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sábado, 13 de julho de 2019

LARGO DE SÃO FRANCISCO


 
As fotos de hoje mostram o Largo de São Francisco, no Centro, no final da década de 50, com destaque, na primeira foto, para o prédio da Escola Politécnica (onde funcionou a  Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil a partir de 1948 e, depois, o IFICS - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro)  e para o ponto de bondes, nas esquinas das Ruas Luís de Camões e Andradas.
À direita ficava a saudosa casa Lutz Ferrando, onde o JBAN devorava com os olhos, quando moleque, lupas, microscópios, binóculos, jogos (Poliopticon, Engenheiro Eletrônico da Philips), tripa de mico (tubo de látex amarelo usado para experiências químicas. Vinham em vários diâmetros e eram vendidos a metro. Eram ótimos para fazer estilingue e eram usados também como torniquete no braço quando se ia tirar sangue ou tomar injeção na veia, segundo o JBAN, e válvula de câmera de bicicleta, segundo o FlavioM), tubos de ensaio, beckers, filmes, máquinas fotográficas. Mas se esbaldava mesmo era no Bob´s da calçada oposta à Lutz Ferrando, com as salsichas da Manon Ouvidor ou tomando mate no copo de papel com base de aluminio na Casa Flora, na Ramalho Ortigão com Rua da Carioca.
No Largo de São Francisco a Ana Lucia comprava material para as aulas de religião, santinhos, véus, terços, e outras maravilhas exigidas pelas catequistas. E também se abastecia, numa casa de produtos nordestinos confiáveis, dos ingredientes para fazer o vatapá de acordo com a receita original nordestina (que é diferente da baiana), além de, nas lojas das ruas que afluíam ao Largo comprar de tudo: louças finas e cristais, tecidos, chapéus e luvas e nem sei mais o que.
Já o Celsão era freguês da Casa Cruz, Lutz Ferrando, Casa Mattos, Lojas Americanas ali pertinho, com seu mezanino-lanchonete com cachorro-quente, batatinhas fritas e guaraná caçula.
Enquanto isso o Derani pegava muito bonde aí nessa esquina e frequentava, além da Lutz Ferrando, uma leiteria que colocava na vitrine uma porção de mingaus coloridos já prontos, o café Palheta com seu balcão de mármore e alumínio, A Colegial (onde comprava uniformes para a escola). Também observava, desde menino, A Bandeira Vermelha, que talvez ele explique o que era...
O trajeto dos bondes era da Av. Passos, Rua Luiz de Camões e dobravam na Rua dos Andradas. O outro sentido era Sete de Setembro ou Rua do Teatro, contornando o Largo e dobrando na Rua dos Andradas.
Este tipo de estação de bonde era colocado normalmente em junção de linhas, onde havia um grande número de passageiros para fazer baldeação. Tínhamos na Rua do Passeio, da Lapa, no Largo de São Francisco, na Praça da Bandeira, São Cristóvão. Isso fora as grandes paradas acopladas a comércio e garagens, algumas até com hotéis e restaurantes, como Copacabana, Ipanema, Largo do Machado, Praia de Botafogo, Triagem, Madureira, Largo dos Leões, etc...
Havia aí o grande armarinho da Casa Artur, onde se podia comprar botões para fazer time de botão (era um tipo de botão de roupa para mulher, onde depois, pacientemente, se fazia a borda de botão por botão, com a inclinação de cada botão de acordo com a sua posição - os botões de finalização, para chutes a gol, tinham um ângulo de inclinação, já os que conduziam a bola tinham outro ângulo). Este trabalho artesanal era feito com vidro de lâmpada fluorescente quebrada. Era a solução para quem não tinha dinheiro para comprar os botões de madrepérola, que eram vendidos no Bazar Francês que era ali perto na Rua da Carioca.
Podemos lembrar ainda da Drogaria Sul Americana, das Casas Arthur e Guimarães, do Café Camões, da Papelaria Mário e, na esquina com a Av. Passos, a Seda Moderna. Na Rua do Teatro, a Casa K.
Enfim, para quem leu até aqui, a recompensa final: creme e rosquinha na Bols, um salgadinho na Manon ou, então, um sanduíche "vitória "nas Lojas Americanas, com dupla entrada (Ouvidor/Uruguaiana).
Quanto aos automóveis podemos dizer: começando da Kombi 1953 Deluxe Bicolor para baixo.A o lado da Kombi temos um automóvel USA sem identificação.Ao lado do Automóvel USA temos um automóvel que lembra muito um Hillman Minx 1950/51 inglês. Ao lado do Hillman temos um Ford Mercury 1949. Ao lado do Mercury temos um Citroen Legère 1946/54. Ao lado do Citroen temos um Chevrolet 1949/52. Ao lado Chevrolet temos mais um Citroen Legère 1946/54. Ao lado do Citroen temos um provável Plymouth Canbrook 1953. Lá na curva, contornando o monumento, da esquerda para a direita temos um Plymouth 1938 ou um Chevrolet 1938. Defronte do monumento temos um Chevrolet 1949/51. Na frente do Chevrolet de teto branco temos um provável Chevrolet 1940 (o farol dianteiro pega metade do paralamas dianteiro). No centro da foto tem um JEEP capota de aço. Está muito estreito para ser um CJ5. Aposto no CJ3A 1951/52/53. Ao lado do JEEP temos um automóvel Made in USA, talvez um Chevrolet Belair 1958. Na parte inferior da foto temos um Jeep Toyota Land Cruiser 1958. Na parte inferior direita da foto temos uma provável picape Chevrolet 1947/54 ou uma picape GMC 1947/54, na frente da picape temos uma Rural Willys 1958, provavelmente nacional, pois em 1958 foi o ano do lançamento da Rural no Brasil. Atrás do Hillman tem um automóvel que lembra muito um Volkswagen Sedan 1200. Vale uma mariola para quem identificar o autor deste último parágrafo...
A segunda foto, de Hans Mann, mostra o bonde Uruguai-Engenho Novo. E fica a pergunta: para onde iria esta coroa de flores?

24 comentários:

  1. A coroa de flores não sei. Quanto à mariola prometida, desconfio, mas não gosto de mariola, doce fabricado pela família de um General comandante do Colégio Militar (no tempo da foto era posto de General) e sobremesa do rancho.
    O rancho já era ruim, imagina com mariola.
    O quiosque do Largo de S. Francisco, de 61 e 62, era minha passagem de segunda a sexta e, embora nunca tenha provado, pois tinha acabado de almoçar, eu botava um olho comprido naqueles pasteis cheios de vento. Até hoje gosto mais do aspecto do que do pastel propriamente dito.
    Ali pegava o bonde para a Tijuca. Quase sempre um bataclã 75-Lins, ou 77-Piedade, mas havia outros que serviam, mas não eram bataclãs.
    O 69-Aldeia Campista não servia, mas sempre passava; vem desta época a minha chegada em completa dessincronia com a condução desejada.
    Ontem, o Joel lembrou do Maria 38, cuja perseguição Nash 47 versus Cadillac 50 é maravilhosamente coreografada no Rio de 1959, entre lotações e bondes. E hoje, algum filme com o Largo?

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  2. Este relatório automotivo tem o aval do Biscoito ou é coisa de clone?

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  3. Bom dia, Dr. D'.

    Passava pelo largo a caminho da Rio Branco. Há mais de trinta anos, várias linhas de ônibus para a zona oeste faziam ponto nos arredores do largo. Algo impensável hoje.

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  4. Essa mexeu com a minha memória... E o mingau da Leiteria Gibí ? Como esquecer do cheirinho das papelarias ou a imponência da Lutz Ferrando, que tinha de tudo... o que eu não podia comprar?

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  5. A linha 68 Uruguai-Engenho Novo alternava bondes do tipo "Narraganset" e "Bataclans", bem como o Praia Vermelha, o Águas Férreas, e o Ipanema-Túnel Novo, entre outros. Já o Tijuca, o Lins de Vasconcelos, o Penha, o Cascadura, e o Piedade, eram obrigatoriamente do tipo "Bataclan". Nenhuma das linhas que circulavam no centro da cidade, Catumbi, Caju, e "Cais do Porto" e que tinham sua garagem na Praça da Bandeira, utilizava "Bataclans". A maioria deles era de dois eixos ou "Caixa de fósforo". Existem inúmeros fotos do 68 com carro motor e reboque do tipo Bataclan.

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  6. Bom dia!

      Lembro da Lutz Ferrando. Acho que funcionou há até uns 25 anos. Quem atendia era uma idosa e bem humorada senhora.

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  7. Boa Tarde! Já disseram tudo.Só faltando descobrir que bonde o entregador vai embarcar com a coroa,para entregar no S.J.Batista ou Catumbi.

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  8. Nos anos 70 e 80 na rua Luiz de Camões ficavam os pontos finais dos ônibus para Campo Grande, Vila Kennedy e Jabour. A loja Lutz Ferrando realmente fascinava. O primeiro Big Bob que eu comi foi nessa loja, na esquina com a rua dos Andradas. A Casa Matos ainda tem filiais em Juiz de Fora e outras cidades mineiras; o nome é o mesmo, não sei se é a mesma que existia aqui.

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  9. Depois da morte, há alguns anos, do meu amigo José Carlos Salinas, dono do negócio, acho que a Casa Mattos original acabou.

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    1. o Sr. Salinas era sócio expressivo do Francisco Ferreira de Mattos, fundador da Casa Mattos. Meu pai foi sócio minoritário da Casa Mattos

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  10. A minha maior lembrança do Largo de São Francisco dos tempos de escola é da Casa Cruz, para a volta às aulas. E uma vez, meados da década de 60, ficamos sem muita opção para onde ir num sábado de carnaval com a região lotada de gente devido ao desfile do Cordão do Bola Preta.

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  11. Se não foi o Biscoito então só pode ter sido o Gustavo Lemos, o autor da listagem de automóveis.
    Sobre quem mereceria tamanha coroa de flores, lembrei do Villa Lobos como o mais famoso falecido de 1959. No momento não vem à memória nenhum outro muito famoso que tenha morrido na segunda metade da década de 50.
    Na primeira metade o Rio testemunhou 3 grandes cortejos fúnebres, dignos dessa coroa de flores: Francisco Alves, Getúlio e Carmem Miranda.

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    1. Acho que não sei. O que foi identificado como Hillmann Minx é, sem dúvida alguma, um Ford Consul, também 50-51. Atrás do Hillmann, o identificador não dá muita certeza, mas chuta um VW 1200. Que nada, é um Henry J, a janela traseira está claríssima. E eu nunca fui capaz de separar gerações de Jeep. CJ 1/2/3, eu?? não... E o jipe em primeiro plano não é Willys, é um Toyota Bandeirante, por isso foi considerado largo...
      O talvez Chevrolet Bel-Air 1958 é um Chevrolet Bel-Air 1958. Nem na época da foto eu teria essa dúvida...
      Mas é fácil criticar, a identificação é muito boa e minuciosa.

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  12. Boa tarde,Luiz,pessoal,
    Hoje o texto é tão completo, que nem dá margem para complementos.Mas ainda dá tempo para confirmar : sim, a boa e velha Casa Mattos acabou faz bastante tempo. A matriz neste largo concorria diretamente com a igualmente boa Casa Cruz, recentemente fechada.
    Foi na Lutz Ferrando que eu comprei minha primeira máquina fotográfica profissional, uma Praktica, em 1985. Mesmo com o advento dos modelos digitais e a atual hegemonia dos celulares, ainda a possuo, pelo valor sentimental.

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  13. Foi o que eu disse ontem. A arbitragem brasileira é uma farsa. Uma verdadeira farsa. Sempre foi, é, e continuará sendo. Num jogo 5 camaradas deixam passar o goleiro pegando a bola COM AS MÃOS DOIS METROS FORA DA ÁREA. E ainda por cima marcaram uma falta antes de um lance de pênalti claríssimo. Ninguém reclamou a falta no zagueiro mas o VAR estava a postos. Dessa vez enxergaram até o que não aconteceu. Hoje o VAR conseguiu enxergar uma falta que NINGUÉM no estádio viu, nem o jogador que teria sofrido a "falta". NINGUÉM do Grémio no campo esboçou qualquer tipo de reclamação de falta. Mas lá estava o VAR a postos para marcar a falta e anular o segundo gol do Vasco. É sempre a mesma coisa. Não adianta VAR. Não adianta nada. Se colocam um cara na linha de fundo pra ajudar a arbitragem ele a dois metros do gol não consegue enxergar uma bola que passa 1 metro dentro do gol. Se colocam o VAR, composto por 5 pessoas que podem contar com duzentas câmeras, com todos os ângulos possíveis e que podem observar o lance com calma e sem tempo estipulado pra decidir o resultado é esse. É sempre a mesma sacanagem. Sempre os mesmos beneficiados. SEMPRE. Não há mudança. Não tem VAR. Não tem árbitro auxiliar de linha de fundo. Não adianta dez mil câmeras. A sacanagem é sempre a mesma.

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  14. Casa Mattos, Casa Cruz e Lutz Ferrando. As três tinham filial em Madureira. As duas primeiras eu frequentava princialmente pelo material de papelaria. A terceira, me limitava a paquerar a vitrine...

    Havia também as Lojas Mattos, mas especializadas em artigos de noivas.

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  15. Nunca entendi a razão de as linhas de bonde de Jacarepaguá fizessem ponto final em Cascadura e não no Meyer, Engenho Novo, ou mesmo no Centro. Seria pela "longa distância" ou por outra razão? Talvez por esse "isolamento" tenham tido uma sobrevida, e se o forte temporal não tivesse se abatido sobre a cidade naquele fatídico 10 de Janeiro de 1966, certamente as duas linhas sobrevivessem por mais tempo. Mas isso nunca saberemos. Em Campo Grande a última das três linhas sobreviveu até 1967.

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  16. Minhas maiores recordações do Lgo de São Francisco são A Casa Cruz e A Colegial,mamãe comprava meus materias e uniformes escolares em ambas, eu amava!

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  17. Cara hoje tenho 55, só comprava as fardas de escola na "A Colegial" com um vendedor que se hoje estiver vivo se chama Dário, isso na década de 1970, se vivo estiver deve ta com quase 100 anos.... Tem uma coisa que existe até hoje e fica quase ao lado da estação carioca, e esqueci o nome da Rua, mas é de minha época, uma loja de Pastel e suco de laranja que usa fichas de plástico até hoje, e a cascata de laranja também tem, sempre que vou ao Rio, (sou dai) tem dois lugares de infância sagrados essa loja de pastel, e a loja dentro da galeria Condor no Largo do Machado que vende esfihas arábes, são libaneses.... depois quando for ai de volto pesquiso os nomes lugares e passo...

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  18. Gostei.Pesquisando sobre lojas antigas,achei esse textao maravilhoso.Minha avó costurou mts unifornes pra Colegial,isso lá pelos anos 30.

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    1. Legal, mas ela não deve ter costurado os meus, decada de 70....

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    2. Conheci um rapaz q trabalhava na Lutz Ferrando há 50 anos. Nunca mais o vi. Seu nome era Carlos Alberto Cisneiros Fernandes.Na época ele morava em Turiaçu. Gostaria de reencontra-lo.

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    3. É assim mesmo.... a vida vai passando e natural sentir saudades de tempos que não voltam mais... essas pessoas que nos marcaram nesse passado, sempre estarão em nossa memória... coisas simples, gestos simples, esses marcam mais assim como um sorriso que estes vendedores um dia nos deram... que estejam todos hoje em um bom lugar aqui ou onde estiverem. A..... ajudaram em nosso progresso mesmo lá atrás e isso não tem preço!

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