Com fotos do Arquivo
Nacional (a primeira enviada pelo prezado Carlos Paiva), vemos o abrigo de
bondes da Cinelândia.
A primeira mostra uma
série de carros antigos que poderão ser identificados por nossos especialistas.
Na segunda foto de hoje
vemos que o bonde ali parado é o "Leme", linha 5. Os anúncios no
abrigo de bondes são muitos: de "Fazem-se chaves" a "Mate, frio
ou quente, faz bem à gente", de "Louras? Morenas? Usem todas o rouge
em pó Mystik" a "Casas Pernambucanas".
O vendedor de laranjada,
que perdeu a hora, corre para colocar seu carrinho em uma boa localização. Como
sempre, naquela época, a maioria dos homens está de paletó e alguns,
precavidamente, portam seus guarda-chuvas. E ali atrás, o edifício Odeon, na
Praça Mahatma Gandhi. Ao fundo, o prédio do do Clube Militar. Na torre tem um
relógio de 'quatro faces'.
Interessante é todos
estes abrigos terem uma torre. Será que só era para visibilidade/publicidade ou
tinham alguma função como abrigo de transformadores ou caixa d'água?
O carro com para-choque
ondulado denuncia: é um Ford 35. O bonde não tem reboque. A plaqueta
"Leme" está presa na lateral de um carro-motor médio. Essas plaquetas
existiam, mas nem sempre eram colocadas.
Observa-se uma grande
quantidade de pessoas esperando o bonde. Mas o ponto final deles era no
Tabuleiro da Baiana, a cerca de 400m daí. Certamente essas pessoas não estavam
esperando um bonde para percorrer tão pequena distância. Acontece que não era
feita cobrança de passagem para quem embarcasse um (às vezes dois) pontos antes
do ponto final das linhas. Assim, provavelmente essas pessoas estão esperando o
bonde para irem de graça até o Tabuleiro da Baiana e continuarem nele no seu
percurso de retorno à Zona Sul, quando então pagariam a passagem. Poderiam
pegar o bonde na rua Senador Dantas, porque todas as linhas com final no
Tabuleiro da Baiana teriam de retornar por aquela rua. Mas embarcando antes do
ponto final, era mais fácil garantir um lugar sentado.
Nesse tempo, anos '50,
ainda passavam por esse trecho os bondes que seguiam pela R. Santa Luzia? Em
caso positivo essas pessoas não estariam também aguardando esses bondes?
Tentando responder aos questionamentos, o Helio Ribeiro observou: a) o
itinerário das linhas de bondes variou ao longo dos anos. Portanto, para dizer
quais linhas passavam em determinado logradouro, é necessário saber a que ano
nos referimos. A foto parece ser da década de 1950.
Na descrição de
itinerários em 1951, passavam na rua Santa Luzia as linhas 9 (General Polidoro
x Arsenal de Marinha), a 35 (Praça XV - Riachuelo) e a 36 (Praça XV - Praça
11). Em 1957 a linha 35 havia sido extinta, para ressurgir em 1959, como Lapa x
Praça 11. Já a linha 36 constava como Lapa x Cancela a partir de 1957. A linha
9 permaneceu até o fim dos bondes, mas já em 1957 não constava mais como
passando na rua Santa Luzia.
b) acho que os bondes só
circulavam na Santa Luzia no sentido da Santa Casa para a Cinelândia. A
confirmar.
c) quanto ao trajeto via
Luís de Vasconcelos ou Teixeira de Freitas, também depende do ano de
referência. Já pelo menos desde 1940 o trajeto era via Luís de Vasconcelos. Mas
havia linhas que vinham pela Teixeira de Freitas, como a 24 (Marquês de
Abrantes x Estrada de Ferro, anteriormente de número 22) e a 60 (Muda x Marquês
de Abrantes). As antigas linhas 35 e 36, citadas acima, percorriam ambas as
ruas: vinham pela Santa Luzia, entravam na Luís de Vasconcelos, contornavam o
Passeio Público, entravam na Teixeira de Freitas e daí iam pela Mem de Sá.
Itinerário de bonde é um
assunto complicado. Os antigos itinerários para a Zona Sul eram via rua do
Passeio e Teixeira de Freitas, ida e volta. Posteriormente os trilhos de bonde
foram retirados no trecho Mem de Sá - Senador Dantas e a rua do Passeio virou
mão única nesse sentido. Então os bondes passaram a usar a Luís de Vasconcelos.
Mas as linhas que vinham da Zona Sul e pegavam a Mem de Sá tinham de usar a
Teixeira de Freitas. Bem como as que, após a retirada dos trilhos citada acima,
vinham da Praça XV, via rua Santa Luzia, e precisavam também entrar na Mem de
Sá.
Na terceira foto o
anúncio da RCA Victor aparece muito bem. Será que ainda passavam bondes por aí
na época da foto? Em "alta" podemos ver, à esquerda, trilhos de bonde.
O anúncio do White Horse substituiu o do "rouge" Mystik da foto
anterior.
As últimas fotos são da
demolição do abrigo, levando ao chão o símbolo da RCA. Embora houvesse cordas
para segurar a torre, certamente a área de segurança deveria ser maior do que a
que foi isolada. Ao fundo o aspecto da Avenida Rio Branco nas vizinhanças do
Clube Militar. No "out-door", um anúncio do sofá-cama DRAGO.
Bom dia. Parece não. As fotos são dos anos 50. Veja que na parada de bondes está escrito da palavra TELEVISÃO. Como todos sabem, os contratos foram assinados em 1949 e, no ano seguinte, 1950, instalado no Brasil a televisão. Outro ponto importante é o filme em cartaz. Provavelmente é o filme INVESTIDA DE BÁRBAROS com o ator Guy Madison.
ResponderExcluirBom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirO gerente atrasou um pouco hoje. Mais um texto fantástico com uma aula sobre o assunto.
Na primeira foto vemos o abrigo. Na última, não mais...
Lembro de uma foto específica, mostrando o Monroe ao fundo, onde aparece um pedaço desse abrigo.
PS: as Pernambucanas estão voltando.
Não tenho certeza mas o trânsito de bondes na Santa Luzia foi interrompido antes da erradicação do sistema. Na região da Cinelândia, Lapa, e Passeio, parte do sistema foi erradicado em 1963 e parte em 1964. A linha 60 Muda-Marquês de Abrantes com a erradicação das linhas da zona sul, passou a ter como ponto final a partir de 21 de Maio de 1963 o abrigo de bondes da Lapa, rotina que durou até meados de 1964, quando houve a demolição de ambos os antigos. Aliás na última foto dá para ver os cabos de sustentação dos "Trolley-buses". Até 1963 os bondes cruzavam a Avenida Rio Branco ao transitarem na Santa Luzia. Em 2019 ironicamente os "bondes" cruzam a Santa Luzia ao transitarem na Avenida Rio Branco...
ResponderExcluirBom dia,Luiz,pessoal,
ResponderExcluirÉ estranho que tenham demolido o abrigo sem retirar os anúncios de cima, que certamente eram de vidro, tinham lâmpadas por dentro, e devem ter espalhado cacos a grande distância.
Certamente,a torre servia para se colocar um relógio elevado, permitindo aos passageiros tomarem conhecimento dos horários dos bondes, além de dar visibilidade à localização do ponto e poder encher de propagandas.Estes pontos eram interessantes, pena que foram retirados, hoje poderiam servir para os ônibus.Este, em particular, estaria onde hoje é a calçada e o acesso ao estacionamento subterrâneo da praça Mahatma Gandhi.
O ano da primeira foto é 1953, o filme em cartaz no Odeon é Investida de Bárbaros, com Guy Madison, um western em 3D.
O ano da demolição é posterior a 1960 porque na terceira foto há duas Rural-Willys de 1960. E, na foto da demolição há os cabos de energia do ônibus elétrico. Interessante que na foto da torre em queda, um dos cabos está encolhido - vai ver que de medo.
ResponderExcluirA demolição é um sinal dos tempos. O populacho a 10 metros... hoje iam cercar a Cinelândia e desocupar o Edifício Odeon - esses romanos são uns neuróticos.
A primeira fotografia mostra o filme "Investida de Bárbaros" (The Charge of Feather River, de 1953). E deve ser mesmo em 54-55 porque tem um Oldsmobile escondidinho no estacionamento dos senadores. Em primeiro plano, um Chevrolet 1940, táxi, no meio da praça, um Chevrolet 1947, de bandas brancas e um Mercury 1947.
A segunda foto é a do Ford e, na terceira, vemos as duas Rural-Willys, de 1960 em diante e um Fusca nacional (>1959). Uma Kombi escurinha já deixou o mate e parte para outra entrega. Kombi não serve de referência porque têm a mesma retaguarda desde 1953.
Ô "biscoitinho", você está correto, esse filme com o Guy Madison, foi exibido ali em 1954, no mesmo ano da foto.
ExcluirGostei do anuncio do "cavalinho" ,hoje em dia banido das contas de publicidade.As Pernambucanas estão de volta em algumas cidades e na Grande Vix já se apresentam.O Biscoito pode passar o recibo e estou averiguando qual o melhor filme.
ResponderExcluirHavia um abrigo como esse na Praça Tiradentes e outro no Largo de São Francisco. Meio fora de foco: Vale a pena dar uma olhada no Pinterest onde belíssimas fotos coloridas de bondes em São Paulo. Lá o sistema durou até 1968. Em destaque os bondes Centex, mais conhecidos como "Gilda"...
ResponderExcluirBom dia a todos. Bela sequência de fotos do Abrigo de Bondes da Cinelândia, na foto da demolição da torre, até o prédio de frente balançou. Winston acho que era um studio fotográfico na sobre loja do edifício Odeon.
ResponderExcluirMeu caro Lino, o WINSTON que vc cita, era o magazine masculino que existia logo após a fachada do cinema
ExcluirBolsonaro vai deixar PSL.+++
ResponderExcluirCobrança de pedágio reativado.+++
Carille demitido no Maraca.+++
A parada de bondes na época da foto 2 era em mão-inglesa?
ResponderExcluirPois parece que o bonde parado estava indo no sentido Tabuleiro da Baiana, o que explicaria tantos ilustres passageiros no lado de cá, que seria o sentido Z. Sul.
Na foto 3, vê-se uma propaganda da VARIG, ao fundo, na calçada, atrás do rapaz de camisa branca atravessando a rua.
ResponderExcluirE nas fotos 1, 2 e 4, vê-se uma propaganda da A Gazeta (Sucursal), de propriedade de Cásper Líbero, um dos grandes nomes da Imprensa brasileira. Aliás, foi dele a ideia da famosa e até hoje presente, Corrida de São Silvestre, já quase centenária.
No sábado jurava que nosso maior reforço estava no time do Palmeiras mas ontem ele voltou ao Maracanã e foi responsável por mais uma vitória nossa.Ele o grande VAR o nosso maior reforço o que faz a diferença e tem garantido a nossa liderança. Os comentaristas do blog sempre tiveram razão e ele é o maior de todos.Viva o VAR. Grande VAR.Sempre o VAR.
ResponderExcluirNa calçada do último quarteirão da Av. Rio Branco ficava a principal loja da Varig, ao lado do dancing Avenida, mais tarde a boate Assirius. A seguir, na sequência, ficavam a galeria de entrada do Edf. São Borja (Av. Rio Branco, 277), o restaurante Paisano, o dancing Brasil, a loja da KLM e a portaria do Edf. Brasília (nº 311).
ResponderExcluirO avô do meu marido tinha uma alfaiataria nesse trecho do tabuleiro da baiana. Vc foi tão detalhada em seu comentário, que me dei a liberdade de te perguntar se vc tem registro ou conhecimento da existência dessa alfaiataria? Minha sogra era muito nova e não tem lembranças do lugar... caso haja alguma informação ou registro fotográfico, por favor me sinalize pelo meu número de celular (21) 998325052.
ExcluirGrata
Será que o famoso legítimo scotch anunciado sofria concorrência de algum Caballo Blanco del Paraguay?
ResponderExcluirO Lino citou o estúdio fotográfico que tinha por ali e eu lembrei da vitrine com fotos, incluindo um álbum que passava as páginas através de algum mecanismo que eu não sabia como funcionava, mas que me chamava a atenção toda vez que passava por ali.
ResponderExcluirO tal estúdio fotográfico não tinha esse nome. Ele pertencia a um fotógrafo português de nome Saul. Seu irmão Artur tinha uma oficina de conserto de câmeras na edf. Santos Vahlis, na r. Senador Dantas. Winston era marca de cigarro existente desde os anos '50 fabricado pela R.J.Reynolds
ExcluirA Lapa e a Cinelândia são um raro exemplo da coexistência de bondes e ônibus elétricos, ainda que por breve período. Em 21 de Maio de 1963 circulou o último bonde com destino à zona sul e isso significa que os Trolley-buses que já circulavam de forma "periférica" na região desde 1962, passaram a ir até o Tabuleiro da Baiana, Senador Dantas, e Teixeira de Freitas. Porém o bonde 60 que originalmente ia até a Marquês de Abrantes, passou a ir apenas até o abrigo de bondes da Lapa, e isso durou cerca de um ano. Exemplo semelhante é Botafogo, Copacabana, Glória, e Flamengo.
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ResponderExcluirAlô, Paulo Roberto, insisto em afirmar que o nome WINSTON, era o antigo magazine que se situava à esquerda do cinema, certo!