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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

CONDUTOR

Segundo o Helio Ribeiro, o condutor era encarregado de efetuar a cobrança da passagem e registrar este pagamento no relógio do bonde. Outra de suas funções era avisar ao motorneiro o momento em que o bonde podia dar partida, após todos os passageiros haverem embarcado ou desembarcado.

Acrescento eu que também avisava aos que estavam nos estribos com o famoso “Olha à direita!!!”, quando o bonde iria passar raspando em algum obstáculo.

Os condutores tinham uma folha que era verificada pelo fiscal, para ver se tinham haviam registrado corretamente as passagens pagas. Essa folha era carimbada pelo fiscal que, olhando a marcação anterior, marcava o número atual e via a diferença. A propósito dessa marcação, o espírito gozador do carioca apareceu numa marchinha de carnaval.

"Seu condutor! All right

Você assim, Vai acabar sócio da Light

Seu motorneiro

Toca o bonde! Toca o bonde!

O meu amor está esperando por mim

Senão eu canto a canção do condutor

Que é sempre assim:

Um prá Light

Um prá Light

E dois prá mim."

Maldade. Se fosse verdade os condutores não levariam a vida modesta que sempre levaram. 

O condutor e o motorneiro, acompanhados por dois PMs, numa das inúmeras greves do setor de transportes do Rio de antigamente.

Como único passageiro, com seu inseparável guarda-chuva, José Ferreira, escriturário do Banco do Brasil, voltava de um dia cansativo de trabalho.

Colorização do Nickolas.



Outra colorização do Nickolas Nogueira. Vemos Severino Nonato, o "Preguinho", com seu quepe com a inscrição "conductor 2412" da Light, satisfeitíssimo, contando a féria da viagem.

"Preguinho" tinha o hábito de dobrar as notas e mantê-las entre o polegar e o indicador, diferentemente da maioria de seus colegas que as mantinham entre os dedos indicador, médio e anular.

Manoel "Bacurau", obrigado a acordar cedo para ir ao dentista, aproveita para um último cochilo com sua blusa abotoada no pescoço, como exigia Dona Lindaura, sua mãe.

Antenor Flores, com seu bigode bem aparado de torcedor do América, leva o filho pequeno para o médico perto do Tabuleiro da Baiana, no Edifício Darke, com cara de quem passou a noite acordado com o filho no colo por conta de uma dor de ouvido. 

Paulo Meira, quase fora da foto, bancário, com o jornal na mão, fica no estribo, pois já não havia lugar no banco ocupado por sua esposa, Dona Almira, sentada ao lado da filha Maria Clara.

Atrás de Antenor Flores, as duas vizinhas, Dulce e Ana, observam o fotógrafo enquanto iam para a cidade fazer compras. 


O bonde estava passando pela Rua das Laranjeiras, em frente à Eugênio Hussak (perto da Ipiranga). A casa à esquerda, onde morava a família Derenusson, é hoje um edifício modernoso.

Vemos outro condutor que, como Preguinho, levava as notas entre o polegar e o indicador. E este estava acionando o registrador de passagens sob o olhar atento de Paulo Meira, bancário, que antes de ir para o trabalho levava a filha Luzia e a amiguinha Maria, para a escola municipal onde estudavam.

 

26 comentários:

  1. Outros tempos, outros hábitos. O uniforme dos condutores e motorneiros era impecável. Peguei o finalzinho dos bondes e lamento este transporte ter sido erradicado do Rio de Janeiro. Mas com a violência e a "malandragem" que hoje imperam, as empresas de bonde iriam a falência, tamanho seria o número de calotes. Seria incontrolável.

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  2. Não lembro se havia muitos acidentes com os condutores, mas acho que o trabalho era arriscado. Quando o bonde estava cheio de gente nos estribos era difícil para o condutor.
    Muita gente devia viajar de graça, pois o controle era difícil.
    O que me chamava a atenção era o carimbo dos fiscais, um tubinho de metal.

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  3. Bom dia.
    Excelentes fotos e ainda melhores descrições.
    (Não cheguei a andar no estribo dos bondes, não tinha idade para tal. Gostava do último banco do reboque, quando havia; tinha visão totalmente desimpedida para trás, era ótimo.)

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  4. Os bondes de Santa Teresa não tinham relógio, era tudo conferido por fiscais espalhados ao longo da via, e marcados e carimbados em um papel fixado numa tabuleta retangular, que andava com o condutor.
    Quando os bondes da cidade acabaram, os relógios foram preservados e instalados nos da colina. Acho que a tabuleta e os fiscais permaneceram e assim ficamos com o controle duplicado e com as mesmas fraudes, uma tendência nacional.
    Aliás, quando vieram queimar os bondes desta colina, os elementos encontraram o general Muricy, morador daqui da Rua Triunfo, diretor da Light e que fora avisado. Ele postou-se na garagem à espera dos incendiários e, com uma boa conversa, conquistou os corações e mentes dos demais e nada aconteceu.

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  5. Esses relatos mostram que a população era honesta em sua maioria, bem como os condutores. Hoje em dia furtariam até os metais dos balaústres e tudo mais à volta, levando a Light à falência. Meus tios contavam sobre um certo "Zé da Ilha", um conhecido marginal que "volta e meia" ficava parado junto à calçada com uma navalha cortando quem estava nos estribos. Imaginem se a Light administrasse o sistema B.R.T atualmente, onde metade dos usuários viajam "de calote"...

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  6. Lembro de pelo menos uma viagem de bonde e que queria ficar o mais proximo possível do motorneiro para ver as operações que ele executava no equipamento.
    O bonde atual é o VLT. O tipo aberto, como nas fotos, já estava com os dias contados. O exemplo de como seria o futuro foi o modelo apelidado de Rita Pavone, de 1965 ou 66.

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  7. No caso do "Olha a direita!", quem dava o alerta era o motorneiro, primeiro a divisar o perigo. Para isso, acionava repetida e espaçadamente, através de um cordão que ficava no compartimento do motorneiro, a campainha que havia do lado esquerdo traseiro do bonde, à qual chegava o tal cordão. Ao ouvir os toques ritmados, aí sim o condutor gritava várias vezes :Olha a direita!".

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  8. Havia sim muitos acidentes com os condutores, ou ao serem arremessados ao solo por choques do bonde com outros veículo ou por perderem o equilíbrio ao se deslocarem nos estribos. Eu presenciei quando um condutor, que tratava todo mundo por "major", foi imprensado entre o bonde Tijuca e um caminhão-baú estacionado. Ele sofreu um choque na cabeça e caiu ao solo. Ficou afastado bastante tempo e quando retornou já não era o mesmo, falando com dificuldade.

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  9. Meu sogro, já quase nonagenário, contou-me que ele costumava "driblar" o condutor, ficava sentado no reboque e aproveitava o bonde cheio pra passar meio despercebido. Quando o motorneiro ia se aproximando do reboque ele passava, rapidamente pelos estribos, para o carro principal. Malandragem sempre existiu, desde que o mundo é mundo.

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  10. Outro bom lugar de viajar de bonde era ao lado do motorneiro. Eu torcia para girar aquela alavanca que servia de "acelerador" para os números mais altos, para aumentar a velocidade. Também me admirava como controlava o freio também com uma pequena alavanca do painel.
    Eu não gostava do atraso do bonde quando chegava a um cruzamento de linhas e o motorneiro tinha que descer, pegar uma enorme alavanca que ficava pendurada na frente do bonde e mudar a posição dos trilhos para o bonde seguir para o caminho certo.
    E lia os anúncios como o do Rhum Creosotado:
    "Veja ilustre passageiro,
    o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado,
    e no entanto, acredite,
    quase morreu de bronquite.
    Salvou-o o Rhum Creosotado"

    Ou o anúncio da "Academia Moraes" para danças: "Quantas oportunidades você perdeu por não saber dançar? Academia Moraes". Ficava na Rua do Passeio.

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    1. Quanto a mudar a chave nos desvios, havia em alguns cruzamentos muito movimentados um funcionário específico para fazer a mudança, conforme a linha do bonde que se aproximava. Era o caso da Praça Tiradentes esquina com avenida Passos e rua do Riachuelo com Senado. Posteriormente foram criadas chaves automáticas, cujo acionamento era feito pelo motorneiro, de uma forma que descrevo no meu site, em detalhes. no item "Mudança de linha" sob o grupo "Miscelânea".

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    2. Outros eram do Polvilho Antisséptico Granado, Mudanças Gato Preto, um de suportes atléticos com um gorila (!), e por aí vai.

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    3. Com relação à "Academia Moraes", tratava-se de um "salão de danças", e não uma Academia de dança como se pode supor, e funcionavam de uma forma parecida com os antigos dancings. Em uma verdadeira aula de dança "aluno dança com aluno (a)", pois que as aulas são dirigidas por um professor. As turmas funcionam com um certo número de casais, cujos pares são frequentemente trocados. Dessa forma as turmas evoluem durante muito tempo. Em uma escola de dança de bom nível o aluno "começa do zero", e se tiver talento pode participar de apresentações coreográficas. E dançar bem não é privilégio para pessoas jovens, e apresentações coreográficas de ótimo nível de grupos com idade de 50 a 60 anos não são incomuns.

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  11. Olá, Dr. D'.

    Dia de acompanhar os comentários. Dia de abstinência futebolística, assim como amanhã. As novidades ficam em um nível local com o anúncio da comissão técnica do Vasco para 2023.

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  12. No meu site tem um item de menu de nome "Um dia de trabalho", dentro do grupo "Miscelânea", que descreve em detalhes a rotina diária de um condutor, tal como a mim relatada por um antigo visitante do SDR na época do Terra, que se assinava como "Rei dos Bondes". O pai dele tinha sido condutor, na linha da Penha.

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    1. E o "Rei dos Bondes" ficou zangado com a história de que os condutores sonegavam a marcação das passagens cobradas.

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    2. Ficou zangado com razão, porque o pai dele tinha sido condutor. Obviamente, não dá para acreditar que todos fossem honestos, mas em todas as profissões, desde o presidente da República até o mendigo, há desonestos a dar com o pau, no Brasil.

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  13. Também era comum os condutores juntarem pilhas de moedas na mão e apertando-as e afrouxando-as fazerem um tilintar que indicava sua presença para cobrar a passagem.

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  14. Nas linhas 90 e 91 em Jacarepaguá havia um condutor português que era lendário em razão do bigode que chegava a ter duas voltas. Minha mãe lecionou na Escola Augusto Cony no Largo do Tanque, e algumas vezes ela me levava também. Eu devia ter uns quatro ou cinco anos e uma funcionária da escola ficava todo o tempo comigo. Muitas vezes ela me colocava sentado no muro para observar a rua. Sempre que vinha um bonde ela dizia: "Lá vem o bonde do português bigodudo". É claro que ela fazia com o objetivo de me distrair, mas pelo menos uma vez eu vi o tal condutor, e o bigode era impressionante.

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  15. Caso algum visitante não saiba, o site do Helio é
    https://www.bondesrio.com

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  16. Nos bondes fechados do tipo "Rita Pavone" não havia "condutor" e sim "trocador" como nos ônibus, mas não havia roleta. Só andei uma vez em um "Rita Pavone" e não foi uma experiência agradável: um "cidadão" vomitou no bonde na altura da curva do "s" e tivemos que descer. Também em Campo Grande circularam bondes do tipo "Rita Pavone" entre 1965 e 1967 na linha do "Monteiro", pois as linhas do Rio da Prata e da Pedra de Guaratiba foram desativadas em 1964 e 1965 respectivamente. Também em Santa Teresa circulou um bonde fechado, mas diferente da pintura azul ele ostentava uma pintura cinza-prata com alguns detalhes em vermelho.

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    1. Exatamente. Esse bonde fechado, pintado com o padrão CTC, circulou na linha Monteiro. Ele seguia o itinerário do Pedra, mas tinha o ponto final na usina, na confluência entre a Estrada do Mato Alto e Estrada do Magarça. Este prédio da usina de eletricidade dos bondes ainda está lá, tem uma arquitetura bem simpática e está bem conservado. É utilizado pela Comlurb.

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    2. Esse bonde de Santa Teresa fechado, com as cores da CTC, recebeu o número de ordem 101.

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  17. A Ilha do Governador também possuía uma linha de bondes, com 5,5km de extensão, e sobre a qual Nivaldo Duarte escreveu : "A última sessão do cinema Itamar coincidia com a também última, viagem do bonde que saía do Bananal em direção ao Cocotá, para recolher às 22h 30 min. Acontece que quando o filme atrasava um pouco, o motorneiro, (que conduzia o bonde), parava em frente ao cinema, que nem era ponto, e tocava repetidamente um pequeno gongo, acionado pelo seu pé, avisando que já estava ali, e que não podia demorar muito. Todos entendiam, e às vezes até saíam antes do filme acabar. Outro acontecimento maravilhoso envolvendo o bonde da ilha, e digno de ser relembrado, é o do famoso "bonde das barcas". Esse recolhia os passageiros que iam pegar bem cedo a barca no horário de trabalho. Lembre-se que ainda não havia a ponte. Pois bem, se ao chegar ao ponto o motorneiro não visse um costumeiro passageiro, metia o pé no tal gongo, até que esse aparecesse, ante os aplausos dos outros passageiros. A Ilha do Governador era uma aldeia. Uma maravilhosa aldeia..."

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  18. Boa tarde Saudosistas. Como foi bom ter lido os comentários de hoje, quantas histórias recordadas, quantos novos conhecimentos de fatos que ocorriam nos bondes, além das belas fotos colorizadas pelo mestre Nickolas e o texto personificando alguns dos figurantes.

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  19. Boa Tarde ! Por absoluta falta de tempo, só deu para chegar aqui agora para marcar presença. Não li nada dos comentários .

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