hospital que, em 1868, por conta da Guerra do Paraguai, foi transformado no Asilo para os Inválidos da Pátria. Consta que funcionou como asilo até 1976.

Marcelo Augusto Moraes Gomes defendeu uma interessante tese sobre o Asilo, que pode ser vista em:

https://www.if.ufrj.br/~coelho/TESE_Gomes_Marcelo_Augusto_Moraes_V1.pdf

Nela ele relata que "Em 1868, foi inaugurado na Ilha do Bom Jesus, na Baía da Guanabara, o Asilo dos Inválidos da Pátria, espaço reservado, em um primeiro momento, e segundo as justificativas explícitas e utilizadas, para garantir unicamente, por mera filantropia, o sustento de numeroso contingente de veteranos da “Guerra do Paraguai”, oriundo do Exército em operações.

(...)

Percepção vulgar sobre o asilo, é que ele foi construído pelos resultados de uma subscrição pública, promovida em todo o Império e executada pelos comerciantes do Rio de Janeiro, membros da antiga Praça do Comércio, depois Associação Comercial do Rio de Janeiro. No entanto, segundo as investigações nos arquivos, desvendou-se que ele foi edificado pelos esforços pessoais de D. Pedro II, coadjuvado por alguns de seus ministros, mormente os que ocuparam o Ministério da Guerra, entre 1865 e 1868."

Foto do Correio da Manhã. Encontrei o comentário abaixo na Internet, mas não consigo lembrar a fonte. Mas é interessante notar o que ele descreve:

"No dia 04 de janeiro de 2012, o Prefeito da Cidade do Rio sancionou a lei municipal (nº 5.360), aprovada pela maioria dos vereadores da CMRJ. A referida lei o autoriza doar à General Electric (GE), por concessão de 50 anos (prorrogáveis por + 50), ou seja, por 100 anos, vários hectares de terras públicas (47 mil m²), num magnífico pontal encravado na Ilha do Fundão (Cidade Universitária da UFRJ) – na chamada Ilha de Bom Jesus.

Acontece, que aquele magnífico pedaço de terras públicas, preservado pelos, e para, os brasileiros, foi destinado, por lei, pelo então Presidente Getúlio Vargas, ao Asilo dos Inválidos da Pátria, conforme dispõe o art.1º, I do Decreto-lei 7.563/45, lugar onde os ex-combatentes, que lutaram em nome do Brasil, se instalaram para passar os seus últimos dias, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à Nação.

Mais tarde, o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, pelo Decreto nº 47.535/59 (link), reforçou essa destinação específica da Ilha, inicialmente prevista por Getúlio Vargas, aumentando a área para os 240 mil m² da Ilha.

Portanto, essa área da Ilha do Fundão – a Ilha de Bom Jesus – não é um espaço de terras públicas qualquer: ela, a Ilha, está destinada, por norma federal, (afetada, como se diz em direito público) a um fim específico – a de ser o Asilo dos Inválidos da Pátria, mesmo que esses bravos e honrados brasileiros, que lutaram pela Democracia, já não mais existam, fisicamente.  Mas, certamente, devem existir, ainda, na memória do País. Ou não?"


Foto do Correio da Manhã. Continua o artigo: "Enterrar a memória dos Inválidos da Pátria sob o cimento de um prédio da General Electric, e de outras multinacionais, além de soterrar a memória nacional, é ignorar a destinação normativa, dada àquela magnífica área de terras públicas, feito pelos Presidentes Getúlio e Juscelino."

Pelo que li acho que o terreno ficou mesmo com a GE.

21 comentários:

  1. Imaginem se alguém não levou um agrado. Lembram do quartel central da PM, quase que foi, junto com o do Leblon.
    Esse prédio consegue ser avistado da Ponte sentido Rio.

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  2. Já fui lá algumas vezes, inclusive tratando do aproveitamento de parte da ilha para uso industrial. Até onde eu sei a área do Asilo é administrada pelo Exército, está preservada e não ocupa toda a ilha. A área destinada ao Centro de Tecnologia, do qual a GE tem uma parte, é contígua, mas não se aproxima da área preservada. O Google dá uma boa ideia do local. E vale também uma olhada no mapa do então arquipélago, para se ter ideia da extensão da área do Asilo. Tenho um mapa de 1922 fornecido pelo Rouen que mostra com clareza o conjunto de 17 ilhas que vou encaminhar ao SDR.
    Em tempo: a área que eu pretendia ver industrializada é uma ponta da ilha, acostável, onde houve uma pedreira para a obra da ponte Rio-Niteroi e não está ocupada até hoje. E acho que hoje só se visita com permissão do Exército.

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  3. Olá, Dr. D'.

    Irei acompanhar os comentários, mas surgiu uma dúvida. A prefeitura teria competência (sic) para doar terreno em um local com instituições federais, no caso a UFRJ? Acho que lembro do caso. No local seria (não sei se foi) construída uma instalação da GE em convênio com a COPPE/UFRJ.

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  4. Tema a ser esclarecido. Não tenho a resposta. Em comentário o Rafael Netto, o prezado Rafito, escreve que acha que a área ainda é controlada pelo Exército.

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  5. Falando em UFRJ, a reitora já informa que o orçamento do ano só dá para gastos até agosto.

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  6. História que se vai.... Asilo dos Inválidos da Pátria. Ilha do Bom Jesus. Baía da Guanabara.
    Em [1824], no terreno doado por Dona Ignez de Andrade, piedosa viúva de um capitão de milícias, os veneráveis franciscanos, da província de Santo Antônio, ergueram, na Ilha de Bom Jesus, os sólidos muros do convento que, cedido ao governo nesse mesmo ano, serviu de hospital de Marinha até 1830, quando o foram habitar os [hansenianos], mais tarde transferidos para São Cristóvão. Em 1850, continuando as suas tradições hospitalares, transformou-se o convento em asilo para os enfermos de febre amarela. Ascendeu, em 1852, à categoria de estabelecimento de ensino dirigido pelas pias irmãs do Sagrado Coração de Maria, que o entregaram, em 1853, ao encarregado geral da colonização. Quando o cólera-morbus, em 1855, devastou a Corte, o deserto edifício tornou à sua função hospitalar, e, extinta a epidemia, fizeram-no depósito de colonos. Foi Quartel de Voluntários em 1865. No ano seguinte, em que começa a história do Asilo de Inválidos, o Ministério da Guerra fechou a enfermaria que estabelecera no convento, ao qual mandou recolher, com os inválidos então alojados na fortaleza de São João, os que chegavam do Paraguai. Removidos para a Ponta da Armação, em Niterói, esses primeiros asilados aguardaram em habitações provisórias, as definitivas, que o Imperador mandara construir na Ilha.
    Iniciadas em 1867, as novas obras do Asilo foram inauguradas em 1868, no dia 6 de julho, aniversário da Sereníssima Princesa Imperial. Na monarquia, sob a proteção magnânima de D. Pedro, o asilo prosperou. Cercado de vastos jardins, possuiu claras escolas, alegres oficinas e largas enfermarias; guardou-se, num Museu Militar, gloriosos troféus guerreiros, e, não raro, nos dias festivos, em salas apropriadas os inválidos heróis despojavam-se dos seus louros e disputavam os de João Caetano. Em 1909 (...) o que ainda não era ruína na Ilha, tendia dramaticamente a este fim. Na vizinhança imunda de Sapucaia, sob negras nuvens de moscas, a Ilha de Bom Jesus emergia-se, garbosamente ereta em outeiros, que à distância, no isolamento plácido das águas, assumiam proporções grandiosas de montes.
    O Asilo, inaugurado no dia de aniversário da Princesa Isabel, funcionou até 1976, tendo recebido militares, doentes e mutilados, que combateram não apenas naquele conflito, mas posteriormente na repressão de duas insurreições internas, a Guerra de Canudos e a Guerra do Contestado.
    (Rubem Porto Júnior – https://www.flickr.com/photos/rubempjr/14217162674/. Consultado em 16/06/2022.)

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  7. Se comentar hoje, com certeza o Professor Jaime vai acrescentar detalhes sobre essa ilha e o asilo.

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  8. Bom dia Saudosistas. Hoje temos uma foto do prédio do Asylo dos Inválidos da Pátria, na Ilha do Fundão. Fazendo um retrospecto da história, vejamos Inválidos da Guerra do Paraguai já não existe nenhum sobrevivente, da 2ª Guerra Mundial se existir alguém vivo, tem uma dívida enorme com Deus, pois de castigo ainda o mantém vivo até hoje, apesar de tê-lo castigado com um guerra. As Forças Armadas do Brasil, estão mais para o Movimento Faça Humor não Faça a Guerra, logo então não ceder, alugar, vender sob a condição de que o prédio deve ser preservado suas características arquitetônicas pelo ocupante e/ou usuário da construção. Afinal um estado que tem um enorme déficit orçamentário, qualquer economia é sempre bem vinda. Recentemente criaram a mesma polêmica com a intensão do governo federal vender o prédio do MEC, o prédio hoje está desocupado e sem destinação do poder público, logo porque não vendê-lo sob a condição de sua preservação arquitetônica. Engraçado que a população, a mídia, e outros reclamam da quantidade de prédios públicos abandonados em todo o País, mas quando o governo resolve se desfazer deles, todos uníssonos vem reclamar e entrar com ações na justiça contra a sua venda.
    Pergunto, quem no grupo manteria um imóvel se deteriorando com o tempo sem dele se desfazer, procurando vender para alguém interessado?

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  9. Tendo em vista o comentário das 08:10, trata-se obviamente de uma falácia, uma declaração irresponsável oriunda de uma organização político/partidária que domina aquela instituição federal há décadas. O incêndio ocorrido em Setembro de 2018 mostrou que a UFRJ era detentora de verbas milionárias que eram utilizadas de forma irresponsável e perdulária, havendo inclusive indício de desvios dessas verbas por pessoas ligadas à Reitoria. As Universidades Federais há muito se tornaram centros de ativismo político onde o conteúdo acadêmico é de somenos importância. Um corte nessas verbas utilizadas de forma irresponsável pode ter gerado esse tipo de declaração.

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    1. O dinheiro para o Centrão continuar a apoiar tem que sair de algum lugar. Aí sai da Saúde e da Educação.

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  10. Curioso que enquanto as universidades públicas recebiam pessoas oriundas das classes mais privilegiadas da população, pessoas mais preparadas intelectualmente por terem frequentado boas - e caras - escolas, ninguém falava mal dessas instituições; pelo contrário, normalmente eram elogiadas como centros de excelência na educação no Brasil.
    A partir da adoção das políticas de inclusão, bastou os negros e outras pessoas de camadas mais pobres da população terem acesso às universidades públicas para que as mesmas recebessem toda a sorte de críticas e achincalhamento de uma parte da sociedade.

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    1. Ainda são, na maioria, "centros de excelência", embora já há um bom tempo mal administradas e aparelhadas.

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  11. Usando um neologismo deplorável, o comentário das 13:31 é um legítima "lacração". Mencionar as "Políticas de inclusão" citadas no comentário e implementadas a partir de 2003 sem mencionar que o ensino público dos três níveis nesse período foi "ao fundo poço" é "no mínimo" falta de conhecimento, já que o termo "política de inclusão" é por demais pomposo para ser empregado na pantomima à qual o atribuíram. Permitir o ingresso de pessoas negras e indígenas à instituições de ensino superior considerando apenas a etnia, sem qualquer exame de capacitação (leia-se vestibular), e bastando para isso uma autodeclaração, é um insulto à sociedade esclarecida, e principalmente às pessoas beneficiadas por tal política, além de um "estelionato social". Não se trata de racismo, discriminação, ou preconceito, mas apenas de honestidade moral. Ninguém ignora que que a prática da escravatura trouxe problemas sociais gravíssimos que não cabem nesse comentário, e que os chamados afro-descendentes em sua maioria não tiveram acesso a um ensino público de qualidade, mas acessá-los a um nível de ensino superior sem que possuam uma base escolar sólida não é uma "política de inclusão" e sim uma "política criminosa", e querer que tal política seja "aceita como benéfica" é muito pior.

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    1. Seria muito mais honesto instituir uma cota social para "pobres de qualquer cor, raça, ou etnia". Nordestinos louros, de olhos azuis, e descendentes de holandeses são comuns, grande parte deles pertence às camadas mais pobres, e nem por por isso possuem qualquer direito a ingressar no ensino superior pelo sistema de cotas. A verdade é que tem sido descobertas inúmeras fraudes no sistema de cotas envolvendo pessoas brancas. Embora muitos aqui discordem, esse programa foi implementado com o intuito de dividir a sociedade e promover discórdia ou mesmo uma luta de classes. Se a política de cotas fosse precedida por um forte investimento em educação pública certamente os resultados seriam sentidos dentro de alguns anos, mas ao invés disso quiseram produzir efeitos imediatos e o resultado foi catastrófico, pois tornou bem mais evidente o fosso social já existente no Brasil.

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  12. Há estudos que mapeiam o desempenho de universitários ingressantes por meio de cotas, tanto em programas de graduação quanto de pós-graduação, e que demonstram que o desempenho e rendimento desses estudantes é equivalente ao de não cotistas. Nas ciências da saúde, ainda é possível verificar um rendimento superior de não cotistas, mas numa análise geral, as diferenças não são consideráveis

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    1. Exatamente. E o que os racistas (racistas, sim, pois negar-se como tal não convence) esquecem é que a cota é apenas para ingressar na universidade. Se os cotistas não estudarem e se esforçarem durante o curso não seguirão. Ou seja, no frigir dos ovos a qualidade da formação do estudante, seja cotista ou não, é mesma.

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  13. Dado oficial divulgado na imprensa séria agora é "falácia"... Típico.

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  14. Tudo aquilo que foi pregado por Antônio Gransci se materializa em "Terra Brasilis"...

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  15. Olá. Durante alguns anos da minha vida, acompanhei e pesquisei sobre o AIP, a Ilha do Bom Jesus, e toda a história desta instituição, entre a sua existência, ainda em Niterói, e posteriormente, com a inauguração do aquartelamento (nosocômio) na antiga Ilha do Bom Jesus. Penso que a questão da GE acabou por dar algum valor ao espaço, lembrando que a igreja, e a área dos dois pavilhões ainda sem mantem "conservada". O problema não é uma empresa se fixar em terras públicas (penso eu), mas a nossa indigência intelectual e cultural sobre a nossa própria história. Por exemplo, a igreja (de 1706), foi restaurada recentemente, e quem a viu e a visitou antes da restauração, sabe em que estado ela estava. As imagens (se forem as originais), são históricas, e uma veio de Humaitá. Contudo, a ingerência de décadas de gente sem qualificação acabou por empobrecer não apenas a própria igreja, mas também o que tinha no próprio asilo, que chegou a ter um museu militar e que foi gradativamente pilhado por oportunistas. Gente que é eterna no Brasil. Já os dois pavilhões do AIP, penso, HOJE, se não sofrerem uma intervenção objetiva, cairão, ou permanecerão em estado deplorável. Sobre o material fotográfico aqui reproduzido, de um "inválido da pátria" utilizando-se de uma "perna pilão", é a reprodução de um dos últimos asilados, contemporâneo de um outro, o senhor José, falecido entre os anos de 2003 ou 2004. Foi asilado por intervenção direta de um familiar do General Góis Monteiro. Em sua juventude, ainda vivendo no AIP, teve contato com um veterano da Guerra do Paraguai, muito idoso, conhecido como "Come Onça". O apelido veio de algumas particularidades da sua senilidade, ao final da vida. No centenário do AIP, em julho de 1968, o AIP possuía, apenas, dois asilados muito antigos, o senhor José, e mais um outro que é o que está reproduzido nestas fotos aqui do blog. O entrevistei (o seu José), ainda em sua casa, e junto tirei algumas fotos, na época com uma 35mm. Ainda no ano de 2001, o último escaler que serviu a ilha se encontrava apodrecendo bem em frente do desembarque, já na plataforma. Os postes de luz (gás), de metal, originários de 1868, alguns estavam instalados (na última vez que visitei a ilha, em 2013). Outros estavam jogados bem em frente ao desembarque, e poderiam ser visualizados com a maré baixa e calma. A cisterna, e o fornecimento de água, via canos submarinos oriundos de São Cristóvão, mal é citada na memória do Rio de Janeiro. Outra coisa. Muito gente que escreve sobre o AIP, se utiliza (sem mencionar a fonte), de seu primeiro cronista, o Monsenhor Manoel da Costa Honorato. Inclusive, a estampa do AIP que aqui está reproduzida, é do próprio livro do Manoel. Fazendo o download da tese "Espuma das Províncias", vocês poderão encontrar uma reprodução de um retrato do Manoel da Costa Honorato. Figura muito utilizada por diversas pessoas que escrevem sobre o AIP e a Ilha do Bom Jesus, mas jamais citado. Também foi veterano, sendo capelão na campanha do Paraguai.
    O asilo é apenas uma possibilidade de pesquisa sobre a Guerra do Paraguai e sobre os veteranos.
    (mgomes40@hotmail.com)

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