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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

BONDE 13

 

O bonde 13, Ipanema, fez parte da minha adolescência, pois era o bonde que pegava na Av. N.S. de Copacabana, entre Dias da Rocha e Raimundo Correia, para ir até o Bar 20, em Ipanema. O bonde chegou ao Bar 20, rodo na altura da Rua Henrique Dumont, em 1914.

Quase sempre tinha reboque, onde me sentava. Ia pela contramão até a Francisco Sá, em direção à Visconde de Pirajá. Esta, por volta dos anos 60, tinha poucas árvores, pouco movimento e o calçamento era com paralelepípedos. Durante os muitos trajetos eu observava o comércio de Ipanema.

Puxando pela memória me lembro que logo no início da Visconde tínhamos no nº 29 a recém-inaugurada “La Veronese”, que mantém a qualidade de suas massas até hoje. Do outro lado da rua tínhamos “A Colegial”, visitada todo ano para aquisição do uniforme escolar. Quase ao lado dela ficava o “Teatro Santa Rosa”. Chegando na Praça General Osório havia o prédio da Companhia Telefônica, seguido do Colégio Fontainha, do saudoso “Mercado Merpuga”, da loja “Formosinho”, do cinema “poeira” Ipanema, com suas cadeiras de madeira, sem ar-condicionado, que passava dois filmes por sessão e tinha filas enormes na Sexta-Feira Santa quando, todos os anos, exibia “A vida de Cristo”. Logo depois a uma camisaria (seria a “Progresso”? Ou já seria a “Sol de Ipanema”?), junto com o bar “Jangadeiro”.

Na esquina da Teixeira a acanhada primeira loja do “Zona Sul”, do Mario, início de um império (Mario havia começado com uma carrocinha de frutas na Praça General Osório. Antes era a “Casa das Novidades”, de tecidos.

Entre a Teixeira de Melo e a Farme de Amoedo proliferavam os bancos. Boavista, Real, Bamerindus, Nacional, entre outros. No nº 135 a “Sapataria São Carlos”, ao lado o magazine “Duas Américas”, onde hoje é a agência Ipanema da Caixa Econômica. Por ali funcionava o “Colégio Polichinelo”, que depois foi o local da “Gardênia”, loja de tecidos. No lado par havia as “Lojas Brasileiras”, a “Casa Osório”, uma grande mercearia. Nesta quadra também a “Casa Mattos”, da família Salinas. No meio do quarteirão ficava a “Confeitaria Pirajá”, enorme.

Na quadra entre a Farme e a Montenegro lembro do “Frigorífico Nazareth”.

No quarteirão entre a Montenegro e a Joana Angélica havia outro “poeira”, o Pirajá, que frequentei muito. Programação parecida com a do Ipanema. Na esquina da Montenegro a “Casa Futurista”. No lado ímpar também a Casa Oliveira, de comestíveis, e a “Sapataria Sagaró”. No lado par a famosa “Casa Alberto”. Na esquina da Joana Angélica a Padaria Ipanema, que resiste até hoje.

No quarteirão da Praça N.S. da Paz havia a igreja, a Casa de N.S. da Paz onde funcionava uma clínica médica, o Colégio São Francisco, o cinema Pax com sua escadaria de acesso, além de um hotel para religiosos, tudo sob a batuta de Frei Leovigildo Balestiere (o empreendedor que tempos depois ali criou uma fábrica de azulejos, um ringue de patinação no gel, uma academia de ginástica, um boliche, além de ser pioneiro na instalação de ar-condicionado na igreja).

Entre a Maria Quitéria e Garcia D´Ávila me lembro da loja “Velha Bahia”, junto do prédio dos Correios.

Entre Garcia D´Ávila e Anibal de Mendonça, no nº 477 ficava a ótima Padaria Eldorado, o melhor pão de Ipanema. Perdeu o posto faz tempo. No nº 499 ficava o Bar Zeppelin. No outro lado da rua, no nº 484, a “Sorveteria Morais”, onde íamos tomar sorvete na saída do “Astória” ou do “Pax”.

Já no final da Visconde de Pirajá ficava a “Casa Reis”, de material escolar, perto do Cinema Astória, no nº 595. Era enorme. Depois o “Astória” virou “Super-Bruni-Ipanema” e, mais adiante, abrigou os estúdios da “TV Excelsior”.Ao lado do “Astória” havia um pequeno parque de diversões com brinquedos para a criançada. O melhor era uma mini-cidade onde circulava um carrinho imitando um Ford, de uns 20cm de comprimento, controlado pelo lado de fora da pista por um volante de tamanho normal, com pedais de freio e acelerador, um marcha para frente e outro para ré. O desafio era trafegar pela cidade sem colidir com nada e estacionar dentro de uma garagem de uma casa. Acho que o tempo, por vez, era de 10 minutos. Para quem ainda não tinha idade para dirigir, era formidável.



O bonde 13, na sua última viagem,  foi parado na frente do Bar Zepellin por membros da Sociedade dos Amigos do Bonde Ipanema, criada no Bar Zeppelin. Faziam parte deste grupo Millor Fernandes, Paulo Mendes Campos, Aracy de Almeida, Lucio Rangel, Otelo Caçador, Luiz Reis (o Cabeleira), Haroldo Barbosa (o Pangaré), Flávio de Aquino, Edelweiss, Liliane, Willy Kelleer e outros.

Pouco depois das 22 horas lá vinha o bonde, balançando pela Rua Visconde de Pirajá quando a viagem foi interrompida e o motorneiro Argemiro Cardoso dos Santos foi convidado para um chope. Veio um fiscal da Light, mas foi subornado com uísque e chope gelado e acabou aderindo à bagunça.

Como o número de ordem do bonde era 1908, o pessoal aproveitou e jogou o número no bicho e deu 908 na cabeça, grupo da águia, belo símbolo para uma lembrança eterna, que ficará sobrevoando o bairro-poesia da Guanabara.


Na foto consegui identificar à direita o Otelo Caçador, de branco a Aracy Almeida, atrás dela o Haroldo Barbosa (o "Pangaré) e de roupa escura, ao lado do fiscal, o Luiz Reis (o "Cabeleira). Seria o Lucio Rangel o de cabeça branca?


Vemos, para finalizar, o bonde 13, na saída para Botafogo do Túnel Novo, onde se dava o famoso "mata-paulista". 



27 comentários:

  1. A lasanha da Veronese continua sendo para mima mais saborosa. Sobre a camisaria, o nome era Sol de Ipanema, e seu proprietário Antônio era casado com uma prima de meu avô.## Na linha 13 circulavam "Narragansets, Bataclans, também os do tipo Sossega leão". Isso ocorria também em outras linhas como a 68, mas nunca nas linhas 66, 75, 77, e 94. Não sei a razão dessa regra, mas certamente o Hélio deve ter conhecimento dela. Seria pelo volume de passageiros?

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    1. Joel : Na linha 85 - Cachambi não rodava Bataclã porque a curva do retorno era apertada.

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    2. A linha 85 era mínima e certamente transportava pouca gente. Seu "rodo" era no local onde existe atualmente a loja "São Jorge de Cascadura". Realmente o local é muito apertado.

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  2. Bom dia! Delícia de crônica! Parabéns! Pena que o trafego da cidade (extremamente engarrafado esse dezembro) não comporte mais os simpáticos bondes. Comentários ao longo do dia. Millor Fernandes sempre na vanguarda da sensibilidade e sagacidade.

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  3. Bom Dia ! Parece que a 13 era a linha de bonde mais famosa da Zona Sul. Vamos aguardar os comentários dos seus usuários.

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  4. Olá, Dr. D'.

    Quem teve a sorte de pegar os bondes em sua época áurea foi privilegiado. Infelizmente só vivi a fase de Santa Teresa, completamente fora de mão para mim.

    Agora, a 20 reais para não moradores, ficou ainda mais restrito. Em compensação, pode-se dizer, andei algumas vezes no VLT. Não é a mesma coisa mas "dá para enganar". Bonde, de perto mesmo, só no Centro Cultural da Light.

    Ficarei acompanhando os comentários.

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  5. Das coisas que gosto, uma é entrar numa foto onde pouco se vê e atribuir peculiaridades. Pouca gente vai poder ir contra.
    Na fotografia do mata-paulista, um indiscutível Citroën, de carioca, adentra o túnel, na mão segura. Enquanto isso, trilhando no trilho de ida, um carro escuro de rodas vermelhas, baixo o suficiente para poder ativar neurônios esportivos, incendeia a investigação. A roda aparece vermelha, mas está muito escura, seria uma roda raiada, sem interrogação. O que cabe aí? Um carro inglês, MGA, Jaguar? Ou algo mais raro?
    Ahh.. se essa foto fosse maior, acabaria o prazer ao descobrir um Chevrolet de praça...

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  6. Quanto à mini-cidade com seu mini-Ford, era mesmo uma delícia e um desafio impossível era não atingir as áreas zebradas em cinza e amarelo que encerravam a brincadeira: Game Over!
    Eu conheci, e brinquei, na que ficava na sobreloja da galeria do Cinéac Trianon, ali na Rio Branco. Era do tempo em que o jacaré ainda estava no Largo da Carioca...

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    1. Como pude esquecer das áreas zebradas em cinza e amarelo? Era isto mesmo.

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  7. Uma viagem e tanto pela Ipanema do meu tempo. Que saudade do teatro Santa Rosa onde havia grandes peças de teatro e shows musicais como o do Simonal e Marly Tavares com o Bossa Três.
    Luiz, vc certamente conheceu a excelente Padaria das Famílias, entre a Teixeira e a Farme, do “seu” Arnaldo.
    Lembra da Casa Serra, um aviário na esquina da Farme?
    Por ali tb não existia um bar famoso? Seria o Bar Americano?

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    1. Cesar, acho que assisti a este show do Simonal umas três vezes. Deve ter sido em 1964 ou 1965.

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  8. No dia 2 de Março de 1963, um dia após o fim da circulação de bondes em Ipanema e Copacabana, os Trolley-buses assumiram os respectivos espaços (leia-se trajetos). Os ônibus elétricos desde de sua implantação (Setembro de 1962) eram limitados em seu acesso à Copacabana pela Rua Inhangá, onde se situava um terminal provisório em razão da circulação de bondes em direção à Ipanema oriundos da Siqueira Campos estar ativa. Com o fim da circulação das linhas 12, 13, e 14, em 1°de Março de 1963, as linhas de ônibus elétricos puderam enfim seguir até Ipanema. Uma foto bem conhecida mostra a rua Visconde de Pirajá na altura da Praça General Osório com os Trolley-buses circulando na contra-mão.

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  9. Uma verdadeira viagem no tempo! Também costumava andar no 13, que pegava no ponto da Francisco Sá entre N S de Copacabana e Raul Pompéia. Não havia ali por perto do Jangadeiros uma loja de brinquedos onde comprávamos nossas pranchas Oceania? Meu primo uma vez falou sobre um ferro-velho que existia na quadra da N S da Paz nos anos 50 na Visconde de Pirajá, mas não me lembro de ter visto.

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  10. Não tenho lembrança das linhas de bonde da Zona Sul. E mesmo da Zona Norte só lembro de uma viagem.
    No final de agosto passado andei passeando pela Visconde Pirajá, principalmente pelo entorno da Igreja N.S. da Paz, que visitei, incluindo a média com pão e manteiga na Padaria Ipanema.
    Interessante que só esse mês assisti o filme sobre o Pixinguinha, com Seu Jorge, e confesso que não sabia da morte do maestro dentro da citada igreja. Estou pensando em adquirir a biografia para mais detalhes.
    Do "game" da mini cidade com o carro de 20cm lembro de ter visto um em frente à Praça do Pacificador em Caxias, lá pelo final dos anos 60. Parecia tão velho que pode ser o mesmo de Ipanema, depois de desalojado da Visconde de Pirajá.

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  11. Joel, 07:23h ==> a linha 66 - Tijuca era a que transportava a maior quantidade de passageiros. Por isso os bondes eram sempre grandes (bataclãs ou sossega-leão). As linhas citadas por você, ou seja a 75 - Lins de Vasconcellos, 77 - Piedade e 94 - Penha x Largo de São Francisco, também só usavam bondes grandes. A 93 - Penha x Praça Mauá tanto podia usar bondes grandes como carro-motor grande com reboque pequeno.

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  12. Fico impressionado com a memória do Luiz. Chose de loc!

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  13. A linha 13 podia se apresentar com letreiros diferentes: podia ser IPANEMA, ou IPANEMA - TÚNEL DO LEME, ou IPANEMA - TÚNEL C. CINTRA. Desta última é muito difícil obter fotos. Só tenho uma. Das demais, tenho várias.

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  14. Também me lembro daquele famoso Ford, se não me engano modelo 1951, que havia em alguns parques de diversão. Cheguei a "dirigir" uma ou duas vezes o dito cujo. Muito legal.

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  15. No dia da última viagem do Ipanema, o jogo do bicho dar a mesma centena que a do bonde? Isso me cheira a mutreta. Como dizem os chineses, coincidências não existem.

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  16. Minha presença em Ipanema era constante entre 1970 e 1989, período em que os bondes não mais circulavam. Lembro bem dos estabelecimentos que ocuparam o n°22 da Visconde de Pirajá: o "Preto 22, a New York City discotheque, e o Carinhoso, dos quais eu frequentei os dois últimos. Também fui algumas vezes ao "Privé" na Praça General Osório, onde existe atualmente o restaurante Fazendola.

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  17. Na canção "Rio Antigo", cantada magistralmente pela "marrom" Alcione, a letra faz menção ao bonde 12 de Ipanema e não o 13. Esse 12 era o que ia para o centro, suponho...

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    1. Wagner, durante uma época o 13 ia pelo Túnel Novo e o 12 pelo Túnel Velho, pelo que me lembre.

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  18. Em Teresópolis perto da Praça Santa Tereza também tinha o desafio de parar o carro na garagem, parada obrigatória em todos os fim de semana que ia pra lá. O difícil era não bater no fundo da garagem, já que não dava pra ver dentro dela. Depois de muita prática quando finalmente consegui parar o carro lembro que me perguntei, e agora? Naquele tempo também adorava ir no auto-pista (carro de batida) no parque de diversões.

    A primeira vez que dirigi um carro de verdade foi aos 10 anos em uma estrada de barro, no bairro Independência em Petropolis, adorei! Depois disso a diversão era dirigir o carro, aos 14 anos já sabia dirigir muito bem. Foi uma longa e frustrante espera até poder dirigir legalmente, de vez em quando dava uma roubadinha e ia dar um rolé, uma vez meu pai soube e ameaçou que ia chamar a polícia e me botar no SAM.

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  19. Wagner Bahia, 16:21h ==> prezado, o bonde linha 12 também era Ipanema, porém via Túnel Velho. Ele e o 13 partiam do Tabuleiro da Baiana e faziam o mesmo trajeto até a esquina das ruas da Passagem e General Polidoro. O 13 ia em frente, entrava na Góis Monteiro, Lauro Sodré, atravessava o Túnel Novo, entrava na Nossa Senhora de Copacabana. Já o 12 entrava na General Polidoro, Real Grandeza, Túnel Velho, Siqueira Campos. Aí entrava na Nossa Senhora de Copacabana e seguia o mesmo trajeto do 13 até o final da linha.

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