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sábado, 29 de agosto de 2020

ELIXIR NOGUEIRA



Hoje temos 3 fotos do curiosíssimo prédio do Elixir Nogueira, na Glória, obra de Virzi, que ficava na Rua da Glória nº 214. O prédio foi demolido em 1970 após um polêmico destombamento. Construído em 1916, foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico da Guanabara em 9 de fevereiro de 1966. Inexplicavelmente, porém, o prédio foi destombado em 19 de dezembro de 1969, por um decreto do então governador Negrão de Lima, sendo demolido rapidamente ainda no mês de janeiro de 1970, fato que os jornais Correio da Manhã e Jornal do Brasil chamaram de demolição-relâmpago.

“No Rio de Janeiro, para evitar alguma reconsideração por parte do Governo quanto ao destombamento do prédio do Elixir de Nogueira, na Glória, o proprietário deu ordens para uma demolição-relâmpago. O resultado é que não se salvaram sequer as estátuas da fachada do prédio, que o diretor do Patrimônio Histórico e Artístico da Guanabara queria levar para o Museu de Arquitetura na ilha do Fundão. Assim se consumou o drástico atentado a um importante marco arquitetônico do Rio do período art nouveau.” (JB de 14 de janeiro de 1970).

O prédio da fábrica do famoso Elixir de Nogueira, o “depurativo do sangue contra infecção sifilítica”, possuía quatro pavimentos, com elevador e um subsolo. O edifício apresentava um formato híbrido, possuindo uma estrutura cilíndrica nos dois primeiros andares, que se tornava retangular a partir dos dois pisos mais altos. Foi uma obra inovadora e ousada, que misturava concreto armado com estrutura metálica. Se o próprio desenho incomum do prédio já causava bastante estranheza, as suas esculturas decorativas externas, de grande impacto visual, eram consideradas por muitos como assustadoras e sinistras. No nível da calçada, a fachada possuía um conjunto escultórico bastante elaborado, que adornava as vitrines e entradas do prédio causando grande dramaticidade cênica ao imóvel. O conjunto de esculturas do térreo reunia imagens de homens, mulheres, crianças e diversos animais, além de haver outras esculturas mais simples nos andares superiores, incluindo gárgulas no topo do prédio.

O poeta Carlos Drummond de Andrade comoveu-se com esta arquitetura de sonho, ou pesadelo, segundo ele, e carpiu a sua morte, despedindo-se do edifício em uma coluna publicada no JB:

“O horror da imagem compensava-se até certo ponto pela arquitetura plantada a cavaleiro do mar, no centro do Rio: uma casa feita para filial e depósito da firma de Pelotas, que produzia o elixir mágico. Ali, o estilo art nouveau, florescente na Europa por volta de 1900 e decalcado com um espírito brasileiro que às vezes consegue nacionalizar a cópia introduzindo-lhe uma pitada de tropicália, criou um composto delirante de volumes, com esculturas se alastrando pela fachada em meio ao torcicolo geral e colorido de elementos decorativos.

Não se identificava na obra a marca de um Gaudi, por exemplo, que deixou na Espanha construções nascidas do sonho (ou do pesadelo) de um arquiteto capaz de inverter e subverter as leis da matéria, como já se disse. Mas quem passasse em frente parava e espantava-se. Não tinha por onde fugir: a coisa impunha-se ao espectador bestificado. Era a mais curiosa, a mais imprevista, a mais sensacional construção levantada na Guanabara, onde costumava brotar do chão coisas que vou te contar. [...]

Adeus, edifício do Elixir de Nogueira. Não és o primeiro marco do passado urbano a quem dedico uma elegia. Já me chamaram mesmo de carpideira de casas e coisas velhas. [...] O progresso é às vezes uma espécie de sífilis, que corrói e mata. E contra esta o remédio de Pelotas, da Viúva Silveira & Filho, não pôde”. (“Adeus Elixir de Nogueira”, publicado no JB de 17 de janeiro de 1970).

14 comentários:

  1. Bom dia, Dr. D'.

    Sempre que acontece um destombamento com demolição relâmpago alguém com certeza levou algum nessa.

    Destombamentos, polêmicos ou não, acontecem quando se tem pressa para alguma obra, geralmente abertura de logradouros, como a Presidente Vargas ou a Transcarioca, mas não no caso específico do prédio do Elixir.

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  2. Sempre existiram e continuarão a existir "interesses estranhos" ao interesse público em "atos de tombamento e destombamento" aqui no Rio de Janeiro e os motivos são bem conhecidos. FF: tendo em vista as postagens ofensivas dirigidas à mim ontem aqui neste blog e como já era esperado, foi constatado que a "multiplicação dos pães" não o que aparenta, já que alguns desses "anônimos" e "personagens fictícios" são na maioria das vezes as mesmas pessoas e possuem os mesmos IPs de comentaristas conhecidos. Como se vê "não há nada que não possa ser revelado". A brincadeira está ficando interessante...

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  3. Bom Dia! Conheci o prédio do Elixir de Nogueira. Difícil achar um Carioca com mais de 40 anos que não o conheceu?. A melhor forma de se guardar e preservar as "relíquias" de uma Cidade é através de fotos.Em um livro ninguém destomba.

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    1. Tenho mais de 40 anos e não conheci o prédio. A conta não fecha porque o prédio foi derrubado há 50 anos. Só quem tem quase 60 pode se lembrar dele...

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  4. Que prédio maravilhoso! só mesmo um país desprovido de amor as suas relíquias arquitetônicas seria capaz de demolir uma obra prima deste quilate. País sem alma e sem identidade, gerido por governantes inescrupulosos, como o Sr. Negrão de Lima à época.

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  5. O elixir propagado para " infecção sifilitica" devia funcionar bem com algumas doses de penicilina ...O prédio podia ser enquadrado como um espanto,Mas os textos sobre ele são divinos.Grande postagem .

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  6. "Já me chamaram mesmo de carpideira de casas e coisas velhas...O progresso é as vezes uma espécie de sífilis que corrói e mata" .Nada mais adequado para este blog e seus englostorados convivas que vivem a derramar suas lágrimas por peças de mau gosto como este horroroso prédio que felizmente foi para o chão.Uma construção sem pé e cabeça e que deve representar um dia de muita diarreia de quem o idealizou.Depois ainda ficam incomodados por que sou Do Contra.Do Contra sempre.

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  7. Tenho conhecimento de pelo menos 1 caso de imóvel (deve haver muitos outros) cujo tombamento não interessou a ninguém e o infeliz proprietário vem há anos tentando desfazer esse ato (não sei se já conseguiu). Ao que parece foi um caso de tentativa de mostrar serviço de uma vereadora que tomou conhecimento de uma carta escrita por Monteiro Lobato a um amigo onde dizia que estava pensando em morar no Rio e citava esse endereço na R. Prof. Gabizo na Tijuca. O proprietário garante que isso nunca aconteceu, mas a verdade é que na lista dos imóveis tombados pelo município consta "casa onde morou Monteiro Lobato" e lá está uma casa sem nenhum valor histórico, sem poder ser reformada e sem conseguir ser vendida.

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  8. O tal do Elixir Nogueira devia ser muito procurado em uma época em existia Penicilina, a frequência aos "Rendez vous" era intensa e o tratamento para "doenças sexualmente transmissíveis" era dolorosíssimo.

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  9. Boa tarde a todos. Aqui se preserva o que não tem valor e se destrói o que tem valor, fruto de uma política sórdida e dominada pela corrupção. Aqui na Andrade Neves, o Cesar Maia por decreto tornou alguns imóveis sem qualquer conteúdo histórico em imóveis de preservação, resumo da história estão abandonados e se desmoronando, onde vira e mexe moradores de rua o invadem, obrigando aos vizinhos a se mobilizarem para que sejam retirados.
    FF. Uma pergunta, será que alguém do grupo enquanto ainda viver, acredita que o Brasil um dia irá mudar e se tornar um País respeitado pelo mundo?

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  10. No blog rioquepassou de fotos lamentavelmente parado a dois anos, existem muita informação sobre essa casa.

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  11. Acho difícil enquanto a frivolidade, a superficialidade, e a ignorância endêmica forem os principais valores da população.

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  12. Pior que o tombamento é a mudança de gabarito por 1 dia . Na Gávea tem um prédio na Rua marquês de São Vicente, de 2 blocos e 10 andares, que foi aprovado e toda(!) A documentação data do mês o dia da vigência de uma lei de aumento de gabarito. O Elixir um espanto e uma pena !!! De frente para o mar!

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