“Post” baseado num livro que recomendo muito: “Bangu – 100 anos”, de Jairo Severiano. Certamente pode ser encontrado no "site" Estante Virtual.
Foto da Fábrica Bangu, garimpada pelo grande estudioso do Rio Antigo, o prezado Henrique Hübner.
O prédio da Fábrica Bangu, da Companhia Progresso Industrial do Brasil, foi levantado em terras da Fazenda Bangu, do lado esquerdo da Estrada de Ferro Central do Brasil. Possui linhas típicas inglesas, características do período neoclássico, apresentando arcos romanos, frontões gregos e grandes platibandas, de partido horizontal. A chaminé, de tijolo aparente e forma circular, possuindo a base octogonal, se eleva a 55 metros acima do nível da sala de cardas. Ela se tornou o símbolo da fábrica na medida em que se ergue altaneira, acima do edifício, podendo ser vista de longe.
A fábrica de tecidos
Bangu foi inaugurada em 1893 na região da Freguesia de Campo Grande, que foi
escolhida por haver grandes mananciais indispensáveis ao funcionamento da
fábrica. Foram comprados cerca de 3.600 acres de terra, a saber: Fazenda do
Bangú, Fazenda do Retiro, Sítio do Agostinho e Sítio dos Amaraes, pela quantia
de 132.137$910 Réis.
Toda essa região fica à
margem da Estrada de Ferro Central do Brasil, distante cerca de 1 hora do
Centro. Até aquele momento, existia na região apenas uma rua, que havia sido
aberta séculos antes pelos jesuítas. A
construção da Fábrica ficou à cargo da firma The Morgan Snell and Co., de
Londres, pelo preço total de 4.100.00$000 Réis.
A implantação da fábrica
na região trouxe consigo uma série de transformações na paisagem com a abertura
de novos caminhos e a chegada dos trens para o transporte das matérias primas
que chegavam e dos tecidos que saiam. Ao mesmo tempo, alterou o modo de vida da
população local com o surgimento de um bairro operário nos arredores da fábrica
- toda essa transformação se concretizou na implantação de saneamento, de
espaços para lazer (o Bangu Atlético Clube) e da Paróquia Santa Cecília.
Merece especial atenção o
fato da Fábrica Bangu ter fundado uma das primeiras escolas do bairro chamada
Escola da Cia. de Progresso Industrial do Brasil que, em 1917, passou a ser
administrada pela prefeitura.
O bairro, e mais
especificamente a fábrica Bangu, tornou-se um monumento à história da
industrialização brasileira, servindo de cenário para uma série de filmagens
que visavam retratar a mudança nas cidades, no caso o Rio de Janeiro, com a
chegada das indústrias na transição do século XIX para o XX.
A chaminé da Fábrica tem 57m de altura, 4,12m
de diâmetro na parte inferior e 2,44m na parte superior. A base octogonal mede
7,45m entre as faces paralelas.
Em 1922 assume a
presidência da Fábrica Bangu o Dr. Manuel Guilherme da Silveira Filho, o famoso
Dr. Silveirinha. Em 1990 a fábrica é vendida para o grupo Dona Izabel. Em 1995
a fábrica é tombada.
Sobre o edifício principal encontra-se um grande relógio de quatro espelhos, com parte de sua base - o telhado - em ardósia
A Fábrica de Tecidos
Bangu oferecia a seus funcionários uma creche, já nos anos 50. É exemplar esta
iniciativa pois, nos dias de hoje, mesmo com a lei que obriga a grandes
empresas a manterem uma creche, tal não é cumprido. Usam de subterfúgios para
driblar a legislação, fazendo convênios com creches distantes, que não recebem
nenhuma criança filha de funcionários - um escândalo!
Nesta fotografia vemos algumas das casas construídas pelos operários da Companhia Progresso Industrial do Brasil - Fábrica Bangu.
Guilherme da Silveira, dono da empresa, tinha uma visão social avançada para a época. Defendia os direitos dos operários sem qualquer intenção demagógica, considerando essencial a colaboração entre o capital e o trabalho.
Sua política habitacional, concretizada através da construção de casas modelares para o proletariado, aproveitou terrenos da CPIB, onde foram construídas casas em mais de 12 mil lotes.
O projeto desenvolveu-se de duas formas: faziam casas, vendendo-as depois de prontas, ou vendiam-se terrenos, a prestações, incluindo em seu preço a chamada "cota de construção", ou seja, o custo do material necessário à obra.
Foram
construídas milhares de casas, sempre contando com a honestidade dos
compradores, perfeitos no cumprimento de suas obrigações. O sucesso desse
empreendimento deu a Bangu uma característica especial: é o único subúrbio
carioca em que a maioria da população reside em casa própria.
Bangu e sua vila operária
construída para abrigar trabalhadores da fábrica, em foto de 1958, estupendamente
colorizada por Rafael Guimarães e publicada no FB RioSecretoRio.
Quando a Companhia Progresso Industrial do Brasil (Fábrica Bangu) chegou a Bangu, substituiu a antiga capela que existia ao lado da casa da fazenda pela Igreja de Santa Cecília e São Sebastião.
Este templo foi erguido no final da Rua Estevão, em terreno doado pela Companhia, que também ajudou na sua construção. Foi inaugurado em 1904 e teve todas as despesas de manutenção custeadas pela Companhia, que fornecia a cera necessária aos ofícios, os honorários do sacristão e do vigário, além de ceder uma casa para a moradia deste último.
Uma das festividades mais concorridas da igreja de Bangu
era a da Coroação de Nossa Senhora, uma festa tradicional que se realizou até o
ano de 1951.
Nos terrenos da Companhia
Progresso Industrial do Brasil, conhecida como Fábrica de Tecidos Bangu foram
edificados, além da fábrica, a vila operária, a Paróquia de São Sebastião e
Santa Cecília e um cassino recreativo, como vemos nesta foto.
A fábrica de tecidos
possibilitou que o bairro passasse a ter uma dinâmica social, cultural e
econômica autônomas. Foi por iniciativa dos trabalhadores da fábrica que foi
criada a Sociedade Musical Progresso de Bangu, transformada depois no Cassino
Bangu.
O Estádio Proletário
Guilherme da Silveira Filho, o Moça Bonita, é uma construção iniciada no ano de
1945 e concluída em 1947. Também foi
patrocinado pela Companhia Progresso Industrial Fábrica Bangu,
OBSERVAÇÃO: antigamente os fotologs só permitiam uma foto por postagem. Tínhamos que fazer mais de uma postagem no mesmo dia, caso quiséssemos mostrar várias fotos. Agora, no Blogger, a postagem pode ter muitas fotos.
Se, por um lado, podemos fazer uma postagem mais completa (embora dê mais trabalho), por outro lado, não sei se fica cansativo para os que visitam o "Saudades do Rio".
O que acham?
Bom Dia! Não sei nada de Bangu. Vou acompanhar os comentários.
ResponderExcluirGostei desse Silveirinha pelo descrito. Um empresário que fez muito e que tinha visão social.
ResponderExcluirPelo que fez em Bangu merece aplausos.
Quanto ao tamanho das postagens acho que a maioria não lê tudo, nesses tempos de se ver tudo rápido. Por outro lado temos tido verdadeiras aulas sobre cada assunto.
Talvez se restringir a um máximo de cinco fotos fosse melhor. Mesmo que o tema continuasse no dia seguinte.
Bom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirAula excepcional. Aprendi muita coisa hoje. Vou acompanhar os comentários. Hoje tem jogo do Bangu na Band, contra o Flamengo.
Muitas regiões da cidade, especialmente na zona oeste, contam os estragos da chuva e ventania de ontem. Deu medo...
Sobre a quantidade de fotos por postagem, sempre haverá o bom senso do gerente para determinar um número justo para cada ocasião.
ResponderExcluirÉ uma pena que iniciativas como essa tenham sido poucas por aqui. Um exemplo semelhante foi a construção da fábrica da Cia América Fabril em Magé, onde nasceu Garrincha. Aliás em seu ocaso, Garrincha viveu em uma das casas operárias de Bangu, pois amasiou-se com Rosrmary, viúva de Jorginho Carvoeiro, ex-jogador do Vasco, e que era funcionária da Fábrica. O modelo britânico é indisfarçável, tanto pela arquitetura como pela organização e funcionamento. É uma pena que esse tipo de "DNA" não tenha prosperado no Brasil.
ResponderExcluirQuem não gosta do tamanho das postagens, "paciência". Informação, cultura, e História, não podem ficar restritas a espaços exíguos. O hábito de ler tem se tornado cada vem menos frequente, mas o tipo de público que frequenta o SDR pensa como eu.
ResponderExcluirNa década de 40 foi criada uma parada para os trens entre as estações de Padre Miguel (antiga estação de Moça Bonita) e Bangu, batizada de Estação Guilherme da Silveira. Defronte a esta estação há uma imensa praça, muito utilizada no lazer da população local, que faz a ligação para o estádio do Bangu.
ResponderExcluirInteressante que Padre Miguel, cujo nome foi utilizado após a sua morte para rebatizar a estação de Moça Bonita, na verdade foi um pároco da igreja de Realengo (Nossa Senhora da Conceição).
A penúltima foto na verdade é o prédio do Clube Bangu e não do cassino, que fica ali bem próximo.
Na foto da igreja de Santa Cecília pode-se ver, lá no fundo, a serra de Bangu onde fica a Pedra do Ponto, que muitos confundem com o Pico da Pedra Branca que é mais alto (ponto culminante da cidade) e que fica mais atrás, já em Jacarepaguá.
O legado da fábrica com a cultura britânica para o bairro também se pode notar nas ruas do entorno, como as Ruas Maravilha, Doze de Fevereiro e Barão de Capanema, com calçadas larguíssimas e divisões simétricas das quadras.
Não consegui localizar o Cassino.
ExcluirO Cassino Bangu fica numa quadra atrás, na Rua Fonseca (a mesma da antiga entrada da fábrica).
ExcluirO Clube fica na Rua Cônego de Vasconcelos, antiga Rua Ferrer e que, mais antigamente ainda, era a Rua Estevão, conforme descrito no texto.
Bom dia Saudosistas. Uma verdadeira aula, sobre o inicio da industrialização no Brasil. A razão da construção de Vilas Residenciais pelas empresas se deve a dois motivos, possibilitar que os funcionários morassem próximo as fábricas, principalmente daqueles funcionários chefes ou que exerciam atividades vitais na operação da fábrica, bem como evitar o atraso dos mesmos devido a distância e a precariedade do transporte na época. Nos dias de hoje esta prática é impossível de ser praticada, visto que a grande maioria são empresas SA. Na Cisper SP, até o final do século passado vários funcionários moravam em casas no interior da fábrica, inclusive o próprio gerente geral da fábrica, morava na fábrica. A área da fábrica da Cisper SP era imensa, hoje é um bairro da zona leste de SP, se chama Vila Cisper.
ResponderExcluirA rua citada no texto, aberta pelos jesuítas, era a Real Estrada de Santa Cruz. No trecho de Bangu, virou a Avenida Santa Cruz.
ResponderExcluirPuxa, uma verdadeira lição mesmo! Do Bangu só me lembrava da decisão de 1966 contra o Flamengo quando tinha 9 anos e meu pai me levou ao Maracanã para ver o grande time do Bangu com Paulo Borges, entre outros, de quem meu pai era fã. Me lembro ainda hoje de maneira clara as brigas nas arquibancadas no lado da torcida do Flamengo. Verdadeiras "clareiras" se abriam quando a pancadaria começava...não sei até hoje como não morreram bastante gente nesse dia. No campo, um golaço do Paulo Borges para deslumbre do meu pai. E depois uma pancadaria entre jogadores...enfim, lembranças que carrego até hoje que são misto de deslumbre e medo.
ResponderExcluirÓtima aula, complementando a de ontem. Como disse em outro post, gosto da parte explicativa e da ilustrativa. Alguns temas demandam mais conteúdo. Não deixo de ler o post e os comentários, pois o conhecimento é um prazer.
ResponderExcluirA visão "capitalismo e trabalho" deveria ser a normalidade e não a ideia de ser apenas capital ($$$) sem contrapartida social.
Quanto à Fábrica, a arquitetura pode ser europeia, mas o clima quente não deixa dúvidas que é tropical. É (ou foi) o bairro mais quente do Rio
Nas vezes que fui a Bangu, foi pra ir na Fábrica da Coca-Cola entregar material de construção nos anos 1980 e também na região do Presídio.
E uma única vez no estádio Moça Bonita.
Taí um bairro que gostaria de conhecer com mais calma, mas na época do frio, que por lá deve ser escrito com aspas.
ResponderExcluirProjetos de urbanização para bairros operários são sempre interessantes.
Estão de parabéns a gerência do SDR e o Hübner, incansável pesquisador. O autor de livro, Jairo Severiano, faleceu há poucos meses, aos 95 anos.
Dependendo do número de fotos, postagens em 2 ou mais capítulos podem ser viáveis. O texto não define, porque apenas uma foto pode gerar uma boa e longa descrição.
A quantidade de fotos por postagem sempre ilustra melhor o assunto. O visitante típico do SDR é de uma geração acostumada a ler. Não obstante, a disposição em ler textos longos depende do interesse que o assunto desperta no visitante. Eu sou muito curioso e ávido por conhecimento. Ainda assim, se for algo completamente fora do meu mundo e eu considerar que não vai acrescentar nada de importante ao que já sei, eu não leio o texto ou o faço apenas parcialmente.
ResponderExcluirEu mesmo posso ser acusado de fazer textos longos, pois sou prolixo e detalhista. Então, tenho telhado de vidro.
Pelo que vi a sede social do Bangu A.C. fica distante do Estádio de Moça Bonita. Deve dar meia hora de caminhada.
ResponderExcluirCarioca que gosta de futebol sempre tem simpatia pelos clubes pequenos do Rio, mas o Bangu, por ser o time do atual presidente da federação, sem falar na história do Castor, acaba provocando algumas desconfianças nos torcedores.
O Madureira, por exemplo, está enfrentando os 4 grandes nas 4 primeiras rodadas do Carioca, o que é considerado mais do que tentar "quebrar na espinha" um time pequeno. Já o Bangu só hoje, 4ª. rodada, vai enfrentar um dos grandes.
Os dois empates do Madura, contra o Vasco e o Fla, devem ter deixado os dirigentes da federação decepcionados. E o Flu passou apertado. Falta só o Botafogo, depois de amanhã.
Boa tarde.
ResponderExcluirÓtimas fotos, ótimo texto, + uma aula, agradável de ver, ler e aprender.
Quanto mais melhor, fotos e texto.
Eu gosto de muitas fotos. Confesso que vejo todas as fotos mas nem sempre leio todo o texto, e que também não dou bulufas para os comentários do corretor ortográfico.
ResponderExcluirUm retrato da realidade de Bangú, da Fábrica, dos costumes, e da rotina da época, vale a pena ler "Meu pé de Laranja lima", de José Mauro de Vasconcelos. Eu o li em 1969, mas garanto que a maioria aqui "neste sítio" já o leu...
ResponderExcluirTenho simpatia pelo Bangu, time cheio de histórias. Almir, saída a Bangu nas peladas, os desfiles abordados ontem, as máquinas, e ainda um amigo ganhou um premio pois era o único torcedor do Bangu na arquibancada num jogo no Maracanã. Sei do Bangu pelo meu amigo Renato Garavaglia, que trabalhou nos corantes de tecidos da fábrica, grande figura; um garoto de 83 anos. Curiosidade: meu bisavô veio de Liverpool para o Brasil, ajudou a fundar o Rio Cricket e foi o árbitro (na época a função era exercida por jogadores e /ou dirigentes) do 1º jogo de futebol do Bangu!
ResponderExcluirA última vez que fui a Bangu , foi em dezembro passado no aniversário do filhinho de um amigo.
ResponderExcluirEu acho muito bom quando o texto tem muitas fotos. Como disse o Hélio: ilustra melhor o assunto.
Posso estar enganado, mas acho que um dos diretores da fábrica era dono do terreno na esquina da Rua Santa Amélia com Rua do Matoso. Além do casarão, parece que ele tinha um pequeno zoológico ou haras. O terreno foi vendido para a contrução de um mega condomínio.