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terça-feira, 27 de abril de 2021

BONDE PENHA

Relembrando os FRA (Fotologs do Rio Antigo), como o “Rio de Fotos”, do Derani, e o “Zona Norte”, voltamos à Penha. Neste bonde lotado, o 94, fico imaginando a dificuldade do "condutor" executar seu trabalho. A propósito transcrevo um relato que bem descreve a situação:

“Meu pai foi condutor (cobrador) da linha Penha-Praça Mauá desde os meados dos anos 40 até quando os bondes desapareceram em 1962 ou 1963. A chapa do meu pai era 5056. Um "bonde" era composto do "motor" (o primeiro carro) e o "reboque". Aquele que conduzia o bonde chamava-se "motorneiro" e os dois que cobravam (um no motor e o outro no reboque) chamavam-se "condutores". Em certos pontos da linha "fiscais" (uniformizados) controlavam os condutores comparando o número dos passageiros marcados no relógio (visível ao alto no início do motor e do reboque), com os passageiros no bonde e também com a "guia fiscal" (registro de papel onde os fiscais faziam anotação do número de passageiros e portados pelos condutores). Os "fiscais" eram fiscalizados pelos "inspetores", estes em número bem reduzido. A cada passageiro que pagava o condutor registrava a passagem no relógio. Isto era lançado no final na "guia fiscal" e as contas eram prestadas na "garagem" de bondes ao lado do Parque da Penha.

No fim da tarde o meu pai estava com todos os bolsos da calça e do paletó completamente entulhados de dinheiro que não era dele e sim da Light. Nunca foi assaltado durante o trabalho e a caminho de prestar contas. Tampouco nenhum colega dele daqueles tempos havia sido roubado ou assaltado. E o meu pai foi condutor de bonde por mais de 30 anos!!! Meu pai ia almoçar em casa e levava o dinheiro (notas/moedas) arrecadado durante parte do dia (primeiro turno). Eu o ajudava a organizar montes de 1 cruzeiro (Tamandaré), 2 cruzeiros (Caxias), etc, e também a fazer canudos de papel com as moedas do mesmo valor. Ele voltava ao trabalho, trabalhava o segundo turno, arrecadava mais dinheiro durante o dia. Muitas vezes prestava contas tarde da noite. Nada de roubos e assaltos.” 

O bonde da foto está pronto a dobrar à esquerda e entrar na famosa Rua dos Romeiros onde era ponto final da linha Penha-Praça Mauá e Penha-Madureira. O bonde acaba de passar em frente de um túnel (passagem sob a linha férrea) que foi construído por iniciativa do vereador/deputado Mourão Filho no início dos anos 60 e como tal passou a ser chamado de "Buraco do Mourão".

Na esquina vê-se um bar com as iniciais "Cerve...". Ali se desfrutava de um bom caldo de cana com pastel, nos anos 50 e início dos anos 60. No início dos anos 50 construíram o Cine São Pedro que durante alguns anos era o maior cinema do Rio. Simplesmente enorme. Vemos a roda gigante ao fundo, abaixo da Igreja da Penha, onde havia as famosas Festas da Penha de outrora. Entrava-se neste parque ao som de "Cerejeira Rosa" (mambo de Perez Prado) e dos chorinhos "Brasileirinho" e "Pedacinhos do Céu".


Nesta foto do bonde 93, vemos o bonde "Penha" na Av. Suburbana. Segundo o Helio, o trajeto do 93 era:     IDA: Praça Mauá - Acre - Marechal Floriano - Praça Duque de Caxias - Presidente Vargas (lado par) - Francisco Bicalho - Francisco Eugênio - Figueira de Melo - Campo de São Cristóvão - São Luís Gonzaga - Largo de Benfica - Av. Suburbana - Democráticos - Uranos - Ibiapina - José Maurício - Romeiros - Largo da Penha.                                                                           VOLTA: Inverso da ida até a Praça. Duque de Caxias, e daí em diante Praça Cristiano Otoni - Senador Pompeu - Camerino - Sacadura Cabral - Praça Mauá.

Imagino a dificuldade do ciclista em pedalar pela avenida de paralelepípedos, alagada, o meio de bondes, lotações, caminhões e automóveis.

31 comentários:

  1. Olá, Dr. D'.

    Hoje o meu bonde é o Clouseau. Vou acompanhar os comentários.

    Salvo engano da minha parte, a primeira foto é de um dia de greve de ônibus. Na última foto tem um bebê na bicicleta. No outdoor a propaganda do Grapette, ainda encontrado no mercado.

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    1. Está corretíssimo, foi na greve de ônibus de janeiro de 61.

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  2. Eu só fico pensando na tranquilidade dos passageiros que apesar de um relativo desconforto, sabiam que não corriam perigo de serem assaltados. A terceira foto mostra o bonde próximo à passagem de nível que havia em Benfica, passagem essa eliminada com a construção do Viaduto nos anos 60. Ali é o início atualmente da chamada "faixa de gaza", uma denominação totalmente descabida e injusta para com o "sítio palestino". Segundo se sabe, as viagens dessas linhas eram longas e só perdiam para a linha 78.

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  3. Bom Dia! Na foto 3, me parece que aqueles dois telhados sejam do quartel do Exercito que existiu onde hoje é um conjunto habitacional. Hoje faltam 7 dias.

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    1. Tenho minhas dúvidas Mauro. Se é como você diz o quartel está depois da curva. Na sua opinião o bonde está "indo ou voltando da Penha?

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  4. Os bondes da região da Penha foram erradicados, salvo engano, em Julho de 1964. Lembro do comentário do "Irajá" narrando o ocorrido na madrugada de primeiro de Abril de 1964 quando após blindados do Exército destruírem a pavimentação de placas de cimento da Edgar Romero acabaram por danificar os trilhos de bonde. Somente em Setembro de 1965 foi inaugurado o sistema de Trolley-buses na região da Penha e em 66 em Madureira e Jacarepaguá.

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  5. Como peguei o final da era dos bondes, pergunto: era permitido passageiros posicionados na frente do motorneiro, tirando sua visão ou seria um dia atípico? o motorneiro está sorrindo, na certa uma bela moça estava tirando a foto com a sua Leika.

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  6. Bom dia a todos. Fotografias de Rio de Janeiro que poucos ainda tem na lembrança, o bonde como principal meio de transporte coletivo, uma população humilde e trabalhadora, em poucas décadas só restarão as imagens destas fotografias, nos museus e nas redes sociais, porém sem as lembranças e as memórias daqueles que a vivenciaram. Como um comentário do dia de ontem. Como será a realidade deste logradouro daqui a meio século, comparando com as fotos deste início de segundo milênio?

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    1. Quer mesmo saber como será a realidade da Penha em 2071? Não é um tarefa difícil. Com o fechamento de indústrias, depósitos, e armazéns da região, devido ao aumento da favelização, do tráfico de drogas, e da violência, a região dos subúrbios da Leopoldina se tornou uma das mais perigosas do Rio. Do jeito que que "as coisas estão indo", e com favelas abrigando a maior concentração de criminosos do hemisfério sul, em 2071 toda a região será uma imensa crackolândia e sua proximidade com o complexo da Maré tornará a vida do cidadão carioca o pior dos pesadelos.

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  7. Na terceira foto, o ciclista carrega uma criança! e ainda tem de lutar contra as terríveis condições do caminho.

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  8. Vemos que já naquela época os consumidores de transporte público já eram tratados como gado. Os tempos mudaram e a lotação continua.
    Na delação premiada da fetranport consta que as próprias eram pagas com as sobras do vale transporte não usados...Rio....

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  9. Sugestão de slide show com fotos bem antigas sobre o tema de hoje:

    https://player.slideplayer.com.br/24/7306566/#

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  10. O intervalo entre um bonde e outro era muito grande? Pergunto por que não sou da época e sempre me espanto com essas imagens de bondes lotados com pessoas penduradas do lado de fora. Não compensava esperar o próximo? Havia poucos bondes nas linhas? Ou o pessoal gostava mesmo de se arriscar?

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    1. Prezado Karl, depende da época. Tenho um amigo, de 93 anos, amantíssimo de bondes, que relata a precisão dos horários dos bondes antigamente. Com o aumento do tráfego rodoviário nas mesmas vias que os bondes, aí degringolou tudo.

      Quanto a pessoas no estribo, havia o caso da superlotação mas também dos que gostavam de viajar assim, como eu, a partir de certa idade, mesmo com o bonde vazio.

      Mas havia muitos acidentes com os pingentes e com os que tentavam pegar ou saltar do bonde em movimento. Muita gente perdeu as pernas ou morreu fazendo isso.

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    2. Obrigado, Hélio.

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  11. Atendendo a pedidos estamos com postagens da Zona Norte aos borbotões.

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    1. Em breve, protestos quanto à falta de postagens sobre Zona Sul rsrs

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  12. Difícil é saber a localização da primeira foto.
    Da foto 2 é possível informar que o prédio da "Cerve..." ainda estava lá bem conservado até pouco tempo, na esquina da Rua dos Romeiros.
    O belo prédio do Cine São Pedro foi demolido, ficava onde agora é agência da Caixa. Uma pena não terem feito um "retrofit" na construção, como se diz hoje.
    Na última foto, o viaduto lá atrás é do ramal ferroviário que vai para o Caju. É visível o guarda-corpo da plataforma "de fuga" para quem estivesse andando pela linha férrea e algum trem estivesse se aproximando.
    O alargamento da Suburbana mudou tudo por aí, menos o viaduto ao fundo.
    O ciclista com certeza ficava mais apavorado com a aproximação do lotação, que já vinha sedento, levantando poeira após "abrir" na curva. Do bonde pelo menos se tinha uma noção de espaço pela posição dos trilhos.

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  13. Na segunda foto o tal prédio do pastel com caldo de cana na Rua José Maurício está lá até hoje. Do lado ainda existia um campinho pra jogar peladas, coisa rara hoje em dia.
    O cinema São Pedro, segundo relatos do meu sogro, era enorme mesmo. Fazia parte do "roteiro": Parque Shangai, pra "paquerar"; levar a "presa" para comer uma pizza com vitamina na lanchonete Pax e finalizar numa sessão noturna no dito cinema, isso com a devida permissão do "broto", é claro...rsrs

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  14. A primeira foto foi tirada num dia de greve dos transportes rodoviários. O bonde provavelmente era o 2024, já que a seção Penha só tinha três bondes desse tipo: 2024, 2047 e 2067. Com os reboques 2448, 2449 e 2450.

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  15. Se não me falha a memória, o Deputado Mourão Filho foi dono do Colégio Cardeal Leme, localizado em Ramos. Também foi muito ligado ao Olaria Atlético Clube e até a filha dele foi deputada e/ou vereadora.
    Em tempo: não confundir com o general que precipitou o golpe de estado a partir de Juiz de Fora. O Alto Comando já teria programado o movimento das tropas para depois da Marcha da Família de 2 de abril no Rio.

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    1. O Dr. Mourão Filho, não sei se o deputado ou o filho, era médico radiologista e trabalhava no Hospital de Bonsucesso. Também tinha uma Clínica Radiológica, acho que na Rua Uranos, onde o "faz-tudo" era o técnido Dominguinhos, grande figura.

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    2. Luiz, o radiologista é o filho, Antônio Mourão Neto, que chegou a se candidatar a deputado mas perdeu. Na época o voto era em papel e gritado numa mesa para ser anotado, segundo me contou, cada vez que um leitor de votos gritava seu nome de registro MOURÃO NETO, pouco conhecido, era anotado mais um voto para o Amaral Neto. Parece piada, coisas da nossa política.

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    3. Exato. Agora me lembrei. Mourão Neto. Enviei muitos pacientes para a clínica dele quando trabalhei em Bonsucesso.

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    4. O nome oficial do Estádio do Olaria é Antônio Mourão Vieira Filho, conhecido popularmente como Estádio da Rua Bariri

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  16. Havia duas linhas da cidade para a Penha: a 93 (Penha - Praça Mauá) e a 94 (Penha - Largo de São Francisco).

    Fora essas, a Penha só dispunha de mais uma linha, a 97 (Madureira - Penha).

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  17. A Penha tem muitos imóveis degradados, sejam residenciais ou comerciais. Motivos não faltam, mais a dupla violência/pobreza que migrou para seus morros foi a principal delas.

    Uma prima que morava na rua do Hospital Getúlio Vargas vendeu um bom apartamento a preço de banana pois não aguentava mais sofrer com tantos tiroteios na região. Mudou-se para o Maracanã.

    Outra coisa que não me faz passar mais pela Penha é o trânsito absurdamente lento na Av. Brás de Pina, por causa do BRT. O trânsito ficou moroso demais.

    Essa foto do bonde apinhado de pessoas me faz lembrar os trens que carregavam um número excessivo de gente, que viajavam de portas abertas e com "surfistas" em cima dos vagões.

    O carioca realmente precisa ser estudado pela NASA.

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  18. Andava muito de bonde nos meus tempos de Colégio Militar. Ia de ônibus e muitas vezes pegava na volta um bonde até a Central e embarcava no 13 rumo à Urca. Depois, já morando em Copacabana, ia de bonde até a Praça da Bandeira e ali perto pegava o lotação Francisco Sá-Leblon.
    Uma vez, andando no estribo em Copacabana, uma daquelas traves laterais se desprendeu e caiu sobre minha cabeça com o bonde em movimento, perto da Figueiredo Magalhães. Tentei dar uma de valente na hora, mas só não caí porque um senhor me agarrou pelo braço. Ganhei um galo digno daqueles do buldogue do Tom e Jerry.

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  19. Amei esse blog! Parabéns pelo trabalho!

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  20. Como tudo no "Subúrbio" chegava com atraso e apesar dos bondes da Penha terem sido erradicados em 1964, os "Trolley-buses" só foram implantados na região em Setembro de 1965. A linha E-20 - Méier (Vieira Fazenda) Penha atendia a região em um périplo de 26 Km. A antiga garagem de bondes da seção da Penha passou a abrigar os Ônibus elétricos.

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  21. Uma curiosidade: sobre o último bonde que transitou por Copacabana, o milhar deu na cabeça no bicho do dia seguinte.

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