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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

MERCADINHO DE COPACABANA - BOATE BALALAIKA


Este é o Mercadinho de Copacabana, que ficava na Rua Siqueira Campos, entre N.S. de Copacabana e Barata Ribeiro. Era uma grande loja, com vários boxes que vendiam mercadorias diferentes. Foi inaugurado em 1948, com 25 lojas. Por incrível que pareça, tinha intérpretes estrangeiros e legumes e frutas vindos de avião todos os dias, comprovando a posição líder de Copacabana perante os Estados do país (relato do livro “Copacabana”, da João Fortes).

Além deste, os mais conhecidos eram o Mercadinho Azul (ao lado do Cinema Copacabana e em frente à Rua Dias da Rocha), o Mercadinho Amarelo (entre a Rua Santa Clara e a Rua Figueiredo Magalhães) e o Mercadinho Verde (mais à frente, perto do Lido, todos na Av. N. S. de Copacabana).

Este mercadinho funcionou até o final dos anos 50, quando deu lugar ao Cinema Flórida, Rua Siqueira Campos nº 69/71, de 1959 a 1969 – onde assisti ao fabuloso “Duelo de Titãs” e “Guerra e Paz”.

Na sobreloja funcionou a Boate Balalaika.

Quando foi feito o cinema, a fachada mudou muito, com um grande cartaz na frente, onde era afixado o título do filme.

Quando acabou o cinema, aí surgiu o supermercado “Casas da Banha”, que desde há muito tempo foi substituído pelo “Mundial”, até hoje atrapalhando o trânsito da Siqueira Campos e da Barata Ribeiro (o terreno ocupado é longo, indo até quase o meio do quarteirão, com saída para as duas ruas).


Este era o letreiro do "Restaurante Dançante Balalaika”, que funcionava na sobreloja da Rua Siqueira Campos nº 69, onde também havia um salão de bilhares. 

A edição 22883 de 1967, do “Correio da Manhã”, noticiava: “O antigo “Restaurante Balalaika”, que no início da década de 50 tinha se transformado em boate, passou a ser uma gafieira em 1966, dispondo de 60 mesas. As damas não podem entrar de calça comprida, nem de minissaia; nada pagam. Quanto aos cavalheiros, a estes é permitido o traje esporte. A “Balalaika” funciona às 4as., 6as., sábados e domingos, no horário das 23h às 4h. Ali trabalham 4 fiscais de salão, 3 porteiros, um bilheteiro e 5 garçons.


Foto do acervo do Tumminelli, do ano de 1952, em frente à entrada da boate. Não consta a identificação desta pessoa na publicação original.

Segundo um comentarista do fotolog “Carioca da Gema”, “A boate Balalaika ficava bem no coração de Copacabana, na Siqueira Campos, e era uma boate/inferninho. 

Segunda consta, o proprietário era um detetive do então Departamento Federal de Segurança Pública. Além de proprietário, acumulava os cargos de leão-de-chácara e espancador-chefe. A frequência não era das melhores. 

Houve uma época que havia uma pista de dança onde moças dançavam com fregueses. Cada 2 minutos de dança valia um furinho num cartão e 3 cruzeiros no bolso do Rocha. A comida não era das melhores e a bebida “batizada”."

A “Balalaika” aparecia com frequência na crônica policial do “Correio da Manhã”, por conta de agressões entre seus frequentadores. Na edição de 31/08/1952 se noticiava que "o delegado Cícero B. de Melo, titular da Delegacia de Costumes e Diversões, iniciando sua prometida campanha contra a imoralidade observada em boates desta capital, tinha, em primeiro plano, a “Balalaika”, cujo ambiente sempre carregado e duvidoso, oferece motivos de inúmeras queixas de moradores adjacentes."

Já na edição de 10/12/1952, o Juiz de Menores, Waldyr de Abreu, autuou a “Balalaika”, na pessoa de seu gerente Waldemar Medeiros, em virtude de infração do Código de Menores.

A notícia mais curiosa saiu na edição do “Correio da Manhã” de 23/06/1957: “O pastor Pauli Kantanen, da Igreja dos Marujos Escandinavos”, decidiu dar uma incerta e fazer um reconhecimento dos locais ondes seus patrícios habitualmente se divertiam, indo dar com os costados na “Balalaika”, espelunca da Rua Siqueira Campos, em Copacabana.

Os estudos do pastor se prolongaram pela madrugada, envolvendo entrevistas com o elemento feminino do local e o exame das bebidas espirituosas servidas. O diabo foi que na hora da “dolorosa” o pastor descobriu uma diferença de quatrocentos cruzeiros a favor da casa. Discute daqui, discute dali, a incerta terminou em grossa pancadaria, amanhecendo o santo e zeloso homem aos cuidados do delegado Hermes Machado, do 2º Distrito”.

Quem conhecia um “maitre” de lá é o Prof. Jaime Moraes. O “maitre” era vizinho de uma tia dele, que morava na Rua João Torquato, em Bonsucesso.

Um artista que fez sucesso com “shows” na “Balalaika” foi Benito de Paula.

Copacabana, durante muito tempo, se notabilizou por seus "inferninhos". Quem poderia comentar isto seria o Conde di Lido, mas anda longe, desfrutando da "merreca" da aposentadoria dele, como conta o Menezes.

 

18 comentários:

  1. Bom dia, Dr. D'.

    Dia de acompanhar os comentários.

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  2. Não lembro desse mercadinho, mas do letreiro da Balalaika eu lembro. Também do cinema Flórida.
    O terreno era fundo e o cinema era grande.
    A Siqueira Campos era de paralelepípedos nos anos 60.
    O Juizado de Menores era atuante nesta questão de idade nas boates, coisa que não se vê mais.

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  3. Desde "tempos imemoriais" a Siqueira Campos é uma região degradada, e a postagem de hoje é mais uma prova que "robustece esse entendimento". Sobre as "gafieiras" e em especial a Balalaika eu falarei adiante, pois tais estabelecimentos onde "o ambiente não era dos melhores" passaram por uma grande metamorfose a partir da época mencionada (1952).

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  4. Bom Dia ! Nos anos 50 eu ainda era " Di menor" não frequentava esses locais.

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  5. O cinema Flórida durou muito pouco tempo. Ficava no mesmo quarteirão do Ritz, este na Copacabana,
    Esta região tem muitos consultórios médicos e odontológicos desde a praça Serzedelo Correia até a Tonelero, com destaque para o pronto-atendimento da Unimed que funciona bem.
    Acho que a filial do Mundial é das piores da rede além de atravancar o trânsito.
    Não é mesmo uma região simpática.

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  6. Além da boate e do salão de bilhar havia um salão de barbeiro na sobreloja. No tempo das Casas da Banha hoive um grande incêndio no local.

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  7. As "Gafieiras" eram estabelecimentos populares onde no passado aconteciam bailes populares de "dança a dois" em um tempo em que a dança de salão não era bem vista. Meu avô paterno contava que nos anos 20 e 30 estabelecimentos desse tipo eram frequentados por "estivadores, empregadas domésticas, vendedores e vendedoras do pequeno comércio, soldados da PM e do Corpo de Bombeiros, guardas civis, malandros, e escroques em geral. Não eram locais de prostituição ou de encontros furtivos, e qualquer atitude mais ousada os praticantes eram expulsos. A música "O estatuto da Gafieira" de Billy Blanco retrata muito bem aquela realidade. Na Gafieira Elite o "mestre de cerimônias no intervalo da orquestra anunciava: "Damas ao bufete", ou então advertia aos recalcitrantes: "a escada tem 24 degrais". Nas gafieiras tocava-se (anos 20 e 30) o maxixe, o samba, o "foxtrote", e o tango". Em 1952, ano menci2na postagem, os gêneros musicais se alteraram, mas o "Estatuto da Gafieira" permanecem vigendo até os dias atuais. Não se deve confundir as gafieiras com os dancings, pois apesar de promoverem bailes de dança tinham uma dinâmica de funcionamento bem diferente. Nos dancings as damas eram funcionárias da casa que dançavam com a clientela masculina mediante ao "picote do cartão ". A cada música dançada a dançarina fazia um furo no cartão do cliente. Também não eram permitidos "amassos" ou algo do gênero. Os Dancings possuíam um nível bem superior às Gafieiras e grandes orquestras e "crooners" ganharam fama se apresentando em Dancings.

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  8. Bom dia Saudosistas. Não é do meu tempo, não conheci nem o mercado, nem a boate. Acompanharei os comentários.

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  9. No texto menciona a Casas da Banha... isso me lembra que em meados dos anos 1970, ia com meu pai, aos sábados, bem cedo, vê-lo trabalhar nas construções e nas obras de manutenção dessa Casas da Banha, de Copacabana. Desde que ele chegou ao Brasil, em 1954, passou a trabalhar nas construções desses supermercados e, às vezes, ele me levava para “passear”. Íamos até Olaria pegar o 484 em direção à Copa. Era uma viagem de 1 hora da Vila da Penha até chegar ao nosso destino.

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  10. É estranho o nome ser Balalaika, se o dono era brasileiro.

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    1. Helio, foi um filme de muito sucesso. O nome deve ter vindo daí.

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  11. Não peguei essa Copacabana. Fica claro que existiam nichos, por local e por tempo. O Leme parecia calmo, a área da Siqueira Campos a descrição do post mostra como era. Havia Beco das Garrafas, Posto 6. Parece que a Av. Atlantica era internacional e o "interior" do bairro regional ou local. Havia bons restaurantes, que lembro de vista como Nino, e outros. Nomes me vem memória sem nunca ter frequentado, até porque nasci em 1958, mas Sacha´s e outros mais. Tem um filme de Copa com Ibrahim Sued jovem nas boates. Foi-se o tempo. Contribuiu para essa desordem, penso eu, a variação de gabaritos de prédios. Na N S de Copacabana há portarias enormes e ao lado portinhas de acesso a predinhos. Parece que houve um departamento de , salvo engano, "harmonização de fachadas e construções! na época do Getúlio. Vou pesquisar.

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  12. Boa tarde.
    Só conheci e frequentei (pouco) o cinema, de vida curta (1959 a 1968).
    Era bem grande e os filmes não eram lá essas coisas.
    Foi nele que vi um filme muito bom, Summer of 42.

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  13. A Balalaika pelo que percebo mais parecia um "fuzuê", pois mantinha características dos Dancings e das Gafieiras, embora os dois tipos de estabelecimento funcionassem de forma diametralmente diferente. Posso citar Gafieiras famosas como a "Banda Portugal" que funcionava inicialmente na Praça XI, a Gafieira do Méier em frente à Estação, a Gafieira da Tijuca conhecida como "mela cueca", o "Forró forrado" na Rua do Catete, e vários outros. O Forró forrado tinha uma programação que alternava "baile de gafieira" com seu repertório característico e em determinados dias tocava-se apenas ritmos nordestinos como o xote, o baião, o côco, o maracatu, o xaxado, e o galope. A frequência obviamente dispensava maiores comentários. Diga-se de passagem que "não existe tecnicamente um ritmo com o nome de Forró. O que vulgarmente é chamado de Forró é uma compilação dos ritmos nordestinos já mencionados. A origem do termo é conhecida por todos e não necessita de maiores explicações. Entretanto os bailes de forró são atualmente "top de linha", e a frequência é bem seleta. Hoje em dia jovens e "não jovens" das melhores famílias costumam dançar forró, "visse?"

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  14. Essa gafieira devia ser um problema em Copacabana. Eu só conheci Copacabana quando já era adulto.

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  15. Anônimo, 12:36h ==> realmente, verifiquei no Wikipedia que teve um filme de nome Balalaika, lançado em 1939. Era um musical, com as cenas passadas na Rússia imperial. Entre as diversas músicas tocadas no filme, reconheci a russa "El ukhnem", em português chamada de "Canção dos barqueiros do Volga". É tradicional, mas não a considero bonita. Por sinal, na relação de músicas do filme ela consta uma vez com o nome russo e outra com o nome em inglês ("Song of the Volga Boatmen").

    Também reconheci "Otchi tchornia" ("Olhos negros"), famosíssima no mundo todo, com nomes em vários idiomas, como "Dark eyes", "Schwarze Augen", "Les yeux noirs", "Ojos negros", entre outros. Não a acho bonita.

    Prefiro "Stenka Razin", "A Lenda dos 12 Ladrões", a lenta e triste "Os Sinos da Tarde", "Postilhão, Não Corra Tanto", "Monotonamente Tocam os Sinos". Sem esquecer a também famosíssima "Noites de Moscou".

    Apesar de serem também famosas "Karobuschka", "Kalinka" e "Katjuscha", que acho de média beleza, todas de andamento bastante rápido ou, como é típico das músicas tradicionais russas, um andamento que começa lento, acelera, volta a lento, acelera novamente, e assim sucessivamente.

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  16. Cheguei a jogar sinuca no Balalaika, o Bala, como chamávamos. Vi jogar ali o Carne Frita, um dos mais famosos jogadores de sinuca do seu tempo. Depois vi muitos filmes no Flórida, como Bancando a Ama Seca, do Jerry Lewis. Nunca vou me esquecer de um senhor que chorava de rir encostado na parede na saída do cinema.

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  17. Não sei se gostei mais da matéria ou dos comentários. Parabéns pelas belas memórias!

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