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terça-feira, 14 de março de 2023

GLÓRIA - CITY IMPROVEMENTS

Segundo o “site” Memória da Administração Pública Brasileira, em meados do século XIX o governo imperial fez um contrato com John F. Russell e Joaquim P. V. Lima Junior, para serviço de limpeza das casas e do esgoto das águas pluviais da cidade do Rio de Janeiro, que deu origem à Companhia Rio de Janeiro City Improvements.

 A cidade do Rio de Janeiro foi uma das primeiras do mundo a receber um sistema de esgotamento. Antes disso, os dejetos sanitários domésticos eram levados em barris para despejo em valas ou praias, o que agravava a condição sanitária da capital do Império, que sofria com a precariedade do abastecimento de água e outros problemas ligados à limpeza urbana.

Em 1864, a Estação Elevatória e de Tratamento do Distrito da Glória foi inaugurada, contemplando 1.200 casas.  Os trabalhos empreendidos pela Companhia Rio de Janeiro City

Improvements logo apresentaram problemas, provocando muitas reclamações e conflitos com as autoridades, sendo então criado um órgão governamental para fiscalizar a empresa.



Vista panorâmica do aterramento da Praia do Russel. Rio de Janeiro, 1905. Em destaque o Largo da Glória e a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. À esquerda, a chaminé da Cia. City de Esgotos da cidade; à direita, trilhos, bondes, postes de iluminação. No centro. o relógio de sete e meio metros de altura, com quatro mostradores iluminados à noite.

O Rio de Janeiro, ao lado de Hamburgo, Londres e Brooklyn, N.Y., foi um dos primeiros lugares do mundo a ter serviço de esgoto. As primeiras experiências foram realizadas na Casa de Detenção, em 1855, por John Russel. Dois anos depois um Decreto Imperial concedeu-lhe o privilégio exclusivo por 90 anos para "construir e estender todas as obras necessárias para o estabelecimento de um sistema completo de despejos e esgotos das habitações". Em 1862 a concessão foi para a “The Rio de Janeiro City Improvements Co. Ltda.” (a City), que iniciou as obras e inaugurou a primeira etapa do serviço em 1864.


Foto de Marc Ferrez, Coleção Gilberto Ferrez, Acervo Instituto Moreira Salles. Vê-se o belíssimo Largo da Glória e a Avenida Beira-Mar, em 1906. 

Obra do Prefeito Pereira Passos, a Avenida Beira-Mar ía do Passeio Público até o final da Praia de Botafogo. Pereira Passos imaginou-a à moda da "Promenade des Anglais", de Nice. 

Podemos ver a muralha junto à praia, antes do Aterro do Flamengo que nasceria décadas depois. À direita, junto do bonde, o relógio da Glória. A chaminé da City, a Igreja do Outeiro da Glória e o Morro do Pão de Açúcar, ao fundo, ainda sem o bondinho, cuja estação foi construída poucos anos depois desta foto. 

A Praia do Russel seria a área de abrangência do palacete do inglês John F. Russel, que fez a estação de tratamento de esgoto neste local, no final do século XIX. A foto mostra ainda os belos jardins, praças amplas, a estátua de Pedro Alvares Cabral, pouquíssimo movimento de veículos. 


Esta belíssima fotografia de Leuzinger, da Coleção George Ermakoff, mostra um panorama da região da Glória, em 1865. Veem-se as instalações da City Improvements, com sua enorme chaminé.  A elevatória era movida a vapor, queimava-se carvão para mover as caldeiras. A chaminé era da fornalha das caldeiras. Nos anos 10 ou 20 o maquinário passou para elétrico e logo a chaminé foi demolida. Mas a usina ainda continua lá, com várias das máquinas da elevatória preservadas. Hoje a velha construção de pedra é a sede da SEARJ e é aberta nos dias de semana a visitação pública.

À esquerda pode-se ver o prédio do Hotel Grand Chalet. À direita, o prédio, concluído em 1858, onde funcionou o Mercado da Glória. No centro, no alto, a Igreja de N.S. da Glória do Outeiro. O gradil era do terraço do Passeio Público, ponto dos mais nobres da velha cidade. 


A foto mostra, segundo conta o Decourt, o velho Caminho da Glória, espremido entre as encostas de Santa Teresa e as águas da Baia da Guanabara. O caminho, surgido de forma espontânea acompanhando a areia da Praia das Areias da Espanha, era a única via de acesso da cidade as regiões do Catete e Botafogo, e também o caminho obrigatório para quem quisesse obter água fresca antes do aqueduto ser construído, nos dois desagues do Rio da Carioca.

O caminho era precário, e constantemente varrido pelo mar, o que originou a criação de uma estreitíssima via cortada nos barrancos da encosta que ao menos assegurava uma travessia menos sujeita aos humores do mar.

Mas a cidade crescia e o caminho, da largura de uma via férrea, era um obstáculo, batido pelas ondas e, às vezes, até desbarrancado pela força do mar. Então o Marquês do Lavradio resolveu melhorar os acessos aos arrabaldes do Sul na década de 70 do século XVIII, sendo o caminho alargado e ganhado uma grossa amurada de pedras que o mantinha resistente à força do mar. Além disso o Marquês saneou o fim do caminho, onde hoje é o Largo da Glória, lamacento e pantanoso, certamente vestígios do braço do Rio da Carioca que existia no local e que dava seus últimos suspiros, canalizando inclusive um pequeno córrego, certamente o Carioca. Para arrematar os trabalhos na região o Vice-Rei levantou nas encostas de Santa Teresa, em 1772, um chafariz, que, através de tubulação e caixa d’água exclusiva, pegava a água diretamente da tubulação do aqueduto ainda nos altos do bairro para dar água aos moradores da região da Glória e aos viajantes que se dirigiam para o sul da cidade.

Esta imagem foi obtida a partir do terraço de alguma casa da Rua Santo Amaro. O grande prédio visto quase ao centro da foto é o Hospital da Beneficência Portuguesa. Mais ao fundo a Igreja da Glória e a Chaminé da City. É um autocromo da Coleção Archive de la Planéte, atribuído a Auguste Léon, pertencente ao Museu Albert Khan, de Paris.

19 comentários:

  1. A região era muito bonita e as fotos são ótimas.
    É uma surpresa saber que o Rio foi das primeiras cidades a ter um sistema de esgoto.
    Antes o lixo era despejado em qualquer lugar. Lembro de já ter lido sobre os “tigres”, que eram escravos que recolhiam o lixo das casas e jogavam no mar.
    Hoje em dia temos a Comlurb que considero uma das poucas coisas que funcionam bem na cidade.

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    1. não somente lixo. eram dejetos de tudo o que não servia aos patrões. Lixo, fezes e, principalmente , urina que dava à mistira um Ph muito ácido, que ao escorrer pelas costas dos escravos, formavam marcas nas costas em linhas. Daí o termo "tigre".

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    2. Uma maldade! Pior do que o apelido era o odor que exalavam. Será que conseguiam levar uma vida normal?

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  2. Bom dia, Dr. D'.

    Estive poucas vezes na Glória. Uma vez no centro cultural do "cabeção" do GV. Minha irmã esteve algumas vezes no outeiro e na igreja.

    Dia de acompanhar os comentários. Sinto que discussão hoje não vai cheirar bem.

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  3. O Imperador D. Pedro II tinha uma visão como poucos na questão do progresso, apesar de sua pusilanimidade em outras questões, e as concessão para obras de saneamento e de iluminação a gás são uma prova disso. É uma pena que mais de 160 anos depois as condições sanitárias do Rio deixem muito a desejar, inclusive na região focada pela postagem, havia visto os empoçamentos em dias de temporal.

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    1. Haja vista, Joel, haja vista.

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    2. Isso é o resultado do preenchimento automático do smartphone. Como deve saber, mais de 90% de minhas publicações são através de celular, muitas vezes quando estou em movimento. De qualquer forma agradeço pela "preocupação"...

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  4. Este prédio que abriga a sede da SEAERJ é de 1862 e foi feito pela City. Fica na rua do Russell 1. É uma construção tipo alvenaria de pedra.
    Há anos fui lá pois era permitido visitar. Há vários equipamentos antigos que processavam o esgoto mantidos de forma impecável. Tinha até um pequeno bar muito agradável.

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  5. O que aconteceu com a chaminé?

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    1. Está no texto: A elevatória era movida a vapor, queimava-se carvão para mover as caldeiras. A chaminé era da fornalha das caldeiras. Nos anos 10 ou 20 o maquinário passou para elétrico e logo a chaminé foi demolida.

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  6. Bom dia Saudosistas. A beleza das fotos postadas hoje são espetaculares. O tema saneamento, infelizmente já não podemos dizer o mesmo, embora a cidade tenha sido uma das pioneiras no mundo na instalação de saneamento público, infelizmente nunca mais foi dada a devida importância ao problemas pelas demais administrações posteriores.

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  7. Agora entendi por que minha avó chamava esgoto de "city"

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    1. Seria por não querer falar "shit" com uma pronúncia parecida?

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  8. Bom Dia ! A carroça de lixo da foto 4 me lembrou uma vez em 1948/49 , em que o burro auxiliar, aquele que fica do lado fora do varal, resolveu sentar, e por mais que o lixeiro , Seu Ovídio, tentasse faze-lo levantar,( tinha que ser com muito jeito pois já naquela época era proibido pela D.L.U. bater nos animais). depois de algumas tentativas, ele pediu para telefonar e um tempo depois veio um funcionário trazendo outro animal, que foi devidamente colocado no lugar para o serviço prosseguir. Como o que foi substituído não queria andar de jeito nenhum, um novo telefonema e veio um veterinário para examina-lo. O acontecimento que durou a manhã toda, foi uma festa para a garotada, como o bicheiro era logo em frente, muita gente jogou no burro, que não deu.

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  9. tenho a lembrança de ter colorido uma destas fotos. Será que ainda existe?

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  10. Em meados da década de 1960, a firma onde eu trabalhava construiu uma linha de esgotos ao longo das ruas Visconde Silva, Mena Barreto e Professor Álvaro Rodrigues, por sinal aberta justamente para essa obra. Essa linha de esgotos se ligava com a que passava pela Praia de Botafogo, em direção à elevatória da Urca. A nossa linha chegava com tubos de diâmetro 1,20m e a da Praia de Botafogo era de 1,50m. Abri um tampão desta e vi que a água de esgoto já tinha mais de 1 metro de profundidade.

    Um dia, a saída da elevatória entupiu. Foi contratada uma empresa de mergulhadores profissionais para desentupir a saída, que era nas imediações do Pão de Açúcar. A firma escolhida foi a de um sujeito chamado Heitor, que posteriormente trabalhou conosco numa obra colossal em Belém do Pará. Quando os mergulhadores detonaram cargas de dinamite para desentupir a saída da elevatória, o esgoto acumulado se espalhou pelo mar, deixando tudo marrom na área.
    que

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  11. Com a "privatização" da Cedae a cidade foi dividida em quatro áreas e três empresas assumiram os serviços de distribuição de água e coleta de esgoto. Uma ficou com o centro, zona sul e zona norte (duas áreas). Outra com Barra e Jacarepaguá e a última com o resto da zona oeste. Os outros municípios também ficaram divididos entre as três.

    As reclamações aumentaram tanto que já tem quem sente saudades da Cedae...

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  12. FF: hoje eu não esqueci do jogo da Champions League. O "Red Bull" Leipzig virou carne moída em Manchester. 7X0 para o City. Cinco gols só do Haaland. O cara está com uma média superior a um gol por jogo na temporada e só tem 22 anos...

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