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terça-feira, 24 de maio de 2022

TABULEIRO DA BAIANA

Vemos o famoso Tabuleiro da Baiana, destino das linhas vindas da Zona Sul que passavam pela Cinelândia e voltavam pela Senador Dantas.

O tabuleiro foi criado na prefeitura de Henrique Dodsworth em 1937, juntamente com mais uma ampliação do Largo da Carioca em direção a Almirante Barroso e com o alargamento da Rua 13 de Maio com a demolição da velha Imprensa Nacional, tendo em vista a desativação, para posterior demolição, do Hotel Avenida e Galeria Cruzeiro, por onde passavam os bondes.  


Nesta foto do Tabuleiro da Baiana podemos ver na esquina da Rua Senador Dantas o Liceu Literário Português, projeto em estilo neo-manuelino do arquiteto Raul Penna Firme. O Liceu foi a primeira instituição de ensino no Brasil a promover cursos  profissionalizantes noturnos e gratuitos.

Foto do Acervo Fotográfico da Light mostrando o centro do Rio no início da década de 50. Na foto vemos um bonde nº de ordem 1918 - Praia Vermelha, reboque nº 1053, chegando ao Tabuleiro da Baiana, no Largo da Carioca, e um ônibus "Gostosão".

No fundo, à esquerda o Tabuleiro da Baiana, de onde chegavam e partiam os bondes para a Zona Sul. À direita vemos os contrafortes do Morro de Santo Antônio. Naquele prédio com um letreiro do Café Globo funcionava uma empresa de letreiros luminosos, a Empresa Masson, cujo endereço era Rua Senador 121. O Café Globo teve instalações na Rua da Guarda Velha (atual 13 de Maio) e depois foi para o Santo Cristo. Boa parte da região funcionava como um grande estacionamento. Sobreviveu até nossos dias o prédio do Liceu Literário Português. 

Nesta foto da década de 60 vemos um aspecto do Largo da Carioca, onde reinava soberano o Edifício Avenida Central. Ao lado dele, ainda em construção, subia o prédio da Caixa Econômica.
Os trilhos no chão, nesta época, já eram apenas uma recordação dos tempos dos bondes, quando o Tabuleiro da Baiana já era um terminal de ônibus.


Vemos o Tabuleiro da Baiana à esquerda e, ao fundo, as obras de desmonte do Morro de Santo Antonio. Os carros estão virando à esquerda na Rua Senador Dantas, uma das ruas do Rio que mais mudou de mão através dos tempos. Destaque também para a escadaria da passagem subterrânea que ali existia. 


Contou o Milton Teixeira que esta  passagem subterrânea, bem como outras obras, foram executadas pela Comissão do Plano da Cidade, um grupo formado por engenheiros e arquitetos e oficializado por decreto pelo Presidente Getúlio Vargas no dia da criação do Estado Novo, 10 de novembro de 1937. 

A função dessa Comissão era planejar harmonicamente a cidade. O chefe era o engenheiro José de Oliveira Reis. Quanto ao Largo da Carioca, a dita comissão projetou e executou a obra da estação de bondes da zona sul (apelidada de Tabuleiro da Baiana pelo sucesso da música), a passagem subterrânea, o desmonte do morro de Santo Antônio (executado de 1954 a 1965) e a estação central do Metrô-Rio, a qual não foi executada pelo custo da obra, em plena época de guerra.

 A passagem subterrânea iria ter conexão com a dita estação, cujo projeto tenho a felicidade de possuir. Era inspirada no monumento megalítico de Stonehenge, na Inglaterra, com um obelisco no meio. Ficaria na altura onde hoje está a Avenida Chile, perto da estação de bondes, onde haveria conexão entre elas. 


9 comentários:

  1. Olá, Dr. D'.

    Mais uma aula. O Largo da Carioca é um dos logradouros com mais intervenções da cidade ao longo do século XX.

    FF: ontem morreu o ex-goleiro e ex-treinador Wendell, do Botafogo, Fluminense e da seleção.

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  2. Excelente postagem e o texto está impecável. Nada a acrescentar. Quantos aos carros, duas observações: na foto do Café Globo, vi uma picape e uma camionete de madeira, hoje as SUVs e as cabines duplas abundam em relação aos sedãs; e na última foto, uma fileirinha de carros europeus, minoria absoluta, um Hillmann Minx, um Ford Prefect, um galipão americano e um Volvo 444.

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  3. Da movimentação dos bondes e mais tarde dos Trolley-buses no Tabuleiro da Baiana eu me lembro bem. Meu pai tinha escritório no 18° andar do Edifício Itu, exatamente sobre a Estação de bondes. Mas se não me falha a memória na época dos Trolley-buses a "mão de direção" era invertida, pois os ônibus elétricos entravam pela Senador Dantas.

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  4. Não faz muitos anos, tive a comprovação de que o olfato é a memória humana mais primitiva: ao utilizar-me de uma passagem subterrânea na L-2 Sul, em Brasília, transportei-me de novo ao tempo em que, de calças curtas e pela mão de meu Pai, transitava apressadamente pela passagem cuja entrada figura nas fotos 6 e 7. (Escusado dizer que a responsável pela “dobra do tempo” foi a fragrância amoníaca que evolava do túnel.)
    Enfim, cada qual tem a madeleine possível.

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  5. Tenho uma lembrança bem clara de - junto com meus pais - pegarmos no Tabuleiro o bonde para Botafogo na volta das idas "à cidade", no início dos anos 60.

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  6. Só lembro do Tabuleiro no período final, só para ônibus, como vemos na foto 5.
    Acho que tinha muito "fumacê" dos canos de descarga dos ônibus, debaixo da cobertura.

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  7. Na terceira foto, o reboque 1053 era uma adaptação dos primeiros carros-motores da Jardim Botânico, transformados em reboques.

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  8. Ir para a cidade é chamado de "descer" para o moradores da Zona Oeste, no ramal de Santa Cruz. Lembro-me do meu pai dizer: "vou descer amanhã..."
    Lembro também de ele falar no Tabuleiro da Baiana.
    Hoje eu entendo essa expressão: sair de uma altitude de em torno de 50 a 80 m de Campo Grande para "ao nível do mar" do centro da cidade é realmente "descer"...

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  9. Wagner, antigamente no Rio de Janeiro, no tempo dos golpes, o comum para se aferir o termômetro da crise era a expressão: "A coisa está séria, a Vila Militar vai descer.".

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