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quinta-feira, 13 de maio de 2021

CINEMA RIAN (2)

Um dos grandes sucessos do Rian foi "Ao balanço das horas”. As fotos, do Arquivo Nacional, mostram o tumulto que foi causado em 1957 com o lançamento deste filme "Rock around the clock". Hordas de adolescentes absolutamente enlouquecidos com o novo ritmo que chegava ao Rio, fenômeno que se repetiu poucos anos depois com o filme “Help”, dos Beatles.

Vemos, em frente ao Rian, na Praia de Copacabana, a tropa da PM pronta para manter a ordem, enquanto os adolescentes fazem fila para entrar. Os relatos da época nos jornais foram interessantes:

“Com o objetivo de mostrar que o filme é inofensivo e que o rock'n'roll nada tem de enlouquecedor ou de mórbido, razão por que o classificou somente como proibido para menores de 14 anos de idade, o Chefe do Serviço de Censura de Diversões Públicas convidou o Chefe de Polícia, o Ministro da Educação, o Juiz de Menores, críticos de cinema e escritores para a exibição, às 18h de hoje, na cabine da Warner, do filme "Ao balanço das horas", recentemente exibido em São Paulo, quando provocou agitada reação de jovens.

Como medida preventiva para que não sucedam nesta capital as cenas ocorridas nas principais cidades americanas e europeias onde a película foi exibida - como aconteceu recentemente em São Paulo - o Sr. Hyldon Rocha, Chefe do Serviço de Censura de Diversões Públicas, solicitará ao Coronel Batista Teixeira policiamento especial para os cinemas que exibirem o filme "Ao balanço das horas". Adiantou-nos o Sr. Rocha que essa será a única medida possível para coibir a algazarra promovida pela juventude, porque proibiu o filme para menores até 14 anos em virtude de nele não ter observado detalhes que o levassem a limitá-la mais. E frisou: Logicamente, a mocidade irá ver a película. Mas encontrará nos cinemas policiamento para contê-los.”

Basicamente um filme musical, a fita batizada com o nome do mega-hit de Bill Haley, “Rock around the clock”, trazia o próprio cantor e outros intérpretes e personagens de sucesso, como The Platters, Freddie Bell e o DJ Allan Freed, a quem se credita ter cunhado a expressão “rock and roll”. O filme, na verdade, faturava o sucesso comercial da música e de Bill Haley e amplificava ainda mais a sua explosão inicial.

 A situação de “descontrole” da juventude não agradou às autoridades que, em muitos casos, pediram a proibição do filme – entre elas, o governador de São Paulo, Jânio Quadros, segundo registra o livro “Rock Brasileiro, 1955/1965 – Trajetórias, personagens e discografia”, de Albert Pavão.

 Em seus famosos bilhetinhos, Jânio ordenou ao Secretário de Segurança que “determinasse à polícia deter, sumariamente, colocando em carro de preso, os que promoverem cenas semelhantes; e, se forem menores, entregá-los ao honrado juiz”. Na sequência, o Juiz de Menores, Aldo de Assis Dias, baixou uma portaria proibindo o filme para menores de 18 anos, argumentando (com uma irônica precisão) que “o novo ritmo é excitante, frenético, alucinante e mesmo provocante, de estranha sensação e de trejeitos exageradamente imorais”.

Proibidos de dançar, os jovens gritavam, xingavam e soltavam bombinhas.

Outros tempos! 


Luiz Fernando Goulart foi um dos que estiveram lá neste dia: “Eu tinha pouco mais de 14 e adorava cinema e rádio. Começava a me influenciar por ideias nacionalistas e iniciava a minha paixão pela música brasileira. Por outro lado, a imprensa noticiava as confusões que aconteciam nos cinemas do mundo todo por onde o filme passasse. Em São Paulo houve uma grande pancadaria, diziam e mostravam fotos. 

Nesse clima, mesmo desgostando da música americana, resolvi acompanhar amigos ao Rian, na primeira sessão do filme. Por um engano, pois eu estava apenas assistindo ao filme, acabei preso. Me colocaram em um grande camburão às 15h e lá fiquei, junto com outros que chegavam a cada momento, até às 22:00, quando o camburão se encheu. Fomos levados à delegacia e depois de muita foto e bronca, entregues às famílias. 

No dia seguinte, o jornal O DIA, salvo engano, estampava, na primeira página, embaixo de uma foto minha, carregado por um policial: UM MENOR QUANDO ERA RETIRADO DO CINEMA AINDA SOB A ALUCINAÇÀO DO ROCK AND ROLL. Mas o pior veio depois. Onde eu fosse, era aclamado como roqueiro e as moças me pediam para ensinar-lhes o que eu jamais soubera e que tanto desprezava. Ficou a lembrança daquele dia e o retrato, na minha memória, dos meus companheiros de prisão com camisas de Elvis Presley enquanto eu fui preso com uma camisa de linho branca, com meu nome bordado por uma tia, em ponto de cruz. Foi o que mais me envergonhou.”

17 comentários:

  1. Olá, Dr. D'.

    Outros tempos, realmente.

    Vou acompanhar os comentários.

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  2. Bom Dia! Nesta época eu tinha 16 anos. Também ouvi muito Rock,mas dançar não.

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  3. Belíssima postagem, pois mostra como era a estrutura moral, política, e social do Brasil. Contra fatos não há argumentos! A juventude daquela época era muito mais educada e mais preparada apesar de ocasionais "desvios de conduta". Hoje em dia estariam de bermudas, camiseta, com penteados com "tranças, coques no alto da cabeça, e moças com cabeça raspada de um dos lados e sem qualquer depilação". "Viva Paulo Freire".

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  4. Joel,se fosse só isso era moleza...Vc esqueceu dos cabelos cortados a moda Neymar,pintados,com faixas ou desenhos,sobrancelhas com duas faixas cortadas e toda sorte de modismos estilo anita e jojo todinho....e viva a rede Esgoto,que ajuda a disseminar essas bizarrices...

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  5. A intolerância é um sinal de nossos tempos. O mundo mudou e não tem volta.
    Outro ponto é que bom mesmo devem ser os vários ministros da Educação deste governo. Um medíocre atrás do outro.

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  6. Esse comportamento da platéia já seria um ensaio não combinado para o que viria nos anos 60.
    Veteranos dizem que rock and roll é apenas o rhythm and blues com brilhantina.
    Acho que Os Reis do Iê Iê Iê (A Hard Days Night) fez mais sucesso que Help!

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  7. Nesta época eu me negava a usar calça pantalona, chinelos de pneu, camisetas de crochê, colar de miçangas e outras bizarrices ridículas que não eram, exatamente, o que se usava no "mainstream" de então; preferia ficar "na minha", com a minha vestimenta e comportamento "normais". Achar que tudo de antigamente era melhor é de um reacionarismo atroz. Um olhar mais atento vê, claramente, que determinados comportamentos são aceitos por alguns apenas para certas tribos; não vou me ater a questões, deveras polêmicas, de classe social e cor da pele.
    Da mesma forma que as expressões "todos sabiam o seu lugar", "os tempos eram outros", e outras, repetidas exaustivamente "neste sítio", eu não me furto a também sempre perguntar: "antigamente era melhor pra quem, cara pálida?"

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    1. Era ridículo mesmo, e maior parte dos jovens iam só até a calça "boca de sino" e cabelo grande (mas isso foi no final dos anos 60 e na década de 70 e não antes)

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  8. Boa tarde a todos. Gosto muito de rock, tenho a discografia completa da maioria das grandes bandas mundiais, porém como gosto de música, nunca fiquei influenciado por vestuário, comportamentos e cortes de cabelo de qualquer astro de banda ou cantor. Aliás sempre me pergunto, o que leva algumas pessoas idolatrarem certas pessoas que realizam atividades para diversão do público em geral. No máximo admiro e respeito a qualidade do seu trabalho, jamais chegaria perto de quem quer que seja para abraçar, pedir autógrafo ou agora que é moda, tirar uma foto ao seu lado pelo celular.
    Quanto ao comportamento coletivo da juventude, cada geração tem o seu comportamento de acordo com a época em que vivem, sempre influenciada pela mídia.

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  9. Dizem que "a pandemia veio para mudar o mundo", mas há coisas como "estofo moral", alicerçado em valores judaico-cristãos, que são imutáveis para aqueles que foram educados sob tais conceitos. São valores cujas convicções são "imutáveis", independentemente de qualquer argumento ou proselitismo. Acredito que esse posicionamento seja compartilhado com a maior parte dos comentaristas "deste sítio", principalmente em razão de que muitos aqui já estão a caminho de "dobrar o cabo da Boa Esperança", inclusive eu. Não será nessa altura da jornada da vida que tudo o que foi aprendido e vivido de forma exitosa será reformulado. Existem termos muito usados nesses "tempos de politicamente correto" como "opressão, coletivo, fascista, homofóbico, reacionário", e muitos outros, pois "há setores da sociedade" que vivem e praticam conceitos "tão sólidos como um omelete" sem dar conta disso.

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  10. Excetuando-se algumas comodidades atuais, a vida no passado era muito melhor sim "cara pálida", principalmente pela ausência desse patético "patrulhamento social". Era possível externar conceitos e opiniões sem ter que se expor a "melindres totalmente anacrônicos, ridículos, e desnecessários". Podia-se passear com a namorada ou com familiares sem ter que presenciar homens de mãos dadas se acariciando ou meninas se "chupando em via pública", de saber que uma Censura Federal não permitia a exibição de programas televisivos onde a inversão de valores, o incentivo ao crime, à inversão sexual ou consumo de drogas são a tônica. Um tempo em que criminosos sabiam que "o seu lugar era na cadeia" e não nas Casas Legislativas, um tempo sem Big Brother, sem Anitta, e sem Pablo Vittar, um tempo em que as universidades federais eram instituições de ensino por excelência e não antros de maconheiros, um tempo em que andava-se de ônibus a qualquer hora sem o risco de ser morto, um tempo em que não existiam "áreas de risco" nem "vítimas da sociedade". Não há qualquer anacronismo nessas lembranças, e sim um "Sebastianismo louvável e necessário". Afinal nem tudo se perdeu, principalmente o gosto pela moral e pelos bons costumes.

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    1. Esse comentarista pode ser chamado de tudo, menos de incoerente nas suas convicções. Preconceituoso e pretenso dono da boa moral e bons costumes, deve ter sido um bom aluno das famigeradas aulas de Moral e Cívica. Sua única qualidade aqui externada em outros comentários é sua ojeriza às seitas neopentecostais. Pelo menos isso.

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    2. Este comentarista também possui outras "qualidades externadas": "bota a cara e banca as suas convicções" e é avesso às doutrinas esquerdistas, ao contrário de "anônimos e unknowns". Mas o que seria do verde se todos gostassem do "vermelho"? (ou se saíssem do armário).

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  11. Esse tipo de rock nunca fez a minha cabeça. Prefiro os Beatles. Músicas como Anytime at all, from me to you, I'm a Loser, The long and widing road, entre outras são imortais. Nunca saem de moda.

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  12. Fato é que cada geração sempre será vanguarda perante a anterior e obsoleta para a posterior.

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