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quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

BONDES





Foram muitos os acidentes envolvendo os bondes e, como vemos nas imagens acima, as Companhias faziam campanhas de alerta.

Interessantes também são as regras escritas por Machado de Assis para os usuários de bondes:

Art. I - Dos Encatarrhoados - Os encatarrhoados podem entrar nos bonds, com a condição de não tossirem mais de trez vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.

Quando a tosse for tão teimosa que não permita esta limitação, os encatarrhoados têem dous alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercicio, ou metterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.

Os encatarrhoados que estiverem nas extremidades dos bancos devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no proprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçonico, vocação etc., etc.


Art. II - Da Posição Das Pernas - As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco. Não se prohibem formalmente as pernas abertas, mas com a condição de pagar os outros lugares, e fazel-os occupar por meninas pobres ou viuvas desvalidas mediante uma pequena gratificação.


Art. III - Da Leitura Dos Jornaes - Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéos; também não é bonito encostal-o no passageiro da frente.


Art. IV - Dos Quebra-Queixos - É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circumstancias: - a primeira quando não for ninguem no bond, e a segunda ao descer.


Art. V - Dos Amoladores - Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negocios intimos, sem interesse para ninguem, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidencia, se elle é assaz christão e resignado. No caso affirmativo, perguntar-lhe-ha se prefere a narração ou uma descarga de ponta-pés; a pessoa deve immediatamente pespegal-os.

No caso, aliás extraordinario e quasi absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazel-a minuciosamente, carregando muito nas circumstancias mais triviaes, repetindo os dictos, pisando e repisando as cousas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra.


Art. VI - Dos Perdigotos - Reserva-se o banco da frente para a emissão dos perdigotos, salvo as occasiões em que a chuva obriga a mudar a posição do banco. Tambem podem emittir-se na plataforma de traz, indo o passageiro ao pé do conductor, e a cara voltada para a rua.


Art. VII - Das Conversas - Quando duas pessoas, sentadas a distancia, quizerem dizer alguma cousa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras, e, em todo o caso, sem allusões maliciosas, principalmente se houver senhoras.


Art. VIII - Das Pessoas Com Morrinha - As pessoas que tiverem morrinha podem participar dos bonds indirectamente: ficando na calçada, e vendo-os passar de um lado para outro. Será melhor que morem em rua por onde elles passem, porque então podem vel-os mesmo da janella.


Art. IX - Da Passagem Às Senhoras - Quando alguma senhora entrar, deve o passageiro da ponta levantar-se e dar passagem, não só porque é incommodo para elle ficar sentado, apertando as pernas, como porque é uma grande má criação.


Art. X - Do Pagamento - Quando o passageiro estiver ao pé de um conhecido, e, ao vir o conductor receber as passagens, notar que o conhecido procura o dinheiro com certa vagareza ou difficuldade, deve immediatamente pagar por elle: é evidente que, se elle quizesse pagar, teria tirado o dinheiro mais depressa.

13 comentários:

  1. Esse tipo de quadrinhas foram usadas também na propaganda para incentivar o uso dos bondes a Copacabana.
    Imagino que o problema maior de segurança tenha ocorrido quando da eletrificação, pois a velocidade dos bondes aumentou.
    O Helio poderia comentar sobre isto. Os bondes puxados a burros andavam a passo ou a trote? Os elétricos tinham limite de velocidade ou ficava a critério dos motorneiros?

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  2. Olá, Dr. D'.

    Postagem muito interessante. Todos os modais precisam de campanhas deste tipo. Ultimamente várias pessoas desafiam a lei da seleção natural nas ruas do Rio. Nos últimos anos o que tem de "distraído" passando ou parando na frente do VLT...

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  3. Em tempo, nas últimas semanas, viralizou um vídeo de uma pessoa tranquilamente parada na frente do VLT mexendo na sua bicicleta, interrompendo o tráfego.

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  4. Bom dia Saudosistas. Postagem bastante interessante, gostei das regras do Machado de Assis, deveriam ser reeditadas hoje nos transportes públicos, porém sem a grafia usada na época, pois 90% dos usuários não entenderiam o que está escrito.

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  5. Um acidente desse tipo pode ser visto no filme "Rio quarenta graus" de 1955. Um grupo de moleques tinha o hábito de praticar furtos em Copacabana, e numa dessas ações um moleque em fuga caiu de um bonde e ficou sob uma das rodas.

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  6. Circular atualmente pela rua Sete de Setembro requer bastante cuidado. A Não há mais calçada e meio fio e o VLT circula no mesmo nível e próximo aos pedestres. O que agrava a situação é que há duas linhas na rua, ao contrário do passado quando existia apenas uma linha. Era o caminho de volta do 66 Tijuca. Na Marechal Floriano e na Avenida Rio Branco o VLT circula em pistas seletivas, mas na região da Central do Brasil e também após o "túnel da Marítima a situação fica meio confusa em razão do VLT utilizar uma passagem estreita entre o casario.

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  7. Quinta-feira é dia de faxina aqui em casa. Só poderei comentar à tarde.

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  8. Com poucas exceções, afinal hoje em dia, por exemplo, nem do bonde de Sta. Tereza é possível descer pelo lado errado, os alertas e as regras para os usuários são realmente necessários até hoje, não só para o bonde já citado como o VLT, ônibus, vans, trens e barcas.

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  9. Respondendo ao César, 07:12h e fazendo outros comentários à parte:
    1) na época dos bondes puxados a animais, havia dois tipos de bitola:
    a) a estreita, de 820mm, era a mais comum nas companhias que operavam no Centro da cidade. Em virtude da pequena largura da bitola e consequentemente do carro, este era puxado apenas por um animal, já que a lotação do bonde era pequena.
    b) a larga, que podia ser de 1435mm (companhias Jardim Botânico e Vila Isabel) ou 1370mm (companhia São Cristóvão). Esses bondes eram mais largos, comportavam mais passageiros e por isso eram puxados por uma parelha. Também tinham percursos mais longos, já que partiam do Centro da cidade para os bairros, alguns próximos (Catumbi, Estácio, Rio Comprido, São Cristóvão) e outros mais distantes (Tijuca, Vila Isabel, Engenho Novo, Laranjeiras, etc).

    2) eu não sei se os animais andavam a trote ou a passo, mas imagino que fosse a passo. A trote talvez fossem os que puxavam tílburis, que eram os táxis da época.

    3) não me consta que houvesse regras para limitação de velocidade dos bondes. Acho que a prudência, o tipo de percurso, a densidade de tráfego, determinavam a velocidade deles. Nos bons tempos, os bondes obedeciam a rigorosos horários, portanto isso ditava a velocidade deles durante o percurso.

    4) um amigo meu, de 96 anos de idade e que ama os bondes tanto quanto eu, porém teve muito mais convivência com eles, em virtude da idade, conta ter andado algumas raras vezes em bondes em desabalada carreira. Citou casos ocorridos com um General Osório à noite, um Uruguai x Engenho Novo expresso, um Méier x Saens Peña recém-saído da reforma, um Andaraí Leopoldo se apressando para chegar no cruzamento entre as ruas Ibituruna e General Canabarro antes de um Aldeia Campista, cujo motorneiro era um molenga e que iria entrar na frente dele, atrasando a viagem. Mas eram casos raros. As lembranças mais fortes dele eram sobre a regularidade e obediência aos horários dos bondes, numa época de pouco trânsito.

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  10. Havia muitas queixas sobre maus tratos aos animais, fossem por chicoteamento pelo "cocheiro", fossem por má alimentação, fossem por carga de trabalho excessiva, esgotando os animais e provocando sua morte prematura.

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  11. Quanto aos bondes elétricos, seu aparecimento provocou muita celeuma, especialmente pelo medo das pessoas em morrerem eletrocutadas. Os bondes elétricos da Vila Isabel, inicialmente pintados de amarelo, eram conhecidos como "o perigo amarelo", pela incidência de acidentes com eles.

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  12. Quanto a cocheiras, havia muitas espalhadas pela cidade:

    a) na rua Pedro Alves 210, na Praia Formosa, sede da companhia Vila Guarani, de triste memória, cujos bondes viviam descarrilando e os trilhos cediam por terem sido implantados em terreno lamacento, na área da Leopoldina. Foi incorporada pela Vila Isabel, posteriormente. O prédio do endereço citado foi tombado. Sua fachada é muito interessante.

    b) na esquina das ruas Visconde do Rio Branco e Gomes Freire, onde atualmente fica a Escola Tiradentes.

    c) a maior delas era da Companhia de Carris Urbanos e ficava onde hoje é a sede da Light, na Marechal Floriano.

    d) na antiga rua Pereira Franco, na então zona do baixo meretrício.

    e) na rua Arquias Cordeiro, próximo à estação ferroviária do Méier.

    f) numa área atualmente arrasada, anteriormente situada no entroncamento das ruas Frei Caneca e Salvador de Sá. Era a estação Bom Jardim.

    g) no Largo do Machado.

    Essas as que recordo de cabeça.

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