Total de visualizações de página

segunda-feira, 11 de julho de 2022

EDIFICIO PALATIUM


Outro dia a incansável pesquisadora Conceição Araújo comentou sobre o Edifício Palatium, sobre o qual eu não tinha conhecimento. Vários comentaristas se manifestaram e o prezado J.A.C. Maia conseguiu o livro da época do lançamento (foram impressos 5000 exemplares pela Empresa Edanee, de São Paulo), origem das fotomontagens que aparecem aqui hoje. Neste livro constam ainda as plantas dos diversos andares, além de uma homenagem ao Presidente Getulio Vargas nas primeiras páginas. 

Fica aqui o agradecimento à Conceição Araújo e ao J.A.C. Maia por possibilitarem esta postagem.

Pesquisas que fiz no “Correio da Manhã”, “Diário de Notícias” e “O Jornal” complementam esta postagem.


Os incorporadores desejavam que o Palatium constituísse uma nova demonstração não só da capacidade da engenharia brasileira, como da excelência da indústria nacional. Evitariam, o quanto possível, a aplicação de material estrangeiro, usando produtos da indústria nacional como a cerâmica, os azulejos, os aparelhos sanitários, as ferragens, os mármores.

Na época os dois prédios mais altos da América Latina eram o “Cavanagh” em Buenos Aires, e o “Palacio Salvo” em Montevidéo, com 30 e 26 pavimentos, respectivamente. O Palatium superaria a ambos. Foi um sucesso de vendas quando do lançamento da obra.


O terreno onde seria construído o Edifício Palatium, na esquina da Almirante Barroso com Rio Branco, era onde existia o Teatro Phoenix e o Palace Hotel. Em 23/11/1940 foi assinado o contrato para a demolição do Palace Hotel. Foram compradores José Coelho Pereira Junior e Luiz Coatz (que já demolira os antigos prédios da Associação Comercial, do Tesouro Nacional e do Teatro Lírico).

O projeto teria 32 andares, 160 metros de altura, 8 elevadores, lojas, cineteatro, 800 salas de escritório, um hotel com 300 quartos com banheiros, etc...

Em 1941 foi feita uma maquete de 2 metros de altura por 1,40m de largura que foi exposta no salão nobre do Palace Hotel para visitação os sete dias da semana.

O Palatium teria uma entrada única pela Almirante Barroso, com um “hall” de cerca de 20 metros de largura por 12 de profundidade, sobre o qual se abririam 3 acessos, um para um grande restaurante, outro no centro para os amplos elevadores dos escritórios e o terceiro para os três elevadores do “apart-hotel”.

Os primeiros andares seriam de lojas, os escritórios iriam até o 20º andar, a partir daí, com 3 elevadores exclusivos, haveria um “apart-hotel” até o 30º andar, tipo sala, quarto, quitinete. O 32º andar seria ocupado por um grande salão e dependências destinadas a um “night-club”.


Em 21/10/1940 foi assinado o contrato de financiamento pela S.A. Martinelli, com tabela Price, 30% de entrada e prazo de 15 anos. Incorporadores: Cia. Imobiliária Rex e Costa Pereira, Bokel Ltda. Projeto de Costa Pereira, Bokel Ltda. com a cooperação dos arquitetos Mario Maranhão e Adalbert Szilard. Na mesa desta reunião estavam o Comendador José Martinelli, ladeado pelos drs. Carlos Saboia Bandeira de Mello, advogado da S.A. Martinelli, Nelson Almeida, da Imobiliária Rex, Roberto Marinho, diretor de “O Globo”, Mattos Pimenta, presidente da Bolsa de Imóveis.

O custo total do Palatium, prédio em estilo neo-clássico, seria de 150 mil contos de réis. As vendas, realizadas exclusivamente por corretores da Bolsa de Imóveis (Av. Rio Branco nº 128), foram um sucesso.

Em maio de 1941 foi publicado no “Diário Oficial”, Seção II, do dia 12, a aprovação pelo Secretário de Viação e Obras da Prefeitura a planta do Palatium, “o mais sumptuoso edifício da América Latina”.

Entretanto, em julho de 1941, após centenas de artigos e anúncios exaltando o empreendimento, o “Correio da Manhã” noticiou que “As plantas aprovadas em maio sofreram tão profundas modificações no projeto original por exigências da administração que os que preferirem desistir da compra poderão comparecer à S.A. Martinelli para devolução do valor investido.”

Entre as exigências da Prefeitura constava construir uma galeria de 70 metros de comprimento por 7 metros de largura cortando o edifício. Além da perda de 490 metros quadrados tal galeria afetaria toda a estrutura do prédio projetado.

Mais adiante, conforme conta o “Diário de Notícias”, nem mesmo o Palace Hotel foi demolido no início dos anos 40, somente cerca de dez anos depois.

O projeto acabou abandonado. Uma versão é que foi por veto do Ministério da Aeronáutica que alegou que a altura do prédio prejudicaria a aterrissagem dos aviões no Aeroporto Santos Dumont. Haveria que deixar de construir 10 pavimentos, o que não seria rentável. Outra versão é que a Prefeitura não queria que hotéis fossem demolidos.

Desenvolveu-se então um litígio em torno do edifício do Palace Hotel, que foi desapropriado pela Prefeitura, tendo em vista a carência de hotéis no Rio. Martinelli acusava a Cia. de Hotéis Palace de não entregar o imóvel já pago, alegando a desapropriação feita pelo Prefeito Henrique Dodsworth. Já o advogado do Palace dizia que era a S.A. Martinelli que não manifestava desejo de recebê-lo, solicitando sempre mais e mais prorrogações. Alegou que quando da desapropriação depositou judicialmente a importância que havia recebido da compradora, mas entendeu que não podia mais fazer a entrega do prédio.

E o “imbróglio” continuou envolvendo a necessidade de hotéis no Rio, tendo como participantes o Prefeito Henrique Dodsworth, o Comendador Martinelli e Octavio Guinle representante do Palace. Estava em discussão a reforma do Palace Hotel e a construção de um outro hotel em Copacabana. Em 1946 faleceu o Comendador Martinelli. E não sei como acabou o litígio.

Como não encontrei notícias de processos relativos à devolução do dinheiro suponho que a S.A. Martinelli acertou tudo com os investidores, bem diferente do que aconteceu com outros empreendimentos similares, como o Panorama Palace Hotel em Ipanema (com entrada pela Rua Alberto de Campos) e o Gávea Tourist Hotel (na Estrada da Canoa, em São Conrado, empreendimento da Companhia California de Investimentos).

As fotomontagens abaixo mostram como o Edifício Palatium seria visto, na época, de vários pontos do Rio.







18 comentários:

  1. Olá, Dr. D'.

    Mais uma aula excepcional, sempre se aprende alguma coisa neste lugar. Também não lembrava deste empreendimento.

    O comendador Martinelli sempre foi envolvido com projetos faraônicos, especialmente na "estranha cidade", como mostrado no canal History. Até acredito na versão da altura atrapalhar o aeroporto, mas podem ter outros fatores na história, como ser época de guerra, mesmo que ainda oficialmente o Brasil não estivesse.

    ResponderExcluir
  2. Em tempo, atualmente no local existe um ou mais prédios no local. Qual é a altura máxima? Algo parecido com a proposta do Martinelli?

    ResponderExcluir
  3. Pode-se dizer que tal projeto ocorreu "na esteira" do Edifício Martinelli construído na capital paulista. Imagino que seria um grande "elefante branco" que destoaria do padrão arquitetônico da região, sem contar que a exigência imposta pela PMDF poderia compromer a segurança do projeto. FF 1: O estupro praticado por um médico anestesista durante uma "cesariana" ocorrido no Hospital da Mulher em Duque de Caxias e que foi filmado pela equipe de enfermagem, mostra a que ponto chegou o nível de putrefação da sociedade brasileira. O video é revoltante, o médico foi preso em flagrante, e vai responder por "estupro de vulnerável". Segundo informações, não foi a primeira vez que isso ocorreu.

    ResponderExcluir
  4. Pode ser uma visão simplista, mas comprar um empreendimento "na planta" ou em construção no Brasil é um ato temerário e que oferece alto risco, já que além dos riscos naturais do negócio em si, a "segurança jurídica no Brasil é pífia. O caso do Edifício Palace II ocorrido em 1998 é um claro exemplo de como a imunidade parlamentar e foro privilegiado são utilizados por criminosos como salvaguarda para a prática de crimes diversos. O criminoso, um deputado federal morreu de "causas naturais" e as vítimas lesadas não foram devidamente ressarcidas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não é visão simplista não! É pura realidade. Penso em comprar apartamento na planta, mas morro de medo de perder minhas economias de anos de labuta e me lembro disso quando passo em frente a esqueletos de prédios abandonados. Todos os dias, temos notícias de golpes, tipo buffet e loja de móveis planejados que fecharam, aluguel de imóveis inexistentes, viagens canceladas. Parece que uma parte dos brasileiros desistiu de trabalhar honestamente e resolver viver de golpes.A Internet facilitou os negócios, mas também facilitou os trambiques.

      Excluir
    2. A construção abandonada a mais de 50 anos de um prédio na Rua Santa Clara quase em frente a loja Bakers é digna de um post no sdr. Uma vez ouvi uma estória que um homem estava construindo aquele prédio sozinho.

      Excluir
    3. Eu mesmo paguei uma festa infantil, veio o covid e "pam" levei um calote.
      No Brasil ser caloteiro é esporte nacional.

      Excluir
  5. Um bocado feio o projeto do prédio, aquela pirâmide "interrompida" no alto é de amargar.

    ResponderExcluir
  6. Bom dia Saudosistas. Impressionante como no Brasil, as coisas são feitas sempre de forma errada. Desde quando em um País sério, um projeto é posto a venda, sem que os órgãos públicos tenham aprovado o projeto construtivo. Também só de ver a lista dos que participavam no projeto, acho que não teriam gastos com demolições, tinha bastante picaretas. KKKKKKK

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lino, se você pesquisar nos jornais verá que houve uma enorme campanha "atestando" a honradez, a lisura, a segurança de todo o processo. Tanto que, abertas as vendas, com exclusividade de corretores da Bolsa de Imóveis, rapidamente quase tudo foi vendido.
      A própria Prefeitura deu aval para a construção, mas depois, sabe-se lá a razão, fez uma série de exigências.
      Não encontrei notícias de processos de possíveis prejudicados. Aparentemente todos foram ressarcidos.
      No livreto sobre o projeto há um tom ufanista, dizendo que o Brasil seria o que os Estados Unidos foram no século anterior, um país decolando para o futuro.
      Mas decolar para o futuro é uma história repetida "ad nauseam" que conhecemos bem.

      Excluir
    2. Mestre Dr. D', no texto diz que a alteração do projeto depois de aprovado inicialmente foi promovido pela Prefeitura.
      "Entre as exigências da Prefeitura constava construir uma galeria de 70 metros de comprimento por 7 metros de largura cortando o edifício. Além da perda de 490 metros quadrados tal galeria afetaria toda a estrutura do prédio projetado."

      Excluir
  7. O Luiz tem razão em seu comentário das 12:59. Naquela época a PMDF composta de uma estrutura político/administrativa séria e de reputação ilibada. O Judiciário também era integrado por indivíduos de igual reputação e notório saber jurídico. Atualmente não há segurança jurídica efetiva que mantenha de forma perene um ambiente de negócios. Há alguns anos foi lançado com grande aparato da mídia um grande empreendimento na Tijuca junto ao Hospital da Ordem Terceira. Era um pequeno bairro em torno da Rua Basiléia, uma rua sem saída situada na Conde de Bonfim cujos imóveis pertenciam à Ordem Terceira. O empreendimento foi embargado, o mato tomou o local, ninguém foi indenizado, e "lá nave va". Tudo no Brasil é negociado, usurpado, e corrompido, fica tudo "elas por elas. Tenho que discordar quando muitos afirmam que "cadeia no Brasil é para pobre e preto", pois atualmente "nem mesmo para esses"...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Joel este projeto da rua Basiléia, o problema é que a Construtora PDG está quebrada, em processo de recuperação judicial já a alguns anos, não sei se já terminou.

      Excluir
    2. Meus tios até 2010 moraram ali. Desde tenra idade eu passava os dias na casa de meus tios, jogava futebol na rua, e andava naquela mata que existe até hoje. Hoje em dia é um grande matagal. Você sabe que "recuperação judicial" no Brasil encobre na maioria das vezes grandes falcatruas. Ninguém é preso ou mesmo responsabilizado.

      Excluir
  8. Esse prédio parece uma miniatura do Empire State Building.

    ResponderExcluir
  9. Fora de foco e filosofia barata: lá se vão 80 anos dos acontecimentos que são objeto da postagem de hoje; tão longe e tão perto ..... parem o tempo que eu quero descer.

    ResponderExcluir
  10. Dificilmente eu compraria uma sala neste prédio, sem saber antes como era o ar condicionado. Outra coisa, tudo é uma questão de tempo ou do tempo: Em 41 o Ministério da Aeronáutica definiu que esse prédio era muito alto e dai se colocou uma pá de cal sobre o empreendimento. Entre as décadas de 70 e 80 surgiu na Cinelândia um prédio chamado de Ed.Apolo com mais de 30 andares , mas sem antes colocar abaixo um lindo imóvel de época e que arruinou de vez a belíssima esplanada de outrora que era a Cinelândia. Esse prédio fica ao lado da Biblioteca Nacional. Ah...então na passa avião por ali?

    ResponderExcluir
  11. Talvez naquela época os controles aéreos não permitissem. Com novas tecnologias talvez não atrapalhe.

    ResponderExcluir