Esta
foto de O Globo, colorizada pelo Nickolas, mostra o aspecto da Av. Princesa
Isabel quando foi concluído o acesso. Conforme conta o Decourt, a abertura da Av. Princesa Isabel foi extremamente
tumultuada, principalmente no trecho após a Rua Ministro Viveiros de Castro,
onde de fato o larguíssimo traçado ia encontrando um grande número de construções.
Eram casas, lojas e
prédios muitas vezes de 8 e 10 pavimentos, alguns com menos de 10 anos de
construídos.
Com custosas desapropriações a avenida
foi sendo aberta, até chegar no quarteirão entre a Av. Atlântica e Copacabana.
Alguns imóveis chegaram a ser demolidos, mas o que fazer com o conjunto de pelo
menos 3 prédios residenciais, dois de frente para o mar e um hotel, o famoso
Vogue?
Para deixar os
custos com as desapropriações ainda mais altos, dos prédios o mais velho, o Ed.
Edmundo Xavier, tinha 20 anos, tendo sido um dos primeiros prédios com
linguagem moderna construído na orla em 1932. Os demais eram do início dos anos
40, construídos antes dos planos definitivos da nova avenida serem
definitivamente traçados. Nos planos anteriores a intervenção iria no máximo
até a Ministro Viveiros de Castro.
Tudo levava a crer
que a administração distrital nunca conseguiria resolver a questão, até que o incêndio da boate Vogue comprometeu
o prédio do hotel, condenando a
estrutura e propiciando sua demolição.
Com o imóvel mais
caro do quarteirão destruído ficava muito mais fácil a administração pública
desapropriar e demolir os prédios restantes, terminando assim a avenida. Curiosamente, como atesta essa imagem do acervo do Globo, o último
prédio a cair foi o primeiro a ser construído, o Edmundo Xavier.
Há alguns anos, ainda sem muita informação disponível, se discutiu muito a exata localização da Boate e do Hotel Vogue. Nosso arqueologista do Rio de Janeiro, Monsieur Rouen, conseguiu esta informação definitiva num antigo Guia Rex.
Rouen fez questão de mostrar a exata localização nesta foto do local.
No domingo, 14 de agosto de 1955, à tarde, a boate Vogue pegou fogo. Originando-se de um curto-circuito, o fogo em poucos instantes tomou proporções assustadoras, tomando conta do prédio. Três pessoas projetaram-se do edifício em chamas, estatelando-se no chão, ante o olhar da multidão. Um dos mortos foi o jornalista Raul Martins, encarregado da publicidade do Vogue e criador do “Índio” da TV Tupi. Estava num andar não alcançado pela escada "Magyrus".
Outra vítima fatal foi Pierre André Wan Rizswir. Também atirou-se do apartamento 1003, após esperar socorro por mais de uma hora, o cantor americano Warren Hayes. Morreram em apartamento, pelo fogo e pela fumaça, o conhecido casal Waldemar Scheller e sua esposa Glória.
A Imprensa criticou muito a atuação do Corpo de Bombeiros. Houve problemas com a escada “Magyrus”, não havia alto-falantes para os bombeiros se fazerem ouvir aos que se encontravam na parte superior do prédio, não colocaram uma rede protetora, nem refletores e várias mangueiras estavam podres.
A foto acima é do dia seguinte ao incêndio. A boate Vogue era do barão Max von Stuckart, um nobre austriaco importado pelo Copacabana Palace em 1944 como diretor artistico de seus shows musicais. O barão introduziu o conceito de pratos de boate, até hoje mais ou menos padrão no Brasil, cinco: Picadinho, Strogonoff, Camarão à Newbourg, Lagosta à thermidor, Supreme de frango à Kiev.
Aqui vemos Linda Batista e Jorge Goulart cantando com a pequena orquestra de Claude Austin.
Para terminar transcrevo um comentário feito no fotolog "Carioca da Gema" por alguém que se intitulou "ehabuzios":
É FOGO
Na parte da avenida que
dá para o Leme, na Avenida Princesa Isabel, aconteceu uma das maiores tragédias
da cidade. Ali, em frente onde era o Méridien, havia um outro hotel, chamado Vogue
— na época um dos mais sofisticados do Rio de Janeiro — em cujo andar térreo
ribombava uma boate, onde iniciou seu trabalho, como cronista social, o
jornalista Ibrahim Sued. Certo dia, em 1955, por volta das seis horas da tarde
de um domingo, na cozinha situada no primeiro andar, ocorreu uma explosão; as
labaredas subiram. O hotel estava, como de costume, cheio de hóspedes,
inclusive alguns internacionais — com destaque para um famoso cantor, o Dick
Haynes.
Eu morava na esquina e
estava em casa, quando fui chamado pelos amigos para ver o incêndio que se
iniciava. Tinha 14 anos. Lembro-me bem dos hóspedes olhando da varanda para
baixo. Ninguém pensava em descer, achando que logo o fogo seria debelado.
Porém, cresceu rapidamente, tomando o prédio todo, com seus doze andares. Na
ocasião, o Corpo de Bombeiros tinha escadas, que alcançavam apenas seis
andares. Os hóspedes vips costumavam ficar nos andares de cima, para melhor
apreciarem a vista da praia. Naquele momento, porém, o que era privilégio
tornou-se tormento e mesmo fatalidade.
Foi o caso do cantor
americano. Por volta das 20:00h, com o fogo se aproximando, tentou pular da
varanda do 10° andar até ao topo da escada, no sexto andar. Fez um voo
espetacular. Obviamente não conseguiu: bateu na escada, levando consigo o
bombeiro, que ali se postara para segurá-lo. Os dois despencaram. Pela primeira
vez na vida, vi e ouvi o baque surdo de corpos se estatelando no chão. A
multidão gritava. Animadas pela coragem do ato do cantor — ou pelo desespero —
outras pessoas, na mesma situação, se atiraram. Novos baques, novos gritos.
No mês seguinte, o
governo comprou as escadas Magirus, que alcançavam doze andares, há muito
reclamadas pelo Corpo de Bombeiros. Aí entendi porque meu pai, que vivia metade
do tempo nos Estados Unidos, sempre quis morar em andares baixos, no Brasil...
CONTAGEM REGRESSIVA: 4, 3, BUMMM
A presença do esqueleto
do hotel famoso, tirando a beleza da entrada de Copacabana, fez com que a
Prefeitura cuidasse logo da sua remoção. Seria a primeira implosão no país. A
imprensa falava nisso a todo instante.
Foi marcada para as 20:00h de um sábado — não se sabe, até hoje, o autor da
brilhante ideia de fazer uma implosão à noite. Centenas e centenas de pessoas
se plantaram ali, para assistir ao espetáculo até então inédito. Na hora
marcada, um locutor oficial da prefeitura fez a contagem regressiva: dez, nove,
oito, sete, seis, cinco, quatro — a multidão, nesse exato momento, pôs as mãos
no ouvido —, três... — Bummmmmm!! — O que foi? Explodiram as dinamites antes de
chegar ao zero! Tremenda poeira, tremendo susto. Quando a poeira desceu... nada
havia acontecido. O esqueleto continuava de pé. Foi uma decepção geral. O
locutor comunicou que a próxima explosão seria a instantes. O tempo passou. Por
volta de uma da manhã, o mesmo locutor informou que estava suspensa a operação.
Tinha sido como a queima de fogos de fim de ano. Aos poucos, as pessoas foram embora. Eu e a minha turma continuávamos, porém, acesos; só às três da manhã é que fomos dormir. Às cinco horas, outra tremenda explosão se ouviu. Sem avisar, a prefeitura implodira o prédio. Implodira-o, sem que houvesse nenhum registro fotográfico, dessa que foi a primeira implosão no Brasil. Pior: tinham mandado abrir todas as janelas, antes das 20:00h, para evitar que a explosão prevista naquela hora quebrasse os vidros, com o deslocamento do ar. Como havia sido suspensa, os moradores fecharam as janelas e foram dormir tranquilos. Resultado: a maior quebra de vidros da história da cidade."
Tendo em vista a existência de fortes interesses financeiros na demolição daquele prédio, teria o DFSP realizado alguma investigação para apurar as causas do incêndio? Teria sido proposital? O fato é que que o incêndio facilitou bastante os planos da Prefeitura do D.F.
ResponderExcluirBom Dia !
ResponderExcluirBom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirIncêndio bem conveniente, por sinal.
Fora isso, uma verdadeira aula.
Ficarei acompanhando os comentários.
Obs: sempre que há tragédias como essa, procuram dar uma renovada nos equipamentos dos bombeiros, especialmente se for em áreas turísticas. Nos dias de hoje, preferencialmente alegando emergência e dispensando licitação.
ResponderExcluirBem...como direi: Não é do meu tempo. Penso que essa Boate não era praça do DI LIDO, dado a idade, ou seja "dimenor". Mas sabemos que o terreno dele era a Boate Regine's, onde passava suas noite de "folga", ou seja quase que diariamente visto o nobre Conde nunca foi fã "batente". Informações contrárias podem mandar cartas para Redação.
ResponderExcluirNo passado não era incomum que incêndios misteriosos e "mal investigados" facilitassem os planos do Poder Público. Os incêndios ocorridos nas favelas do Pasmado em 1964, Macedo Sobrinho em 1966, e da Praia do Pinto em 1969, podem ter "facilitado as coisas" para o Governo do Estado da Guanabara.
ResponderExcluirDizem que nestes incêndios houve a mão da Sandra Cavalcante e Lacerda. Não se sabe se é mito ou verdade...
ExcluirO desespero causado pelo calor deve ser um horror. É o que explica o salto para a morte.
ResponderExcluirLi há algum tempo que o jornalista que morreu se atirou em direção à escada dos bombeiros que alcançava apenas alguns andares abaixo de onde ele estava. Chocou-se com um bombeiro, que ficou tetraplégico.
Não sei a legislação prevê que todos os prédios altos devam ter comunicação com os vizinhos.
Outra medida seria ter cordas em casa. Funcionariam?
Até que andar atingem as escadas atuais dos Bombeiros?
Confesso que se morasse em andar alto ficaria muito preocupado.
O gabarito dos prédios deveria ser limitado à altura máxima dos equipamentos disponíveis para resgate. Claro que as construtoras seriam contra uma medida dessas. E até o próprio governo...
ResponderExcluirDiriam que um sistema anti-incêndio eficiente resolveria...
Devido à baixa resolução, não é possível perceber se os trilhos de bonde seguem em frente ou viram à direita na Barata Ribeiro, o que poderia precisar a data da foto.
ResponderExcluirEu devia ter uns 15 anos quando fiquei chocado com o incêndio do edifício Astória na Senador Dantas. Nunca mais esqueci o drama das pessoas presas no alto do edifício tentando passar por uma escada para um prédio do outro lado da rua. Muitas não aguentaram o calor e se jogaram.
ResponderExcluirFalando de boates, fica a pergunta para quem conhece a vida noturna atual do Rio (não é meu caso):
ResponderExcluirAinda existem as boates do tipo "de antigamente" ?
Pequenas, intimistas, um piano e um diminuto palco ?
.
Mário, infelizmente esse tipo de boate é coisa do passado. Os fatores são muitos, principalmente a falta de segurança. A insegurança nas ruas e até a dos próprios estabelecimentos fica comprometida. Basta observar a quantidade de bares e restaurantes "de beira de rua" que são assaltados quase diariamente. O que se pode fazer? Eu até poderia dizer, mas "deixa quieto"...
ExcluirBom dia Saudosistas. O relato do comentarista "ehabuzios", dá a verdadeira dimensão do que é o Carioca, se solidariza com a tragédia e se diverte com o seu resultado. Até hoje no Brasil ou melhor no RJ, projetos de prevenção de incêndios, são mal elaborados, de longa tramitação junto ao CBERJ e dizem que quase sempre para a sua aprovação dependem de uma caixinha.
ResponderExcluirHoje acho que no RJ só sobreviveram as boates inferninhos em Copacabana, nos anos 70 haviam ótimas boates no RJ para se frequentar, algumas só eram frequentadas por pessoas VIPs que detinham carteirinha de frequentador. Acho que o empobrecimento da população acabou com este ramo de atividade na cidade.
Acho que o último incêndio de grandes proporções em prédios no Rio de Janeiro foi o do Edifício Andorinhas, na década de 80.
ResponderExcluirGostaria de ter frequentado boates como a Vogue. Música de verdade, todos elegantes, pocket-shows com bons artistas, grandes crooners. Copacabana e Leme tinham muitas.
ResponderExcluirImaginem a Maysa ou a Dolores Duran, ou mesmo um Dick Farney ao piano. Que maravilha.
O código de prevenção a incêndios no RJ, é relativamente recente (1976), o que explica a constatação do comentário das 9:31, o qual, por sua vez, contradiz a afirmação das 9:31.
ResponderExcluir..... a afirmação de 9:20
ExcluirAlém do calor das chamas a fumaça também pode ser insuportável e até fatal.
ResponderExcluirDesconfiei e fui conferir, o Rio comentava sobre o enterro da Carmen Miranda no São João Batista e o assunto ocupava as páginas dos jornais daquele 14 de agosto. Funeral que alguns consideram o de maior número de acompanhantes, superando os de Francisco Alves e Getúlio Vargas.
A edição da segunda-feira, 15 de agosto, do jornal A Noite tinha as duas manchetes em sua primeira página, já que não circulava no domingo e no sábado não deu tempo de incluir o enterro.
Incêndios um horror! Altas cargas para alimentar cidades verticais e ainda falta de fiscalização ; um problema. Também tem outro. Num determinado museu do Rio, se o diretor atendesse o bombeiro o IPHAN o prendia. Se cumprisse o que o IPHAN mandava o bombeiro prendia!
ResponderExcluirAlgo parecido com boate era o Bar do restaurante Antonino na Lagoa. Frequentei como estagiário de grande escritório em que algumas reuniões terminavam lá. Piano bar, crooner e garrafa Cutty Sark na mesa . Sempre pessoas conhecidas. Outro Rio!
O que você quer dizer com outro Rio? Não entendi
ExcluirUm Rio dessa época em geral, mais cordial, em qualquer camada social. Na noite sem briga com pessoas educadas. Hoje raro encontrar pessoas conhecidas de minha faixa etária nos eventos. Poucos querem sair de casa.
ResponderExcluiralugar um filme novissimo no netflix, 20,00. meia entrada no cinema 25,00 (ou mais) por cabeça, mais estacionamento, eventual lanche, etc
ResponderExcluirEm outro Rio (o Grande do Sul), um incêndio em boate deixou centenas de mortos e os processos se arrastam com anulações e manobras de advogados.
ResponderExcluirPois é, nesse caso foi divulgado na imprensa que uma das saídas de emergência a porta estava trancada e por trás desta porta havia na realidade uma parede.
ExcluirDiante do histórico de todos os grandes incêndios no Brasil e da punição de seus respectivos responsáveis, chega-se à uma conclusão digna de um "país de M...", pois a partir do incêndio na Boate Vogue em 1955, incluindo-se todos os grandes sinistros conhecidos, apenas o incêndio no Circo em Niterói ocorrido em Dezembro de 1961 no qual foram a óbito mais 500 pessoas, teve seus responsáveis julgados e condenados exemplarmente em curto espaço de tempo, e sabem o porquê? Porque seus responsáveis não eram "pessoas poderosas" e o crime não envolvia grandes interesses de pessoas, entes federativos, ou corporações. No mais, ficou tudo "ela$ por ela$".
ResponderExcluirincendio suspeito esse. acontece e tudo fica mais fácil de resolver...
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