COLISÕES COM BONDES, por Helio Ribeiro.
Cumprindo
o combinado com o Luiz no dia 10 deste mês, a postagem de hoje mostra alguns
graves acidentes ocorridos com bondes. Na verdade, a maioria dos casos
envolvendo aqueles veículos se referiam a quedas de pessoas que tentavam pegar
ou saltar do bonde em movimento. Muitos ficaram mutilados ou morreram nessa
tentativa. Mas a postagem de hoje trata de outros casos. Os reboques pequenos
eram os mais suscetíveis a se envolverem em acidentes, pela facilidade de
descarrilarem em virtude de seu relativamente pequeno peso e por terem apenas
dois truques, bastando um deles descarrilar para o acidente acontecer.
Vamos
aos acidentes.
1)
BATACLÃ 2058
Data: 10/08/1954
Local:
Entroncamento das ruas Visconde de Santa Isabel e Alexandre Calaza, em Vila
Isabel.
Vítimas:
seis com escoriações e três com fraturas de membros.
Dinâmica:
O bonde 2058, fazendo a linha 68 -
Uruguai x Engenho Novo, saiu às 4:20h da estação do Boulevard 28 de Setembro em
direção ao ponto inicial da linha, no início da rua Barão do Bom Retiro. Ao
passar pelo referido entroncamento, o motorneiro não percebeu que a agulha não
estava favorável para ele e o bonde descarrilou, destruindo a fachada e uma
parte do interior do armazém São Paulo, na esquina da Alexandre Calaza.
2) REBOQUE 1248
Data:
24/12/1958
Local:
Esquina das ruas Barão do Bom Retiro e Visconde de Santa Isabel.
Vítimas:
oito com escoriações.
Dinâmica:
O reboque 1248 era puxado pelo bonde 1756, da linha 72 - Méier x Saens Peña. Ao
abrir o sinal, o bonde se movimentou e o reboque descarrilou, batendo no bonde
1806, da mesma linha.
3) BATACLÃZINHO 343
Data:
21/11/1963
Local:
Avenida Presidente Vargas esquina com rua Comandante Maurity.
Vítimas:
seis do bonde e duas do caminhão, todos com escoriações.
Dinâmica:
O bonde 343, da linha 56 - Alegria, vinha rodando em direção à Leopoldina,
quando se deparou com o caminhão da fábrica de massas Marilu, que vinha na
contramão. O motorneiro começou a acenar para o motorista do caminhão, mas ao
ver que ele não mudava de direção parou o bonde e saltou, assim como alguns
passageiros. O caminhão se chocou violentamente com o bonde, derrubando-lhe
parcialmente a capota.
4) REBOQUE 1291
Data:
03/07/1953
Local:
Avenida Presidente Vargas, próximo à Ponte dos Marinheiros.
Vítimas:
doze com escoriações.
Dinâmica:
O reboque 1291 era puxado pelo bonde 1899, da linha 56 - Alegria. Ao passar
pela Ponte dos Marinheiros, o reboque saltou dos trilhos, rodou descontrolado
por cerca de 20 metros e se chocou com o bonde 1788, da linha 69 - Aldeia
Campista.
5) REBOQUE 1369
Data:
desconhecida
Local:
alguma rua na Zona Sul.
Vítimas:
desconhecido.
Dinâmica:
Essa foto foi obtida na Internet, sem qualquer indicação. Apesar de ter
pesquisado bastante, nunca consegui obter informações sobre esse acidente.
6) BONDE 1887
Apesar
de a foto não ser das mais impressionantes, o acidente foi bastante inusitado,
como descrito a seguir.
Data:
10/05/1959
Local:
Esquina das ruas Uruguai e Conde de Bonfim.
Vítimas:
vinte e oito, algumas em estado grave, entre passageiros, transeuntes,
motoristas e o próprio motorneiro, que teve as duas pernas fraturadas.
Dinâmica:
Há mais de uma versão para o acidente. Uma delas diz que o bonde 1887, da linha
67 - Alto da Boa Vista, vinha descendo lotado a avenida Edison Passos, cerca
das 8 horas da manhã quando, já chegando na Usina, o motorneiro percebeu que
estava sem freios. Um caminhão com material de obras estava estacionado na rua,
parcialmente sobre os trilhos, e foi colhido pelo bonde e jogado para o lado. O
bonde prosseguiu no seu trajeto usual pela rua Conde de Bonfim, que apresenta
um declive constante até o cruzamento com a rua Uruguai, motivo pelo qual a
velocidade do bonde não diminuía. O motorneiro tentou pará-lo acionando a roda
do freio de estacionamento, sem sucesso. Em desabalada carreira, o bonde
continuou descendo pela rua Conde de Bonfim. Desesperado, o motorneiro acionava
continuamente a sineta para alertar quem estivesse à frente do bonde.
Heroicamente, ele não abandonou os controles em nenhum momento, correndo sério
risco de vida. Ao aproximar-se do cruzamento com a rua Uruguai, o sinal estava
fechado e havia uma fila de veículos parados. Em consequência disso, o bonde
chocou-se sucessivamente com uma caminhonete (capotando-a), com um táxi, com um
carro particular e finalmente com um lotação da linha Usina x Leblon que estava
parado no sinal da rua Uruguai, quando então cessou sua corrida.
OBSERVAÇÃO
ADICIONAL: Esse bonde 1887 era aziago. Em 29/01/1954 o Diário da Noite noticiou
que ao sair das Barcas, fazendo a linha 75 - Lins de Vasconcellos, o motorneiro
imprimiu velocidade ao bonde e ao fazer uma curva o reboque 1206, tracionado
por ele, tombou de lado, matando um passageiro e ferindo 34, vários com
gravidade.
Em
1965 ele foi vendido a museus norte-americanos e até hoje não foi recuperado,
tendo sido canibalizado ao longo das décadas. Não tem mais como colocá-lo em
tráfego.
7) REBOQUE 1363
Data:
05/03/1959
Local:
Largo do Catumbi, em frente à igreja de Nossa Senhora de Salete.
Vítimas:
quatro, com escoriações. Foram socorridas por uma ambulância da Casa de Saúde
Santa Rita de Cássia, que passava no local, e levados ao Hospital Souza Aguiar.
Dinâmica:
O reboque 1363 era puxado pelo bonde 1921, da linha 45 - Itapiru x Barcas,
quando de repente descarrilou e se chocou com o bonde 1871, da mesma linha, que
vinha em sentido contrário.
(não
consegui mais localizar a foto, que pertencia ao acervo do jornal Ultima Hora)
Esse
foi o acidente mais horripilante de que tive conhecimento, embora somente
resultasse em uma vítima.
Data:
desconhecida
Local:
Esquina das ruas Barão do Bom Retiro e General Belegard.
Vítimas:
o motorista de um caminhão de feira, morto no acidente.
Dinâmica:
No fim da madrugada do dia fatal, o bonde 1829, linha 68 - Uruguay x Engenho
Novo, ao entrar na rua General Belegard vindo da Barão de Bom Retiro, topou com
um caminhão de feira vindo em sentido contrário. No choque que se seguiu, o
bonde destruiu a cabine do caminhão e esmagou o motorista. O Arquivo Público do
Estado de São Paulo, que detém o acervo de fotos do jornal Última Hora, tinha
essa foto disponível na Internet, mostrando a cabeça esmagada do motorista,
quase imperceptível no meio dos destroços da cabine do caminhão. Embora muito
chocante, gostaria de postar essa foto aqui, porém ela não se encontra mais
disponível para acesso, talvez por ser horripilante.
O "Saudades do Rio", mais um vez, agradece a contribuição do Helio Ribeiro.
Os acidentes são impressionantes.
ResponderExcluirAchei até que foram poucos mortos para a gravidade das colisões.
O local do acidente na zona sul deve ser na Marquês de São Vicente ou na rua das Laranjeiras.
A descrição do acidente do bonde sem freios é apavorante. O motorneiro foi muito corajoso.
Bom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirOs destroços são impressionantes. Hoje a tecnologia avançou e provavelmente os danos seriam menores, com uma proteção maior. Claro que podemos traçar um paralelo com alguns ônibus de hoje acidentados em situações similares.
As fotos do acervo do UH disponibilizadas na internet foram alteradas para não mostrar cenas chocantes.
O acidente com o 343 eu vi in loco, após acontecido. Eu estava indo para o Pedro II.
ResponderExcluirE o com o 1887 eu estava em casa quando ouvi o estrondo. Fui lá ver. Eu morava a um quarteirão do local.
ResponderExcluirA tia de uma amiga minha, acho que lá pelos anos 30, foi vítima de um acidente envolvendo um bonde e um ônibus e perdeu uma das pernas. Vou ver se consigo saber de mais detalhes ainda hoje.
ResponderExcluirNo último registro de acidente há uma contradição na dinâmica do evento: a rua general Belegarde não tinha tráfego de bondes. Os bondes desciam a Barão do Bom Retiro e entravam à esquerda em um ângulo de 90° na Vinte e Quatro de Maio em frente à estação do Engenho Novo, viraram à esquerda na Alan Kardek, para em seguida na esquina da General Belegarde subir a Barão do Bom Retiro em direção ao Grajaú. A General Belegarde se junta à Barão do Bom Retiro vinda do Lins em um ângulo de 30° a cerca de 300 metros da Vinte e Quatro de Maio. Atualmente a General Belegarde tem como continuação a Marechal Rondon, uma via que só foi aberta em 1965. Certamente o bonde teria vindo da Alan Kardek.
ResponderExcluirComo já observado pelos comentaristas, as imagens dos acidentes fazem supor um número de vítimas fatais muito maior do que o efetivamente verificado.
ResponderExcluirAndei bastante de bonde ainda criança, sempre acompanhado por adultos; não pude realizar meu desejo de andar de pé no estribo, que eu achava o máximo!
Bom dia Saudosistas. Vi alguns acidentes de bondes quando era criança, porém de pequena gravidade. Em Santa Teresa era comum pequenos acidentes de bondes, também assisti um na Av. Mem de Sá, na Pça João Pessoa, outro na R. do Senado c/ Inválidos. Mas como sempre, assim como hoje, a maioria destes acidentes são causados por falta de manutenção, imprudência e excesso de velocidade.
ResponderExcluirA propósito, a fábrica de massas Marilu que teve o caminhão envolvido na acidente da foto 3 fazia uns biscoitos bem gostosos; fiz uma visita da escola no ginásio à fábrica; acho que pouco depois ela sofreu um grande incêndio.
ResponderExcluirO complexo Marilu ficava onde existe atualmente o INTO no início da Avenida Brasil e possuía até um pátio ferroviário.
ExcluirE antes do INTO funcionavam ali a Rádio JB e o jornal. Fui lá algumas vezes quando meu cunhado, o radialista Eduardo Andrews, trabalhava lá.
ExcluirCheguei a andar nos estribos dos bondes, mas usualmente ficava lá na "cozinha" do reboque. Às vezes ia junto do motorneiro e ficava observando ele avançar com a grande manivela do acelerador, torcendo para aumentar a velocidade. O freio também era acionado com a mão numa manivela menor, se bem me recordo, fazendo uns movimentos para a direita e para a esquerda. O Helio pode esclarecer melhor.
ResponderExcluirSim, isso mesmo. Havia três controles para o motorneiro: a manivela de marcha, graduada de N (neutro) a 8, manuseada com a mão esquerda; a manivela de freio, com a mão direita; e uma peça metálica removível cuja posição permitia indicar se o bonde iria para a frente ou de marcha-a-ré. Quando o motorneiro descia do bonde, por chegar ao ponto final ou por outro motivo, ele retirava essa peça, de modo que mesmo que algum engraçadinho movesse a manivela de marcha o bonde não sairia do lugar. Não estou certo mas talvez a retirada da peça bloqueasse o movimento da manivela de marcha. Havia também uma roda parecida com um timão, que esticava uma corrente para travar as rodas do bonde quando estacionado. Nos modelos mais antigos e em alguns reboques, ao invés dessa roda existia uma manivela em forma de L, que era gurada com o mesmo objetivo de travar as rodas.
ExcluirLembro bem desta roda. Era um tipo de freio de mão, à semelhança de automóveis.
ExcluirJoel, 08:54h ==> segundo o Guia Rex e relato de um amigo de 96 anos que andava muito no Uruguai x Engenho Novo, o último trecho era o inverso do que você escreveu. Era assim: Barão do Bom Retiro, esquerda na General Belegard, direita na Allan Kardec, direita na 24 de Maio, direita na Barão do Bom Retiro e parado em frente a um bar ali existente próximo à esquina com 24 de Maio, onde aguardava horário para iniciar nova viagem. Ou seja, o trajeto final era no sentido horário e não no anti-horário.
ResponderExcluirNo seu site o trajeto final do 68 consta conforme eu publiquei. Mas como o trecho era pequeno provavelmente a Light inverteu o trajeto. É como a foto do bonde 60 descendo a Machado Coelho, apesar de no seu trajeto oficial não constar a Machado Coelho.
ExcluirNão, Joel, no meu site o itinerário o bonde entrava na Allan Kardec antes de virar na 24 de Maio, e não o contrário.
ExcluirO assunto "Bondes" é sempre bem-vindo, embora o tema de hoje traga arrepios pelas consequências das colisões.
ResponderExcluirAlguns aí "perderam o bonde da história" ou " "O bonde passou" para outros... ditados populares antigos, mas que ainda são usados com frequência.
Só me recordo dos bondes de Santa Teresa, mas apenas de vê-los passar. Uns anos atrás houve um grande acidente com vítimas fatais.
Geral pendurado, perigo é pouco. Mesmo com o calor do Rio seria mais inteligente usar os bondes fechados , tipo de São Paulo.
ResponderExcluirNós EUA nossos bondes eram usados no verão. Inclusive muitos que circularam por aqui foram reformados e agora estão em museus americanos.
Lembro de um francês que caiu nos arcos da Lapa, mortos ainda roubaram seus pertences. Mais rio é pouco!!!
Tendo em vista o comentário do "emigrante canadense", os bondes da capital paulista mais comuns eram o conhecido como "camarão" e o Centex, mais conhecido como "Gilda". Particularmente os Centex eram maiores, mais confortáveis, e possuíam duas portas, sendo uma delas no meio (Central exit). Daí o nome de Centex.
ExcluirBonde dá saudade. Do 14, que fazia o rodo na Teixeira de Melo, para ir e voltar do colégio via Túnel Velho.
ResponderExcluirQuando queríamos matar tempo ao sair do colégio pegávamos o 21 para fazer a volta pelo Túnel Novo.
O 13 servia para ir de Copacabana para os cinemas Ipanema, Pirajá ou Astória atravessando uma estéril Visconde de Pirajá de paralelepípedos. Ou ir ao Centro para ver o carnaval.
O 12 servia para ir aos cinemas Leblon e Miranar.
Não me lembro de ter usado o 5 para o Leme ou o 7 para o Jockey.
O tempo passava devagar naquela época.
Interessante é que foram reservados 24 números de linhas de bonde para a JB, mas algumas nunca foram usadas, como a 15, 16, 18, 19 e 23. A 22 virou 24. A 6 (Voluntários), a 8 (Largo dos Leões e acho que depois Humaitá) e a 17 (Copacabana) foram usadas por pouco tempo.
ExcluirJá os 75 números reservados para a Light foram todos usados, embora muitos tenham sido desativados ao longo das décadas, especialmente de 1955 em diante.
Excluir"O tempo passava devagar naquela época."
ExcluirDescrição perfeita.
Antigamente pessoal viajava pendurado nos bondes. Alguns por necessidade, outros por diversão mesmo. Hoje fazem o mesmo no BRT, pelos mesmos motivos.
ResponderExcluirO que não mudou, só diminuiu, foi com os trens. Em certa época foi até pior, com o surgimento dos "surfistas ferroviários".
Há casos de passageiros pendurados em portas de ônibus, mas praticamente nas linhas de praia, onde também se vê pessoal viajando no teto...
Sobre a foto do último acidente, a que foi retirada da internet, fui eu quem fez a solicitação para a sua retirada.
ResponderExcluirEra até difícil visualizar a pessoa morta presa aos escombros.
Uma imagem muito forte mesmo.
Deve ter passado batido na hora em que forma publicar no site...
Realmente, era difícil notar o pobre motorista morto. Por acaso eu vi isso e também alertei sobre o fato.
ExcluirO grupo de fotos que mais me deixou chocado foi o da batida dos dois trens entre as estações de Mangueira e São Francisco Xavier, em 9 de maio de 1958. Mais de 100 mortos e 300 feridos. Vi as fotos no Arquivo Nacional. Não dá para descrever aqui.
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