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sexta-feira, 7 de maio de 2021

A FONTE DA SAUDADE

 





Há algum tempo uma emissora de televisão fez uma reportagem sobre a região da Fonte da Saudade. Dizia que “quem anda pela Rua Fonte da Saudade muitas vezes nem imagina que a fonte que teria dado nome ao bairro ainda existe e está muito próxima. No processo de urbanização do bairro ela acabou ficando no terreno de um edifício, ao lado da portaria. Simples, revestida por ladrilhos azuis e com uma bonita história de quase 200 anos.”

A reportagem estava completamente errada.

Conta Brasil Gerson que “as primeiras referências à fonte de uma água potável perto da Praia da Piaçaba vêm do início do século 19, quando mulheres que serviam aos nobres moradores de Botafogo lavavam roupas na fonte cantando fados de saudade de Portugal. Daí a primeira denominação da fonte: Fonte das Lavadeiras Portuguesas Saudosas. Que foi pintada por Maria Graham”

Mas a fonte da qual falava a emissora de TV não era esta pintada por Maria Graham.

Meu amigo Hugo Hamann me colocou em contato com sua prima Maria Luiza Hamann que contou a verdadeira história desta “fonte da saudade” que existe atualmente dentro do tal prédio. “Fiquei muito surpresa com a exibição da fonte da casa de meu avô Christiano Hamann como sendo a bica das lavadeiras, o que realmente não procede. Até onde sei foi o nome da rua que inspirou meu avô a batizar sua fonte e não o contrário. Feita sob encomenda a "Fonte da Saudade" da Rua Fonte da Saudade nº 111 teve sua base oriunda da França e seus azulejos de Portugal, tendo sido lá colocada em meados de 1925 quando as obras da casa foram concluídas e a família lá se instalou. Ouví uns poucos comentários sobre a bica das lavadeiras, mas sempre vagos, abordando o tema como lenda ou folclore. Esta fonte é diferente da pintada por Maria Graham.”

Nesta foto, à frente da Fonte da Saudade, segundo a Maria Luiza, vemos da esquerda para a direita, membros da família Hamann:

1-) sentado, meu pai Hermann Hamann; 2-) em pé, meu tio Francisco Negrão de Lima; 3-) sentada, minha avó Eugenia Hamann; 4-) junto dela está o neto caçula Sergio Leonardos Hamann; 5-) também sentada, minha tia Emma Hamann Negrão de Lima; 6-) abraçado a ela Hugo Chistiano Leonardos Hamann, o neto mais velho de meus avós (pai do seu amigo Hugo, e meu primo) 7-) e finalmente em pé, meu avô Christiano Hejn Hamann - o idealizador da Fonte da Saudade da Rua Fonte da Saudade nº 111.



Aspectos da obra de construção da casa da família Hamann por volta de 1925. Típico exemplar de casa neo-colonial, tão em moda no Rio dos anos 20 até o início dos 40. Na região da Fonte da Saudade ainda existem algumas sobreviventes nesse estilo.


Aspectos da obra de construção da casa da família Hamann por volta de 1925. Hoje o prédio que fica no lugar dessa casa é elevado em relação a rua. Há uma aba do Morro da Saudade nesse trecho, que certamente em tempos idos deveria ir até a Praia da Piaçaba, que ocupava esta região da Lagoa, num pequeno recôncavo, hoje totalmente aterrado.

Identificadas pela Maria Luiza vemos 1) Emma Hamann Negrão de Lima, 2) Selda Dutra Hesse, sobrinha de Eugenia Dutra Hamann (minha avó), 3) Agmar Murgel Dutra, irmã de Eugenia Dutra Hamann e 4) Nancy Dutra Hesse, também sobrinha de Eugenia Hamann e irmã de Selda.

Conta a Maria Luiza que "com a morte de minha avó em 1969 seus filhos aguardaram o vencimento do contrato de locação com o colégio Juca e Chico e em 1972 venderam a casa para a Guarantã, uma construtora de São Paulo que acabou preservando uma parte da Fonte da Saudade dos meus avós e instalando-a na entrada do edifício. Entretanto, atualmente, está quase invisível da rua face a modificações feitas no prédio."



Foto de uma festa na casa dos Hamann na Rua Fonte da Saudade. 

18 comentários:

  1. Olhando o prédio 111, da Rua Fonte da Saudade no Street View, a fonte não é visível da rua. Deve ficar mais para o fundo do terreno.

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  2. Olá, Dr. D'.

    A aula de hoje está ótima. Ficarei acompanhando os comentários.

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  3. Bom dia Dr.D'. Excelente registro sobre o passado. Muita história e hoje ao passar pelo local não percebemos nada. Pena mesmo...

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  4. As postagens esclarecedoras são preciosas. Muito obrigado!

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  5. Bom Dia! Muito interessante. Hoje aprenderei mais um pouco.

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  6. Ótima história. Vou checar no livro de Maria Graham o desenho !!!

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  7. Bom dia a todos. Interessante a história das duas fontes de mesmo nome. Já quanto a reportagem da emissora de TV, esta emissora vem de muito tempo fazendo reportagens modificando a história e a verdade, consegue desagregar a Gregos e Troianos. Tanto a casa como a fonte eram lindíssimas, mas infelizmente também foi mais uma vítima das Construtoras.

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  8. Esse Francisco Negrão de Lima da segunda foto seria o famoso político?

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  9. A menos que a memória me falhe, foi o Negrão de Lima que conseguiu passagem ferroviária grátis para minha avó e seus filhos, quando ela veio de Belo Horizonte para o Rio, por volta de 1929.

    Viúva aos 27/28 anos, com três filhos pequenos, ela trabalhava e morava dentro de uma lavanderia perto da estação ferroviária de BH.

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  10. A fonte fica no jardim do prédio. Já tirei foto. Tem que pôr o braço por dentro da grade . Fica na lateral , perpendicular a rua .

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  11. Está linda casa onde residia essa distinta família fazia parte do "Rio cartão postal" que foi responsável por angariar a fama de Cidade maravilhosa.Mas o Rio era assim mesmo, onde das fontes jorravam "mel e outros néctares e todos eram felizes?Esse era o Rio AA. No Jacarezinho também era assim? E No Parque Colúmbia? Os moradores de lá também são "distintos?"

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  12. Temos lendas no Rio que são chutes e alguns jornalistas nada conferem.
    Se a versão for verdadeira, ótimo, se não, deixa do jeito que está.
    Mas a história da segunda fonte da Rua da Fonte da Saudade não deixa de ser interessante.

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  13. FF: ontem morreu um dos pioneiros da internet no Brasil. Alguém lembra da Mandic, há mais de 30 anos? Também foi um dos fundadores do Ig.

    https://odia.ig.com.br/brasil/2021/05/6140429-morre-aleksandar-mandic-um-dos-pioneiros-na-distribuicao-de-internet-no-brasil.html

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  14. Rapaz, eu quase estudei no Juca e Chico!

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  15. Interesante y bella historia que la he encontrado por casualidad, y que tiene un significado afectivo para mí, ya que tengo en mi poder una foto de la familia Hamann Heyn (Heijn) en la casa que aquí se menciona.
    Me gustaría poder comunicarme con algún descendiente de la familia Hamann Dutra o de Mariana Guilhermina Heyn ten Brink.
    Me llamo Martín Llano-Heyn

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  16. Martín, envie um email para luizd.rio@uol.com.br para informar a um descendente da família Hamann que se interessou em fazer contato.

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