O
prezado Carlos Paiva chamou a atenção para as fotos aéreas do Jorge Kfuri, que estão
fazendo 100 anos de vida e enviou algumas. Nascido na Síria em 1893, veio para
Brasil jovem e começou a trabalhar como fotógrafo do jornal A Noite. Descobriu
a foto aérea e daí não parou mais. Em 1921 foi contratado pela Marinha para
explorar a foto aérea como atividade militar. Serviu como 2° Tenente,
sofreu diversos acidentes, alguns com certa gravidade, fez dezenas de viagens
pelo Brasil e, em 1941, passou para a Aeronáutica servindo no Gabinete do
Ministro. Em 1957 foi condecorado pelo JK e em 1959 aposentou-se vindo a
falecer em 1965.
Acervo do Serviço de Documentação da
Marinha. Vista geral do atual bairro do Santo Cristo, região conhecida
anteriormente como Saco do Alferes. Toda a área na metade inferior da foto foi
criada graças aos aterros realizados para as obras do porto do Rio, no início
do século XX. Ao centro, a Igreja de Santo Cristo dos Milagres, que deu nome ao
bairro.
Área da Glória/Catete com a igreja do
Outeiro da Glória e parte do que me parece primeiro campo do Flamengo, à
esquerda, no alto.
Laranjeiras, com destaque para o campo do Fluminense no centro da foto.
A Praça Mauá.
Nesta foto aérea da Aviação Naval temos a antiga paisagem do Posto 4, na Avenida Atlântica. O elegante Hotel Londres, à direita, de frente para a praia, foi demolido por volta de 1940. Próximo a ele, o castelinho em que morava o médico e Barão Jaime Luiz Smith de Vasconcelos, construído em 1915 a partir do projeto do arquiteto Virzi, demolido em 1964. A Av. Atlântica já aparece pavimentada e duplicada, obra do Prefeito Paulo de Frontin em 1919. E aparece em reformas já que a grande ressaca de 1920 a destruiu em parte, levando o Prefeito Carlos Sampaio a refazer muitos trechos. A largura que a avenida tinha nesse período se manteve a mesma até 1968, quanto foi ampliada. Note-se as casas baixas e inúmeros terrenos ainda vazios em Copacabana.
Uma dúvida que sempre tive em relação ao Posto 4 era por que as ruas Raimundo Correa e Dias da Rocha não chegavam até a praia como a maioria das outras neste trecho. O Decourt me explicou: “Copacabana tinha 4 grandes proprietários de terras, a Empresa de Construções Civis, Gardone Constante Ramos, Felisberto Peixoto e Guimarães Caipora. A região do posto IV era o local de intercessão desses 4 proprietários, a Empresa de C. Civis tinha seu terreno do Leme até a rua Siqueira Campos, tanto que a Barata Ribeiro se interrompia aí, voltando a sua propriedade apenas na rua Francisco Sá. Já Constante Ramos tinha a sua propriedade serpenteando pelas encostas do Morro dos Cabritos desde a rua Santa Clara (o lado ímpar dessa rua no quarteirão superior era dele, pegando um trecho da rua Tonelero e indo até a Av. Copacabana, fechando então com as terras de Guimarães Caipora no meio do quarteirão entre as atuais Barão de Ipanema e Bolivar, aí as terras desse faziam um “L” indo até a praia até encontrar com as terras da Cia. de Construções Civis na rua Siqueira Campos. Felisberto Peixoto era dono de todo o vale dos morros São João e Cabritos até a rua Barata Ribeiro, onde suas terras faziam um dente com os terrenos que foram do Dr. Figueiredo de Magalhães e conflitavam no meio do quarteirão entre as ruas Anita Garibaldi e Santa Clara com os da família Constante Ramos.
ResponderExcluirHavia ainda outros capitalistas, que possuíam pequenos lotes de terras, quarteirões é verdade, mas que nem chegavam ao volume de terra desses quatro, entre eles o Barão de Ipanema, que possuía praticamente todo o bairro homônimo, mas muito pouco em Copacabana. Esse tipo de organização fundiária criou inúmeras ruas que tinham alinhamento, mas não se comunicavam, sendo depois interligadas, como o caso da Barata Ribeiro com a Pereira Passos, fundidas nos anos 20.
Por essa particularidade, a rua Dias da Rocha e a rua Raimundo Correa nunca chegaram ao mar, pois Guimarães Caipora, vendeu seus terrenos antes da Família Constante Ramos abrir as suas ruas.”
Que aula! Fascinante conhecer esses detalhes que moldaram as ruas da cidade. Sempre achei curioso aquele final (ou início) da Nsa. de Copacabana que faz uma curva na esquina com Antonio Vieira no Leme.
ExcluirBom Dia! Vou acompanhar os comentários. Faltam 20 dias.
ResponderExcluirOlá, Dr. D'.
ResponderExcluirO acervo de fotos aéreas do J. Kfuri daria para várias postagens. Algumas delas foram reunidas em um livro anos atrás.
Seria parente do outro J. Kfouri, apesar da grafia diferente?
Olhando de cima observa-se que a cidade já possuía grande complexidade já nas primeiras décadas do século passado.
ResponderExcluirNa Praça Mauá ainda não existia o edifício "A Noite"?
Será que o Kfuri andou pelos subúrbios? Digo isso, pois já vi fotos aéreas antigas do Campo e Fábrica do Bangu; e também de Realengo da década de trinta, com destaque para a antiga Escola Superior de Infantaria e a Fábrica de Cartuchos e Munições.
O prédio d'A Noite (Edifício Joseph Gire) foi levantado na esquina da praça com a Avenida Rio Branco, lado par, entre 1927 e 1929, onde anteriormente ficava o Liceu Literário Português, que aparece na 4ª foto. À época da inauguração, era o edifício mais alto da América do Sul, título que manteve até 1934, suplantado pelo Edifício Martinelli.
ExcluirIncrível a nitidez das fotos. Onde será que se consegue consultar todas?
ResponderExcluirQuanto ao antigo campo do Flamengo, não seria na terceira foto, canto inferior esquerdo?
Há um livro sobre a Aviação Naval que tem muitas. Na própria internet também.
ExcluirSim, me parece o campo do Flamengo. Aí do lado ficava também o Paissandu Atlético Clube que depois foi para Copacabana e finalmente para o Leblon.
O Decourt é cópula!!
ResponderExcluirAcho que temos a explicação para o Bairro Peixoto. O fato é que não houve planejamento macro em Copacabana. 2 praças grandes como em Ipanema. E à medida que os prefeitos iam liberando gabaritos os prédios iam subindo.imagino que a infra estrutura subterrânea (esgoto ,energia) seja um caos. E quanto prédio de quitinetes na NS Copacabana. Bela memória .
ResponderExcluirMeu pai foi ajudante de ordens do Salgado Filho, o primeiro Ministro da Aeronáutica e tinha muitas fotos dessas do J Kfuri. Gostávamos de reunir os amigos, no final dos anos 50, para ver o que tinha mudado na Zona Sul e principalmente no Posto Seis, onde morávamos. Minha mãe jogou tudo fora em uma mudança.
ResponderExcluirEssas fotos são um arquivo de valor inestimável, principalmente se usadas comparativamente com fotos atuais. Podem inclusive ser parte integrante de uma "tese" que poderia se chamar "Ascensão, queda, e destruição de uma cidade outrora maravilhosa". Quanto ao fato de existir uma "aviação naval" na Marinha de Guerra no Brasil, chega a ser uma piada se comparada com nações civilizadas que efetivamente possuem uma "Força Aérea" controlada pela Marinha de Guerra.
ResponderExcluirBom dia a todos. Dia de acompanhar os comentários. A foto da Pça Mauá merece um destaque, que foto espetacular.
ResponderExcluira livraria Argumento editou um livro com essas fotos. deve ter no estante virtual, hj de propriedade da Magalu.
ResponderExcluirUma igreja de costa para o mar é fato raro.
ResponderExcluirOs trilhos estão de volta à Rua Santo Cristo, ali no trecho bem à esquerda, só que agora para um bonde chamado VLT.
Na foto da Glória podemos ver o campinho da Praça do Russel. O jornalista Mário Filho contou em livro que, em 1912, um certo clube de regatas aceitou receber os jogadores "amotinados" de uma agremiação de futebol. O novo time rubro-negro criou então o departamento do esporte "bretão", para desgosto de alguns de seus sócios mais tradicionalistas do remo, que conseguiram no máximo evitar que os futebolistas usassem o mesmo design da camisa dos remadores e, claro, nada de gastar com um campo para eles, que apelaram para a praça no Russel para seus treinos. Foram os primeiros pontapés para a popularidade do clube, pois afinal eram os ídolos campeões de 1911 treinando no meio do povo.
O time titular do Fluminense tinha oito jogadores do time informal do Flamengo, que não aceitava a prática do esporte oficialmente pelo clube. Por ciumada de sócios do Fluminense os jogadores resolveram sair e conseguiram que o Flamengo os abrigasse. Se esses jogadores tivessem permanecido no Fluminense e lá encerrado suas carreiras o Flamengo hoje seria no máximo um modesto clube de regatas como o Gragoatá. Criaram o monstro...
ExcluirNa foto de Laranjeiras podemos ver que o campo do Fluminense tinha posição diferente da atual.
ResponderExcluirNa foto da Praça Mauá chama a atenção o amontoado de gente em frente à Casa Mauá, de onde sai uma grande fila em direção ao porto e, aparentemente, outra para a Av. Rio Branco.
Na de Copacabana o destaque é mesmo o castelinho do Barão. arquitetura diferenciada e um afastamento em relação à Atlântica que deveria ter sido o padrão para todas as construções que vieram depois. Fora as distâncias laterais que todos tinham.
Foi no campo da Rua Paissandu que o São Cristóvão sacramentou o seu único título do Carioca. Venceu na última rodada o dono da casa, o Flamengo. Mas o vice foi o Vasco. Eram tempos de pontos corridos.
ResponderExcluirAlgum time do Rio ainda não foi campeão tendo o vasco como vice?
ExcluirÀ guisa de adenda ao comentário, devo dizer que o São Cristóvão foi também campeão do Torneio Municipal ("Taça Prefeitura do Distrito Federal") em 1943. Essa competição, de que participavam os mesmos clubes que compunham o Campeonato Carioca do respectivo ano, foi realizada de forma irregular entre os anos de 1938 e 1951. Foi, digamos, "ressuscitada" em 1996, com o título "Taça Cidade Maravilhosa", com características semelhantes. Nessa ocasião, o Botafogo levou o título.
ExcluirPor oportuno, destaco que o Vasco da Gama foi tetracampeão do citado Torneio Municipal, em 1944, 1945, 1946 e 1947.
Hélio,
ResponderExcluirNo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro existem algumas fotos aéreas, mas a grande maioria é de 1950.
http://wpro.rio.rj.gov.br/arquivovirtual/web/
Inclusive tem essa foto espetacular da Praça Mauá
http://wpro.rio.rj.gov.br/arquivovirtual/web/fontes/conjunto2.php?id_conjuntoArquivo=33112#undefined
Várias dessas fotos estão na Brasiliana Fotográfica. Só pesquisar por autor ou pelo acervo da Marinha.
ResponderExcluirAgradeço as dicas de onde encontrar fotos aéreas. No momento meu desktop está sem acesso à internet por defeito no adaptador wireless. Devo receber um novo depois de amanhã.
ResponderExcluirFotos maravilhosas...
ResponderExcluirDestaque para as centenárias palmeiras da Rua Paissandu.
Alguém mais velho pode me dizer se a Pinheiro Machado era mão única? Pois ela parece estreita vista de cima nessa foto, inclusive parece como se não houvesse uma rua