Conforme conta Claudia Gaspar em seu estupendo "Orla Carioca", em 1895 Domingos Fernandes Pinto planejou o novo bairro da Urca. O Ministério da Guerra, a princípio, alegou que era incompatível com a vizinhança da Fortaleza de São João. Após muita discussão, em 1920 constituiu-se a Sociedade Anônima Empresa da Urca.
Entre 1920 e 1923 a Empresa construiu o volumoso edifício
eclético para funcionar como hotel balneário,
dotado de acomodações para hóspedes, quadra de esportes e vestiários. Nesta foto, da
Coleção Alayde Parissot Mascarenhas, vemos a Avenida Portugal, na Urca,
recém-aberta, tendo, à esquerda, parte do Hotel Balneário em construção, em 1922.
Vemos outro aspecto da construção do Hotel Balneário da Urca, em foto do acervo de Patricia Penna Ramos. Tanto nesta fotografia, quanto na anterior, é possível ver que não havia ainda a Praia da
Urca. A varanda do hotel era projetada sobre o mar. Ao fundo, à direita, podemos ver a construção das cabines (vestiários).
Aqui, em foto garimpada pelo Nickolas, vemos o Hotel Balneário já concluído.
Foi projetado pelos arquitetos
Archimedes Memória e Francisco Cuchet para acomodar turistas que viriam à
Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil,
em 1922. Mas, pelo que consegui descobrir, ficou pronto somente em 1925. Funcionou como Hotel Balneário até 1935, quando foi adquirido pelo empresário dos jogos Joachim Rollas, que o converteu em cassino.
As obras
de adaptação foram realizadas pelo engenheiro Mário Chagas Dória, ficando a
decoração interna a cargo do arquiteto Wladimir Alves de Sousa, que criou os
belos salões em estilo art-déco, que ainda subsistem. Seu período áureo foi de
1938 a 1946, quando grandes nomes artísticos nacionais e internacionais, além de uma
clientela selecionada, contribuíram para que se tornasse uma das mais disputadas casas de "shows" das Américas.
Com a proibição do jogo no Brasil nos anos 40, passou a abrigar os estúdios da TV Tupi na década de 50.
Esta é uma das fotos mais conhecidas e mais bonitas, na minha opinião, do Hotel Balneário e da Praia da Urca.
Propaganda do Hotel Balneário da Urca garimpada pelo prezado Rouen.
Vemos o Hotel Balneário provavelmente numa tarde de segunda-feira, de tempo nublado, dada a ausência de banhistas na praia. No Hotel Balneário da Urca era possível encontrar serviços de fisioterapia, massagens e helioterapia, tudo
a cargo do Instituto Fisioterápico do Dr. Gustavo Arnobrast, com sede no
Largo da Carioca.
Estas eram as cabines para troca de roupa na Praia da Urca.
O periódico "Rio Ilustrado", de outubro de 1928, relata: "Quem ainda não poz
a pele de molho na água barrenta do balneário, não veio de boa gente. Ali é o
supra-sumo do "chic".
Fora, ficam os carros, esquentando ao sol. Lá
dentro, aqueles cinqüenta palmos de areia regorgitam. De cima do trampolim,
moças e rapazes exibem os últimos modelos de saltos, apresentados pelos jornais
da "Fox Films".
Em cima, dança, "cock-tail" e
"flirt". Uma jazz-band comunica tremuras coreográficas aos corpos
quentes. E à frente, a paisagem abrupta das matas colorindo morros, bangalores,
escorregando pelas vertentes verdes e a paisagem tranqüila da enseada, riscada
de embarcações de sport.
(...)
Lá embaixo, há cubículos para trocar de roupa e
outros misteres íntimos. A empresa não os fiscaliza nem a polícia tampouco:
pode-se entrar aos pares e demorar quanto quiser.
Na areia senhoras
respeitáveis, a julgar pela pintura e pelo volume, conversam coisas graves,
fumando cigarros turcos.
(...)
Mas, à tarde, o balneário perde este aspecto
familiar da manhã. A jazz banda ataca músicas mais frenéticas, os
"cock-tails" ganham ingredientes fortes e o "flirt" é mais
íntimo. Atrizes, cocotes, demiverges e algumas famílias inocentemente enganadas,
que não chegam a aperceber-se do que se passa em roda.
Dentro da água,
ensina-se a nadar com menos inocência do que de manhã. Nos cubículos de aluguel
há pares que se demoram desusadamente.
(...)
Só. Não há mais nada. Tudo o mais
é muito moral, muito correto, muito direito. Não se ouve falar em cocaína. Nem
de morfina, nem de ópio...".
Balneário da Urca em 1927. Coleção Elysio de Oliveira Belchior. O prédio
era ladeado por cabines para troca de roupa e varanda avançada sobre pilotis
visíveis. Os antigos moradores da Urca tomavam chá no salão e jogavam tênis no
terraço. À esquerda, o "water-shoot", escorrega onde a garotada
divertia-se.
Foto enviada pelo meu amigo Hugo Hamman: "Acredito que seja
do final dos anos 20, pois o terraç o descoberto original do Hotel já tinha
recebido uma cobertura.Veja que o enrocamento de pedras (vindas do Morro do
Castelo) da Praia da Urca ainda está em construção. Note os carros da época.
Pela perspectiva, essa foto deve ter sido tirada da Av. São Sebastião. Veja
também que a primeira seção do bairro - delimitada pela Av. Portugal e pela
Av. Marechal Cantuária - já está totalmente urbanizada, ainda sem edificações.
Esta foto já é dos anos 30, quando já havia o cassino.
Engarrafamento na passagem sob o terraço do Hotel Balneário.
Aspecto da Praia da Urca, em frente ao Hotel Balneário, em dia de certo movimento.
Um domingo de sol, no verão, na Praia da Urca...
Bom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirA pergunta de ontem foi referente à postagem de hoje? Mais uma aula estupenda, sempre aprendendo. As fotos complementam o texto.
Bom Dia ! No tempo em que trabalhei na Viação Méier, 442 Lins - Urca passava diariamente por aí ,mas já era a tv Tupi .
ResponderExcluirA Urca é um lugar especial no Rio, apesar de uns anos para cá estar sofrendo com uma invasão de gente que leva os moradores à loucura.
ResponderExcluirA agradabilíssima mureta está se tornando inviável.
É interessante notar que foi um bairro oriundo de aterros.
O balneário e depois o cassino fizeram sucesso, mas a proibição do jogo acabou com eles. A TV Tupi durou pouco, depois o IED e acho que agora é ou pretende ser uma escola de elite.
O trânsito é o calcanhar de Aquiles do bairro, que não tem estacionamento suficiente.
O panorama visto a partir da Urca é talvez um dos três mais bonitos do Rio.
À praia da Urca acho que só fui uma vez. Já era poluída na época, talvez década de 1950. Idem à praia Vermelha.
ResponderExcluirAtualmente a praia vermelha é uma das mais limpas da zona Sul. Faz anos deixaram de despejar esgoto. A da Urca continua ruim idem a do Flamengo.
ExcluirMeu avô sempre mencionava não só os shows que assistiu no Cassino Urca como também as "rodas de bacará", a roleta, as mesas de "21", e toda a jogatina que havia. Uma pena que um presidente "caduco" tenha dado ouvidos aos argumentos hipócritas da "carola" Dona Santinha e tornado o jogo ilegal.
ResponderExcluirSobre as postagens com muitas fotografias: acho ótimo, especialmente para quem um dia desejar pesquisar.
ResponderExcluirQuanto às fotografias da avenida em construção, observo que a avenida bem próxima ao balneário e da rocha é a Avenida Marechal Cantuária; na fotografia em que aparecem várias embarcações vê-se ambas as avenidas, com a curva acentuada da Avenida Portugal, bem distante da rocha e fechando o enrocamento. O endereço do balneário é Avenida Portugal, certamente um nome mais atraente que o do Marechal...
Mais uma postagem especial! Ouvi alguém dizer que a URCA era a junção das sílabas iniciais da empresa URbanização CArioca. Bairro silencioso durante a semana e vista maravilhosa. Igreja N S do Brasil uma graça, com vista direta para o mar. Visitei uma vez o recinto do Teatro do Cassino e imaginei o frenesi do passado. Chacrinha ao vivo devia ser uma loucura. Dizem que a saída das chacretes era disputadíssima.O Cassino tinha seu charme. Tenho a impressão que o escorrega já foi maior.
ResponderExcluirMorar na Urca é o sonho de muita gente, e há casos como o de um senhor já "entrado em anos" que se dispunha a trocar sua exuberante residência alugada em um "imóvel tombado" nas imediações do Lido por um modesto apartamento na Urca. Não custa lembrar que o nome Urca é a abreviação de Urbanizadora Carioca. Mas devido às viagens frequentes que faz ao Canadá, o citado senhor talvez não tenha tido tempo para concretizar tal mudança, pois foi visto passeando com seu cão na Praça do Lido.
ResponderExcluirDiz o texto: "há cubículos para trocar de roupa....pode-se entrar aos pares e demorar quanto quiser." Enfim, essas cabines deviam ser uma libidinagem só....ahahah
ResponderExcluirNão sei não! Em um cubículo apertado como o da foto e sem janela, acho difícil que pudesse ter havido qualquer "ação" além de um "amasso". Quem quisesse arriscar "uma rapidinha" teria que ser em pé...
ExcluirBom dia Saudosistas. Hoje uma verdadeira aula sobre a construção deste prédio, bem como do próprio bairro da URCA. Só tive a oportunidade de conhecer a TV Tupy, mas na época o prédio já estava bastante degradado, sem manutenção adequada, depois veio o IED que fez um bela reforma, porém só na parte do prédio voltado para a praia, uma briga entre a associação de moradores e o IED não deixou que o prédio fosse totalmente restaurado, a alegação dos moradores é que a fluência de pessoas ao local e a falta de estacionamento inviabilizaria o trânsito na área. Pois bem agora, irão construir uma escola para a classe alta da sociedade, mas isso não irá afetar o número de pessoas transitando no bairro, muito menos ainda o transito naquela passagem coberta que divide os dois prédios, a associação de moradores não se manifesta contra a tal destinação do prédio. Será que até associação de moradores já estão recebendo propina também, ou será construído um helioporto para que os alunos possam ir a escola desfilando com os seus belos helicópteros. De qualquer forma é muito melhor ter um belo prédio deste restaurado, do que abandonado, esquecido e sem uso.
ResponderExcluirme Impressionou a quantidade de pessoas na praia e na varanda vista na última foto. As moças vistas nas portas das cabines, davam ajuda para a troca de roupa dos banhistas? Na foto 11 já naquela época observamos como o trânsito ficava congestionado na faixa de rua coberta, imagino como ficará quando a escola entrar em funcionamento.
Também já tinha lido que URCA era derivado de URbanização CArioca.
ResponderExcluirEntretanto, Claudia Gaspar, em "Orla Carioca", escreve que URCA é por causa do morro, que lembrava a forma de um veleiro holandês.
A "urca" é um navio veleiro, de grande porão, aparelhado com de três mastros redondos, usado para o transporte de mercadorias a partir da Idade Média. Era semelhante à fragata, e foi a predecessora da carraca e da caravela.
Típica da República Unida dos Países Baixos, foi empregada do século XI até XVIII. Podia ser armada e foi utilizada durante o conflito hispano-neerlandês.
No século XIV, as regulamentações inglesas impuseram maiores impostos às "urcas" ao contrário de outros navios, o que significava que eles estavam carregando mais carga do que outros navios. Esse fato aponta para um aumento no tamanho do casco das "urcas". Durante o mesmo século, a Liga Hanseática adotou a "urca" como seu principal navio, porque ele era capaz de rivalizar com a capacidade de transporte da coca.
Claudia Gaspar é autora e co-autora de vários excelentes livros sobre o Rio Antigo.
Fica aí aberta a discussão sobre o nome URCA.
O nome do morro já existia há séculos antes da urbanização. Para registrar a empresa é que souberam usar muito bem o nome do morro.
ExcluirTangenciando nos barcos, abordo o termo "paquete". Mensalmente vinha ao Rio, no tempo do império, um "packet-boat" , veleiro inglês, que hasteava bandeira vermelha para ser identificado ao longe e não bombardeado. Daí.....
ResponderExcluirBoa, não sabia.
ExcluirHá quase um século muita gente já devia dizer que esse Mundo estava perdido, que era o fim dos tempos. E até a pose das jovens em frente à porta das cabines passava como convidativa.
ResponderExcluirDona Carmen e Dona Carmela, nomes parecidos, duas senhoras reacionárias e poderosas junto aos Generais Franco e Dutra.
Será que nos alfarrábios da prefeitura tem o ano da abertura do primeiro caminho por terra até o Forte de São João (atual Av. São Sebastião)?
ResponderExcluirAlgumas fotos de hoje mostram o paredão do Morro da Urca "lascado" para a construção desse caminho.
LINO, a Associação de Moradores está brigando com a futura escola. Esta alega que não vai aumentar o tráfego, pois haverá vans que sairão da área do Canecão para levar os alunos.
ResponderExcluirCoisa para inglês ver.
Imagine se os "filhinhos de papai" vão saltar no Canecão para pegar uma van. Vão querer ir nas suas SUVs importadas e blindadas, com motorista e segurança, até a porta da escola.
Lembro que na reforma no Instituto tinha famílias morando dentro dos cubículos. Enfim Rio.
ResponderExcluirEm foto atual em 360°, obtidas em link "Praia da Urca" no Maps, é possível a partir da areia ver ao fundo algo parecido com as portas das cabines mostradas hoje.
ResponderExcluirEm tempo: impressionante como colocam fotos erradas nesse tipo de link. No caso tem no mínimo 2 fotos da Praia Vermelha, como se fosse Praia da Urca.
A praia da Urca e da Praia Vermelha foram minhas primeiras incursões infantis pelas praias cariocas, por volta de 1975/1976. Ia com minha mãe e uma amiga dela com o filho no chevette 75 da amiga.
ResponderExcluirEsses relatos do periódico "Rio Ilustrado" são de uma sutileza libidinosa.
Sempre achei que prolongar o caminho do leme pelo paredão até a praia vermelha seria uma ótima ideia para o turismo.
ResponderExcluirUm projeto que existe e outro bondinho até o forte do Leme. Não conseguem nem levar a Barca a São Gonçalo, imagina isso....