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quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

PRAÇA CARDEAL ARCOVERDE


Revemos hoje a Praça Cardeal Arcoverde, situada no fim da Ladeira do Leme, entre as ruas Barata Ribeiro e Tonelero. É a antiga Praça Sacopenapan. Foi aberta pela Empresa de Construções Civis e aceita em 26.04.1894.

O nome é homenagem a Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavancânti, designado em 1897 para a cadeira de Arcebispo do Rio de Janeiro, tendo se tornado, em 1905, cardeal do Rio de janeiro, sendo o primeiro cardeal brasileiro e sul-americano.

Segundo Julia O´Donnell, em 1919, o Prefeito Paulo de Frontin recebeu um documento em que “moradores e proprietários em Copacabana, com o intuito louvável de dotar o bairro com mais um jardim público, solicitavam a arborização e ajardinamento da Praça Cardeal Arcoverde, que se achava já quase completamente nivelada e em grande parte rodeada de belos e valiosos edifícios. Além disso, a praça se encontrava protegida pelos morros do Inhangá contra os ventos de alto-mar, que tanto prejudicam as plantas dos jardins e a arborização dos logradouros aos mesmos expostos.”


Vemos nessa foto, do acervo do sumido Francisco Patricio (Coleção A. Silva), tirada certamente do Morro da Babilônia, possivelmente da velha Estrada Real, atual ladeira do Leme, uma visão parcial do bairro.

Conforme conta o Decourt, em primeiro plano vemos a Praça Cardeal Arcoverde, antiga Sacoponepan, ainda sem ajardinamento e servindo de canteiro de obras para a urbanização das ruas vizinhas, que tiveram grande impulso nos anos de 1927 e 1928. O morro do Inhangá ainda não tinha sido urbanizado, as ruas Gal. Azevedo Pimentel e Gal. Barbosa Lima, não existiam nem como trilhas.

A total ausência de construções de um lado da Rua Barata Ribeiro causa a ilusão ótica que a mesma faz uma abrupta curva e segue em direção ao mar, quando na realidade temos ali a Rua Inhangá, continuando a Barata Ribeiro seu trajeto.

Na Av. Atlântica a grande construção que vemos sobressaindo sobre as demais, é um dos primeiros prédios da orla, construído em 1924 pelo engenheiro Eduardo Pederneiras e de propriedade dos capitalistas Rocha Miranda, Filhos & Cia., que ficava na esquina da Atlântica com Rua do Barroso, hoje Siqueira Campos. 

Nos anos 30 eram grandes as reclamações dos moradores da região quanto à sujeira da feira-livre que se realizava na praça às quartas-feiras e quanto à conservação da mesma.

“Local de passagem movimentadíssimo, se transformou num mattagal. Imploramos aos encarregados da esthetica da cidade mais um pouco de atenção. A praça está se transformando em poças d´agua e brejo. Os buracos transbordam e a miscellanea de lixo, cacos e estrume impera. É uma vergonha para o bairro.”

Com as críticas a Prefeitura prometeu construir “um parque que offerecerá todas as distrações possíveis ás creanças de nossas escolas púbicas. Será construída uma esplendida piscina, uma pista com apparelhos (deslizadores, gangorras, etc.), auditório, gymnasio, wading-pool, saud-boxes, sete campos para jogos, banheiros moderníssimos e refeitórios. Nella terão ingresso todos os alunos de escola publica. Inclusive aberta domingos e feriados”.


Foto de 1937 com o parque inaugurado. Funcionava de 12 às 16 horas. A ideia seguia as diretrizes de Anisio Teixeira e o jornal "Beira-Mar" noticiava: “Todas as escolas do bairro se faziam representar no Centro de Recreação por turmas alegres e joviaes de petizes. Além dos jogos de ping-pong, volley-ball, bonecos, quadros, carrinhos, etc) os meninos executam magníficos trabalhos de esculptura e as meninas trabalhos manuaes."

Em 1943, na administração Henrique Dodsworth, os Museus Históricos da Cidade e Cultural Esdcolar, foram transferidos da Gávea para a Praça Cardeal Arcoverde. Não consegui informar até quando ali ficaram.


Neste postal, vemos a praça
 tendo, à esquerda, o Morro do Inhangá já urbanizado, parte esta de uma Copacabana desconhecida para a maioria. 


Esta foto e a seguinte estão na Brasiliana Fotográfica e são de Uriel Malta, de janeiro de 1940, sendo que esta foi estupendamente colorizada pelo prezado Nickolas Nogueira (que, por sinal, prometeu novas colorizações para 2023). O texto está abaixo.

Segundo meu amigo Claudio, que morava no edifício de esquina da praça, à esquerda, fora da foto, no prédio cinza morava seu futuro cunhado Pedro Paulo e, nas duas casas, os irmão Jaime e Gustavo, além de, na outra casa, os irmão Silvio, Tião e Sueli.


Nesta foto vemos o edifício, esquina da praça com a Rua Tonelero, onde morava meu amigo Claudio, grande tenista.



Na construção "déco" que vemos em primeiro plano funcionou o quartel da Polícia Especial de Vargas. Depois, com redemocratização do país, após a Segunda Guerra, o prédio se transformou na escola Dom Aquino Correia. 

No final dos anos 50 a Escola Dom Aquino Correia foi desmembrada de seu auditório, sendo este transformado no Teatro da Praça, que depois recebeu o nome de Teatro Gláucio Gill (esta alteração deu-se em meados dos anos 60 quando o apresentador da TV Globo Glaucio Gill, apresentando "ao vivo" o programa "Show da Noite", sentiu-se mal e faleceu no sofá do programa vítima de infarto. Foi uma comoção no Rio). 

A seguir uma nova escola foi construída ao lado: a Escola Alencastro Guimarães. 

Vemos também o aspecto da Ladeira do Leme, nome dado em 1917 e que já se chamou Rua Coelho Cintra de 1949 a 1951, quando voltou ao nome original. Esta ladeira constitui um dos acessos mais antigos à Praia de Copacabana. Recebeu esta denominação por ali se instalar o antigo "Reduto do Leme", no tempo do vice-reinado do Marquês de Lavradio. 

Os arcos no topo da Ladeira do Leme seriam os restos de uma fortificação. Há por ali também uma Vila Militar, atualmente, além do Parque Estadual da Chacrinha, no final da Rua Guimarães Natal, entre a Ladeira do Leme e a Rua Assis Brasil.

Junto ao final da ladeira sobrevive um dos últimos postos de gasolina de Copacabana, fora os da orla marítima (e ali há uma padaria com pães de excelente qualidade.


Esta belíssima foto merece ter a descrição do amigo Andre Decourt: “A imagem mostra o primeiro urbanismo da Praça Cardeal Arcoverde feito pelo grande urbanista Azevedo Neto. A foto  possivelmente é do final dos anos 40, início dos 50.

A foto pode nos dar uma ideia das espécies usadas, como também da região em volta, até hoje uma das melhores para se morar no bairro. No fundo da imagem vemos as encostas do Morro de São João e as ruas que, a partir da praça, galgam suas encostas, como a Otaviano Hudson, onde temos o único prédio alto da imagem, e a Assis Brasil, além de outras travessas e ladeiras, que fazem fronteira com um pequeno parque estadual e uma APA. A encosta ainda não invadida é o último lar da Eugenia Copacapanensis,  ou Araçá de Praia, planta que era endêmica na região e praticamente foi extinta com a urbanização do bairro, já que só crescia em Copacabana e parte de Ipanema. As encostas da região também abrigam ruínas do Forte do Vigia, que vão além dos arcos da Ladeira do Leme.


E terminamos com esta foto do acervo do saudoso amigo Carlos Richard, o "Richaaaaarrdd". A legenda é dele: “Carnaval de 1962.Na Rua Tonelero, um índio, uma bailarina e uma com uma roupa meio "Flintstones". Foi tirada em frente ao prédio onde moravam que ficava na esquina com a Otaviano Hudson. A menina maior, coitadinha, 5 anos mais tarde iria me conhecer e, o que é pior, casar comigo! O índio virou meu cunhado e a menina bonitinha era só uma vizinha do prédio. Vê-se a Tonelero ainda com pouco movimento e o início deste prédio na esquina onde um amigo veio a morar durante bastante tempo.” A moça bonita é a Gisela.




20 comentários:

  1. Mais uma aula.
    Fico aqui pensando quanto tempo é necessário para fazer uma postagem.
    Escolher o tema, as fotos, pesquisar nos livros e jornais antigos, nos outros blogs, usar a memória de conversas sobre o assunto, etc.
    E isto tudo diariamente.
    O bom é que temos aula todo dia sobre o Rio de antigamente.
    Obrigado.

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  2. Bom dia, Dr. D'.

    Mais uma aula sobre Copacabana e um de seus logradouros mais conhecidos. Me recolho à minha ignorância em relação ao tema e ficarei acompanhando os comentários. E ainda fomos brindados com uma lembrança, mesmo indireta, do saudoso Richaaaaaaard.

    FF: hoje começa, antecipado, o campeonato carioca (ou, para ser mais exato, do estado do RJ). Com transmissão de algumas partidas (da dupla Fla-Flu) pela Bandeirantes.

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  3. Mais um extraordinário depoimento da história da outrora Cidade Maravilhosa. Claro que tudo muda e evolui na vida. Quando somos jovens, somos belos, sadios e alguns caso atraentes e quando envelhecemos estamos quase sempre perto do "bico do Urubu". No Rio não está sendo diferente. Esses documentos eternos nos mostra claramente como modificou esse bairro de Copacabana. A Realidade é dura.

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  4. A postagem relata a marcha do desenvolvimento da região nos últimos cem anos. Como não poderia deixar de ser, a feira-livre já era objeto de reclamações, pois já naquele tempo o funcionamento dessas feiras já trazia graves problemas. Subir a Ladeira do Leme só para ir ao Rio Sul, pois descer em direção à Praça Cardeal Arcoverde não aconselhável por questões de segurança. A abertura do Túnel Major Rubens Vaz tornou a Tonelero e a Pompeu Loureiro vias de grande movimento, o que acabou com a tranquilidade da região. Mas o "coup de grace" na Praça Cardeal Arcoverde foi a inauguração da estação do Metrô na praça, seguramente a mais degradada e mal cuidada, a qual em dias de grandes eventos em Copacabana é a primeira e receber o ímpeto das hordas "estrangeiras" oriundas dos confins do Rio de Janeiro.

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  5. Este pedaço de Copacabana é bem simpático. Eu fiquei impressionado quando fui a primeira vez na estação do metrô desta localidade com os seus 40 m de profundidade em relação ao solo; achava, na ocasião, que deveria ser o leito de linha férrea mais profundo do mundo. Só desfiz esta suposição depois do que eu li sobre os metrôs de São Petersburgo, Pyongyang e Kiev.

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  6. FF: Foi libertada ontem Suzane Von Richthofen, um dos muitos inúmeros casos comprovados da falência do sistema judicial brasileiro. O que mais se pode dizer?

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  7. Bom dia Saudosistas. Uma sequência de fotos muito bonitas, muitas para mim inéditas. Mestre Richaaaaarrd, saudades. E irei acompanhar os comentários ao longo do dia.

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  8. A foto n° 8, datada de 17/01/1940 é muito boa, mostrando a descida da Ladeira do Leme.

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  9. Aliás, todas as fotos são excelentes.
    Não sei se o posto de gasolina à direita no final da descida ainda existe, tem um bom tempo (desde 2020) que não passo ali.

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    1. De acordo com informações internéticas tudo indica que continua lá.

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  10. Recomendo dar uma volta na vila militar, tem uma das vistas mais bonitas de Copa. Um dia parei o carro e fui andando até o centinela , falei se podia entrar e ele deixou, tudo a pé. Nem parece Copacabana.

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    1. Xará, você está dando mole para o Corretor Ortográfico.

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    2. Corretor Ortográfico12 de janeiro de 2023 às 14:37

      Anônimo, às 10:45 você "pegou pesado" em seu comentário quando se referiu ao funcionário da Vila Militar como "centinela", quando o termo correto é SENTINELA. Descuidos acontecem.

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  11. Ótimo trabalho de pesquisa.
    Destaque para as atividades promovidas na década de 1930, principalmente quanto ao vôlei, que eu pensava que era do pós 2ª. Guerra Mundial.
    Qual é mesmo o significado de sacopenapan?

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  12. Já disse isso aqui anteriormente mas vou repetir: feiras livres atualmente são um absurdo, falta de higiene, transtorno para os moradores e para o trânsito, sujeira, barulho, falta de segurança causada pelos pivetes que as acompanham ...têm é que acabar e já vão tarde.
    Até um certo ponto no século passado podia-se encontrar justificativas para a existência das feiras, mas agora não.

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    1. Concordo plenamente com você: as feiras-livres são um atraso. Uma vez por semana o local onde é realizada traveste-se de um atraso que já deveria ter sido banido da vida da cidade. Muita sujeira, desordem, podridão, e principalmente a "egregora que a envolve", mostra a verdadeira face do povo brasileiro, e traz a indefectível sensação de que "há muito o que evoluir".

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  13. Ratificando o comentário de 7:22: que fôlego, paciência e conhecimento! Só temos a agradecer e reconhecer o trabalho de chinês, localizando e encaixando as peças, no tempo e no espaço. Dia desses subi o Morro do Inhangá, espiral interessante, no meio de Copa. Nossas praças em geral mal aproveitadas ou abandonadas. Talvez a população local aproveite. Subir a Ladeira do Leme (?não sai em Copa?) relembra as agruras do séc. XIX para chegar a Copa, sem ser pelo Caminho de São Clemente. Os postos de gasolina estão acabando. Quando os carros forem elétricas vai ter tomada em poste e o sujeito estaciona e "abastece". Na Alemanha tem uma empresa, a "N-ergy" que presta esse serviço na rua. Cardeal Arcoverde foi meio um D Eugenio Salles de sua época. Hoje D. Orani também já é carioca, apesar de paulista. Mesmo ruinzinha, melhor a praça do que um blocão de cimento. Aliás, vendo o Google Maps, muitos corações de quarteirão em Copa são bem arborizados.

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  14. Realmente, fico admirado com o trabalho que dá postar todo dia matéria nova, e com farta história e documentação. O Luiz deve deve ter uma equipe de assessores. Ele escolhe os temas da semana e os aloca a cada grupo de assessores, responsáveis por rascunhar a postagem para aprovação dele.

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    1. Helio, a equipe que me apoia é ótima. Tenho o pesquisador de fotografias em P&B e o de fotografias coloridas. Cada um deles tem vários estagiários que buscam as fotos por década e por assunto.O Corregedor Geral é encarregado de verificar se a fotografia é inédita ou já foi publicada no tempo do Terra ou do UOL.O Copidesque é fundamental, para fazer a revisão de textos, gramatical e ortográfica, garantindo a clareza e adequação do conteúdo.O diagramador também é importante. A equipe de edição de fotos é pós-graduada em Photoshop. A área de avaliação de Direitos Autorais é chefiada pelo notável advogado GMA. Há, é claro, um time fixo de estagiários pesquisando o acervo da Hemeroteca Digital.

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  15. O Augusto comentou mais cedo sobre o Campeonato Carioca e agora lembrei que quanto mais vai diminuindo a importância dos torneios estaduais, maior é o número de marqueteiros colocando nomes dessas competições no aumentativo: Paulistão; Gauchão; Cariocão e até um estranho nome Goianão eu ouvi falar.

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