A partir de uma publicação da prezada Conceição Araújo vamos revisitar um automóvel que chamou muito a atenção em meados do século passado: o Romi-Isetta. Algumas fotos são da Fundação Romi.
Vemos o desfile promovido
no Rio de Janeiro pelo cineasta Anselmo Duarte -- em conjunto com o Romi-Isetta
Club -- para o lançamento do filme “Absolutamente Certo”, em 1957.
Lembro de ter visto este
filme no cinema Rian. O argumento era baseado nos programas de perguntas e
respostas, tipo “O céu é o limite”, que faziam muito sucesso na época. No
filme, o personagem respondia sobre números de telefone, já que sabia a lista
inteira de cor.
Parte dos carros vieram de SP, pela via Dutra. O Rio, cidade famosa por não se assombrar com nada, parou para ver o desfile da Romi. Era uma caravana de quarenta Romi-Isettas, tendo à frente Anselmo Duarte, Dercy Gonçalves, Odete Lara, Aurélio Teixeira, Liris Castelani (bailarina que era o grande símbolo sexual do momento), Camilo Sampaio (na época um dos melhores diretores de produção do cinema nacional).
Saindo de São Paulo no
dia 11 de janeiro, os carros foram para o Rio, desfilaram por lá e regressaram
no dia 14.
Na rara foto colorida,
vemos a caravana de Romi-Isettas estacionados na Praça Salgado Filho, defronte
ao aeroporto Santos Dumont. Em primeiro plano, o característico Romi-Isetta
branco com faixas vermelhas do piloto e preparador Emilio Comino.
Foto: Centro de
Documentação Histórica da Fundação Romi.
Concentração de
Romi-Isettas diante do Hotel Riviera, em Copacabana, Rio de Janeiro. Este hotel ficava no Posto 6, na Av. Atlântica, vizinho à Rua Rainha Elizabeth.
Foto: Dino Pagni
O cortejo desfila pela Av. Atlântica em direção ao Túnel Novo.
A caravana de Romi-Isettas na Praia de Botafogo, em direção ao aeroporto Santos Dumont.
A ideia era que este fosse um carro popular, para operários. Mas o preço nunca foi tão baixo assim que permitisse a compra por esta classe.
Em 21 de maio de 1959,
pesadas chuvas no Rio deixaram um rastro de destruição. Na Rua Humboldt, em
Bonsucesso, este Romi-Isetta teve de ser amarrado a um poste para não ser
levado pelas águas. Este Romi-Isetta foi um dos doze produzidos especialmente
para a Cervejaria Rio Claro, então dona da marca Caracú. Os carros eram
pintados inteiramente em amarelo e apresentavam uma pintura na porta dianteira,
com alusão à marca.
Foto: Arquivo/Agência O
GLOBO
O Centro de Documentação
Histórica da Fundação Romi-Isetta preserva e disponibiliza a história do
primeiro carro de fabricação nacional que foi lançado oficialmente no dia 5 de
setembro de 1956. Na imagem acima vê-se um catálogo com especificações técnicas
do veículo de 1957.
A propaganda dizia:
O único automóvel que oferece todas estas características revolucionárias:
26km por litro de
gasolina
Partida imediata em qualquer
tempo
Tanque auxiliar de
gasolina
Primeiro carro no mundo
com visão total dos 4 lados
Estrutura rígida em tubo
de aço
“Agarra a estrada em
todas as velocidades (85km/h máximo)
Capota conversível
Peças genuínas a preços
de fábrica
Revisões gratuitas até os
primeiros 2500km
Estacionamento em apenas
1,50 de espaço livre
A propaganda era feita pelo então casal John Herbert e Eva Wilma, que faziam grande sucesso na época com o programa de TV "Alô, doçura".
O anúncio indica a Auto-Central Ltda. como concessionária no Rio, à Rua Real Grandeza, em Botafogo.
Em reportagem no CARROETC,
no Globo, o Jason Vogel contou a história do Romi-Isetta, que começou em 1930,
quando Américo Romi abriu uma oficina em Santa Bárbara do Oeste, SP. Depois
criou uma fábrica de implementos agrícolas e, com a 2º Guerra Mundial começou a
produzir tornos.
Carlos Chiti, enteado de
Romi, soube da existência da Isetta ao ler uma revista italiana. Originalmente
produzido pela indústria de motonetas Iso, em Milão, o modelo era um dos muitos
microcarros surgidos na penúria do pós-guerra europeu. Ele sugeriu ao padrasto
fabricá-lo no Brasil.
Dois Isetta foram
importados para descobrir se o projeto era viável. A empresa Tecnogeral se
prontificou a estampar as carrocerias, fazer os chassis e mandar tudo montado e
pintado para Santa Bárbara do Oeste. A Pirelli concordou em fornecer peças. A
Romi faria a transmissão, a direção e as rodas, além da montagem final do
carrinho. Só o motor seria importado.
Em 30 de junho de 1956
saiu o primeiro carro da linha de montagem. A produção acabou em 1961, com três
mil unidades produzidas. A fábrica voltou a fazer tornos, sendo uma das dez
mais do mundo nesta produção.
Bom Dia ! Lembrei do vendedor da Caracu aqui da área. Era um cara grandão e como se dizia na época , um boa praça . Teve dificuldades para conviver com o carrinho em que mal cabia dentro.
ResponderExcluirUm carro que seria um grande sucesso de vendas caso fosse produzido na Europa, mas nunca no Brasil. Aqui a realidade de um preço elevado e a péssima qualidade da pavimentação de ruas e estradas inviabilizariam qualquer projeto desse tipo. Deve-se levar em conta o fato de que naquele tempo o Brasil era um país seguro e ainda civilizado onde o risco de ser assaltado ou ter o veículo furtado em via pública era mínimo, bem diferente no "narco-estado" em que se transformou o Brasil atual, onde o roubo de veículos acontece de forma corriqueira.
ResponderExcluirEu não entraria num de jeito nenhum. Pior que Kombi onde os joelhos eram os parachoques. Qualquer batidinha era morte certa.
ResponderExcluirEssa porta que abria para frente era muito estranha.
Vir pela Dutra até o Rio deve ter sido uma aventura e tanto.
Esse carro não oferece a mínima segurança para o motorista. Naquela época o preço da gasolina era de somenos importância. O motor era dois cilindros? Quanto a ser um "carro popular", esse conceito é muito relativo até mesmo nos dias atuais. Em 1933 o Volkswagen foi lançado na Alemanha com esse objetivo. No Brasil dos anos 60 uma deplorável iniciativa do Governo Militar lançou no mercado carros desprovidos dos minimos requisitos para rodar, como o "Pé de Boi" e "Teimoso", que não tinham luzes externas, marcador de gasolina, e o revestimento interno era de "eucatex".
ResponderExcluirBom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirDia de acompanhar os comentários. Só devo ter visto ao vivo, salvo engano, em alguma exposição de carros antigos. Em tempos de "banheiras" sobre rodas era uma exceção, com seu espaço bem compacto. Deixava a desejar no quesito segurança, nada diferente de outros modelos.
Diria que foi um precursor dos carros mini, mas deixo para os especialistas.
Este carrinho era fruto de uma "join venture" da Romi, fabricante de máquinas, e a BMW. Cheguei a trabalhar com injetoras de plástico da Romi, cuja marca também é muito famosa na fabricação de tornos. A fábrica fica em Santa Bárbara D'Oeste, na Anhanguera.
ResponderExcluirO projeto do carro não durou muito, faltava potência e estabilidade.
FF: nos próximos dias está prevista uma virada radical no clima, no rastro do ciclone que está assolando a região sul. De hoje para amanhã pode ter uma queda de mais de dez graus, com ventania e ressaca. Já houve queda de árvores na BR-040.
ResponderExcluirEu tive um Romi-Isetta e andei muito por aí. Vou mandar a foto para o Luiz.
ResponderExcluirLembro de ter visto um quando eu era criança, meados da década de 60.
ResponderExcluirChamava a atenção.
Melhor que veículos de duas rodas e side-car, esse também extinto.
Fui uma vez na Romi na Zona Oeste da cidade de São Paulo, para buscar uma peça de torno para empresa onde eu trabalhava, início dos anos 80. Fui de ônibus, com a cara e a coragem, sem conhecer nada fora do centro. Até que os paulistanos tinham boa vontade para tentar explicar o "como chegar", porém muito enrolados. Demorei, mas cheguei lá.
Não sei dizer se era uma filial ou só depósito de distribuição.
Boa tarde Saudosistas. Era uma novidade com a respectiva tecnologia disponível no País na época. Era óbvio que não iria deslanchar, assim como não deslanchou o carrinho verdadeiramente nacional projetado e desenvolvido no Brasil, o Gurgel, a falta de incentivo, uma economia tipo montanha russa (sobe e desce, alta velocidade e quase parando), assim como as pedras colocadas no caminho pelas montadoras estrangeiras, nenhum empreendimento nacional neste País vai adiante, principalmente na área automobilística. Agora o novo governo lança um programa para venda de carro popular, será mesmo um carro popular que custa R$ 60.000,00? As montadoras vão novamente fabricar carros sem qualquer tipo de acessório moderno e usando os materiais de baixa qualidade para reduzir o preço do carro. Na minha opinião o pobre não precisa de carro, ele precisa de transporte urbano em quantidade, qualidade e preço justo.
ResponderExcluirÉ isso mesmo! Um eficiente transporte público seria o ideal para a classe pobre. Iam economizar em combustível, IPVA, seguro, e manutenção. Existem muitos carros caindo aos pedaços rodando por aí atrapalhando o trânsito.
ResponderExcluirCarrinho (???) fadado ao fracasso, pelo menos a venda em larga escala, por vários motivos já elencados acima.
ResponderExcluirEssa foto dele acorrentado ao poste, em Bonsucesso, é estranha, mas a enchente era corriqueira. Hoje está um pouco melhor. Pelo menos nisso, não dá saudades do passado nessa região.
Juros estratosféricos inibem qualquer investimento produtivo, seja lá em qual área for. Alguns se dão bem com isso, mas a maioria já está arregaçada. E o presidente do BC não se comove... pudera, dorme tranquilo todas as noites.
Campos Neto faz bem em manter os juros altos. Não há receita mágica para conter a inflação se não houver redução de gastos públicos e um enxugamento da máquina pública. Manter os juros em um alto patamar é o mínimo que ele poderia fazer.
ExcluirPara um registro mais preciso nos alfarrábios, o prédio da foto do Romi-Isetta amarrado ao poste é na esquina da Humboldt com a Av. dos Democráticos, agora cheio de puxadinhos na laje, mas ainda deve estar com aquela esquadria original entre as varandas, conforme ainda aparecia em imagens do Street View do ano passado.
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