O Bar Amarelinho está na
Praça Floriano Peixoto nº 55-B, Cinelândia, desde 1921. Foi muito frequentado
por escritores e outros intelectuais nos seus dias de glória, da década de 30 à
década de 60. À época, a Cinelândia, por abrigar teatros e cinemas que recebiam a
elite carioca, era considerada “Broadway Brasileira”
O Amarelinho teve, entre seus fregueses, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Helio Pellegrino,
Otto Lara Resende, Jorge de Lima, Lêdo Ivo, dezenas de artistas, entre outros.
Durante o exílio no Brasil, era no Amarelinho que escrevia o francês George
Bernanos.
Sob nova administração ainda resiste no mesmo local apesar da decadência da Cinelândia e de todo o Centro.
Em mais uma estupenda
colorização do Nickolas Nogueira, em foto da Getty Images, voltamos aos tempos
em que ir ao cinema na Cinelândia significava obrigatoriamente tomar um chope
no Amarelinho.
Destaque para o Dodge 52 conversível.
Um belo flagrante do
Centro do Rio nos anos 60, enviado pelo prezado Carlos Paiva. Destaque para o letreiro do A-Doret. Aliás, a
permanência do A-Doret por décadas no mesmo ponto difere muito dos salões de beleza que abrem e fecham
como chuvas de verão pela cidade atualmente. O Amarelinho sem os toldos de hoje
era muito mais simpático. Aliás, a cidade mais aberta e virada para rua, como
foi até a segunda metade dos anos 80 era muito mais agradável que a cidade
cercada e gradeada de hoje.
Parecia até Paris. Tomar
uma cerveja tendo defronte o Teatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes,
a Biblioteca Nacional e, virando para o outro lado, o Palácio Monroe.
As saudosas cadeiras de vime,
super confortáveis, em foto de Hans Mann. A página do jornal virada para a câmera
nota-se a também saudosa página de turfe, numa época que este esporte lotava as
tribunas do Jockey Club Brasileiro, no Jardim Botânico. As colunas de turfe de
que mais sinto saudades são as do “Pangaré”, do gênio Haroldo Barbosa.
O Amarelinho lotado ainda com alguns engravatados
típicos do final do século passado. Ja haviam desaparecido as cadeiras de vime.
Nesta foto de 1969 podemos ver que começam a aparecer pessoas sem terno no centro da cidade, mas ainda não aparecem os de bermuda e chinelo de dedo.
O Bar Amarelinho, por sua
localização, foi muitas vezes testemunha e vítima de grandes manifestações populares
na Cinelândia. Desde aos grandes espetáculos do Municipal, como comícios e
protestos políticos.
Na foto vemos o bar
fechado por conta das inúmeras manifestações do conturbado ano de 1968.
Mas não foi só neste ano que
o Amarelinho frequentou as páginas policiais:
Em 30/08/1946 houve uma
extraordinária revolta estudantil que, aos gritos de “Queremos 50% de
abatimento nos cinemas” e de “Abaixo os ladrões”, promoveu-se um grande quebra-quebra
por toda a cidade.
A primeira página do “Correio
da Manhã”, do dia seguinte dizia: “Uma vastíssima desordem generalizada – A cidade
teve ontem uma noite agitadíssima – Depredados quase todos os cinemas e
numerosas casas comerciais do Centro, Zona Sul e Zona Norte – O Exército passou
a fazer o policiamento, estando de prontidão todas as Forças Armadas –
Numerosos feridos – Tiroteios na Cinelândia e nas proximidades da Polícia
Central”.
De outra feita em
28/12/1963, um grupo de alunos do Colégio Pedro II, após festa de formatura no
Teatro Municipal, promoveu um quebra-quebra no interior do Bar Amarelinho por
se negar a pagar a conta.
Brigas, assassinatos, reuniões de bandidos, suicídios, estão entre outros episódios relatados nos jornais.
O Amarelinho também tinha um daqueles loucos de plantão, dos quais havia muitos pelo Rio antigamente.
Em meados dos anos 60 o do Amarelinho era o “Bronca”, que além de guardador de carros estacionados defronte à “Gaiola de Ouro”, sempre com a Bíblia na mão, gritava para a clientela do Amarelinho: “Ímpios! Estão destruindo o mundo!”
Era o orador mais
assíduo daquele trecho, embora nunca tenha entrado na Assembleia Legislativa.
Usava vários anéis, uma bengala de metal e um relógio de bolso enorme.
É triste comparar a Cinelândia de outros tempos com a atual. De acordo com o texto, em 1969 começaram a aparecer na região homens sem paletó e gravata, um hábito que seria "um luxo" atualmente , já que é comum ver na região homens de short, bermudas, sem camisa, e até em andrajos, circulando por lá. Diante das péssimas condições que tomaram conta da Cinelândia, até mesmo a "viadagem" abandonou seu tradicional "ponto de encontro", que tinha o Amarelinho como referencial.
ResponderExcluirÉ gostoso ficar num bar com cadeiras ao ar livre, mas no Rio é meio complicado pela falta de segurança e pelo incômodo de vendedores.
ResponderExcluirAs fotos antigas mostram muitos deles na praia de Copacabana e de uns anos para cá os bares voltaram a ocupar, muitas vezes irregularmente, as calçadas, mas não me sinto confortável.
Bom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirPassei muito em frente quando era visitante contumaz de espaços culturais da região. Nunca freqüentei.
Ficarei acompanhando os comentários.
Bom Dia! Vivi esta época. É quase certo que comentários contra e a favor teremos. Principalmente por quem não viu nem viveu o momento.
ResponderExcluirSó fui ao Amarelinho uma única vez, em setembro de 2009, após retornar daquele malfadado passeio no bondinho de Santa Teresa, durante o qual ficamos no meio de um tiroteio na volta, com o bondinho parado ao abrigo de dois prédios e os passageiros sem ter onde se abrigar. Já narrei o fato aqui, há meses.
ResponderExcluirQuando eu era criança meu médico pediatra e o dentista da família tinham consultório no Edifício Darke, cujos acessos são pela Treze de Maio e pela Senador Dantas, e meu pai tinha escritório no Edifício Itu no Largo da Carioca. Em razão eu ir amiúde à essa região nos anos 60, guardo muitas imagens vivas. Em 1965 quando morávamos em Botafogo descíamos do ônibus elétrico no Passeio Público e caminhávamos pela Cinelândia. Era realmente um outro tempo e principalmente "uma outra gente" de um outro planeta. Uma lástima que tenhamos chegado a esse ponto. "Não foi por falta de aviso".
ResponderExcluirAmarelinho era famoso, uma vez por ano a vigilância fechava ele.
ResponderExcluirAquela área atualmente demonstra a decadência do Rio, já estava ruim antes do COVID , depois ...
Fui a última vez em 2006, com meu irmão e respectivas famílias, para que a nova geração conhecesse de perto o Amarelinho e arredores.
ResponderExcluirEm agosto passado passei em frente, ainda era cedo para um chope, vi crianças de escola em excursão ao Teatro Municipal, atravessei tranquilamente a praça, fui na Biblioteca Nacional. No meio do caminho a segurança da PM presente, viatura inclusive.
Fui uma vez ao Amarelinho, recentemente. A Cinelândia foi-se e o trabalho de reocupar o Centro será árduo. Temos uma "belmontização" dos bares. mudança de população com faixas etárias que não correspondem mais ao que esperava. Público do theatro municipal hoje rarefeito e neófito. Boates não existem mais. Piano bar com crooner, nem pensar, muito menos barzinho agradável. hoje o piano toca sozinho, como vi numa Casa Cor. Lazer domestico é o top, desconto no delivery e mensalidade da TV a cabo igual ao preço de uma ida ao cinema. o Amarelinho tem que se reinventar. Vejo que livaria da Travessa que fechou na 7 de setembro vai abrir loja no bolo de noiva. Movimento ousado, vamos ver.
ResponderExcluirO Amarelinho “acabou” no início dos anos 60 quando os frequentadores que fizeram sua fama foram beber no Vermelhinho, perto da ABI. Ficava na Araujo Porto Alegre, ao lado da Escola de Belas Artes.
ResponderExcluirAs fotos mostram um outro mundo. As da década de 50 são excepcionais. Até a última vez que fui à cidade, antes da pandemia, ainda resistiam os engraxates naquelas cadeiras altas, sob os pilotis dos prédios da Presidente Vargas, entre Rio Branco e Uruguaiana. Não sei se ainda estão lá.
ResponderExcluirA penúltima foto de 1968 é na ocasião da "Passeata dos cem mil" e mostra o "Choque da PM" prestes a entrar em ação em uma Cinelândia que "fervilhava de gente". Nessa época já tínhamos voltado a morar na Tijuca e "ir à cidade" era uma aventura. Em uma dessas vezes minha mãe foi à uma reunião no Edifício Avenida Central e lá surgiu a notícia que o Largo da Carioca era "um campo de batalha". O resultado disso é que as pessoas que estavam na reunião tiveram que aguardar até às "9 da noite" para sair do prédio. Em uma época em que não havia celulares e telefones públicos eram escassos, a preocupação foi intensa. Mas correu tudo bem. Foi nesse periodo "se não me falha a memória", que um antigo comentarista do SDR levou "uns cascudos" de um "Choque da P.A" que também atuava na região, segundo seu próprio relato. O autor daquela narrativa (sic) é atualmente um "emigrante" que reside nas antigas "terras da Rainha Vitória", mas pode ser visto de forma fugaz nas proximidades de sua 'Quinta' no Posto 2 em Copacabana, tendo na coleira um fiel "Golden Retriever..
ResponderExcluirBoa tarde Saudosistas. A última vez que fui ao Amarelinho, foi bem antes da pandemia, após o encontro com um amigo que não via a muito tempo. O chope não estava bem gelado, a porção de batatas fritas estavam péssimas, daquelas que o óleo usado para fritar já tinha mais horas de uso que urubu de voo. Acho que já contei aqui a história de dois amigos meus que infelizmente já não estão entre nós, que sempre que podiam aprontavam uma sacanagem com o outro. Neste encontro de ambos no Amarelinho foi a vez do Jorge aprontar para o Carlinhos, bons tempos que no Rio as amizades também permitiam estas brincadeiras.
ResponderExcluirEsse bar é um local de grandes recordações minhas nos idos 60. Meu avô, Menezão, pajé dos Menezes, quando vinha passar suas ferias no Rio era constantes seus encontros com Políticos as 15 horas pontualmente nos restaurantes Simpatia da Av.Rio Branco como no Amarelinho. Como eu, o primeiro neto da Clã, era dada por meu avô todas as mordomias que me eram oferecidas e então lá ia eu para tais encontros que sempre sobrava um sorvete e um frapê e bolos. Meu avô era político velho de guerra, e foi Prefeito da Cidade de Russas no agreste nordestino. O papo, sempre revestido de diversas "bravatas" pela turma seguia até as 18 horas onde terminava e cada qual seguia seu destino. Nós pegávamos o 66-Tijuca- com destino a
ResponderExcluirnossa residência. Era uma tarde de grandes recordações.
De 1987 a 1993, sempre no final do ano, ia fazer entrega de brindes de Natal da Empresa para nossos clientes e, ao final das entregas, era de praxe uma parada para um chopp no Amarelinho. Depois dessa época, nunca mais entrei. Só de passagem.
ResponderExcluirBares e restaurantes com mesas e cadeiras na calçada hoje não são bons de frequentar. Nos situados em áreas mais chics, a toda hora vem um mendigo ou crackudo pedir esmola ou encher o saco; nos situados em subúrbios, de vez em quando passa um carro ou moto e os ocupantes se divertem atirando a esmo contra os frequentadores. Quando não entram no estabelecimento e roubam todos os fregueses e o próprio caixa e funcionários.
ResponderExcluirHoje em dia, o melhor que se faz é ficar em casa procurando alguma forma de lazer. As ruas não são território seguro para a população ordeira. Sair de casa é um perigo a qualquer hora do dia, da tarde, da noite, da madrugada, do alvorecer e do anoitecer. Como se diz, o perigo ronda 24 x 7.
Boa Noite ! Só agora tive tempo de ler os comentários.
ResponderExcluirPraticamente todas as grandes cidades do mundo tem locais que viveram o explendor que depois entraram em decadência, isso não é "privilégio" do Rio. Li uma reportagem na Exame sobre a reclamação de vários comerciantes e moradores de Nova York de locais decadentes que outrora foram de grande movimento e consumo.
ResponderExcluirBuenos Aires fez um trabalho interessante de revitalização do centro e zona portuária, a despeito da condição econômica adversa do país. Eduardo Paes vem, já a algum tempo, trabalhando para fazer o mesmo no centro do Rio. O VLT já deu um "upgrade" interessante. E isso tudo abraçando a presença de novos "povos", cidadãos como todos, como qualquer outro, em alusão ao comentário de 9:14