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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

BAR LAMAS

Conta o Decourt que o famoso Café Lamas, que ficava na Rua do Catete nº 295, no Largo do Machado, foi fundado em 1874 e logo se transformou num dos pontos mais frequentados do Rio, ficando aberto 24 horas. Com as obras do metrô, em meados da década de 70, o prédio foi demolido e o Lamas se mudou para a Rua Marquês de Abrantes.

J.M. Bello, em "Memórias", conta que "o Lamas era um infalível ponto de reunião de estudantes, boêmios, literatos em embrião ou já em desenvolvimento autônomo...

Era sempre o mesmo ruidoso debate em torno das cousas da inteligência, entremeado de pilhérias, troças e trocadilhos que, na época, pareciam a mais alta prova de espírito".

Manuel Bandeira citava em crônica que o Lamas foi o único que sobreviveu a outros restaurantes "ouverts la nuit" da época, como o Stadt Munchen, o Critério, a Castelões, o Café do Rio, o Java. 

O prédio do Lamas está assinalado pela seta vermelha. Ele ficaria ao lado do cinema São Luiz (que foi inaugurado em 1937).

Luís Edmundo escreveu: "Quando conheci o Lamas havia um salão grande com mesas de tampo de mármores, rabiscadas com caricaturas e versos, a caixa situada próximo à entrada e, no fundo, uma divisória separando um outro ambiente, onde existiam numerosas mesas de bilhar e sinuca.

Tomava-se café, bebia-se chope, jogava-se sinucas, descontavam-se cheques no caixa, pendurava-se a despesa, deixavam-se e recebiam-se recados. Comia-se o melhor bife com fritas do Rio.

Mas o Lamas era sobretudo o lugar de encontro, de conversa, de ouvir boatos, de saber novidades. Em que jovens calouros encontravam-se com intelectuais já famosos e depois de alguns chopes todos confraternizavam.”


Nesta foto vemos o Café Lamas em seu primitivo endereço, com seu balcão de frutas na porta e um espírito muito mais boêmio que o de hoje, já que ele fecha atualmente muito mais cedo que seus frequentadores desejariam.

Ao lado podemos ver a porta do pitoresco estúdio fotográfico Hollywood e, à direita, o caixa cheio de tabaco, de charutos a cigarros, como se convém numa casa de alma boêmia .

Conta o Luis Edmundo em seus “Cadernos do Edmundo” que o Lamas tinha a tradição de nunca fechar suas portas, tradição tão levada a sério que nas três vezes que precisou, no seu primitivo endereço, cerrá-las teve que chamar especialistas, no início carpinteiros, quando da Revolta da Vacina e morte de Getúlio, e depois de um serralheiro, quando da entrega do imóvel para o Metrô para sua posterior demolição nos anos 70.


Entre os frequentadores do Lamas estavam os estudantes da Faculdade Nacional de Medicina que moravam nos fundos da faculdade. Chegavam ao Largo do Machado, onde havia uma estação de bondes. Ao lado dela ficavam a Confeitaria Francesa e o Cinema São Luiz. 

O Lamas foi fundado no século XIX por Constantino Lamas.

Este era o aspecto do Lamas quando o conheci. O famoso filé à francesa era, realmente, fantástico.


Vemos o salão de sinuca com seus lustres, o grande relógio, o ventilador de parede. 



Quando do primeiro alargamento da Rua do Catete, o saudoso General Miranda, cruelmente assassinado pelo Tumminelli, enviou uma carta ao "Correio da Manhã":

"Seria feliz se mais uma vez acolhessem esta despretensiosa missiva que tenho tentação de assignar visto a vossa habitual gentileza.

Muito freqüentei o Lamas em companhia de amigos. Na 
occasião em que foi approvado o plano para o alargamento da rua do Cattete, um verdadeiro assalto á fortuna particular dos infelizes moradores da região e a mim em particular que então ali residia, logo imaginei o desastre.

Era por todos sabido, e era questão de simples inspecção, que a rua do Cattete, nas partes mais estreitas e acanhadas, tinha mais de 12 metros de largura, de modo que bastava que os prédios fossem recuados na proporção de eventual avanço e não desapropriados integralmente, como queria a Prefeitura.

Foram noites e noites de discussão no Lamas, tentando nos defender do Sr. Prefeito, que não admittia restricções à sua vontade, criticas a seu saber, limites ao seu poder.

Os Miranda nunca contestamos a utilidade dos melhoramentos a executar na cidade e o embellezamento que se dê e se procure dar as nossas velhas praças e tortuosas ruas. Sempre achamos que um governo não se recommenda somente por grandes obras que faça; mas também e essencialmente pelo modo e pela forma por que as faz.

Se tal não fosse, deixaria de ser immoral o apophtegma dos jesuítas – o fim justifica os meios.

Os Miranda lideramos, a partir das mesas do Lamas, a opposição aos modos por que procedia o Sr. Prefeito, para não perdermos os nossos direitos, os nossos dinheiros, num dever cívico de defender uns e acautelar outros.

Como sempre, devemos reagir contra o arbítrio em má hora creado pelas autoridades e contra qualquer esbanjamento das rendas do município arrastado á bancarrota."


Fotograma de reportagem do Arquivo Nacional justo antes da demolição do prédio da Rua do Catete.

Fotograma de reportagem do Arquivo Nacional justo antes da demolição do prédio da Rua do Catete.


Fotograma de reportagem do Arquivo Nacional justo antes da demolição do prédio da Rua do Catete.



20 comentários:

  1. O Lamas era uma referência em um passado "mais remoto", pois nos últimos tempos de sua existência "já não era o mesmo". Nos tempos do Império e da "República Velha" o Catete era um bairro nobre, e o Lamas foi testemunha da decadência da região. Eu me lembro do Lamas no início dos anos 70 antes do início das obras do Metrô quando o bairro "já não era o mesmo", mas nunca entrei nele.

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  2. Bom dia, Dr. D'.

    Área fora da minha jurisdição, ficarei acompanhando os comentários.

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  3. O Lamas antigo tinha um charme especial. O novo, faz tempo que não vou, mas mantinha a qualidade do filé à francesa. Mas já não se comparava com o antigo.
    Quem ainda se equipara a ele é o bar Brasil na Lapa e o bar Lagoa.
    Desapareceram a Lisboeta, o Penafiel, o Final do Leblon. A Marisqueira e o Garden reabriram, mas ainda não fui. A Trattoria da Fernando Mendes anda péssima desde a morte do Mario.
    Todos foram grandes locais no passado.

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    1. Éramos clientes assíduos do almoço nas segundas-feiras até o mês passado, quando uma baratinha passeando na nossa mesa nos enojou. Os garçons Gomes e o Figueiredo (os mais antigos da casa) sempre nos atendiam. Uma pena…

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  4. As demolições ocorridas no Catete descaracterizaram uma região onde o envelhecimento dos imóveis, a facilidade de acesso aos transportes, a construção do Aterro do Flamengo, e a "diáspora nordestina" ocorrida na segunda metade do Século XX, na qual milhares de retirantes vieram se instalar naquela região, fizeram do Catete um local bastante "desgastado", onde ainda por cima obras mal executadas a tornaram palco de grandes alagamentos.

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  5. Joguei muita sinuca no Lamas mas não era páreo para o craque Detefon, que não dava chance para ninguém.
    Era comum sair de lá de madrugada ainda com muita gente bebendo no salão.

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  6. Pertinho do Lamas havia um outro bar bastante frequentado chamado Pontes.
    O metrô foi um desastre para o bairro do Catete. As obras a céu aberto demoraram muito e as desapropriações ao longo da rua do Catete causaram enormes danos ao bairro.

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  7. O bife a milanesa a francesa do atual Lamas é sensacional!

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    1. E a canja de galinha? É um energético infalível, mormente as 3 da matina.

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  8. A tecnologia usada na época das obras do metrô devastou o Catete e vários outros bairros. Se fosse usado o "tatuzão" as demolições seriam bem menores. Mas não sei se havia essa possibilidade. Os especialistas podem esclarecer melhor.

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  9. Bom Dia ! Com as obras no Catete muitas lojas de moveis se mudaram para o Cachambi. Atualmente no Cachambi formou-se também um polo gastronômico. Se ele vier vai abrir uma nova frente.

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    1. Para a Rua Honório e adjacências, mas ir a polo gastronômico no Cachambi é suicídio atualmente.

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    2. Eu diria que sair de casa atualmente é um suicídio. Se der sorte, roleta russa.

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  10. Bom dia Saudosistas. Quando estava na Faculdade, tinha um grupo de amigos que moravam no Catete, nas sextas-feiras quando saíamos da faculdade era normal irmos direto para o Lamas e tomarmos chope e ficamos batendo papo até altas horas.

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  11. Grande general Miranda.
    Uma pena que aquela estranha cidade do Sudeste não tenha tratado de extradição com o Rio.
    Há anos o cruel assassino do general, Tutu, o meliante, se esconde por lá.

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  12. Normal pessoal, saudosismo não combina com negócios, uns fecham outros abrem.
    A última vez que foi no lamas o exaustor estava ruim e havia uma enorme nuvem dentro dele.
    COVID prejudicou muito os restaurantes apesar das entregas.

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  13. O anônimo de 10:00 não parece tão anônimo assim.

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  14. FF: Uma ameaça de bomba na OAB causa transtorno na região do Santos Dumont.

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  15. Incrível coincidência!!! Ontem jantei lá um belíssimo bife a milanesa com guarnição a francesa que alimentou bem três pessoas.
    O cardápio é uma viagem no tempo.
    Me diverti muito lendo os nomes dos pratos.

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  16. Olá! Lembro aqui mais um detalhe que citei, há muitos anos, no blog 'Saudosismo Carioca' e o Diário do Rio reproduziu em 2008. Felicidades aí!
    https://diariodorio.com/a-primeira-banca-de-jornal-do-rio-de-janeiro/

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