FOTO 1: Esta fotografia mostra a pedreira existente na Lagoa, entre a Rua Gastão Bahian e a Rua Montenegro, por volta de 1950. Não se trata da pedreira mais conhecida por todos, que ficava entre o Corte do Cantagalo e a Favela da Catacumba. No local onde era esta pedreira foram construídos três blocos de três edifícios cada.
Depois da pedreira vemos Ipanema e Leblon ainda com poucos edifícios. A orla da Lagoa, do lado de Ipanema, era quase toda de casas. As últimas estão desaparecendo atualmente, como a da esquina da Rua Joana Angélica, que foi destombada semana passada.
A "praia" de areia, entre o Corte do Cantagalo e o clube dos Caiçaras, é bem vista na fotografia.
FOTO 2: Estamos ainda nos anos 1950. Embora ainda se veja claramente a antiga pedreira, os primeiros três edifícios daquele trecho já haviam sido construídos. Como veremos mais adiante, no final, ficaram três blocos de três edifícios cada. Os operários estão num aterro vizinho à Favela da Catacumba.
FOTO 3: Nesta imagem, alguns poucos anos mais tarde da anterior, vemos dois edifícios à esquerda (do que eu chamaria de 1º bloco) e dois edifícios à direita (do que chamaria de 3º bloco), um deles ainda em construção. Os três edifícios do que chamaria de 2º bloco ou bloco intermediário ainda não tinham suas construções iniciadas.
Notem o estado da pedreira, ao fundo. No final dos anos 60 um grande desastre que, por sorte, não gerou mortes, aconteceu quando os edifícios do bloco intermediário já haviam sido construídos.
No espaço entre o 1º e o 2º bloco, desenhamos uma baliza no morro e jogávamos "dupla" de futebol. Ali, à noite, estacionavam-se automóveis. Certo final de tarde, bem junto à baliza, estava o Dodge do Almirante Alvaro Alberto. De repente o mundo veio abaixo. De casa achei que o prédio estava caindo, mas era uma enorme pedra que destruiu o carro do almirante.
Em seguida a Geotécnica fez um magnífico trabalho de inspeção e contenção das pedras que ameaçavam cair. Atrás do meu prédio trabalhou durante meses um operário. Perfurava a pedra, colocava uns tubos de aço nos pontos mais perigosos. Nunca mais houve acidentes.
FOTO 4: Bem no final da década de 1950, aconteceu a construção do terceiro edifício do 1º bloco e a construção do 1º edifício do bloco intermediário. De quatro para seis, número alcançado em 1960.
FOTO 5: Mesma época da fotografia anterior, agora de outro ângulo. A praça sobreviveu até 1970, quando foi duplicada a Avenida Epitácio Pessoa e construído o viaduto Augusto Frederico Schmidt em frente ao Corte do Cantagalo.
FOTO 6: A foto de hoje é de autoria de Luiz Carlos Barreto e a figura em primeiro plano é o diretor de cinema italiano Roberto Rosselini. Os dois edifícios em construção da foto anterior já estão com todos os andares construídos e o edifício do meio, do bloco intermediário, está quase finalizado.
Nesta época ficaram faltando um edifício do bloco intermediário e um edifício do 3º bloco. Ambos foram finalizados nos primeiros anos da década de 1960, acho que em 1963.
FOTO 7: Aqui, além dos três blocos de três prédios, se juntou o edifício de esquina da Epitácio Pessoa com a Gastão Bahiana.
Vemos as obras da duplicação da Av. Epitácio Pessoa e a construção do viaduto Augusto Frederico Schmidt. Estamos no final da década de 1960. O Posto Ipiranga, no início do Corte do Cantagalo, ainda está lá.
Ao lado dele ficava uma estação da Light. Na Rua Gastão Bahiana os primeiros arranha-céus começavam a subir.
FOTO 8: Já estamos na década de 70, com as obras da duplicação da Av. Epitácio Pessoa sendo finalizadas. Os três blocos citados inicialmente já estão completos, com nove edifícios. Além deles surgiu também o edifício da esquina com a Rua Gastão Bahiana.
Notem aquela língua de aterro à direita. A história dela está mais abaixo.
FOTO 9: E a construção de edifícios na região não parava. A Rua Gastão Bahiana e o Corte do Cantagalo também ganharam arranha-céus. Bem lá no alto, à esquerda, podemos ver uma grande obra da Geotécnica, bem como, observando bem, outras contenções bem no alto do morro, no centro da foto.
FOTO 10: Acho que esta foto é do Gyorgy Szendrodi, de 1971. O trecho entre os blocos de edifícios e a Rua Montenegro ainda tem poucos prédios altos, bem diferente do que é hoje em dia.
No alto do morro o saudoso Panorama Palace Hotel, que nunca chegou a funcionar como hotel. Nos anos 60 e início dos anos 70, ainda inacabado, abrigou o bar "Berro d´Água" no terraço com vista para a Lagoa, Ipanema e Leblon, além da boate "On the Rocks".
Hoje, depois de ali funcionar a TV Rio e o CIEP João Goulart, há o "Favela Hub", um espaço de coworking e incubação para negócios sociais e soluções para favelas, administrado pelo Vivo Rio. Abriga também diversos programas sociais como Amor e Canto, Academia de Jiu-Jitsu, o Museu de Favelas e a FAETEC com cursos profissionalizantes e técnicos.
FOTO 11: O início dos anos 1970, já com o viaduto. O cruzamento em frente ao Corte do Cantagalo, antes do viaduto, era caótico. Durante muito tempo não havia sinais e era na base da gentileza ou da "lei do mais forte". Eram carros que iam e vinham de Copacabana, outros que vinham de Ipanema e podiam ir para Copacabana ou para Botafogo, outros que vinham de Botafogo e podiam ir para Ipanema ou para Copacabana.
Aliás, antes da duplicação da Epitácio Pessoa, era muito difícil atravessar a avenida, principalmente após a inauguração do Túnel Rebouças, que aumentou muito o trânsito. Como era mão-dupla e havia uma curva em frente à Gastão Bahiana, além da iluminação ser precária, defronte a meu prédio, à noite, o risco era imenso.
FOTO 12: Vejam este relato do amigo Jayme Derenusson, meu vizinho aí na Lagoa. Observem esta língua de aterro que poderia ter se transformado em mais um grande pedaço perdido da Lagoa:
“O Governo Negrão de Lima aproximava-se do fim, no antigo Estado da Guanabara. O dinâmico Secretário de Obras, Raymundo de Paula Soares sobrevoava o Rio de helicóptero (ele mesmo pilotando), para supervisionar as inúmeras e grandes obras em andamento (e ver onde faria outras). A SURSAN funcionava a todo vapor, pouco antes de sua extinção, que ocorreria no Governo Faria Lima. Ela era então maior que a atual Prefeitura e dividida em Departamentos, a cujos diretores PS dava grande autonomia.
O então diretor do DRC - Departamento de Rios e Canais (hoje SERLA) resolveu que o Saco do Cantagalo, na Lagoa, deveria ser aterrado para dar lugar a um grande parque. No seu entender "era preferível ver crianças brincando, em vez de lodo e cocorocas morrendo".A obra foi iniciada na marra, embora sem verba prevista no orçamento (como muitas outras, pois de outra forma muito pouco poderia ser feito).
A SURSAN era fiscalizada por uma "Junta de Controle" do Tribunal de Contas do Estado, criada justamente para evitar a burocracia, que até então emperrara as obras necessárias ao antigo Estado.
O aterro da Lagoa foi iniciado na base do "faz primeiro e regulariza depois". Só que, neste caso, desagradou ao Ministro João Lira Filho, Presidente da Junta de Controle, que acabou brecando a verba e mandando desfazer o enrocamento recém-iniciado.
A equipe designada pela diretoria da SURSAN para convencer o Ministro da necessidade da obra era contra o empreendimento, e fez sua defesa da pior maneira a seu alcance, influindo na decisão contrária do Ministro. Um dos três integrantes dessa equipe era eu.
Além de discordarmos do aterro, tínhamos, os três, informações (que não tenho como confirmar) de que um envolvente e astuto lobista de São Paulo, representante de um grupo de empresários paulistas do ramo de Shopping Centers, rondava a Secretaria de Obras e o DRC, tentando viabilizar a construção de um Shopping da rede na área que seria aterrada.
Desse no que desse, era mais um grande motivo para "jogarmos areia no aterro". Ao Ministro João Lira Filho (posteriormente Reitor da UERJ e já falecido) cabem os méritos pela permanência do espelho d'água nesta parte da Lagoa, hoje freqüentada pelos biguás e pedalinhos, e onde continuam a viver as cocorocas.
A Lagoa escapou do estupro de que seria vítima. A construção do Viaduto provocou sucessivos afloramentos de lodo, somente contidos pelo estaqueamento de sua margem neste trecho, obra cuja realização se deve ao Prefeito Marcos Tamoyo.
Paula Soares, o PS, e Negrão de Lima, ambos falecidos, foram grandes realizadores. O então diretor do DRC, técnico de renome e profissional honrado, também faleceu pouco depois do episódio do malfadado aterro. O Shopping foi construído, muitos anos após, em outro local.
Entretretanto, o episódio do aterro, por haver caído em total esquecimento, ficou entalado em minha garganta."
FOTO 13: Final dos anos 70. Aquele grande edifício ao lado de onde ficava o Posto Ipiranga, ao lado do Corte do Cantagalo, já estava de pé.
NOTA: Foi em 1960 que minha família se mudou para a Lagoa. O cenário era de muita tranquilidade. A exploração da pedreira perto da Favela da Catacumba causava a interrupção do tráfego da Avenida Epitácio Pessoa, por cerca de 10 minutos na parte da manhã e outros 10 minutos na parte da tarde, por conta das explosões. O tráfego era ainda em mão-dupla e bastante reduzido, não havendo o viaduto Augusto Frederico Schmitd em frente ao Corte, o que gerava um pouco de confusão.
A favela era bastante tranquila e eu passava de bicicleta diariamente por ela, sem problemas. Muitos empregados domésticos e trabalhadores de obra moravam ali. Anos depois acabou a exploração da pedreira, passando a funcionar no local uma revendedora de automóveis. A favela foi removida no final da década de 60, quando também ficou pronta a duplicação da Avenida Epitácio Pessoa, além do viaduto.
Na época, em frente de casa, só passavam os lotações das linhas "Largo do Machado-Ipanema" e "Estrada de Ferro-Ipanema", e os ônibus "Rocinha-Mourisco" e "Jacaré-Ipanema" (que fazia ponto final na então chamada Praça Corumbá, junto do Corte do Cantagalo, em frente à casa do Filinto Müller e vizinho da casa Eva Klabin).
No trecho em frente ao Corte do Cantagalo aconteciam os espetáculos organizados pelo Abrahão Medina, do "Rei da Voz": eram queimas de fogos em junho, palcos para bailes de carnaval em fevereiro, entre outros.
Os barcos dos clubes que competiam no Campeonato de Remo vinham até este trecho, conhecido como "Saco da Lagoa", de modo tão silencioso que, de manhã cedo, da janela de casa ouvíamos as ordens dos treinadores e dos "patrões" para os remadores.
O lado ruim, além da dificuldade de condução, era a quantidade de moscas e mosquitos que havia. Em casa havia diversos equipamentos para matá-los, desde mata-moscas, espirais que ficavam acesos à noite, Flit, até armadilhas de potes de vidro com açúcar.
Eventuais mortandades de peixes, além do mau cheiro, faziam que todos os objetos de prata ficassem cobertos por uma gosma negra. Serviços, não havia. A época do "delivery" viria muito tempo depois. O comércio mais próximo ficava na Rua Montenegro, para lá da Rua Nascimento Silva, onde ficava a mercearia do Nelson. Sobrevivente desta época só a loja de fotografias do Honório, mas ainda em seu primeiro endereço, na Montenegro quase esquina de Nascimento Silva. Padaria, só a da N.S. da Paz.
O único serviço que havia, que já foi tema aqui no "Saudades do Rio", era a carrocinha de sorvete da Kibon, com o sorveteiro Souza chegando todos os dias às 15 horas.
PS: agradeço ao GMA pelo envio de um lote de fotos da Lagoa, por ele garimpadas no "site" do "Correio da Manhã".
Maravilha! Belíssima postagem e o prazer da pequena colaboração! Chamamos de Lagoa! Estrangeiros apreciam o "lago". Qual a diferença? De gênero? Continua um belo lugar. Moro perto e aprecio muito. Área de lazer especial que carece de passeios ou transporte aquático. Vou reler o ótimo texto, da lavra de testemunha ocular da História! Bom dia!
ResponderExcluirA história de um pedaço lindo do Rio contada por quem a viveu. Não se encontra isto nos livros.
ResponderExcluirQuanta coisa aprendida em cada fotografia.
E imaginar que queriam aterrar toda esta área em frente ao Corte.
Só lembraria que nos anos que precederam os ônibus elétricos havia uma linha de ônibus de cor cinza, talvez a Estrada de Ferro-Leblon via Corte do Cantagalo.
Bom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirLagoa é área fora da minha jurisdição, somente de passagem poucas vezes. Postei algumas fotos da Revista de Engenharia do DF na época da abertura do Corte do Cantagalo e da Guanabara sobre o sistema viário da região.
Vou acompanhar os comentários.
Sempre achei estranho o Panorama Palace não ter dado certo. A localização é privilegiada e o projeto é bonito.
ResponderExcluirO grande problema seria a falta de estacionamento.
Tenho ótimas lembranças do Berro d’Água, onde ia com muita frequência para tomar um chope no terraço e dançar com as namoradas. O acesso se dava por um elevador na Alberto de Campos e se passava até o terraço por um caminho de concreto pois a obra do hotel tinha parado.
Olá, um comentário curioso sobre a foto 11, que mostra o viaduto. Quando criança lembro minha família falar que minha mãe (ou minha tia) foi vítima de um acidente de carro nesse viaduto. Não consigo lembrar as circunstâncias do relato, mas acho que a mureta bem baixa que divide as pistas de ida e vinda do viaduto contribuiu de alguma forma para o acidente (será que o motorista dormiu no volante?). O que me lembro bem quando era relatado é que diziam que foi o "primeiro acidente do viaduto", já que aconteceu assim que foi inaugurado. Nasci em 1972, acredito que tenha sido entre 1969 e 1971, antes de eu nascer. O acidente não foi fatal, foi apenas um susto. Cheguei a procurar informações em jornais antigos anos atrás mas não encontrei.
ResponderExcluirSaulo, quem desce o Corte do Cantagalo e vai para Ipanema tem que fazer uma curva para subir o viaduto.
ResponderExcluirA curva foi mal feita e houve vários acidentes. Tiveram que refazê-la alguns meses após a inauguração.
Talvez ali tenha ocorrido o acidente que vc relata.
Bem no início da subida em direção a Ipanema.
É possível.
ExcluirMesmo hoje, após ter sido refeita, esta curva ainda é difícil, pois, além de ser longa, a medida que a percorremos, o raio da mesma diminui. Já presenciei um acidente na saída desta curva.
ExcluirNão existe uma diferença clara entre lago e lagoa. Normalmente o lago é mais profundo e maior que a lagoa. Tem também laguna, que possui água salobra por ser costeira e ter ligação com mar. De repente a Rodrigo de Freitas deveria ser laguna, a menos que originalmente não tivesse ligação com o mar, quando então seria mesmo uma lagoa.
ResponderExcluirA Lagoa Rodrigo de Freitas é uma laguna, pois originalmente possuía um canal natural que a ligava ao mar. O litoral do nosso estado possui várias lagunas como Tijuca, Itaipu e Araruama.
ResponderExcluirHoje é dia do maçom e do mosquito...
ResponderExcluirEm 1914 era fundada a CBD, em 2016 o futebol masculino conquistava a primeira medalha de ouro olímpica e em 1948 nascia Robert Plant.
Falando em Lagoa, escutei de manhã que o Roberto Medina quer voltar com a árvore flutuante da Lagoa, independente da que será montada na enseada de Botafogo pelo Bradesco.
Excelente postagem, me trouxe muitas lembranças de meus tios e primos que moravam em um prédio do "primeiro bloco". Fui algumas vezes ao Berro d'Água e lembro de sair do elevador e caminhar por uma obra inacabada. A vista sentado nas mesas da piscina era deslumbrante, mesmo só para beber uns poucos chopps que minha mesada permitia.
ResponderExcluirAnos depois, comprei um Passat na concessionária VW mais em direção à curva em direção à curva do Calombo, ainda com a outra pedreira nos fundos. Me lembro que, partindo do corte do Cantagalo, a primeira curva era a do Calombo e a segunda era a do Cotovelo. O nome da segunda desapareceu na história...
"Nevasca" em Porto Alegre atrasou o início do jogo...
ResponderExcluirTotal falta de profissionalismo por parte do Internacional. Falta de respeito ao público, às TVs, aos patrocinadores e ao espetáculo. Transformaram o campo de jogo num circo. Merecem punição severa.
ResponderExcluirUm "king kong" presenciado pelo técnico italiano da seleção, sem contar os jogadores europeus do Flamengo... a bola ficou parecendo um globo de discoteca.
ExcluirInteressante postagem, tanto pelas fotos, como pelo texto e pesquisa. Hoje não teve automóveis, só caminhões, uma pena que o Dodge do Almirante não tenha sido retratado...
ResponderExcluirNa foto 2 um Fargo 1940 e na foto 4, um Studebaker, de 1949.
E a curva da alça do viaduto é mesmo um horror.
Que aula, pqp!
ResponderExcluirBom dia.
ResponderExcluirDia Internacional da Moda e dia Nacional da Habitação.
ExcluirEm 1898 era fundado o CRVG por remadores portugueses.
Em 1911 o quadro Mona Lisa era roubado do Museu do Louvre.
Em 1925 morria Irineu Marinho.
Em 1938 nascia Kenny Rogers.
Boa noite Saudosistas. Bela postagem com lindas fotografias, rica em história do local, embora não seja local que costume a frequentar, acho a Lagoa uma das belezas do RIO.
ResponderExcluirBem detalhado. Mudanças radicais na orla da Lagoa.
ResponderExcluirAté o Rosselini foi testemunha ocular dessa época. Aliás o grande cineasta deixou um grande legado na sétima arte. E uma belíssima filha com a Ingrid Bergman e com certeza no Brasil rendeu o apelido de sogrão.