Nesta foto de Malta vê-se
o Teatro Municipal ainda em obras. A fachada dá para o Largo da Mãe do Bispo,
hoje Praça Floriano. À esquerda, fazendo esquina com a Rua 13 de Maio, a Rua
Evaristo da Veiga, logo no princípio da qual esteve por largo tempo a Igreja
Anglicana, levantada pela colônia inglesa do Rio, no século XIX (foi a primeira
deste culto na América do Sul, desaparecia em 1942. Hoje está na Rua Real
Grandeza, em Botafogo).
A pedra fundamental da
capela dos ingleses foi lançada em 1819, na entrada da Rua dos Barbonos (atual
Rua Evaristo da Veiga), no pátio da casa que foi do Bispo José Joaquim
Justiniano de Mascarenhas Castello Branco.
A construção deste
primeiro templo protestante no Rio deve-se, conforme conta Dunlop, à permissão
contida no Tratado de Amizade e Comércio, que no art. 12 preceituava: "Sua
Alteza Real o Príncipe Regente de Portugal declara e se obriga no seu próprio
nome e no de seus herdeiros e sucessores a que os vassalos de Sua Majestade
Britânica, residentes nos seus Territórios e Domínios, não serão perturbados,
inquietados, perseguidos ou molestados por causa de sua Religião, mas antes
terão perfeita liberdade de consciência e licença para assistirem e celebrarem
o serviço divino em honra do Todo Poderoso Deus, quer seja dentro de suas casas
particulares, quer nas particulares Igrejas e Capelas que Sua Alteza Real agora
e para sempre graciosamente lhes concede a permissão de edificarem e manterem
dentro de seus domínios e conquista, contato que as sobreditas capelas sejam
construídas de tal maneira que exteriormente se assemelhem a casas de habitação
e também que o uso de sinos não lhes seja permitido".
A capela foi remodelada
no final do século XIX segundo planos do arquiteto Jannuzzi.
A belíssima foto panorâmica, e um detalhe dela, foi pelo Helio Ribeiro.
Vemos as imediações do
Teatro Municipal com o reboque 1467 indo pela Rua Treze de Maio. À esquerda está a Igreja Anglicana e lá longe o Convento de Santo Antonio.
No bojo do acordo citado por Dunlop, foi
construído também o Cemitério dos Ingleses na Gamboa. O paradoxo deste acordo é que
ainda vigorava a Inquisição em Portugal, que só foi abolida em 1821. A
proibição dos sinos provavelmente foi por pressão dos bispos católicos. Antes
da construção do Cemitério dos Ingleses nenhum protestante poderia ter seu corpo enterrado em campo santo.
Esta é a 13 de Maio de Pereira Passos, já com o seu primeiro alargamento. A via ganharia seu PA atual com o Plano Agache que praticamente duplicou a largura da via, à época vital na ligação Zona Sul-Centro pelo sistema de bondes.
Vemos também os dois tipos de
iluminação usadas na cidade em uma época de transição do sistema, com um poste
em estilo NY com uma lâmpada de arco voltáico e um poste em estilo francês de
tamanho médio com 3 combustores.
Ao fundo vemos o Teatro
Lyrico.
Nota mil para as fotografias!
ResponderExcluirBom dia a todos. Antes de tudo vou falar das fotografias que são primorosas, inclusive já as salvei no arquivo de fotos do Rio Antigo.
ResponderExcluirJá o acordo político, como sempre estão sempre a reboque dos interesses econômicos. No Brasil tais acordos são celebrados tanto no papel como por de baixo dos panosf ou nas gavetas, porém antes de tudo com o favorecimento dos políticos, mesmo que tal acordo seja prejudicial a toda a sociedade ou ela venha a pagar a conta no final.
Sem dúvida, belas fotos.
ResponderExcluirÉ uma pena essa igreja não existir mais.
Que a Igreja Católica não queria concorrência na arquitetura de templos até já sabia, mas essa do sino eu não conhecia.
Li em algum lugar que a Inquisição, na prática, acabou na época do Marquês de Pombal, passando a ser uma "lei morta".
Bacana essa postagem. Embora não conheça bulhufas de estilos e arquitetura, observo bem a diferença de desenho da construção inglesa com a do resto da cidade. Essa informação da ausência de sinos é interessante.
ResponderExcluirArriscando-me a falar besteira, parece que as construções na cidade no início do séc XX ainda seguiam o estilo que dominou o séc anterior, cuja marca "pombalina" dos colonizadores lusitanos era evidente. E por falar em Marquês de Pombal, hoje faz exatamente 265 anos do grande terremoto de Lisboa. Naquele dia de Todos os Santos, muitas velas acesas ajudaram a espalhar o incêndio que desvastou a cidade, que ironicamente foi amenizado pelo tsunami que chegou alguns minutos depois. Pombal foi o responsável pela reorganização da capital portuguesa, que perdeu aquele ar ainda medieval.
Quanto ao terremoto de Lisboa, li recentemente o livro "A Ira de Deus", de Edward Paice, que descreve pormenorizadamente aquela tragedia, baseando-se em relatos escritos em cartas por estrangeiros que estavam em Lisboa na época, a negócios ou residindo. Muitos morreram por se encontrarem em igrejas que desabaram durante os cultos pelo Dia de Todos os Santos.
ExcluirOutra coisa interessante, Helio, é que esse terremoto foi o divisor de águas para o controle de terremotos; a partir dele criou-se a medição de abalos sísmicos.
ExcluirProvavelmente é do conhecimento de todos aqui, mas havia diferentes toques de sinos, cada qual com um significado, inclusive para dar aviso de incêndio. A população os conhecia. Hoje isso foi perdido. Talvez nem os sineiros os conheçam mais.
ResponderExcluirA propósito: dia 31 de outubro é conhecido como o Dia das Bruxas, e em inglês recebe a denominação de Halloween. Dizem que esse nome derivou de "All Hallows Eve", que significa "Véspera de Todos os Santos", pois ocorre um dia antes do Dia de Todos os Santos.
ResponderExcluirO dia das bruxas teve origem na cultura Celta e apesar de ser cultuado nos países Anglo-saxônicos seus efeitos são conhecidos no mundo inteiro. Queimar pessoas com dons mediúnicos é um hábito que vem desde o início dos tempos. As influências espirituais maléficas se acentuam entre o dia 31 de Outubro e 2 de Novembro, dia de finados. Mas os ateus e os agnósticos pouco se importam com isso. Um fator importante que está impactando a vida de todos mas poucos dão conta e que estamos em um ano bissexto.
ExcluirBoa tarde, Dr. D'.
ResponderExcluirTexto e fotos sensacionais.
Sobre o protestantismo e a inquisição em Portugal, acho que o próprio terremoto foi em parte responsável pelo fim dela. Portugal ficou ainda mais dependente economicamente da Inglaterra e de outros países e não "pegava bem" perseguir protestantes ingleses ou de outras nacionalidades.
Tenho um livro sobre o terremoto editado lá em Portugal com várias gravuras de época. Inclusive lá é chamado "terramoto".
Outra coisa, Augusto, no processo de reconstrução de Lisboa eles tiveram que elevar os impostos vindos das extrações nas Minas Gerais, o que foi um dos motivadores da Inconfidência.
ExcluirEm suma: impressionante como esse terremoto interferiu na história do nosso país...
E o ouro que pagou a reconstrução de Lisboa embarcava na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que logo seria transformada em capital da colônia, devido ao grande movimento proporcionado pelo proporcionado pelo precioso minério.
ResponderExcluirComplementando: com o terremoto, Portugal ficou ainda mais dependente das riquezas brasileiras. A descoberta das "minas gerais", a mudança da capital, menos de dez anos depois, e a "promoção" do Brasil para Vice-Reino foram algumas consequências.
ResponderExcluirPortugal deveria pagar indenização ao Brasil por todos os males, tanto pela péssima colonização como pelos seus efeitos, e também pelo ouro roubado.## Não discuto religião porque além de ser ateu não costumo transferir para ninguém as responsabilidades dos meus atos. Acredito apenas no que eu posso ver ou tocar.
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