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quinta-feira, 24 de junho de 2021

EDIFÍCIO BARÃO DE LUCENA






Vemos o Edifício Barão de Lucena, um projeto de Paulo Santos em estilo "art-déco" já tendendo para o moderno, de 1937, construção de Pires e Santos. Os detalhes em “art-déco” estão no coroamento (fora da foto), nos portões em fer-forgé, na portaria e em delicados frisos na facada, todo em pó de pedra.

Foi construído por José Buarque de Macedo. Consta que em 29 de março de 1930 o Prefeito Antônio Prado Júnior mandou desapropriar as casas de números 148 e 158, na Rua São Clemente, com vistas a abrir uma nova rua de acesso. Como a residência de nº 158 tinha sido até 1913 a moradia do Barão de Lucena, a nova via foi assim batizada. Este edifício tem semelhanças imensas com outro ícone de Botafogo, o Edifício Pimentel Duarte.

Foi então construído no lote do antigo nº 148 o edifício de apartamentos Barão de Lucena, com fachada dando para a Rua São Clemente e garagem, lazer e serviços com acesso pela nova rua. Este edifício é um dos grandes clássicos em se falando de prédios de apartamentos da cidade. Respeitando o Plano Agache, pois fica totalmente em centro de terreno, tendo o recuo na frente e um simpático jardim nos fundos, embora sem garagem. O prédio é o que os prédios construídos nas décadas seguintes deveriam ter sido. Construções que não asfixiassem a rua nem as construções fronteiras e que permitissem a livre circulação do ar e a propagação da luz na cidade. O abandono do Plano Agache foi extremamente prejudicial para os bairros da Zona Sul, muito mais que para o Centro.

Segundo o Andre Decourt a São Clemente usava uma iluminação pública que adaptava o poste NY às bases oriundas da Expo de 1908, num arranjo relativamente raro, que só existia, segundo seus registros, nas ruas Voluntários da Pátria, parte da Senador Vergueiro, São Clemente e parte da Marquês de Abrantes. 

Conta o Georges Mirault, meu contemporâneo no Santo Inácio, através de conversa com o GMA, que o pai dele, quando menino em Botafogo, depois de sair do Colégio Santo Inácio ( na década de 1920), costumava pular o muro da residência do Barão de Lucena para pegar frutas com outros colegas, entre os quais seu primo Dom Inácio Acciolly, depois Abade de Nossa senhora de Montserrrat (São Bento).

Os apartamentos eram inicialmente alugados pelo dono do edifício, Dr. Buarque de Macedo, que foi vendendo os apartamentos pouco a pouco. Sua filha Bessie residiu no 804. Era uma espécie de apart-hotel daquela época, com serviços mínimos, mas já com interfone e multicomunicação entre os apartamentos.

Nunca teve garagem. Acreditava-se que a Rua Barão de Lucena seria sempre uma rua sem saída, mas nos anos 60 inaugurou-se a Rua Theodor Herzl, que saía da Rua Assunção, o que aumentou o tráfego na região.  Como era caminho do JBAN para o Santo Inácio, após ele tocar a campanhia de todas as casas da Barão de Lucena e sair correndo, ele brincava de se equilibrar sobre a mureta dos jardins deste prédio.

As louças de banheiro são americanas, os mármores de Carrara, os lustres da Inglaterra. Os jardins atrás tinham uma fonte luminosa francesa de dar inveja a algumas de nossas pobres praças. Os elevadores OTIS, canadenses de origem, ainda são os originais.

Moraram ali: Plínio Salgado, o jóquei Luis Rigoni, o "nightman" Carlos Machado, Jacques Klein, o crítico e literato Roberto Alvim Corrêa, Mozart Amaral (fundador das afamadas Casas Olga), muitas famílias de diplomatas estrangeiros e o próprio Georges. Outra moradora, Laura Rónai, comenta que "o prédio é belíssimo, cheio de detalhes charmosos (sancas, parquet no chão, janelas de ferro trabalhado no banheiro e na cozinha, banheiro de mármore, harmonia de espaços). É muito mais bonito na vida real do que na foto. Paulo Pires foi professor da Escola de Arquitetura da UFRJ. O que não existe mais (e faz falta!) são os toldos."

As cisternas do edifício podem prover água para uma semana de uso normal: são auto-comunicantes e ocupam boa parte do piso do jardim. Nos anos 60, quando ainda não havia o Guandu, todos os prédios em volta sofriam com a falta de água, exceto o Barão de Lucena.

Aliás o engenheiro Roberto Veiga Brito, um dos Secretários de Lacerda e construtor do Guandu morou ali por muitos anos.

Como se vê, um edifício com muita história.

Nota: As fotos coloridas do interior do prédio são de autoria de G. Tarabini e foram publicadas no FB do R. Bokor. O texto e a foto em P&B são da publicação do SDR no Terra, de 25/11/2009.

11 comentários:

  1. Construir um prédio desse jaez sem dispor de vagas de garagem foi uma total falta de visão. É certo que Botafogo ficou "fora de controle" mas mesmo assim foi uma falha. Encontrar uma vaga para veículo disponível em Botafogo é como encontrar uma nota de R$ 3,00, um estudante "subsaariano" vestindo um uniforme do Colégio Cruzeiro, ou cidadão de origem israelita que tenha o título de "campeão de peteca". Um imóvel que não tenha vaga de garagem perde de 20 a 30% de seu valor.

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    1. Hoje em dia, com aluguel de carro ou uber, já não é tão grave.

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    2. Falta de visão e achar que carro e a solução. Pessoal com 20 anos nem está tirando mais CNH.

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  2. Olá, Dr. D'.

    Pela localização com certeza passei muitas vezes por esse prédio mas confesso que nunca prestei atenção...

    Irei acompanhar os comentários.

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  3. Que beleza de edifício conforme vemos nas fotos e nos comentários de moradores. Realmente não ter garagem é um grande problema embora nos tempos atuais a nova geração já não tem aquela fixação que os antigos tinham em relação aos automóveis. Observo muitos jovens se deslocando em motos ou bicicletas elétricas ou não e usando o metrô para deslocamentos maiores. Depende muito de onde se mora e como se vive. Já li que no futuro próximo os carros estarão disponíveis como hoje estão as patinetes. Ficarão em estacionamentos e serão usados por qualquer um a qualquer hora por aluguel.

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    1. "No futuro próximo"? Só se o Rio se tornar uma "Noruega ou uma Dinamarca do sul". Essa visão futurista é uma utopia, tendo em vista a realidade em que vivemos. Furta-se e rouba-se de tudo à luz do dia sem qualquer cerimônia, já que segundo a visão de "alguns juristas", em crimes contra o patrimônio sem o emprego de violência ou grave ameaça o cidadão não deve ser encarcerado. E Por falar em bicicletas elétricas, o caso em que um rapaz negro foi humilhado e ofendido por um casal que "supôs" que a bicicleta que ele usava fosse a da moça e que tinha sido furtada, teve repercussão na mídia, o rapaz registrou o fato na 14ª D.P como "calúnia", o casal foi demitido de seus respectivos empregos, mas a Polícia Civil continuou a investigação e descobriu que a bicicleta usada pelo rapaz negro "também era roubada" e que o rapaz comprou-a por um preço "barato e sem nota fiscal". Resultado: Está respondendo pelo crime de receptação e perdeu a bicicleta. Moral da estória: "Não se pode planejar um futuro civilizado enquanto a sociedade for selvagem".

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  4. Este prédio é belíssimo. Eu e GMA tínhamos um amigo de sala, do Santo Inácio, o Mayr, que morava aí. Na parte voltada para a Rua Barão de Lucena, pode-se avistar através das grades uma ótima área de lazer, com pracinha e uma parte coberta. Um ícone!

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  5. Realmente se assemelha a alguns prédios de Flamengo e Botafogo. Resquícios de influência francesa no estilo e no material, feito para durar. O prédio da Assembleia 10 também não tem garagem, só que concretizado em 1979/80 (era estagiário o predio da Rua do Carmo 27 e vi o espigão sendo construído). O argumento era que os carros parariam no Menezes Cortes, e a UCAM embolsou bons trocados. Não sei se encanamentos e fiação desses prédios resistiram ao tempo. Os novos prédios com apartamentos padrão ovo de codorna tem exaustão do gás de aquecedores? Ou são na área de serviço? Têm área de serviço? Vejo só lavanderia comum no telhado.

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  6. Em tempo: Moradia compatível com o padrão moral e intelectual do Querido Mestre e Amigo Georges Mirault, cujas lições de vida, dentro e fora do Colégio Santo Inácio, contribuíram para o que sou e faço de bom nesse mundo.

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  7. 1) Georges foi da turma de meu irmão no Santo Inácio.
    2) Georges me ajudou muito no livro que escrevi sobre minha turma por ocasião dos 40 anos de formatura, me facilitando acesso ao acervo de fotos do colégio.
    3) Seria este Mayr irmão de um colega meu de turma?

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  8. Gostei das fotos do belo interior do edifício.
    Temos vários prédios com hall e portarias interessantes.

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