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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

RUA FIGUEIREDO MAGALHÃES - COPACABANA (2)

Como sequência à última postagem continuamos na Rua Figueiredo Magalhães, com destaque para o desabamento do Edifício “São Luiz Rei de França”, ocorrido em janeiro de 1958.

Além das pesquisas habituais contei com a ajuda dos amigos A. Decourt e Rouen.


FOTO 1: Conforme vimos na última postagem, este trecho após a Rua Tonelero em direção ao Túnel Velho foi prolongado em 1956, alguns anos antes desta foto. 

A primeira rua à esquerda é a Capelão Álvares da Silva e a próxima à direita a Joseph Bloch. O local onde estão as casas à direita é ocupado atualmente pelo Shopping Center Cidade de Copacabana, mais conhecido como Shopping dos Antiquários, construído a partir de 1960 e inaugurado uns poucos anos depois. .

Além dos antiquários abriga um mercado, teatros e o 5º Juizado Especial Cível, muitas lojas de padrão popular, composta de botequins e lojas de miudezas e quinquilharias. No último andar funciona a igreja católica da Paróquia Santa Cruz de Copacabana, que por muitos anos foi administrada pelo saudoso Padre Ítalo.

Aquele terreno com instalações da Light foi ocupado pelo Clube Paissandu de 1932 até 1952, antes de se mudar para as atuais instalações no Leblon. Fotos antigas mostram que o clube também ocupava a área da Rua Joseph Bloch, fazendo fronteira com as casas que existiam na Rua Ministro Alfredo Valadão (rua seguinte, à direita), que era uma continuação da Travessa Sta. Margarida, que liga a Siqueira Campos à Ladeira dos Tabajaras.

FOTO 2: Em janeiro de 1958 começaram os alertas sobre uma ameaça de desabamento do edifício “São Luiz Rei de França”, em fase de conclusão, erguido na Rua Figueiredo Magalhães nº 701, o qual teve seus alicerces traseiros afundados cerca de 30 centímetros.

O prédio em construção, que pertencia à instituição “Casa São Luiz Para Velhice”, possuía 11 andares e estava a cargo da firma Oliveira & Herculano Ltda., conforme noticiava o “Correio da Manhã”.

Nos últimos dias de janeiro, a Prefeitura do Distrito Federal e funcionários da firma Estacas Franki (que, voluntariamente, se colocou à disposição de forma a ajudar a instituição de caridade), buscaram uma solução, mas em 30 de janeiro o problema aumentou, inviabilizando os esforços. O prédio desabou no dia 31/01/1958.

O desabamento teria sido motivado por defeito nas fundações. O calculista, professor da Escola Nacional de Engenharia, dizia que a estrutura do prédio estava perfeita, uma vez que caiu sem que em sua estrutura fosse notada qualquer rachadura.

As fundações da parte de trás do edifício teriam cedido e causado o desabamento. As fundações traseiras teriam sido assentadas numa profundidade de 20 metros, não obstante o terreno ter sido pantanoso. Os prédios vizinhos, que estavam em construção, tinham bases numa profundidade de 32 e 36 metros, segundo reportagem da época do "Correio da Manhã".


FOTO 3: Vemos o edifício "São Luiz Rei de França" a partir da Praça Edmundo Bittencourt (a praça do Bairro Peixoto). Estes seriam os imóveis atingidos pelo desabamento. O de nº 36 da Rua Décio Vilares foi totalmente esmagado, assim como os de números 22 e 26. Outros prédios da Décio Vilares tiveram danos menores.

Transcrevo comentário do Andre Decourt: "O edifício, de propriedade do Asilo São Luiz para a velhice, estava sendo construído em um dos terrenos doados por Felisberto Peixoto na sua antiga chácara em Copacabana.

Durante o início da construção, ainda nas estruturas, no começo de 1958, tinha apresentado um desnível, a obra foi paralisada, mas o edifício se estabilizou, sendo então reiniciada., mas no dia 25 de Janeiro, a estrutura já em fase final de acabamento começou a estalar, apresentar rachaduras e o mais grave, se inclinar em direção à Rua Décio Villares e à Praça Edmundo Bittencourt, no Bairro Peixoto.

FOTO 4: Vemos os prédios destruídos na Décio Vilares, nos fundos do prédio desabado.  Apesar das tentativas da Prefeitura do Distrito Federal, no dia 30 pela manhã já era quase certo seu desabamento. Os moradores dos pequenos prédios localizados na Rua Décio Vilares, bem como na casa normanda, única da praça, que era localizada no número 22, corriam para salvar seus pertences, mas nem todos conseguiram. Os jornais entrevistaram muitos moradores que perderam muita coisa, inclusive com perda total de imóveis que não estavam segurados .Por volta das 20 horas o prédio caiu, após esmagar seus pilotis.

No local do São Luiz Rei de França, foi construído no final dos anos 60 um grande edifício-garagem, que está lá até hoje.”

O prédio tinha cerca de 40 metros de altura e desabou em 20 segundos, em frente a uma pequena multidão que aguardava a queda, pois na véspera, 30 de Janeiro, a inclinação havia aumentado e o desabamento era iminente. A energia elétrica da região havia sido desligada pouco tempo antes, o que evitou que alguém fosse eletrocutado, pois após o desabamento muitos se aproximaram para "ver de perto".

O prédio representava todo o patrimônio da Casa São Luiz Para Velhice (Instituição Visconde Ferreira D´Almeida). Fundada em 1890 para abrigar os operários daquele nobre, na década de 1950 abrigava 460 velhos desamparados, além de cegos e aleijados, abrigando ainda outras 170 pessoas entre religiosos e empregados. 

Aquela instituição de caridade, sem o menor auxílio do poder público, vivia de donativos. Ao falecer, o Sr. Paulo Felisberto Peixoto da Fonseca deixou um legado de vários lotes de terrenos no Bairro Peixoto para instituições de caridade, entre as quais a Casa São Luiz Para a Velhice, que foi beneficiada com três lotes, onde foi construído o Edifício São Luiz Rei de França. Com outro legado, do Sr. Stanley E. Hime, a instituição iniciou, em dezembro de 1955, a construção do prédio sinistrado. A venda dos apartamentos geraria uma renda que permitiria a Casa não depender só da generosidade de alguns poucos abnegados. E tudo foi para o chão para desespero da diretoria da instituição de caridade.

Desconheço o resultado do inquérito e de eventuais pedidos de indenização.


FOTO 5: Anúncio da venda dos restos do Edifício São Luiz Rei de França.

14 comentários:

  1. Bom dia, Dr. D'.

    Vou acompanhar os comentários.

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  2. Mais uma ótima aula. Desconhecia este episódio.

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  3. Na época todo mundo esperava o desabamento. Eu e meus irmãos queríamos ir ver mas nosso pai disse que só depois do jantar iria nos levar. Quando chegamos lá o prédio já havia caído para nossa decepção. Lembro que havia muita gente e muita confusão. Não tenho certeza mas acho que a luz ainda estava cortada.

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  4. Poderia teria sido "economia" de material?

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  5. Toda aquela área do Bairro Peixoto era meio pantanosa, havendo até um pequeno lago nas terras do Peixoto.

    O Decourt acha que nas suas fundações não foram utilizadas estacas (ou será sapatas?) fundas o suficiente e elas ficaram por cima do lençol freático do lugar, e começaram a sofrer então um processo de recalque e eram propelidas pela água, que fazia pressão.

    Como o problema só aconteceu com as estacas localizadas na parte da frente do edifício e ele começou a se inclinar em direção as casas e prédios da rua Décio Vilares, por uma semana os corpos técnicos, da construtora e da PDF (Prefeitura do Distrito Federal ) tentaram sem êxito reverter a situação, pois não havia ainda as modernas técnicas de injeção de concreto, o que talvez salvasse o edifício.

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  6. Hoje é aniversário da Confeitaria Colombo, inaugurada em 1894.

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  7. Deste edifício na Figueiredo não me lembro mas lembro bem de um na avenida Atlântica no Leme perto de onde fica atualmente o supermercado Zona Sul.

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  8. Um ex-chefe meu do IBGE morava no edifício Palace II, que desabou na Barra da Tijuca em 22/02/1998, um domingo de Carnaval. Por acaso eu estava passando o feriado em Nova Friburgo e vi a notícia pelos jornais das bancas. Fiquei preocupado porque minha mãe e tia haviam ido passar o Carnaval na casa da minha prima, que era naquela área. Liguei para ela e fiquei sabendo que do apartamento da minha prima deu para ver o prédio desabado.

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  9. Esse ex-chefe passou anos morando em hotel, pago não sei por quem. Por infelicidade ele e a esposa morreram num acidente de ônibus na Rio-Teresópolis, altura de Guapimirim, em 22/10/2012, quando o ônibus da Viação 1001 em que vinham caiu numa ribanceira, no início da tarde. Foram 14 mortos no total.

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    1. Uma infelicidade! O responsável pela tragédia do Palace 2 foi o dono da empreiteira, o deputado federal Sérgio Naya.

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  10. Boa noite Saudosistas. Passando somente para ler os comentários, fatos que não tive conhecimento devido ao tempo em que aconteceram.

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    1. Não teve conhecimento? Não aconteceu há tanto tempo assim, apenas 27 anos.

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  11. Lembro desse desabamento, mas só fomos ver alguns dias depois. Como íamos muito na praça, lembro da montanha de entulho que levou um bom tempo até ser retirada.

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