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quinta-feira, 11 de agosto de 2022

GARAGEM DE BONDES DO HUMAITÁ





O "post" de hoje, na porcentagem de 50%, é baseado em postagens do prezado Andre Decourt.


A foto mostra um pequeno pedaço do interior da enorme garagem da Light do Largo dos Leões.

Essa garagem junto com a do Largo do Machado eram na região sul da cidade os maiores espaços ocupados pela Light para guarda de veículos, pois embora muito indentificadas com os bondes, essas garagens muitas vezes guardavam ônibus. Havia inúmeras outras de médio ou pequeno porte espalhadas pelos bairros da cidade, algumas ainda ficaram praticamente intactas até os anos 90 como a do Leblon, e outras perfeitamente preservadas como a de Botafogo, hoje Arquivo Público do Estado.

A Viação Excelsior, uma das maiores da cidade nos anos 20 e 30 era de propriedade do "Polvo Canadense", como assim era chamada a companhia canadense, que dominava vários serviços da cidade, do Gás à Luz passando pelos transportes.

Com o fim do serviço de bondes grande parte das garagens passou ao poder público, por desapropriação, ou por terem sido os terrenos anteriormentes doados pela municipalidade para o fim de garagens, retornando ao patrimônio público com o fim dos serviços.

O grande espaço da Garagem do Largo dos Leões ou do Humaitá como era também chamada foi dividida, entre a CEDAE, a COBAL, e a Secretaria Estadual de Educação.

A foto é curiosa pois mostra dentro da imensa garagem alguns ônibus da Viação Excelcior, também de propriedade da Light, algo que não era difícil de ocorrer nas grandes garagens da cidade.


Vemos a fachada principal da garagem, localizada na Rua Voluntários da Pátria na frente da esquina da Rua Capitão Salomão, segundo o Decourt. Eu não me lembro deste lado da garagem, mas lembro bem do lado que dava frente para a Rua São Clemente.

A imagem, aparentemente dos anos 10, mostra um bonde da Light com reboque passando defronte à garagem. No chão vemos os trilhos que se dirigiam à entrada principal para os carris, embora a fachada indique claramente que o arco principal da estação é o localizado mais à esquerda, onde não há trilhos e o meio-fio é elevado.

Certamente tal entrada deveria ser a sala para os passageiros, onde também havia bancas de revistas e vendas de jornais, num esquema muito parecido com a garagem do Largo do Machado, Botafogo e Copacabana. A de Copacabana possuia inclusive um hotel em seus andares superiores.

Junto ao meio fio vemos um poste de iluminação, que tinha uma base usada em bem poucas ruas, sendo que a base é muito parecida com os postes da Expo de 1908 na Praia Vermelha. Não descartando que, após desmonte da Expo, os postes foram adaptados para a altura das ruas e instalados em vias públicas dos bairros de Botafogo e Flamengo, onde eles são vistos em fotos antigas.

Com a demolição da garagem a geografia do local mudou bastante, a rua é muito mais larga, com recuos não só no local da antiga garagem, mas também junto à calçada oposta, onde prédios construídos nos anos 70 obedeceram o PA novo da Voluntários da Pátria, dos anos 50, permitindo nesse trecho o alargamento da via para a instalação de baias de ônibus e táxis.


Foto da estação do Largo dos Leões já no século XX. Anteriormente, em 1871, a Companhia "Botanical Gardens" solicitou à Câmara Municipal licença para construir a estação do Largo dos Leões.

Enquanto não ficava pronta, foi construído um telheiro provisório, a fim de se guardar os carros e os animais que, por falta de lugar próprio, ficavam expostos ao tempo.

A linha de carris entre a Praia de Botafogo e o portão do Jardim Botânico foi inaugurada em janeiro de 1871. Pouco depois a linha foi estendida até o local conhecido como "Três Vendas", que ficava no começo da Rua Marquês de São Vicente, próximo da Praça Santos Dumont.

Dunlop conta uma curiosidade: é que no ano de 1871, o Chefe de Polícia da Corte, oficiou à "Botanical Garden" que era proibido que as pessoas viajassem nos estribos, exceção feita aos empregados encarregados da direção dos bondes, "visto ser aquela prática vexatória às pessoas que entram e saem, além de poder ocasionar acidentes e aglomeração de passageiros nos ditos estribos".

Foi uma grita geral, inclusive com a participação dos jornais. Tal foi o clamor que o presidente da "Botanical Garden" oficiou ao Ministro da Agricultura pedindo a revogação da ordem. Os incidentes entre condutores, policiais e os que desejavam viajar nos estribos aumentavam, fazendo com que um bonde ficasse retido, assim como os outros que vinham atrás.

Nem mesmo a polícia conseguia resolver a questão e, pouco a pouco, foi afrouxando sua atitude contra os renitentes passageiros dos estribos. Abaixo-assinados foram organizados para pedir a revogação da medida, o que acabou acontecendo.

 


A fotografia, do Arquivo Nacional, mostra a área onde existia a garagem de bondes e que, nos dias de hoje, abriga a COBAL. Devemos estar nos últimos anos da década de 60. Ainda não existiam os grandes prédios comerciais da esquina da Rua Voluntários da Pátria com Rua Capitão Salomão. Um deles, o "Guilherme Romano", abriga além de lojas nos pavimentos inferiores, um grande número de consultórios médicos.

Quase mais nada restava da estrutura da garagem de bondes (trilhos, rodos, praticamente tudo foi retirado), exceto um pedaço de pavimento, junto das Rurais ( que são sucatas, como as Kombis), que aparentemente são sobras de fossos ou plataformas de manutenção dos bondes (há trechos de trilhos ainda ali).

Neste espaço funcionou também, depois dos bondes, uma garagem de ônibus elétricos. Das casas antigas ao fundo, as duas da extrema direita ainda sobreviviam até há pouco tempo (não sei se agora ainda estão lá).  Na época esse terreno pertencia a Botafogo. Hoje é Humaitá. A rua que divide os bairros é a Conde de Irajá. Entre o desmanche da garagem e a construção da Cobal, o terreno chegou a ser utilizado para a instalação de um circo. 

 

26 comentários:

  1. Apenas um detalhe: embora a Light tenha adquirido parte da Jardim Botânico, ainda assim eram duas companhias distintas. Essa garagem era da JB, e não da Light.

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  2. Quanto ao bonde da segunda foto, era um modelo antigo que foi desaparecendo aos poucos, sendo extinto em meados dos anos 1920.

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  3. Quanto aos ônibus da Viação Excelsior, o modelo da primeira foto era apelidado de "jacaré". Não tinha farois e nunca descobri por que.

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  4. Olá, Dr. D'.

    Dia de aprender. Nunca reparei na cobal do Humaitá quando passava por lá. Para ter uma ideia até hoje não sei a localização exata.

    A Light, por meio da Viação Excelsior, oferecia um serviço ligando as duas pontas da Avenida Rio Branco. Seus ônibus não tinham faróis por ela se vangloriar da sua iluminação pública.

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  5. Em tempo, hoje é dia do estudante e do garçom.

    A ventania passou forte por aqui por volta de 5 da manhã.

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  6. "Ônibus Jacaré": A motorização desses ônibus era da Daimler embora a carroceria fosse de outra empresa, a inglesa Guy.
    A ausência de faróis neste veículo que foi apelidado "jacaré", possivelmente uma referência que a Light fazia ao fato de manter ruas muito bem iluminadas na cidade, o que era por si só propaganda de um serviço bem prestado.
    Estes luxuosos carros, segundo Dunlop, foram lançados em junho de 1926, com passagem ao preço de 400 réis. Todos os veículos eram providos de regulador de velocidade, freios de segurança, caixa coletora para recebimento das passagens, assentos forrados de veludo e muitas outras novidades, entre as quais a de não se permitir excesso de lotação e a de obediência a horários regulares. Foto: Facebook Ônibus Antigos do Rio de Janeiro

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  7. Mais um ótimo post. O transporte público numa cidade com tantas mudanças ,de 1880 a 1970 , também foi muito alterado. Muitas cidades da Europa tem bondes, mas a ZS do Rio saturada. O ritmo da cidade era mais lento. O bonde era elétrico, certo? Tinha aquelas antenas/placas para receber energia? Investimento estrangeiro forte na época . Com retorno $?

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  8. Bom Dia ! Minha primeira miniatura de ônibus foi um Jacaré. Como eu já gostava de ônibus, " Papai-Noel " me trouxe um Jacaré todo de lata , até as rodas. Como as partes eram encaixadas eu as separei para fazer copias e as perdi quando foi feita uma reforma na casa. Por certo alguém teve um "ataque" de arrumação e os "despachou" junto com o entulho da obra. FF. As 4hs quando acordei já estava chuva fina e vento frio. Com um tempo desse, nem bobo vai sair para fazer a caminhada diária.

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  9. Bom dia.
    Apesar de meus 17 anos ao final da década de 60, não tenho qualquer lembrança desta área "pré COBAL".
    Provavelmente por passar pouco por este trecho de Botafogo.(Humaitá)
    Ótimo registro.

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  10. GMA, 08:10h ==> houve várias maneiras de os bondes "captarem" energiela elétrica da rede de fios.
    1) lança ==> era uma barra reta que tocava a rede. Foi o modo usado pelos modelos antigos da Jardim Botânico, como o da segunda foto. Os ônibus elétricos usam esse tipo, sendo que precisam de duas lanças paralelas.

    2) arco ou alavanca ==> era uma estrutura parecida com um arco. Foi usada primeiramente pelos bondes alemães da Companhia Ferro-Carriil de Vila Isabel, em 1905, e posteriormente adotada por todos os demais bondes, tanto da JB quanto da Light. O arco era fabricado pela Siemens.

    3) pantógrafo ==> idêntico ao usado pelos trens elétricos. No caso dos bondes, era usado o pantógrafo padrão, em forma de losango. Os trens podem usar o meio-pantógrafo. Muitos poucos bondes chegaram a usar pantógrafo, já em meados da década de 1930. Por algum motivo, não foi aprovado.

    A vantagem do arco sobre a lança é que pelo seu formato o contato com a rede podia se dar em qualquer ponto do arco, ao longo dos seus aproximadamente 1 metro de extensão. Já a lança tinha um ponto exato de contato. Com isso, nas curvas a fiação da rede tinha de acompanhar o raio da curva, pois se houvesse quina a lança podia sair da rede. Portanto, havia mais liberdade na colocação da rede, sem preocupações com a existência de quinas.

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    1. Muito grato! Em caso de ventania, como a de hoje... a queda de fios devia causar acidentes!

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  11. Coincidencia, ontem falei aqui em casa sobre tomar um cafezinho na Cobal de Botafogo, agora Humaitá, já que no final do mês vou acompanhar parente que vai pedir visto para os EUA.
    Quando o bairro foi dividido?
    Quanto à garagem devo ter passado em frente algumas vezes, mas não lembro dela.

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  12. Um amigo de minha turma de colégio, com seus 12/13 anos, morava na São Clemente em frente à garagem de bondes. A brincadeira era subir nos estribos dos bondes que entravam na garagem e fazer malabarismos. Num deles bateu com a cabeça num poste. Mesmo em baixa velocidade o trauma foi tal que teve que ficar hospitalizado por 10 dias, além de ter ganho uma bela cicatriz na testa.

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  13. Me lembro muito bem dessa garagem na época dos Trolley-buses, já que além de morar na Voluntários da Pátria eu passava com meus pais em frente à ela frequentemente. Ainda estou pesquisando o período de transição da operação dos bondes para os Trolley-buses compreendido entre Setembro de 1962 e Maio de 1963, incluindo-se aí a forma como foi realizada. Pelo que pude apurar e por razões logísticas, a partir da garagem do Largo do Machado operavam os Trolley-buses e na do Humaitá os bondes. Mas há pontos ainda não esclarecidos, principalmente porque em algum momento essas garagens teriam que ser obrigatoriamente compartilhadas ainda que por breve período pelos dois sistemas. Mas esse detalhe está ainda na fase de conjecturas.

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    1. Boa tarde, Joel.
      Acompanhando seus comentários, fica claro que você morou em vários bairros do Rio.
      Por curiosidade e se você não se importar, quais foram?
      Curiosidade de quem só morouao longo de quase 70 anos em 3 bairros: Botafogo, Copacabana e Laranjeiras.

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    2. Apesar de ter nascido no Hospital da Ordem Terceira na Tijuca, minha casa era em Vila Isabel, onde morei até os quatro anos. Daí fui morar na Tijuca até Dezembro de 1964, indo morar em Botafogo até Janeiro de 1966, voltando para a Tijuca. Em Dezembro de 1969 fui morar em Copacabana até Setembro de 1971. Em seguida voltei para o apartamento da Tijuca onde fiquei até 1987 quando me casei e vim morar no Grajaú, onde me encontro até hoje. Por que pergunta?

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    3. Como disse, perguntei por curiosidade, já que ao longo da minha vida (tenho 69 anos) só morei em 3 bairros: nasci em 1953 na Casa de Saúde São Sebastião, na rua Bento Lisboa e daí morei até 1962 em Botafogo (01 endereço), de 1963 a 1986 em Copacabana (1 endereço) e após o casamento, de 1986 até hoje em Laranjeiras.
      (2 endereços).

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  14. Em 1871, com a ampliação da Rua Voluntários da Pátria para que atingisse a Rua São Clemente (hoje Humaitá), foi construída no lado esquerdo do Largo uma grande estação, garagem e estrebaria de burros da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico. Essa garagem ia até a Rua Voluntários da Pátria. Em 1893, com a eletrificação da linha de bondes, a estrebaria foi fechada. Os bondes, por sua vez, foram afinal extintos em
    1963, e o edifício foi convertido em garagem de ônibus. Parte dele foi demolida pelo Governador Carlos Lacerda e em seu lugar surgiu uma escola de concreto e tijolos. Afinal, com a demolição da velha estação em 1969, surgiu o novo hortomercado da Cobal, um dos três criados pelo Governador Negrão de Lima para substituir as feiras livres do Rio deJaneiro. Hoje, o antigo hortomercado, povoado de restaurantes e bares, é um dos centros da vida noturna no bairro do Humaitá.

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  15. Indo, em fevereiro deste ano, à loja de material ortopédico do prédio da esquina de Capitão Salomão, passei em frente às “casas antigas” da “extrema direita” (epa!) da 4ª foto. A mais próxima da “Farmácia Moderna” (coincidentemente, o térreo deste último imóvel, apesar de recuado, permanece no mesmo ramo), a de n° 455, atraiu-me a atenção, parecendo ter sido recentemente reformada. Analisando a foto, considero-a algo desfigurada, exibindo agora esquadrias modernas e vidros fumê. (A comparação de sua fachada é bastante prejudicada por uma frondosa árvore que lá vicejou desde os “últimos anos da década de 60”. )
    Já a sua geminada, mais visível e que, tanto quanto permite minha embotada memória, conserva as características da fotografia, ostentava uma placa de “à venda” e francos sinais de desídia. Inquirindo pelas redondezas, com a curiosidade aguçada pelo fato de a residência em deplorável estado estar toda envolta em arame farpado “concertina” – eis que o natural seria proteger a irmã mais conservada – asseveraram-me que lá havia residido um ermitão que rechaçava, carabina em punho, quaisquer passantes que ousassem sequer fitar os olhos no seu tugúrio.

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  16. Queria muito ter andado de bonde nessa época.
    Eu nunca nem andei no de Santa Teresa. Que vergonha!

    Joel, deixei uma matéria interessante sobre a milícia no post de
    JACAREPAGUÁ - RUA GEREMARIO DANTAS

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    1. Ricardo Galeno, nos anos 60 a baixada fluminense era parte integrante do antigo Estado do Rio e o que havia lá eram grupos de extermínio ou "polícia mineira", mas o viés era diverso do utilizado pela milícia atual. Aqui não é o espaço adequado para detalhar o assunto. Vou fazê-lo em seu "correio eletrônico".

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  17. Boa tarde Saudosistas. Só agora a Claro restabeleceu o sinal da NET e Internet aqui na Tijuca na rua onde moro.
    Mestre Hélio, já vi diversas matérias e postagens das garagens de bondes da cidade, porém nunca vi postagem da garagem de bondes do Morro de Santo Antônio, ficava no alto do morro quase na entrada dos Arcos da Lapa, essa eu conheci bem e me recordo bem das suas instalações.

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    1. Prezado Lino, meu amor era tanto pelos bondes da Light/JB que até hoje sinto ranço (para usar uma expressão moderna) pelos de Santa Teresa. Por isso nunca me interessei por eles.

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  18. pena que o andre decourt não mantém mais o blog "foi um rio que passou". gostava muito de lê-lo. :-(

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